O discurso do Estado da União, tradição secular da democracia norte-americana, transfigurou-se ontem em um pastiche dos programas comandados por evangelistas, tão comuns na televisão local. Ao lado da sorridente primeira-dama Laura Bush, sentaram-se na sala de discusos do Capitólio uma refugiada afegã, uma dissidente iraquiana cujo pai foi assassinado pela polícia secreta de Saddam Houssein, e um casal de norte-americanos, pais de um soldado morto na invasão do Iraque. Todos testemunhas da salvação promovida pelo fundamentalismo cristão republicano. Quando anunciou a presença da iraquiana, o presidente teve de conter o choro.
A platéia – dominada por seus auxiliares mais diretos, mas também composta por constrangidas estrelas democratas do Congresso, como os senadores Hillary Clinton e John Kerry – urrava em delírio. O transe coletivo teve seu auge com o abraço demorado dado pelos pais dos americanos à sofrida iraquiana. Pronto. O abraço, com direito a V de vitória e pausa para fotos, era o símbolo da reconciliação neste mundo imaginário criado pelos neo-cons de Washington. O teatro contou até mesmo com uma irônica ajuda da genética: no culto de ontem todos eram muito, muito gordos. A refugiada, os pais, boa parte da claque. Um detalhe a mais para compor o quadro de um espetáculo assustadoramente grotesco.
quinta-feira, fevereiro 03, 2005
quarta-feira, fevereiro 02, 2005
Diretinho da Redação (2)
Coluna da semana, saindo do forno. Quem quiser conferir in loco deve passar pelo www.diretodaredacao.com. O texto entrou no ar hoje e é sobre a indústria do casamento aqui nos Estados Unidos. Lá também pode-se ler o impressionante relato do colunista John Hemingway sobre a nova arma eletro-magnética utilizada pelos norte-americanos no Iraque, que faz a vítima sentir-se dentro de um forno de microondas.
Casar é Bom Negócio?
Você sabe quanto custa se casar aqui nos Estados Unidos? O presidente George W. Bush sabe. Ele propõe gastar US$ 1,5 bilhão em ações especialmente direcionadas para as camadas mais pobres da população, traduzidas especialmente em campanhas de valorização do casamento religioso. No momento em que Bush apresenta sua receita de bolo de noiva para “uma das instituições mais importantes da democracia norte-americana”, a união heterossexual, a deliciosa revista Mother Jones oferece em sua mais recente edição o primeiro reflexo de tão importante iniciativa: o incremento da indústria da maridagem, um negócio que já envolve US$ 50 bilhões por ano ao norte do México e abaixo do Canadá.
Um casamento típico por aqui não sai por menos de US$ 22 mil, conta com 168 convidados, que, por sua vez, dão cerca de 100 presentes no valor médio de US$ 85 cada. Mother Jones faz os cálculos e revela que o prejuízo médio no bolso dos noivos é de quase US$ 14 mil. A reportagem mostra também que, apesar de tamanho investimento, 43% dos que estão se casando pela primeira vez acabam se divorciando em no máximo 15 anos. Liza Minelli, por exemplo, gastou, segundo a revista, US$ 7 mil dólares/dia com seu quarto casamento. Também fica-se sabendo que Catherine Zeta-Jones impôs – exatamente como 20% das mulheres deste país – um contrato pré-nupcial com seu querido Michael Douglas. No caso de La Zeta-Jones, ela leva US$ 2,8 milhões para cada ano de casamento em caso de divórcio. A dupla não teve maiores problemas com a festa, que saiu pela bagatela de US$ 1,5 milhão. É que o casal vendeu fotos exclusivas para a revista inglesa Ok! por US$ 1,6 milhão e ainda levou algo em torno de US$ 24 mil depois de um processo em cima da revista Hello!, que publicou fotos não-autorizadas da cerimônia. Casar, como se vê, pode sim ser um bom negócio.
