Conversei com Dustin Hoffman e Jack Black no salão de imprensa de um hotel de luxo de Beverly Hills, em Los Angeles, por conta do surpreendentemente divertido Kung Fu Panda, desenho-animado que chegou esta semana aos cinemas brasileiros. O papo, na íntegra, segue abaixo:
Kung Fu Panda - Dustin Hoffman
Eduardo Graça, de Los Angeles, para a Contigo!
A reportagem de Contigo! esbarrou com Dustin Hoffman no elevador do chiquérrimo Beverly Wishire e presenciou cena inusitada. O ator, de 70 anos, vencedor de dois Oscars (por Kramer vs. Kramer e Rain Man), carregava uma imensa jarra de sucos de fruta, que tentava equilibrar enquanto conversava com dois garçons do hotel famoso por servir de cenário para as cenas de amor de Julia Roberts e Richard Gere em Uma Linda Mulher. É que ele percebera o esforço de última hora do pessoal do bufê e resolveu ajudar. Assim é o homem que resolveu emprestar sua voz para o mestre Shifu, o aparentemente durão mas sentimental guardião dos segredos da arte marcial mais nobre no hilário desenho-animado Kung-Fu Panda. Tão gentil quanto honesto, Hoffman confessou que não gostou muito da experiência de ‘emprestar a voz para um animalzinho animado’ e que o que realmente aprecia é a troca de energia entre atores estabelecida nas muitas filmagens de que participou. Mas não deixa de confessar que adorou o fato de os seis filhos de seus dois casamentos terem todos identificados os trejeitos do pai no sutilíssimo Shifu e solta uma piada tipicamente hoffmaniana sobre as cenas exclusivas com Angelina Jolie que estarão apenas no DVD.
- O que o atraiu em um projeto aparentemente distante de sua filmografia clássica?
- Os produtores me convidaram, vi alguns esboços, fiquei com medo de ser um personagem muito bi-dimensional, mas depois achei que poderia encontrar algo interessante para fazer com o Shifu quando percebi que ele era um mala-sem-alças (risos). Ali ele virou tridimensional. Foi a chatice dele que me atraiu. E no fim do filme ele tem um insight, mas não posso contar mais...
- Você também acabou de estrelar Sr.Magorium e a Loja Mágica de Brinquedos. Fiquei cá pensando se fãs mais novos já estão descobrindo seus clássicos, como Perdidos na Noite e Sob o Domínio do Medo...
- (Rindo muito) Provavelmente em famílias extremamente desestruturadas as crianças estão vendo estes filmes, né? Não, sério. Outro dia uma moça me reconheceu na rua e, toda empolgada, mostrava para o filho: “Olha lá o Capitão-Gancho!” (risos). E a criança olhou para ela com total descrença. Eu então pedi que ela fechasse os olhos e ouvisse com atenção. E sussurrei no ouvido dela: “Eu odeio, eu odeio, eu odeio Peter Pan!” (risos). Mas nem assim ela acreditou! (risos).
- E você pode dizer então que, neste mundo das crianças, gostou do processo de se fazer desenhos animados?
- Não. Não gostei (risos). E digo isso do ponto de vista do ator, porque do animador é sensacional, intrigante mesmo. Mas o ator fica isolado em um quarto de gravações com microfones para todo lado. Somente um dia eu trabalhei acompanhado, com o Jack Black, fazendo a cena da luta dos pauzinhos chineses, e aí foi maravilhoso! Imagine, este filme demorou quatro anos para ser feito. É um trabalho mais como pintura ou literatura do que cinema mesmo.
- E você teve alguma voz ativa em como Shifu foi construído?
- Outro dia eu brinquei que, partindo de um singularíssimo ponto-de-vista, eu queria que ele tivesse um nariz menor (risos). E acabei pedindo, sério, para aumentar a boca do Shifu, porque não conseguia vê-lo falando como eu falo. E eles me disseram que o Shifu era um Panda vermelho anão. Ah, não! Eu não engoli esta não! (risos). Será que este é o nome mesmo? Eles juram que é!
- E como foi a parceria com o Jack Black?
- Eu nunca o havia encontrado antes e, honestamente, não estava muito familiarizado com o trabalho dele, mas meus filhos ficaram tão animados com a idéia e me falaram tanto de A Escola do Rock que acabei formando uma imagem de Jack em minha cabeça. Mas vi que ele é seríssimo, inteligente, autêntico e compromissado em fazer tudo o que fosse necessário para ‘entrar’ no personagem. E sua assinatura como ator, percebo, é uma capacidade extraordinária de se jogar para baixo. Quando vi Po na tela, vi Jack, era ele! Aquele Panda é a essência de Jack Black e isso é extraordinário.
- Você pode adiantar algumas cenas de Shifu que aparecerão apenas nos bônus do DVD?
- Sim, todas as cenas eróticas que fiz com a Angelina Jolie (risos). Fiquem atentos, talvez as cenas proibidas entre Shifu e Tigresa (personagem para o qual a mulher de Brad Pitt empresta a voz) estarão em uma loja perto de sua casa logo, logo (risos). Nada disso é sério, claro. Mas posso contar que de inédito você me terá logo em Última Chance, Harvey, um filme delicioso que fiz com Emma Thompson e que deve chegar aos cinemas até o fim do ano. Ela é “a” atriz, sabe? Não tem como ficar melhor. E é uma história de amor. Não deixe de ver!
