sexta-feira, outubro 20, 2006
Diretinho da Redação (50)
O texto da semana, sobre a investida das gravadoras contra os 'piratas musicais' jea está no DR.
PIRATARIA BRASIL
Eduardo Graça
Em uma conversa com os alunos da faculdade de economia da NYU na abertura do ano letivo, que aqui começa no outono, depois das férias de verão, o Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, um dos críticos mais perspicazees da globalização como ela é, contou que viveu há pouco tempo, na China, um dilema pessoal que revela muito os tempos paradoxais em que vivemos. Stiglitz fora inquirido por profissionais chineses ávidos por saber mais sobre sua posição sobre direitos autorais na era da internet. O ex-presidente do Banco Mundial parou por um segundo e decidiu ser honesto: não tinha a menor idéia se preferiria saber que seus livros – incluindo o recente best-seller Making The Globalization Work - haviam sido pirateados ou completamente ignorados pelos chineses. A resposta o deixou aliviado: suas obras, todas, vendiam muitíssimo bem no mercado negro de Pequim. A troca do conhecimento, ainda que por meios ilegais, existia. Mas será que a W.W.Norton, que publicou o livro em setembro, concorda com o professor da Universidade de Columbia?
A historieta vem a calhar na semana em que a indústria musical – leia-se as grandes corporações que controlam a produção, distribuição e venda de CDs e DVDs mundo afora – anunciou uma nova leva de 8 mil processos contra indivíduos que andam trocando arquivos musicais na rede de computadores. E, pela primeira vez, alguns dos processados pelas ‘majors’ são cidadãos brasileiros.
A Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), que move os processos em nome das corporações, acredita que os piratas – indivíduos que colocaram na rede álbuns inteiros de artistas para o consumo gratuito de felizes internautas – incentivam o desrespeito à lei, ao direito autoral e à propriedade privada. E um dos maiores mercados ilegais seria o brasileiro. No país, mais de 1 bilhão de músicas (quase 5% de todo o consumo no mundo) baixadas ilegalmente estariam circulando pelos computadores de jovens das classes alta e média de Pindorama, parcela da população que tem acesso ao sistema de banda larga.
Aqui nos EUA já há quase um consenso entre a geração mais jovem de que música não se compra na loja, se troca na rede. Gasta dinheiro quem é otário ou tem muito para esbanjar. Pode-se levar em conta a perversidade de tal raciocínio, que pune os artistas tanto quanto seus mecenas, mas os preços altos dos CDs e a facilidade de reprodução na era digital viraram de cabeça para baixo os padrões éticos em vigor.
A IFPI anda especialmente preocupada com o mercado brasileiro, onde os lucros das gravadoras teriam diminuído pela metade nos últimos seis anos. Mas será que os processos – parte dos piratas já entrou em acordo, pagando multas de até U$ 3 mil (mais de R$ 6 mil) – vão diminuir o troca-troca musical na rede? Será que eles não acontecem justamente por conta da distância astronômica estabelecida pelas gravadoras com seu público-alvo? Os piratas oferecem, quase sempre, um catálogo mais apurado e abrangente do que as boas lojas do mercado tradicional – eles não se limitam aos lançamentos do momento, mas investem no apetite dos colecionadores, que se vêem abandonados por uma indústria focada de modo desproporcional no lucro em detrimento do conhecimento, exatamente o oposto do que preocupa o professor Stiglitz. A batalha, aqui, está apenas começando.
Diretinho da Redação (50)
O texto da semana, sobre a investida das gravadoras contra os 'piratas musicais' jea está no DR.
PIRATARIA BRASIL
Eduardo Graça
Em uma conversa com os alunos da faculdade de economia da NYU na abertura do ano letivo, que aqui começa no outono, depois das férias de verão, o Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, um dos críticos mais perspicazees da globalização como ela é, contou que viveu há pouco tempo, na China, um dilema pessoal que revela muito os tempos paradoxais em que vivemos. Stiglitz fora inquirido por profissionais chineses ávidos por saber mais sobre sua posição sobre direitos autorais na era da internet. O ex-presidente do Banco Mundial parou por um segundo e decidiu ser honesto: não tinha a menor idéia se preferiria saber que seus livros – incluindo o recente best-seller Making The Globalization Work - haviam sido pirateados ou completamente ignorados pelos chineses. A resposta o deixou aliviado: suas obras, todas, vendiam muitíssimo bem no mercado negro de Pequim. A troca do conhecimento, ainda que por meios ilegais, existia. Mas será que a W.W.Norton, que publicou o livro em setembro, concorda com o professor da Universidade de Columbia?
A historieta vem a calhar na semana em que a indústria musical – leia-se as grandes corporações que controlam a produção, distribuição e venda de CDs e DVDs mundo afora – anunciou uma nova leva de 8 mil processos contra indivíduos que andam trocando arquivos musicais na rede de computadores. E, pela primeira vez, alguns dos processados pelas ‘majors’ são cidadãos brasileiros.
A Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), que move os processos em nome das corporações, acredita que os piratas – indivíduos que colocaram na rede álbuns inteiros de artistas para o consumo gratuito de felizes internautas – incentivam o desrespeito à lei, ao direito autoral e à propriedade privada. E um dos maiores mercados ilegais seria o brasileiro. No país, mais de 1 bilhão de músicas (quase 5% de todo o consumo no mundo) baixadas ilegalmente estariam circulando pelos computadores de jovens das classes alta e média de Pindorama, parcela da população que tem acesso ao sistema de banda larga.
Aqui nos EUA já há quase um consenso entre a geração mais jovem de que música não se compra na loja, se troca na rede. Gasta dinheiro quem é otário ou tem muito para esbanjar. Pode-se levar em conta a perversidade de tal raciocínio, que pune os artistas tanto quanto seus mecenas, mas os preços altos dos CDs e a facilidade de reprodução na era digital viraram de cabeça para baixo os padrões éticos em vigor.
A IFPI anda especialmente preocupada com o mercado brasileiro, onde os lucros das gravadoras teriam diminuído pela metade nos últimos seis anos. Mas será que os processos – parte dos piratas já entrou em acordo, pagando multas de até U$ 3 mil (mais de R$ 6 mil) – vão diminuir o troca-troca musical na rede? Será que eles não acontecem justamente por conta da distância astronômica estabelecida pelas gravadoras com seu público-alvo? Os piratas oferecem, quase sempre, um catálogo mais apurado e abrangente do que as boas lojas do mercado tradicional – eles não se limitam aos lançamentos do momento, mas investem no apetite dos colecionadores, que se vêem abandonados por uma indústria focada de modo desproporcional no lucro em detrimento do conhecimento, exatamente o oposto do que preocupa o professor Stiglitz. A batalha, aqui, está apenas começando.
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