sexta-feira, outubro 12, 2007

ECONOMIA/Os Hetereodoxos Apertam o Cerco

O Valor Econômico publicou hoje minha reportagem sobre os combatentes, na academia norte-americana, do culto excessivo aos cânones da economia de mercado. Conversei com os professores Robert B. Reich, da Universidade de Berkeley (que foi secretário do Trabalho na administração Clinton); Thomas McCraw, de Harvard (autor de ótima biografia de J.Shumpeter); Frederic S.Lee, da Universidade do Missouri-Kansas (principal voz dos chamados heterodoxos); e Philip J.Reny, da Universidade de Chicago, um dos grandes nomes do mainstream, que reage com uma certa ironia à desconstrução do ideário do laissez-faire realizada por seus colegas à esquerda do espectro político.

Abaixo as fotos são de Paul Krugman e Alan S.Blinder, ambos da Universidade de Princeton; e de Reich, três das mais fortes vozes de oposição ao modo Bush de pensar Economia.


Os heterodoxos apertam o cerco
Por Eduardo Graça, para o Valor
12/10/2007

Enquanto o céu era de brigadeiro, poucas vozes dissonantes ousaram questionar o catecismo filosófico do laissez-faire em terras de George W. Bush. Mas o aumento da desigualdade social, a explosão da bolha do mercado de crédito imobiliário, a redução do número de postos de emprego e a ameaça de uma recessão têm levado parcela significativa de economistas de prestigiosas universidades do país a questionar de forma mais incisiva a ortodoxia dos apóstolos mais ferrenhos da não-interferência governamental na maior economia do planeta. Para Robert B. Reich, da Universidade de Berkeley, o consenso da economia de livre mercado "simplesmente acabou". Paul Krugman, estrela do "New York Times" e da Universidade de Princeton, reza por um novo "New Deal", e até mesmo os laureados Lawrence Summers, ex-presidente da Universidade de Harvard, e George Akerlof, Nobel de Economia em 2001, vêm tratando das falhas do modelo neoclássico (o "maistream" ortodoxo) em seus artigos.

"Durante décadas, a economia neoclássica recebeu críticas de um número muito pequeno de pensadores. Hoje, economistas sérios questionam certos princípios porque estes simplesmente não parecem de acordo com o mundo em que vivemos", diz Reich. Secretário do Trabalho na administração Bill Clinton, o professor de políticas públicas na faculdade de economia de Berkeley argumenta que fatores como a transferência de empregos para países com mão-de-obra barata, como Índia e China, possibilitada pela globalização, e as mais recentes revoluções tecnológicas, destruiram o esboço da sociedade de livre-comércio estabelecido nos anos 1970.

O professor Thomas McCraw, de Harvard, autor de uma festejada biografia de Joseph Schumpeter, disse ao Valor que o predomínio "asfixiante" do não-intervencionismo do Estado na economia americana foi fundamental para o crescimento da desigualdade social nas últimas duas décadas. "McCraw está correto. Para diminuir a diferença cada vez maior entre o rendimento de ricos e pobres no país, por exemplo, é necessário criar um imposto de renda progressivo (quem ganha mais, paga mais), combinado com um subsídio governamental dado para trabalhadores com renda mais baixa. Os primeiros US$ 15 mil seriam isentos de taxas da previdência social, mais a partir daí o imposto seria cobrado de forma crescente. Outro passo fundamental é a garantia de um sistema educacional que de fato beneficie toda a sociedade", diz Reich.

Mas ainda há terreno para um namoro aberto com o Estado do bem-estar social europeu nos EUA do século XXI? O que parecia ser um delírio depois de sete anos de domínio do neoconservadorismo ganha algum fôlego com a impopularidade do governo Bush, a dinâmica corrida eleitoral para a Presidência em 2008 e um ineditismo histórico: a totalidade dos candidatos democratas - incluindo os três mais fortes, Hillary Clinton, Barack Obama e John Edwards - defendem uma reforma radical no sistema de saúde, com o aumento do poder decisório do Estado. Paul Krugman lembra que é justamente na hora de se ter acesso aos melhores hospitais e médicos dos EUA que se detecta com mais exatidão o crescimento da disparidade entre ricos e pobres e o achatamento da classe média.

Krugman é um crítico severo do pacote de redução de impostos enviado ao Congresso pelo presidente republicano, "o mais elitista já visto em Washington". De fato, o Tax Policy Center, uma organização não-vinculada a partidos políticos, informou este ano que mais da metade das reduções de impostos aprovadas no governo Bush beneficiaram exclusivamente os que embolsam mais de US$ 1 milhão por ano. "Boa parte dos economistas ainda defende a tese de que, ao diminuir os impostos dos mais ricos, aumenta-se imediatamente o poder de crescimento da economia nacional, beneficiando toda a população.

De fato, desde 2003, surgiram 8 milhões de novos postos de trabalho, mas boa parte é uma recuperação dos que desapareceram nos primeiros anos do governo Bush. E não se comparam aos 21 milhões que surgiram logo após Bill Clinton enveredar pelo caminho oposto, ou seja, aumentar os impostos dos ricos. A matemática é simples: quando você diminui impostos dos ricos, eles pagam menos. Quando você aumenta os impostos, eles pagam mais. Fim da história", escreve Krugman, em meio ao que considera ser o fim do "boom" econômico de Bush.