- No fim, o quão de Dustin você vê no Shifu?
- Absolutamente nada! Mas meus filhos todos dizem que Shifu sou eu em um animal. Exatamente como eu, todos os gestos e expressões. Minha reação foi dizer a eles: “estes degramados conseguiram me capturar no desenho-animado!” (risos).
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Kung Fu Panda - Jack Black
Você sabe qual é a expressão da moda entre as crianças e alguns marmanjos para lá de adolescentes aqui no verão norte-americano? Skadoosh! Esta é a frase usada por Po, o urso-panda mais simpático – e atrapalhado – da história dos desenhos-animados. A voz, mas também os trejeitos, do Kung Fu Panda, que estréia nesta sexta nos cinemas brasileiros, são graça e obra de Jack Black. Aos 38 anos o comediante conversou com a Contigo! pouco antes de comemorar o nascimento de seu segundo filho, Thomas, com a mulher, a violinista Tanya Harden, 36 (o primeiro, Samuel, acaba de completar dois anos). Com alguns quilos a mais, Black confessou que sua dieta inclui ‘muitos cheeseburguers, afinal de contas, é a melhor comida que há’.
- Você está usando uma camiseta com uma das frases mais marcantes de Kung-Fu Panda...
- Skadoosh! Veja bem, este é um espaço de propaganda nobilíssimo: o tronco de Jack Black! (ri, estufando a imensa barriga). Foi apenas uma improvisação que criamos de última hora...mas parece que funcionou, né?
- Você tinha alguma fantasia de menino relacionada à prática de kung-fu? Porque, menino, você pode lutar mesmo, hein?
- Essa é boa!(risos). Olha, todos os sonhos de lutador que eu tive na vida pude realizar fazendo a voz do Po. Quando era criança, fiz um ano de karatê e cheguei a ser faixa-amarela. Também fiz judô, um tiquinho, mas nunca kung-fu. Era louco por Bruce Lee e Keith Carradine, a coisa toda mística, a mais evoluída das artes marciais e tal...
- O que me leva à próxima pergunta: você consegue quebrar uma tábua ao meio com um só golpe?
- Mas é claro que sim! Mas vamos deixar claro que faço isso com minha mente, não com as mãos. Isso é para você ver o quão profundamente eu mergulhei nos segredos do kung-fu (risos).
- Além de todo skadoosh, você também pôde contribuir com outras improvisações para o desenho animado?
- Sim, os diretores e roteiristas na verdade me incentivaram e disseram que parte do convite para eu fazer o Po era justamente minha capacidade de improvisação.
- O Seth Rogen, outro ótimo comediante, de Ligeiramente Grávidos, disse que você era uma escolha óbvia para Kung-Fu Panda pois lembra um ‘pandinha’ na vida real. Você concorda com ele?
- É, não há como negar, né? Somos, os dois, redondinhos, peludos, carinhosos e minha barba é preta-e-branca agora que estou ficando velhinho. Sou ou não um panda?
- É sim! (risos). Você usou o seu corpo na hora de emprestar a voz pro Po? Porque ele parece que se mexe exatamente como você em seus filmes. É impressionante...
- Sim, usei! E os diretores nos filmam quando estamos gravando. Depois, eles usam nossos movimentos para referência e acho que, no meu caso, eles fizeram um trabalho sensacional. E meu método, para conseguir os sons perfeitos, era bem realista. Por exemplo, se tivesse que ficar cansado em uma cena, corria pelo estúdio até estar pronto para fazer o som de cansado.
- Você deve correr para cima e para baixo com seu filho Samuel, não?
- Eu adoro dizer que ele tem apenas um ano. Na verdade ele vai fazer dois em duas semanas, então estes são dias mágicos para mim. Nunca mais poderei dizer ‘ah, ele tem apenas um ano’ (risos). Estou gravando em vídeo tudo o que ele faz nestas duas semanas porque quero mostrar que ele era um gênio, já fazia isso e aquilo e aquilo outro quando tinha apenas um ano! (risos). Adoro ser pai, sabia?
- E ele tem um pai que já foi um tubarão e agora um panda. Qual o próximo animal?
- Adoraria ser uma águia. Huum...mas, de certa maneira, eu já fui uma águia em Nacho Libre, pois tinha ‘os poderes da águia’. Então teria de ser uma onça, a mais veloz das criaturas. Igualzinho ao meu super-herói favorito, o The Flash, que era o mais rápido de todos. Sei lá porque eu gosto dos mais rápidos...eu, certamente, sou de uma lerdeza só! (risos).
- Po é um panda comilão. Qual sua comida favorita?
- Pizza é a primeira coisa que me vem à cabeça, mas, pense bem, a comida perfeita é o cheeseburguer! Adoro queijo, molho de tomate e carne. Huuum...
- Com esta dieta você deve ser o pai mais adorado do planeta!
- Não sei não. O Samuel, por exemplo, está agora com uma mania de que tem super-poderes especiais, sabe aquela fase? Ele imagina que tem o maior fôlego do planeta. Então, a idéia é que ele sopra bem profundamente e eu caio quarto afora. É bem cansativo! Caio, viro, giro, muito exercício! Mas quando eu sopro de volta ele fica lá, impávido, nem se mexe! (risos). Ele não entende o conceito do jogo! (risos). Mas ele ainda tem apenas um ano! (risos).
sábado, julho 05, 2008
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