quarta-feira, abril 19, 2006

Diretinho da Redação (43)



O texto da semana já está no DR.


MAINARDI: CATILINÁRIA RASTAQÜERA

Katrina vanden Heuvel é editora-chefe da revista semanal The Nation, uma das mais prestigiosas publicações da imprensa norte-americana, fundada em 1865. Nesta terça-feira tive a sorte de ouvi-la na Universidade de Harvard, em Cambridge. O tema do evento promovido pela Kennedy School of Government era o lançamento de seu mais recente livro, um dicionário de ‘republicanismos’ confeccionado com a ajuda dos assinantes da revista.

Os leitores-ativistas da The Nation são mais um dado a comprovar o crescente poder de fogo da chamada imprensa liberal em terras de Tio Sam. Revistas como a de dona Katrina e a Mother Jones, no longo reinado de Bush II, convivem, felizes, com o milagre da multiplicação do número de assinantes e anunciantes. Há hoje o entendimento de que o fenômeno se deve especialmente ao receio de que uma voz única, radicalmente conservadora, cale o debate das idéias no país.

O prazer de ouvir Dona Katrina repetir o catecismo maroto da The Nation – ‘há dois séculos uma revista que jamais deu lucro, mas que segue buscando ecoar com independência a voz do cidadão americano’ - foi quase tão intenso quanto a vergonha de se ler nas páginas de outra semanal, a paulistana Veja, os impropérios de Diogo Mainardi em sua coluna mais recente, intitulada ‘Jornalistas são Brasileiros’. A sociedade civil americana jura que aprendeu suas lições com o macarthismo. Quem parece não ter saído dos anos 50 foi parte da grande imprensa brasileira.

Mainardi conseguiu denegrir ao mesmo tempo a revista que publicou seu panfleto, os leitores expostos a um texto vulgar, repleto de acusações sem prova, e os jornalistas por ele atingidos (Franklin Martins, Helena Chagas, Luís Costa Pinto e Eliane Cantanhêde). Mas a vítima maior foi a profissão que ele não exerce. Em sua catilinária rastaqüera, Mainardi usou mão de grifes do jornalismo para atacar uma instituição que, para ele, se iguala à ‘frouxidão moral dos brasileiros’. Inventa laços de parentesco, traça teorias da conspiração e ignora a história recente para defender a velha tese de que ruim estamos porque o povinho, e seus noticiaristas, não prestam.

Nota-se que Mainardi não dedica uma linha sequer às relações entre os empresários de comunicação e os mesmos políticos que, acusa, trocam favores com os jornalistas radicados em Brasília. Deve ter lá suas razões.

O episódio confirma a inegável dose de jeriquice deslumbrada de quem oferece espaço nobre a um cidadão que se posiciona abertamente contra a maioria absoluta dos leitores de sua própria publicação – presume-se, brasileiros. Mas há algo ainda mais pernicioso quando a revista mais lida do país publica um texto que a inclui inapelavelmente no que de pior já se escreveu nas páginas impressas deste nosso querido Brasil. Que vergonha.

2 comentários:

ipaco disse...

O Mainardi adota um papel existente na cultura jornalística brasileira que é o do difamador que busca aparecer e sustentar seu nome em sucessivos escândalos e acusações vazias inventadas por ele. Ocorre que Mainardi escreve numa revista com grande números de leitores, apesar de ser uma péssima revista em termos qualitativos (até porque admite um colunista como ele). Mas chegará um momento em que a inconsistência de suas bravatas vai se impor ao leitor mais desavisado.

maria rezende disse...

Edu querido, sempre um prazer te ler, e na falta de possibilidade de te ver e ouvir, o blog acaba sendo um jeito de te ter mais perto... Um beijo da maria