Os críticos da ortodoxia neoclássica encaram os últimos quatro anos de pujança econômica como um desastre sem tamanho comparável na história do país, um período de crescimento incapaz de produzir qualquer ganho real para o trabalhador comum. "Nem na Gilded Age, nem nos anos Reagan havíamos experimentado tal contradição. Precisamos urgentemente de um novo New Deal. Crescimento econômico não pode ser um esporte feito apenas para espectadores passivos", ataca Krugman.

O debate sobre essas questões ganha importância na medida em que a economia volta, depois de quatro anos, ao centro da agenda política nos Estados Unidos, até então dominada com exclusividade pela atrapalhada ocupação do Iraque. A contaminação da economia como um todo, infectada pela crise do mercado de crédito imobiliário, trouxe de volta à vitrine economistas dispostos a advogar a necessidade de o governo intervir de forma incisiva para evitar a recessão e ajudar os milhares de cidadãos encalacrados com o aumento dos juros no pesadelo que se tornou a conquista da casa própria.

As vozes mais críticas já perceberam que nunca foi tão impopular o discurso de corte de impostos e diminuição de gastos com projetos sociais bancados pelo Estado. Uma das estrelas do grupo de economistas heterodoxos, termo cunhado para identificar os dissidentes da economia neo-clássica, é o professor Frederic S. Lee, da Universidade do Missouri-Kansas City, editor da popular publicação eletrônica "Heterodox Economics".

"A perspectiva heterodoxa desconhece, por exemplo, a desregulamentação de preços. Para nós, os preços são sempre regulados, seja pelas corporações, por cartéis ou pelo Estado. Ao contrário dos ortodoxos, modelos, para nós, não são mais importantes do que fatos. Temos uma percepção, grosso modo, mais plural quando pensamos na aplicação dos conceitos econômicos", diz Lee. Para ele, são as grandes corporações, não o mercado, que determinam, em última instância, por exemplo, o preço do petróleo.

Nada mais distante do que pensa o professor Philip J. Reny, chairman do departamento de economia da Universidade de Chicago, catedral dos neoclássicos. "Não há um economista sério disposto a negar o fato de que o livre-comércio pode ser custoso para os que se encontram no furacão que chamarei aqui de período de transição. Por exemplo, empresários que precisam lidar com o fato de que seus produtos são mais caros do que os similares produzidos no exterior serão prejudicados seriamente se não receberem algum subsídio. E na maioria das vezes eles não recebem mesmo ajuda alguma. Mas os benefícios a longo prazo para a economia do país são substanciais. Aliás, se mais atenção fosse dada à diminuição das perdas dos que sofrem com o processo, haveria muito menos interesse neste debate. E tudo isso é perfeitamente consistente com uma perspectiva neoclássica", garante.

Reny também redimensiona a crítica centrada nos resultados desastrosos da aplicação de preceitos neoclássicos quando se trata do aumento da desigualdade social nos Estados Unidos. "É preciso levar em conta outros aspectos, como a renda média no país como um todo e a renda média dos 25% mais pobres, que vêm crescendo em termos reais. Não sou um especialista no tema, mas aposto que, se um estudo fosse feito, se chegaria à conclusão de que tanto a renda média dos cidadãos como um todo quanto as dos 25% mais pobres crescem mais na economia de livre mercado". Lee até concorda com a primeira parte da argumentação de Reny, desde que "se considere que a economia-padrão ensinada nas escolas americanas tem alguma relação com o mundo real". Mas o professor da Universidade do Missouri-Kansas City diz que os benefícios do laissez-faire "não chegam às classes e indivíduos com os quais me preocupo".

Apesar de contar com mais de dois mil economistas heterodoxos dos quatro cantos do globo colaborando em sua newsletter (entre eles, muitos pós-keynesianos e um punhado de marxistas), Lee reconhece que ainda é complicado bater de frente com o status quo, lembrando que "a maioria das universidades americanas não conta com professores heterodoxos".

O professor Alan S. Blinder, de Princeton, a segunda voz no Federal Reserve Board na primeira metade dos anos 1990, disse recentemente que passou a ser tratado como um apóstata por seus colegas ao criticar o livre mercado globalizado, que, em seus cálculos, pode levar a uma diminuição de até 40 milhões de postos de trabalho nos Estados Unidos, nos próximos anos, e ao defender temas-tabu como a instituição de um salário mínimo nacional (há estados no Sul que não adotam nem um valor mínimo local), a instituição de uma política industrial transparente e um ajuste mínimo de preços. Em entrevista recente ao "New York Times", Blinder sintetizou a crise na academia afirmando que, hoje, "as ciências econômicas são freqüentemente um triunfo da teoria sobre os fatos".

Outra voz dissidente, o professor David Card, também de Berkeley, reconhecido por seus estudos sobre os efeitos no mercado do estabelecimento do salário mínimo (ele defende a tese de que, ao contrário do que prega a economia neoclássica, a oferta de emprego aumenta quando se estabelece um piso salarial) foi ainda mais específico ao dizer que, no mundo acadêmico americano, "você perde sua posição como um economista sério se não concordar que qualquer tipo de regulação de preços é maléfica e que o livre comércio é sempre benéfico". "Blinder e Card estão corretíssimos. Tem sido mesmo difícil discutir estes preceitos econômicos básicos. Mas os tempos estão mudando", acredita Reich.

