sábado, abril 22, 2006

Guerrilha Indie

O amigo Lúcio Ribeiro conta, na sua Popload desta semana a hilária história da banda indie de Pernambuco que resolveu ser ouvida de qualquer maneira. Hilário. Olhem só:

(…) o Abril pro Rock não vai ter The Playboys, sexteto punk-zoeira de Recife. E, numa das (re)ações mais legais do cenário nacional nos últimos tempos, o "desprezado" The Playboys vai lançar amanhã no próprio Abril pro Rock o single "Paulo André Não me Ouve", já exposto na internet há algumas semanas.Punk pegajoso com tecladinho e vozes sampleadas, "Paulo André Não me Ouve" é um bem-humorado libelo "revanchista" contra a não-escalação do Playboys, banda indie da cena recifense, no gigante (padrões underground) festival de Paulo André.

"Paulo André, não me ouve/ Paulo André, não me ouve/ Não presta atenção no meu release e CD/ Se eu não tocar no Abril pro Rock, como vou aparecer na MTV", diz a longa letra, que cita as "intenções" da banda em fazer sucesso, outros produtores de Recife, jornalistas pop locais.

"Paulo André, vamos ganhar dinheiro juntos, cara/ A gente faz uma música de vanguarda para você/ Mas por favor me exporta para a Europa/ Eu quero ser exportado, cara", continua a letra, que conta com um padrinho da velha-guarda local, no caso Rogê, lendário agitador do mangue bit (ou beat) que está até em título de música de Chico Science. É de Rogê a engraçada voz "Paulo André foi ontem pra Nova York", sampleada, que permeia e finaliza a música, indicando a possibilidade (ou desculpa) de não conseguir encontrar o Paulo André.

"A gente sabe que o Paulo André não consegue ouvir os milhões de CDs de bandas novas que mandam para ele. Mas é nossa função tentar chamar a atenção dele do modo que dá", diz João Neto, o vocalista. "Ele sabe que a música não é para achincalhar ele. Me disse que não ficou chateado. Até achou legal."No ano passado, em outro ato de guerrilha indie, o então não-convidado The Playboys conseguiu alugar uma tenda "para vender coisas" na edição 2005 do Abril pro Rock e participar de algum modo do festival. Acabaram levando amplificadores e improvisaram um show repentino, na área comercial do Abril. Conseguiram atrair até o roqueiro gaúcho Wander Wildner para uma participação especial. O lugar ficou conhecido como "Palco 3".O Abril pro Rock deve ser novamente "invadido" pelo The Playboys, que vai levar cem cópias prensadas às pressas de "Paulo André Não me Ouve". Paulo André vai ouvir The Playboys.

quinta-feira, abril 20, 2006

Verissimo, hoje, n'O Globo

Um belo 'comentário sobre quem demoniza os sem-terras mas não se horroriza com a violência diária, antiga, arraigada nos seus costumes e valores, praticada pela sociedade mais injusta do mundo':

(...) Um ato de violência escandaliza, uma rotina de violência banaliza. A rotina da miséria brasileira acaba se integrando no cotidiano, funde-se com a paisagem e desaparece no nosso relativismo moral. É lamentável, e lamentada em todos os discursos e programas de governo, mas não é aterrorizante, pois quem pode viver em estado permanente de horror? E, no entanto, só o que diferencia a violência de uma invasão de terras da violência constante, rotineira, banalizada que a situação fundiária do país impõe aos sem-terras é o tempo. Uma é uma quebra de normalidade, a outra é a normalidade. As duas são reprováveis, mas a segunda é absolvida pela indiferença. Não tem o mesmo efeito espetacular, o mesmo horror concentrado.

quarta-feira, abril 19, 2006

Diretinho da Redação (43)



O texto da semana já está no DR.


MAINARDI: CATILINÁRIA RASTAQÜERA

Katrina vanden Heuvel é editora-chefe da revista semanal The Nation, uma das mais prestigiosas publicações da imprensa norte-americana, fundada em 1865. Nesta terça-feira tive a sorte de ouvi-la na Universidade de Harvard, em Cambridge. O tema do evento promovido pela Kennedy School of Government era o lançamento de seu mais recente livro, um dicionário de ‘republicanismos’ confeccionado com a ajuda dos assinantes da revista.

