quarta-feira, janeiro 02, 2008

Na Vitrola: Sharon Jones, a Carcereira do Ritmo, a musa de Denzel


Sharon Jones é o máximo. Você escuta a moça e sua banda - os Dap-Kings - e pensa que voltou aos anos 60. E volta feliz da vida. Ela é a Amy Winehouse com a cabeça no lugar certo, se é que me entendem. Adepta de uma estética retrô que pegou pelo ouvido os antenados do Brooklyn (a moça nasceu em Augusta, na Georgia, berço de James Brown, mas baixou por aqui ainda menina), Jones é a Tina Turner da fase Ike que não se rendeu ao pop. Já deveria ter sido levada para shows no Brasil. Iria arrasar.

Sua trajetória não foi das mais fáceis. As portas lhe foram fechadas nos anos 80 por fazer uma música que não cabia no universo disco-pop de então. Esnobada pela geração MTV, ela só chegou às paradas com os singles que lançou na segunda metade dos anos 90 pela Desco Records. Enquanto não conseguia viver de sua música, Jones foi trabalhar como carcereira no presídio da Rykers Island. Devia ser a prisão mais swingada dos EUA. Mas tudo mudou com o lançamento, há cinco anos, do ótimo Dap Dippin', que rolou na minha vitrola ainda no Flamengo com a constância merecida.

Mas ainda gosto mais do álbum lançado no fim de 2007, 100 Days, 100 Nights. O que me atrai é a ponte direta com o funk e o soul dos anos 70, bem distante do neo-soul ou do R&B contemporâneo, de gente como India.Arie e Alicia Keys, para quem, sorry periferia, torço mesmo o nariz. Tudo isso é para lamentar o anúncio que dona Jones acaba de fazer ao incluir um show nova-iorquino em sua turnê de inverno, justamente no dia 15 de fevereiro, quando estarei em praias cariocas.

Como não se pode ter tudo ao mesmo tempo agora, pode-se ver aqui uma amostra do poder de fogo de dona Jones, no clipe genial da faixa-título do discão, aqui. Para encontrar o granulado e o preto-e-branco ideal do vídeo, Sharon Jones deu um pulo no e-bay e comprou por US$ 50 câmeras da idade da pedra lascada. O resultado é sensacional. Vale a clicada.

Onipresente, a moça também é uma das melhores coisas de The Great Debaters, filme dirigido por Denzel Washington que estreou por aqui com boas críticas no Natal e que ainda não tem data de estréia no Brasil. No drama sobre os estudantes de uma escola de segundo-grau com alunos negros que derrota em uma competição de debates alunos brancos nos EUA da era Jim Crow, Sharon Jones brilha em seis faixas, duas delas acompanhada pelo Angelic Voices of Faith.

Detalhe: quando dona Amy Winehouse atravessa o Atlântico, ela só toca com os meninos dos Dap-Kings. De boba, ela não tem nada.

Um comentário:

Olga de Mello disse...

Á única bobagem da Winehouse é continuar insistindo na imagem de bad girl. Ainda se estopora nessas viagens ridículas.