O professor de Berkeley enfatiza, por exemplo, que, ao contrário do que defende o comandante da faculdade de economia da Universidade de Chicago, quem precisa de ajuda neste período de transição da economia americana não são os empresários, e sim "os trabalhadores, forçados a deixar a velha realidade pré-globalizada". Reich vai além: diz que não percebe qualquer interesse dos economistas neoclássicos em se aprofundar neste ponto. "Eles se preocupam muito em ser eficientes, mas não estão interessados em apresentar uma análise balanceada, justa", diz. Ele também aponta o revival da chamada economia comportamental como uma bem-vinda reação à ditadura neoclássica, que teria vivido seu auge com Milton Friedman e durante os anos mais felizes do governo Reagan.

Os economistas comportamentais não se afastam do pensamento "mainstream" como os heterodoxos, mas levam em conta as complexas reações psicológicas do indivíduo a eventos como uma queda brusca na bolsa de valores ou uma crise de liquidez como a enfrentada neste momento nos Estados Unidos. "Eles entenderam que os seres humanos não são, necessariamente, racionais em suas escolhas. Ao contrário, muitas vezes são mais o resultado da emoção do que da razão, e, dependendo das circunstâncias, as pessoas podem agir com mais ou menos empatia e generosidade. É um rompimento importante com o modelo neoclássico ortodoxo, racional e egoísta", diz Reich.

Para Reny, ainda é cedo para avaliar as contribuições que economistas comportamentais, como seu colega Richard Thaler, da Universidade de Chicago, podem oferecer para uma melhor compreensão do mundo contemporâneo. "Parece improvável, por exemplo, que a economia comportamental vá nos ajudar a entender algo significativo sobre os grandes investidores institucionais, que se preocupam acima de tudo com sua margem de lucro e que usam modelos matemáticos sofisticados para conduzir seus negócios. Mas, no fim, teremos de ver para crer", diz. A discussão, afinal, está apenas começando.

Entrevista/MICHELLE PFEIFFER

Michelle Pfeiffer está dando um show tanto em Hairspray quanto em Stardust. Minha conversa com a atriz de 49 anos - e linda de morrer - foi publicada na Contigo! que está nas bancas esta semana e é reproduzida abaixo na íntegra.

Ela estava cansada, tinha acabado de dar uma gafe imensa (disse à incansável imprensa londrina que não tinha idéia de quem era a banda Take That, que está na trilha sonora do filme) mas ainda assim foi difícil não desviar a atenção de seus olhos. Serena, la Pfeiffer foi uma bela surpresa numa tarde de sol e céu azul, nada ordinária para os padrões londrinos.




Michelle Pfeiffer: Linda aos Quase 50

Por Eduardo Graça, de Londres, para a Contigo!

O belo rosto já lhe valeu o título de atriz de cinema mais linda do mundo, segundo um estudo científico que analisou suas proporções, consideradas perfeitas. Mas Michelle Pfeiffer, 49 anos - faz 50 em abril do ano que vem - não está muito preocupada em manter a todo custo esse patrimônio. Para provar, ela encarna, no filme Stardust - O Mistério da Estrela, que estréia sexta-feira (12), Lamia, uma bruxa horrenda, com mais de 400 anos, doida para recuperar a beleza e o vigor perdidos com o passar dos anos.

Michelle também brilha em outras duas personagens em cartaz nos cinemas: Rosie, uma quarentona que se apaixona por um garotão, em Nunca É Tarde para Amar, e Velma von Tussle, ex-Miss Baltimore e diretora racista de uma emissora de TV no filme Hairspray - Em Busca da Fama.

Mas quem ficou feliz mesmo com sua volta ao batente, depois de quase cinco anos sem mostrar a bela estampa nos cinemas, foram seus filhos, Claudia Rose, 14, e John Henry, 13. "Eles não me agüentavam mais zanzando pela casa e viviam me perguntando: 'Mãe, quando você volta a trabalhar?'", conta a atriz. A seguir, a atriz revela o segredo de sua beleza eterna, em entrevista dada no hotel Claridge's, no coração de Londres.

Seus fãs vão levar um susto ao ver como o trabalho de envelhecimento a deixou horrenda...
Puxa, muito obrigada (risos)! Eu mesma fiquei preocupada quando me vi quase como uma monstra. Tanto que até decidimos diminuir os efeitos da maquiagem. De qualquer forma, não tenho a menor ideia da imagem que o publico tem de mim. Só sei que voltar a filmar depois de 4 anos parada e fazer duas vilãs tao asquerosas, cada qual à sua maneira, foi um movimento arriscado meu.

Por que arriscado?
Porque, para ser bem sincera, tive um certo receio de fazer dois personagens que brincam com temas que as pessoas evitam lidar de uma forma mais irônica – racismo e a obssessão feminina pela beleza e eterna juventude. Tive de confiar nos meus insitintos e no fim gostei muito do resultado. Mas, pensando bem, vai ver que temia encarnar estas duas personagens porque estou ficando mais velha, mais prudente. É isso, meu caro, você percebe que está envelhecendo quando começa a ficar mais precavido (risos).