Os leitores-ativistas da The Nation são mais um dado a comprovar o crescente poder de fogo da chamada imprensa liberal em terras de Tio Sam. Revistas como a de dona Katrina e a Mother Jones, no longo reinado de Bush II, convivem, felizes, com o milagre da multiplicação do número de assinantes e anunciantes. Há hoje o entendimento de que o fenômeno se deve especialmente ao receio de que uma voz única, radicalmente conservadora, cale o debate das idéias no país.

O prazer de ouvir Dona Katrina repetir o catecismo maroto da The Nation – ‘há dois séculos uma revista que jamais deu lucro, mas que segue buscando ecoar com independência a voz do cidadão americano’ - foi quase tão intenso quanto a vergonha de se ler nas páginas de outra semanal, a paulistana Veja, os impropérios de Diogo Mainardi em sua coluna mais recente, intitulada ‘Jornalistas são Brasileiros’. A sociedade civil americana jura que aprendeu suas lições com o macarthismo. Quem parece não ter saído dos anos 50 foi parte da grande imprensa brasileira.

Mainardi conseguiu denegrir ao mesmo tempo a revista que publicou seu panfleto, os leitores expostos a um texto vulgar, repleto de acusações sem prova, e os jornalistas por ele atingidos (Franklin Martins, Helena Chagas, Luís Costa Pinto e Eliane Cantanhêde). Mas a vítima maior foi a profissão que ele não exerce. Em sua catilinária rastaqüera, Mainardi usou mão de grifes do jornalismo para atacar uma instituição que, para ele, se iguala à ‘frouxidão moral dos brasileiros’. Inventa laços de parentesco, traça teorias da conspiração e ignora a história recente para defender a velha tese de que ruim estamos porque o povinho, e seus noticiaristas, não prestam.

Nota-se que Mainardi não dedica uma linha sequer às relações entre os empresários de comunicação e os mesmos políticos que, acusa, trocam favores com os jornalistas radicados em Brasília. Deve ter lá suas razões.

O episódio confirma a inegável dose de jeriquice deslumbrada de quem oferece espaço nobre a um cidadão que se posiciona abertamente contra a maioria absoluta dos leitores de sua própria publicação – presume-se, brasileiros. Mas há algo ainda mais pernicioso quando a revista mais lida do país publica um texto que a inclui inapelavelmente no que de pior já se escreveu nas páginas impressas deste nosso querido Brasil. Que vergonha.

segunda-feira, abril 17, 2006

Living With War


Neil Young: Heart Of Gold, o documentário de Jonathan Demme centrado na apresentação do show Praire Wind em Nashville é talvez mais intimista do que parte da audiência do gênio canadense possa suportar. Entre um canção e outra fala-se da morte recente do pai de Young e da descoberta de que o rock star tem um aneurisma no cérebro. Mas para os interessados em mergulhar de fato na cultura popular da América do Norte do século que passou o filme é um pepita rara, apesar (ou exatamente por conta) do alto teor country, do cenário breganejo, da ausência, vá lá, da rebeldia mais explícita que caracterizou parte do trabalho de Young.

Pois bem, para estes a notícia do dia acaba de ser publicada no The Independent. O jornal londrino confirma os boatos e anuncia aos quatro cantos que o novo disco de Neil Young é todo inspirado na invasão do Iraque pelas tropas norte-americanas e que sobram cacetadas em George Bush & cia. Uma das faixas leva o singelo titulo de Impeach the President. Em seu website Young brinca dizendo que metal-folk protest é o que se pode fazer quando olha para os lados e percebe aonde está vivendo. O nome do álbum é justamente Living With War e, de acordo com Jonathan Demme, foi finalizado em três dias e vai chegar logo às melhores lojas do ramo por aqui.

Enquanto isso, a gente fica com a letra da música-título que abre o disco:

I'm living with war right now/ And when the dawn breaks I see my fellow man/ And on the flat screen we kill and we're being killed again/ And when the night falls I pray for peace/ Try to remember peace