sexta-feira, março 23, 2007

ENTREVISTA/Mark Wahlberg

A agência de notícias BrPress publicou hoje minha entrevista com o ator Mark Wahlberg, 35, que conversou comigo em Los Angeles sobre seu mais recente filme, Atirador, que estréia hoje nos cinemas brasileiros.


CINEMA - Um ´Rambo´ muito família
Eduardo Graça*/Especial para BR Press

(Los Angeles, BR Press) - Duas semanas depois de deixar a cerimônia do Oscar feliz pelas premiações do amigo Martin Scorsese (diretor) e do filme Os Infiltrados (pelo qual foi indicado como melhor ator coadjuvante), Mark Wahlberg, 35 anos, se esparrama confortavelmente na poltrona da suíte do hotel Four Seasons, em Beverly Hills, como se estivesse na sala de estar de sua casa. Mais jovem de nove irmãos (entre eles os também atores Donnie e Robert), Wahlberg cresceu nos guetos de Boston, foi parar no xilindró inúmeras vezes, ganhou fama na cena musical como Marky Mark, nas passarelas como modelo de Calvin Klein, e parece finalmente ter encontrado o caminho dos tijolos amarelos de Hollywood.

Com um suéter azul-marinho, calça jeans da moda com cueca boxer colorida à mostra e tênis branco dos Celtics feito sob encomenda, Wahlberg fala sem parar de Bob Lee Swagger. Bob é uma espécie de Rambo contemporâneo, personagem principal de Atirador, novo thriller de Antoine Fuqua (diretor do premiado Dia de Treinamento), que estréia nesta sexta-feira (23/03) nos cinemas brasileiros.

Morte ao republicano

A trama é centrada no fuzileiro naval aposentado contratado pelo governo para desbaratar uma possível tentativa de assassinato do presidente dos EUA. Mas nada é o que parece ser no labirinto montado por Fuqua. Atirador conta com cenas fortes, como a sessão de tortura baseada nas icônicas imagens da prisão iraquiana de Abu Ghraib e o assassinato a sangue-frio de um político americano. Na cena, o parlamentar implora: “Mas eu sou um senador da república!”. E o personagem de Wahlberg, gerando aplausos nas salas de cinema da Califórnia, responde: “Exatamente!”.

Em entrevista à BR Press, o ator fala das comparações com Sylvester Stallone e conta que, como outros cidadãos de democracias contemporâneas, já teve vontade de ‘dar uma lição’ em certos políticos corruptos, mas que jamais chegaria aos extremos de Bob Lee Swagger. Especialmente agora, em que sua vida, jura, é dedicada exclusivamente à mulher, a modelo Rhea Durham, 28, e a seus dois filhos, Ella Rae, 3, e o pequenino Michael, 11 meses. Com eles, diz que vai a missas dominicais da igreja católica localizada no bairro em que vive.



Você apresenta uma forma invejável no filme. É um rato de academia?

Wahlberg - Juro que não sou. Tenho uma sala de ginástica em casa, mas o que gosto mesmo é de jogar golfe. Mas é claro que quando você tem de fazer um personagem como o Swagger e o filme exige que você esteja tinindo, faço exercícios diariamente durante as filmagens, além de todo o treinamento específico com atiradores de primeira linha. Sabe que em um de meus próximos projetos, junto com o Matt Damon, por exemplo, devo viver o boxeador irlandês Micky Ward (no filme The Boxer)? Claro, mais uma vez terei de me preparar pacas. É duro. Por exemplo, antes de começar a filmar Atirador estava pesando 91kg e tinha de entrar em cena com um corpinho de 68 kg! (risos).

E você conseguiu?

Wahlberg - Vamos dizer que cheguei na metade do peso ideal (risos). Mudei minha dieta e passei a erguer mais pesos, fazer mais exercícios localizados, mas o mais complicado é mudar seu hábito alimentar. Minha rotina diária é comer um waffle de manhã, fazer exercícios e depois assar uma galinha. Adoro frango assado! Tanto que instalei uma daquelas máquinas de padaria lá em casa (risos).

Que engraçado, Sylvester Stallone, que acaba de voltar com mais um Rocky, diz que a dieta dele é exatamente esta, waffle e frango, como no sul dos EUA!

Wahlberg - Ah, não! Jura? Bem, e ele não falou nada desta viagem que fez em Sidney e de tudo o que encontraram em seu ônibus? (uma referência ao produto alimentar Jintropin, proibido na Austrália). Pelo menos esta outra dieta, a dos produtos que andaram confiscando lá, eu não faço não (risos). Não uso bomba! (risos).

Já que falamos de Rocky, o Swagger tem lá sua dose de Rambo, não?

Wahlberg - Eu diria que ele é ainda um pouquinho mais perigoso que o Rambo. Atiradores de elite são extremamente perigosos, pois você nunca os vê, eles geralmente estão a milhas de distância e podem, mesmo assim, causar um senhor estrago. E o Rambo falava duas frases em todo o filme, né (risos)? O Swagger tem lá sua formação intelectual, lê, é um dissidente. Quando percebi que poderia haver esta comparação, tentei fazê-lo o mais diferente possível. Decidi fazer Atirador porque este é um filme que mexe em certas feridas do mundo contemporâneo. É um thriller, mas também trata da maneira como olhamos aqui dos EUA para os países em desenvolvimento.

E há aquela cena em que o seu personagem mata o senador que é a cara do vice-presidente Dick Cheney. Aliás, no filme, o político conservador tem um rancho em Montana...

Wahlberg - E o vice-presidente em Wyoming...(risos)

Pois é!