Imagino que envelhecer em Hollywood deva ser preocupante. Os espaços diminuíram?
Acho que vai além de ser atriz. As pessoas, especialmente as mulheres, cobram muito essa receita de beleza eterna. E a indústria dos cosméticos, é claro.

Imagino que não viva sem seus cremes...
Pois aí é que você se engana! Vivo muitíssimo bem sem eles. Até porque cremes e modernas poções mágicas de beleza me dão uma tremenda alergia! Ou seja, tenho de viver sem eles! Mas o mundo hoje mudou tanto, não? Quando eu cresci na Califórnia ninguém sabia o que era um estilista de moda. A gente só sabia quem era o Armani. E assim mesmo quando me disseram que, para um evento no início de minha carreira, eu iria vestir Armani, minha reação foi a de perguntar por que eu não poderia me vestir por conta própria! Simplesmente nao entendia o conceito (risos).

O vestido que você está usando é belissimo...
Ai, meu Deus! E eu continuo a mesma. Não tenho a menor ideia de quem o projetou. (A reportagem de Contigo! descobriu que Michelle vestia um Vena Cada azul-marinho com cardigans Prada).

Mas você quer me convencer de que nunca se preocupou com o passar da idade?
Claro que me preocupei! Tive uma crise quando as minhas primeiras rugas apareceram. Mas, depois, acostuma-se a elas. Estou muito feliz comigo mesma. E aprendi que beleza é uma outra coisa.

Como assim?
Beleza vem da confiança em si mesma. E isso se reflete na maneira como voce se veste, em como voce trata as pessoas, em seu gestual. E também vem de uma certa devoção à preguiça. Sou muito preguiçosa. Com o passar dos anos desenvolvi a capacidade de relaxar mais e cobrar menos de mim. Isso ajuda a me sentir bonita (risos).

Não estou fazendo nenhum paralelo com seu culto à preguica, mas você ficou quatro anos sem filmar. Sentiu falta das câmeras?
Nenhuma!(risos). Não mesmo. Adoro pintar e viajar e quando descobri que vivo o luxo de não precisar ser atriz o tempo todo, minha vida melhorou tanto. Li muitos roteiros nestes anos todos e não gostei de nada. Quando finalmente achei algo interessante veio em dose tripla. Agora, sabe como eu descobri que precisava voltar a trabalhar? Quando meus dois filhos começaram a me inquirir sobre a volta ao trabalho. "Mãe, você não vai voltar ao set de filmagem nunca mais?" (risos). Ali eu precebi que era hora de voltar.

Se você pudesse ter poderes mágicos como a Lamia, seu personagem em Stardust, o que faria?
Sei que não gostaria de ler mentes. Aliás, sou tão racional que meu primeiro ímpeto foi o de responder que poderes mágicos nao existem, menino, que é tudo ficção, sabia? (risos). Mas, de verdade, acho que seria uma boa fazer umas viagens no tempo. Para o passado e para o futuro.

Então, se pudesse, faria como Lamia e retrocederia no tempo?
Jamais gostaria de voltar a ter 25 anos. Se tivesse a oportunidade, pararia nos 40. Passei realmente a aproveitar a vida depois dos 35 anos. Antes era boba demais e não era nem madura o suficiente para reconhecer isso. Hoje sei, e gosto de saber, que a gente nao precisa ter tudo ao mesmo tempo agora.

Lamia sente-se poderosa quando bela e jovem. E você?
Eu? Ora, sinto-me poderosa o tempo todo (risos)!

(o crédito da foto acima é de David James/Paramount)

Entrevista/NEIL GAIMAN

O Valor Econômico publicou hoje, no caderno Eu&Cultura, minha entrevista com Neil Gaiman. O escritor britânico falou da adaptação cinematográfica de Stardust, uma delícia, que estréia hoje nos cinemas brasileiros, e também das diferenças de seu universo fantástico e do mundo de batalhas sem fim do Senhor dos Anéis. Já já posto a outra entrevista que fiz em Londres, com dona Michelle Pfeiffer.

A bruxa de Gaiman à solta na tela
Por Eduardo Graça, de Londres, para o Valor
12/10/2007



Quem disse foi Norman Mailer, logo após devorar todo "Sandman". Neil Gaiman faz algo extremamente raro: escreve história em quadrinhos para intelectuais. Camisa de manga, calça larga, cabelos encaracolados negros, cotovelo largado sobre a mesa de madeira, o escritor de 47 anos tenta achar graça do circo armado em torno da adaptação para o cinema de "Stardust", outro de seus best sellers. O filme chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira e conta com elenco de primeira. Robert DeNiro vive um pirata cheio de trejeitos; Michelle Pfeiffer, uma bruxa centenária obcecada pela beleza física; e ainda há espaço, embora não muito, para Ian McKellen, Peter O'Toole, Rupert Everett, Ricky Gervais, Sienna Miller e Claire Danes.

Todos largaram o que faziam no momento para tirar uma casquinha do universo imaginado pelo escritor britânico em uma produção encabeçada pelo diretor Matthew Vaughn, do hilário "Nem Tudo É o Que Parece", mas mais conhecido por ser o produtor dos filmes de Guy Richie e ter-se casado com a modelo Claudia Schiffer. "Fiquei envaidecido, mas preciso ser sincero: nem sempre gosto do que fazem com minhas histórias", diz Gaiman. "Lembro-me de que Matthew estava na oitava semana de filmagem quando tomei coragem de ir ao set. Fiquei confinado numa salinha vendo o que ele havia feito e ali tive certeza de que, após um ano prendendo a respiração, poderia suspirar aliviado."