Ainda há outros dados curiosos – 83% das norte-americanas deixam seu sobrenome para trás e assumem o nome de família do marido, mas 61% delas pedem para não usar a palavra “obedecer” em seus votos. Não mais do que 38% dos cidadãos casados se dizem felizes. E se apenas 10% do dinheiro gasto no casório fosse aplicado em um fundo de investimento conservador, daria para custear a educação de uma criança até a faculdade aqui nos Estados Unidos.
Mas não adianta mostrar números, os americanos querem é casar. Prova disso é a quantidade absurda de reality shows dedicados a encontrar o parceiro ideal (a maioria destes shows inclui as despesas da festa para o casal vencedor). São exatamente 27 passando o dia inteiro nos canais a cabo e abertos deste país. Haja aliança!
Em tempo – os casamenteiros que quiserem fuçar as fontes da revista podem clicar em www.motherjones.com/news/exhibit/2005/01/12_400.html.
Casar é Bom Negócio?
Você sabe quanto custa se casar aqui nos Estados Unidos? O presidente George W. Bush sabe. Ele propõe gastar US$ 1,5 bilhão em ações especialmente direcionadas para as camadas mais pobres da população, traduzidas especialmente em campanhas de valorização do casamento religioso. No momento em que Bush apresenta sua receita de bolo de noiva para “uma das instituições mais importantes da democracia norte-americana”, a união heterossexual, a deliciosa revista Mother Jones oferece em sua mais recente edição o primeiro reflexo de tão importante iniciativa: o incremento da indústria da maridagem, um negócio que já envolve US$ 50 bilhões por ano ao norte do México e abaixo do Canadá.
Um casamento típico por aqui não sai por menos de US$ 22 mil, conta com 168 convidados, que, por sua vez, dão cerca de 100 presentes no valor médio de US$ 85 cada. Mother Jones faz os cálculos e revela que o prejuízo médio no bolso dos noivos é de quase US$ 14 mil. A reportagem mostra também que, apesar de tamanho investimento, 43% dos que estão se casando pela primeira vez acabam se divorciando em no máximo 15 anos. Liza Minelli, por exemplo, gastou, segundo a revista, US$ 7 mil dólares/dia com seu quarto casamento. Também fica-se sabendo que Catherine Zeta-Jones impôs – exatamente como 20% das mulheres deste país – um contrato pré-nupcial com seu querido Michael Douglas. No caso de La Zeta-Jones, ela leva US$ 2,8 milhões para cada ano de casamento em caso de divórcio. A dupla não teve maiores problemas com a festa, que saiu pela bagatela de US$ 1,5 milhão. É que o casal vendeu fotos exclusivas para a revista inglesa Ok! por US$ 1,6 milhão e ainda levou algo em torno de US$ 24 mil depois de um processo em cima da revista Hello!, que publicou fotos não-autorizadas da cerimônia. Casar, como se vê, pode sim ser um bom negócio.
Ainda há outros dados curiosos – 83% das norte-americanas deixam seu sobrenome para trás e assumem o nome de família do marido, mas 61% delas pedem para não usar a palavra “obedecer” em seus votos. Não mais do que 38% dos cidadãos casados se dizem felizes. E se apenas 10% do dinheiro gasto no casório fosse aplicado em um fundo de investimento conservador, daria para custear a educação de uma criança até a faculdade aqui nos Estados Unidos.
Mas não adianta mostrar números, os americanos querem é casar. Prova disso é a quantidade absurda de reality shows dedicados a encontrar o parceiro ideal (a maioria destes shows inclui as despesas da festa para o casal vencedor). São exatamente 27 passando o dia inteiro nos canais a cabo e abertos deste país. Haja aliança!
Em tempo – os casamenteiros que quiserem fuçar as fontes da revista podem clicar em www.motherjones.com/news/exhibit/2005/01/12_400.html.
Eu Adoro
o blog Arenas Cariocas, de Olga de Mello. Leio sempre, os textos são deliciosos, tomara que ela continue atualizando as crônicas quase que diariamente. O endereço? http://www.arenascariocas.blogspot.com/
No Minimo
Hoje tem matéria no NoMínimo. Um passeio pelos corredores da Dexter House, o edifíco mais brasileiro de Manhattan. Cliquem – www.nominimo.com
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