"Stardust" surge na tela como se aquela trama já fosse conhecida de antemão. O livro, que teve mais de 3,5 milhões de exemplares em formato de bolso vendidos, é um dos cinco romances escritos por Gaiman, reverenciado por suas graphic novels (como "Sandman", um dos maiores sucessos da história da DC Comics, e "Death"). Quando escreveu "Stardust", há dez anos, queria alcançar reação típica dos contos de fadas clássicos: a de que o leitor tateasse por caminhos conhecidos, que tivesse a sensação de já ter visitado determinada história, de já estar familiarizado com um ou outro personagem. "O filme consegue alcançar esse estado de espírito", diz.

O enredo de "Stardust" é simples: um jovem apaixonado pela moça mais linda da cidade promete presenteá-la com a estrela cadente que acaba de despencar do outro lado do muro que separa a cidade de uma área proibida, repleta de magia. Logo ele descobrirá que a tal Estrela Cadente é uma mulher interessante, personagem fantástico num mundo povoado por gente como a bruxa Lamia e suas duas irmãs asquerosas, claramente inspiradas na mitologia grega.

"Enquanto escrevia 'Stardust', já imaginava como seriam os personagens no cinema. Mas a bruxa da minha imaginação teria cabelos negros desgrenhados e um vestido vermelho imenso. E jamais seria linda como Michelle. Lamia, no livro, discute a obsessão que temos em nos mantermos poderosos. É claro que queria falar sobre o culto da beleza eterna imposta por nossa sociedade. Mas isso quem mostrou foi Michelle."

Para os fãs do livro de Gaiman, uma das grandes novidades é o Capitão Shakespeare de DeNiro, que ganhou fôlego extra, com um guarda-roupa repleto de vestidos tamanho família à disposição do genial ator. "Quando Matthew me disse o que pretendia fazer com o Shakespeare, fiquei tenso, achei que poderia desandar tudo. Mas como ele me disse que somente dois atores seriam capazes de viver um pirata desmunhecado, Jack Nicholson ou Robert DeNiro, fiquei calmo, pois achei que nenhum dos dois iria querer fazer algo que perigosamente beirava o ridículo. Até saber que DeNiro havia topado de primeira! Mas ele conseguiu, de fato, imprimir uma candura que revela na essência o que imaginei: alguém que finge desesperadamente ser o que não é para ser aceito, quando todos estão cansados de saber em que time ele joga e têm o maior orgulho de tê-lo como comandante daquele navio", conta.

O escritor de HQ para intelectuais termina, ainda neste semestre, seu mais novo livro: "The Graveyard Book", sua segunda obra dirigida para adolescentes (a primeira, "Coraline", de 2002, chega aos cinemas no ano que vem, em adaptação de Henry Selick, com música da cultuada banda nova-iorquina They Might Be Giants). "O livro vai se passar todo em um cemitério e posso adiantar apenas que é uma brincadeira com o Mogli, só que, em vez de ser criado pelos lobos, a criança abandonada será criada pelos mortos", revela, com uma piscadela de olho que lembra a marotice delicada de "Stardust".

quinta-feira, outubro 11, 2007

Abaixo o Patrulhismo! - Artigo de Olga de Mello

Outra jornalista supimpa, a querida Olga de Mello, minha colega de Eu&Cultura no Valor Econômico, baseada no Rio, aproveita a carona do artigo de Márcia Pereira e me mandou o dela. Com vocês, Olga de Mello, que vai ver o filme amanhã. Ela trata de outro aspecto interessante do filme do Padilha: a de centrar a narrativa do ponto-de-vista do policial. Vamos ver se ela muda de opinião após conferir a Tropa de Elite no cinema:

Abaixo o Patrulhismo!
Por Olga de Mello, para o edudobrooklyn

Essa polêmica está parecendo aquela história do filme do Mel Gibson sobre Cristo, que "acusava os judeus de matarem Cristo". Enquanto transcorria essa discussão, alguns críticos falaram que o filme era bom. Não vi. Também não vi ainda a Tropa de Elite. Mas eu detesto patrulhismo. Se fosse assim, ninguém poderia ver A Queda, com Bruno Ganz vivendo um Hitler absolutamente maluco - o que o isentaria de todos os crimes cometidios.
Enquanto neguinho patrulha, como se cinema tivesse que ter moral da história (e televisão, não. Lá, os vilões acabam virando mocinhos, quando interpretados por atores que defendem o personagem convictamente), se esquecem de dizer se o filme é bom ou ruim. Aqui, se uma história toca numa ferida aberta, tendemos a ir contra quem trouxe o assunto à baila. Foi assim com Cidade de Deus, lembram? "Favela High-Tec", "glamourização dos bandidos". Existe algum glamour no "Dadinho é o caralho, meu nome agora é Zé Pequeno"? Dá é medo mesmo. Eu fiz uma ressalva ao filme, aquela festinha de despedida de um bandido à qual todos na favela vão, incluindo os crentes. Isso não existia na década de 70. Bandido não era tão amado assim, não. Mas o filme é mais do que um documentário.

O mesmo deve ocorrer com a Tropa, que verei amanhã. O filme é uma obra de ficção, infelizmente, muito semelhante aos fatos reais. Não é mera coincidência. E, pela primeira vez temos um filme contado sob o ângulo da polícia. Aqui, só apóia policial jornalista escandaloso de TV. Mas mostrar uma história pelo ponto de vista deles, ninguém quer. E policial linha dura, mau-caráter, endeusado, o cinema americano tem milhares. Haja filme de pancadaria com filosofia Sivuca. Tá na hora de termos o nosso também.

De Tropas e Elites - Artigo de Márcia Pereira

Minha amiga Márcia Pereira, editora da revista Contigo! em São Paulo, da qual sou colaborador assíduo, acaba de me enviar este artigo-desabafo sobre a polêmica em torno do filme Tropa de Elite, que eu ainda não tive a chance de ver aqui pelos states. Não chegaria a defender a tortura contra os políticos de Brasília (calma aí, Marcinha!), mas acho interessantísimo o paralelo que ela faz com a reação da mídia ao ótimo filme de Helvécio Ratton, Batismo de Sangue, acusado de fazer a apologia da violência em sua postura hiper-realista ao retratar a tortura aos militantes políticos de esquerda durante a ditadura militar. Enfim, o tema é interessante, está rendendo muito bafafá no Brasil, e espero que dê pano para manga aqui no blog também.

Com vocês, Márcia Pereira:

Deixem o José Padilha em paz!!!
Por Márcia Pereira, para o edudobrooklyn

Antes de mais nada, quero deixar claro aqui que não conheço o diretor José Padilha (e nem ninguém envolvido na produção do seu longa Tropa de Elite), não vi seu documentário Ônibus 174, mas assisti ao afamado longa-metragem de ficção sobre as ações do Bope carioca numa sessão oficial, organizada pela Paramount — a distribuidora da obra em solo brasileiro — e em um cinema, como manda o figurino de uma cidadã realmente honesta.

Bom, dito isso, vamos lá.

Será que é pedir muito aos intelectuais e cineastas de plantão que, em vez de ficarem criticando, execrando, jogando na lama a obra de um colega, de um profissional que tenta ganhar a vida com o seu trabalho, produzam e continuem produzindo obras realmente significativas dentro de suas áreas? Sinceramente, não entendo porque essas pessoas canalizam sua fúria (que pelo visto é sazonal e pessoal) para cima do novo filme de Padilha, Tropa de Elite, em vez de escreverem mais roteiros contundentes ou de rodarem filmes tão atraentes e instigantes, que façam com que mais de 1 milhão de brasileiros o vejam (mesmo antes de sua estréia oficial) e saiam pelas ruas e bares comentando seus detalhes, suas cenas, seus diálogos. Filmes que surtam algum efeito, mesmo que seja simplesmente o de rir ou chorar.

Não entendo também a resistência dos profissionais brasileiros de cinema em viver a vida de seu trabalho como cineastas. Ou, para ser mais clara, de ganharem dinheiro (muito dinheiro) dirigindo e roteirizando filmes que sejam comerciais e, portanto, hollywoodianos — traduzindo mais ainda, rentáveis, lucrativos. Que eu saiba, os diretores brasileiros não possuem empregos paralelos de analistas financeiros, cabeleireiros, médicos ou mesmo de professores, para lidarem com o cinema como se fosse um hobby.

Não entendo também porque a maioria segue rotulando sua atividade profissional como arte. Pô galera, a tela do cinema não é de canvas. Cinema nasceu business, é business e vai continuar business. Cinema, como já disse o diretor Cláudio Torres – em declaração na época de lançamento de seu filme O Redentor –, é entretenimento! Não que não exista espaço para o cinema-arte, claro que tem. Mas por que só essa categoria merece os elogios rasgados da classe?

Cinema não é sala de aula — se bem que ensinar via telona é mais interessante e eficaz. Mas essa não é a vocação do cinema. Se um filme informa, educa, lindo. Mas tá no lucro. E lucro faz parte do… business. E vamos combinar que a função social do cinema é dar emprego para diretor, roteirista, ator, maquiador, preparador de elenco, dublê, motorista, produtor…

Que mania chata de impingir à deliciosa forma de entretenimento essas obrigações que pertencem a outras atividades e setores! Só porque as que deveriam se ocupar delas não as fazem? Quer dizer que se o BNDES não empresta dinheiro para um empresário construir uma fábrica de rapadura no meio do sertão nordestino, e com ela promover o desenvolvimento de uma região — bem como de quem vive nela e dela —, eu tenho que assaltar minha conta e emprestar?

Queridos cineastas, parem de julgar as intenções do diretor José Padilha — intenções estas que vocês devem desconhecer, mas discorrem sobre elas como se dividissem a alcova com Padilha. Deixem ele, seu filme e as páginas do meu jornal em paz! Deixem o filme respirar, ser degustado, ingerido, absorvido pelas pessoas. Quanto mais fizerem isso, melhor para o cinema nacional, como também bem comentou Fernando Meirelles — será que é por essas e outras declarações e atitudes que talvez só ele trabalhe fora do Brasil?

Parem de reclamar, de ficarem colocando o filme no divã e analisando sua veia fascista, de direita, de apologia ao Estado policial. Que saco!

Ah, descobri! A profissão (e vocação) paralela dos cineastas brasileiros é a de psicólogo! E depois passam — para quem tem o Tico e o Teco funcionando perfeitamente — a impressão de que são obtusos. Sim, porque, alguém aí se deu conta (ninguém menciona, pelo menos) que Tropa de Elite é uma adaptação de uma outra obra, do livro Elite da Tropa, escrito por Luiz Eduardo Soares, Rodrigo Pimentel e André Baptista? E que o senhor Pimentel, ex-policial e integrante do Bope, é co-autor do roteiro do filme?

Quer dizer, não é uma idéia original de Padilha. Por mais que ele seja diretor do longa, não o inventou sozinho. É, no máximo, co-autor da história toda. Ele retrata o que está escrito num livro, que, por sua vez, segundo seus autores, retrata uma realidade que está na cara das pessoas — pessoas, aliás, que insistem em não ver. Pior do que o olhar policial de Pimentel e Baptista é o de quem olha para o lado, para não o ver o que está acontecendo.

E também, parem de ficar pensando pela gente. Nós não queremos!!! ! Isso ofende!!!

Para vocês o filme do José Padilha é fascista, moralista mistificador, faz apologia do Estado policial, heroiciza e humaniza o Bope etc. etc. Nada disso! O script de vocês fica melhor assim, ó: "eu acho que o filme do José Padilha, na minha humilde opinião e vivência, enquanto colega cineasta, me parece que…"

Pois é, sei que cineastas, acostumados que estão com a ficção, também adoram imaginar coisas. Eu vi o filme e não enxerguei apologia nenhuma ao Bope, nem achei ou acho que o Capitão Nascimento seja meu herói. Credo! Um cara que sua em bicas quando a responsabilidade chama, por causa do pânico — os dois, o sentimento e a doença. E aqui, por favor, nada de me acusarem de nutrir preconceito com quem tem síndrome do Pânico —treme que nem vara verde, grita com a mulher “recém-parida” e trata seus alunos que nem bicho — se bem que todo homem pertence ao reino animal. Mas a gente tem mesmo essa arrogância de achar que é melhor que o leão ou o urubu…

E nem achei bonito enfiar um saco na cabeça de uma pessoa para obter informações. Se bem que, às vezes, é bem eficiente (e tem muita gente que merece. No Congresso Nacional, antro de covardes, tenho certeza que o uso dessa tática ia agilizar bastante as CPIs). Assim como foi eficiente torturarem os presos políticos (obviamente, não foi com todos que a tática funcionou. Eu diria até que foi com a minoria) durante a ditadura militar, como mostraram, aliás, pouquíssimos filmes (é preciso mais! Tem muuuuita gente que não sabe o que aconteceu naquele período e muita gente que sabia e parece ter se esquecido. É que fazer filme sobre ditadura militar e preso político não dá ibope e nem rende polêmica ou indicação para o Oscar, né?).

Engraçado que nenhum cineasta defendeu o excepcional e comovente Batismo de Sangue, de Helvécio Ratton, quando a mídia o rotulou de ser violento demais, recheado de torturas exageradas, encharcado de sadismo cinematográfico — como se fosse possível torturar sem ser cruel, violento ou sádico. Quer dizer que fritar os testículos de estudantes (mesmo) e freis que acreditavam numa causa, que tinham consciência social (esses sim), tudo bem, só porque não eram pobres, favelados?

Torturar não é legal para ninguém. E enxerguei que o filme de Padilha mostra isso. Assim como polícia corrupta não é legal, nem políticos sacanas, nem traficante e nem quem também alimenta o tráfico — e depois tenta se redimir fazendo passeata a favor da paz.

Legal é arrumar solução, é brigar, cobrar por ela. Fazer efetivamente alguma coisa. E não ficar usando papel-jornal para lavar roupa suja. Mas fazer tudo isso dá mais trabalho e a Petrobras não vai financiar…

quarta-feira, outubro 10, 2007

Entrevista/NICHOLAS CAGE

Nicolas Cage

Mágico e sedutor

Por Eduardo Graça, de Nova York, para a Contigo!

Divulgação / Paramount

Em seu novo filme em cartaz, O Vidente, o astro de Hollywood mostra os músculos e continua irresistível

Reza a lenda que o contrato de Nicholas Cage, 43 anos, com os grandes estúdios de Hollywood inclui uma cláusula capciosa: o ator teria de aparecer pelo menos uma vez sem camisa na telona - sabe-se lá a razão, já que ninguém ainda teve coragem de perguntar (até porque, apesar de educadíssimo, é seco, sucinto e encerra imediatamente suas entrevistas quando alguém resolve perguntar algo mais invasivo. Como, por exemplo, o que ele acha da diferença de 20 anos que o separam da sua atual mulher). Pois em O Vidente, seu novo filme em cartaz por aqui, ele não decepciona as fãs, principalmente, e revela sua boa forma na pele do mágico Cris Johnson - mostra seus músculos (e também um cabelo ridículo à moda do professor Robert Langdon de O Código Da Vinci), mas esconde suas muitas tatuagens.

No novo longa, ele expõe também sua mulher, a ex-garçonete e aspirante a designer de jóias Alice Kim, 23, mãe de seu caçula, Kal-el, 2. Alice faz uma ponta, a sua primeira como atriz.

Sobre esses e outros assuntos, Cage conversou com a imprensa mundial num luxuoso hotel em Manhattan, Nova York. A seguir, a entrevista.

O Vidente marcou a estréia de sua mulher, Alice Kim, em Hollywood. A participação dela no filme foi uma idéia sua?
Foi. Ela não tem a menor vontade de seguir a carreira artística. Mas vamos guardar para sempre a lembrança de termos trabalhado juntos em um filme. Poderemos mostrar isso ao nosso filho, Kal-el, no futuro. Foi muito, muito divertido tê-la no set.

Você já teve alguma experiência de vidência ou, durante a preparação para as filmagens, entrou em contato com alguém que tivesse tido alguma possível experiência paranormal?
Apesar de ser um céptico nesses assuntos, tenho a cabeça aberta. Tudo é possível neste mundo. Por exemplo, pense naquele momento em que sente que uma pessoa do outro lado da rua está olhando para você. Daí você vira o rosto e lá está ela, te encarando. O que é isso? Premonição? Não sei. Ou quando se acorda todos os dias um segundo antes do despertador tocar. Ou quando se pensa muito em alguém, o telefone toca e ao atender percebe ser a pessoa na qual acabou de pensar do outro lado da linha. Seria irresponsável ou, melhor, ignorante, negar a existência de algo inexplicável como isso.

E como você se preparou para encarnar Cris Johnson, o mágico vidente do filme?
Ele pode prever o futuro imediato e foi essa característica que quis explorar ao máximo, me preocupei até como ele deveria andar, sabendo tudo o que ia acontecer 2 minutos à sua frente. Para isso, contratei uma coreógrafa de dança moderna, para adquirir mais agilidade. Também fiz uns exercícios por conta própria, como rir sem um motivo especial, já que ele saberia o que aconteceria de engraçado minutos depois. Uma de minhas cenas favoritas é quando ele vai se encontrar com o personagem da Jessica (Biel) em um restaurante e pode prever o quão desastroso será esse primeiro encontro. Quem nunca desejou fazer os movimentos certos para cortejar a mulher pela qual se interessou? Seria ótimo (risos)!

Gostaria de poder ver o futuro?
Neste momento de minha vida, sim. Tentaria estar pronto para tudo e assim viver sem medo. E se pudesse mesmo ter o dom de ver o futuro, bem, gosto de pensar que o usaria para ajudar os outros.

E o futuro de sua carreira? Como você o vê?
Trabalhando cada vez menos, fazendo menos filmes e mais focados em meu trabalho por trás das câmeras, dirigindo ou treinando atores.

Você prefere fazer filmes mais hollywoodianos, como O Vidente, ou trabalhos mais independentes como Grindhouse, de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez?
A grande vantagem de se fazer filmes independentes é que as suas chances de ser demitido são bem menores (risos). Mas acho que ainda tenho liberdade para atuar da maneira que eu quero nos filmes de estúdio. Lembra de Peggy Sue, Seu Passado a Espera? Eu resolvi atuar como se estivesse dentro e uma história em quadrinhos dos anos 80 e quase fui limado. Ainda bem que o diretor era meu tio (Francis Ford Coppola) e ele segurou minha onda (risos). Mas o importante é que você deve sempre arriscar e tentar fazer o que acha correto para cada papel.

Anda fazendo vários heróis na tela recentemente, como no Motoqueiro Fantasma, As Torres Gêmeas e agora em O Vidente...
De fato, se a gente concordar que herói é aquela pessoa que se sacrifica para beneficiar os outros, o que acaba acontecendo com muito custo com o Cris, podemos considerá-lo um herói também. Gosto de pensar que todos nós passamos por momentos em que podemos fazer algo heróico na vida, em maior ou menor escala. Por exemplo, quando se conta a verdade para alguém sobre determinado assunto, mesmo sabendo que a história vai deixar você em maus lençóis com o outro, se está sendo um pouco herói.

E no cinema, cultiva seus heróis?
A maioria dos meus heróis do cinema estão mortos. Adoraria ter tido a chance de trabalhar com Federico Fellini (1920-1993), Stanley Kubrick (1928-1999), Marlon Brando (1924-2004) e Walt Disney (1901-1966). Eles mudaram a maneira da gente pensar e transformaram nosso mundo de uma maneira impressionante.

Existe algum algum personagem, dos muitos que você interpretou, do qual se sente mais próximo?
Vai parecer estranho, mas Johnny Blaze, de Motoqueiro Fantasma (risos). Creio que é porque boa parte do personagem é o resultado de minha própria vida. Literalmente, um belo dia estava comendo jujubas, em uma taça de martini, escutando Karen Carpenter e pensando sobre este dom ou praga que me jogaram e que me permite ser um ator de Hollywood. Mais Motoqueiro Fantasma, impossível.

Apesar de todas as críticas negativas, O Motoqueiro Fantasma transformou-se em um grande sucesso de bilheteria. Você pensa em fazer uma seqüência? E ainda tem planos de levar o desenho animado japonês Astro Boy para a tela grande?
Claro! Adoraria fazer o pai no filme do Astro Boy. Imagino algo como uma versão ficção científica do Pinóquio. E um Motoqueiro 2? Hum... Depende. Se o roteiro for bom, digo sim na hora!