Wahlberg - Olha, você precisa ver a versão de quatro horas do filme, pré-editada. O Antoine (Fuqua) teve de cortar um monte de coisas, discursos, referências. Mas, de novo, por isso quis fazer Atirador. É a história de uma grande conspiração que é puro entretenimento, tem muita ação, mas também carrega uma mensagem política.

Você disse que adora jogar golfe. Aqui em Hollywood as pessoas dizem que você é um praticante sério. O que o atraiu no esporte?

Wahlberg - Tudo. Adoro ficar quatro horas concentrado, em um belo espaço, com o celular desligado, longe do trânsito infernal de Los Angeles. Aliás, pensando bem, é meio que o oposto dos filmes que fiz, não? Por exemplo, nunca trabalhei nestes filmes mais calmos em que você passa o tempo conversando e bebericando na piscina ao lado de belas garotas (risos)! Geralmente em meus filmes os elementos e as situações são todas mais duras, cruas mesmo.

Certamente tem a ver com sua imagem de homem durão. Será que você não está tentando mudar isso? Por exemplo, na saída da cerimônia do Oscar, enquanto todos se preparavam para ir para as famosas festas da noite da premiação, você dizia que precisava ir à igreja, que não queria faltar à missa...

Wahlberg - Olha, mas eu fui a uma festa, juro! Apenas a uma, mas fui (risos). É que agora tenho de colocar as crianças para dormir, acordar cedo com elas. Ainda bem! Olha, eu fui criado na igreja católica em Boston e, sim, minha experiência indo parar na cadeia quando muito jovem me ajudou a voltar para o convívio confortável da religião. E espero que ao encarnar um personagem como o Swagger, que carrega uma arma para cima e para baixo, eu não incomode pessoas religiosas. Ele, no fim, está lutando apenas pela verdade. É mais uma pessoa que busca a verdade.

Você acha que ter sido indicado para o Oscar vai mudar sua estatura em Hollywood?

Wahlberg - Não mesmo. Há mais ou menos quatro anos eu estava bem melancólico, deprimido mesmo, com a certeza de que os grandes estúdios não faziam mais os filmes em que eu queria atuar. E pensava: bem, é meu trabalho. Então fazia meus filmes e pronto, vamos ganhar dinheiro e jogar golfe nas horas vagas. Mas aí veio Uma Saída de Mestre (que deve ter uma continuação filmada no Rio de Janeiro), Os Quatro Irmãos, Os Infiltrados, Invincible e Atirador para me desmentir. Todos são filmes a que eu assistiria, como espectador, com o maior prazer. Por isso acho que ser indicado para o Oscar não vai mudar nada. O que muda é ter duas crianças novinhas, como as que tenho em casa.

quarta-feira, março 21, 2007

Manchetes de Quarta-Feira

Uma corrida pelos principais jornais da vizinhança e, no detalhe, a primeira página do NYT com a chegada do quase-presidente eleito Al Gore a Washington. Da última vez em que esteve no Capitólio, lá se vão sete anos, Gore certificou a vitória eleitoral de George Bush em 2000.



- N.Y. TIMES: Estrela de um filme bem diferente, Al Gore retorna ao Capitólio (ex-vice presidente fala no Congresso sobre aquecimento global)

- WASHINGTON POST: Bush avisa que aliados irão depor apenas em sessões fechadas, irritando o Congresso no caso dos procuradores federais aparentemente demitidos por pressão da Casa Branca

- L.A. TIMES: Bush enfrenta Congresso na crise da demissão dos procuradores federais: presidente recusa liberar Karl Rove para depoimento e abre campo para uma batalha constitucional.

- USA TODAY: Prefeitos de todo o país buscam mudar a legislação e tomar o controle das escolas públicas (sucesso de algumas cidades impulsiona mudança política)

- NY DAILY NEWS: O que Naomi Campbell realmente pretende fazer daqui para a frente

SHOW/Welcome to Dreamland

Chegou aqui em casa hoje a Bizz de março, com outras duas colaborações do blogueiro aqui. A primeira foi o ótimo Welcome to Dreamland, uma reunião de feras do freak folk americano aqui no Carnegie Hall em pleno 2 de Fevereiro, que abriu a seção Barulho da revista. Fui convidado por Mr.Pratt e curti tanto que escrevi para a revista o relato abaixo:

FREAK BROTHERS

Evento organizado por David Byrne reúne adeptos do neo-folk no lendário Carnegie Hall

E quem disse que não se dá vivas a Iemanjá em Manhattan? No dia 2 de fevereiro, com a chuva castigando impiedosamente o inverno nova-iorquino, Cibelle, vestido azul-água comme il faut, adentrou o palco do Carnegie Hall e dedicou a jobiniana Por Toda a Minha Vida à deusa das águas em uma interpretação delicada. Ao lado da parceira de Suba no delicioso São Paulo Confessions estavam o coletivo californiano Vetiver e o nerdíssimo britânico Adem. O pretexto era Welcome to Dreamland, a segunda das quatro noites organizadas por David Byrne dentro da série Perspectives, o evento de luxo da temporada no mais cool dos palcos do circuito mainstream da cidade.

DEVENDRA BANHART FECHOU A NOITE ORGANIZADA POR DAVID BYRNE APRESENTANDO DUAS MÚSICAS NOVAS. NUMA DELAS, DECLARA: "ESTOU DOIDÃO, ALEGRE E LIVRE"

Pela terra dos sonhos passaram ainda as irmãs Casady, isto é CocoRosie, com seus vestidos vitorianos, harpas, violinos e vozes de um estranhamento ímpar; a diva folk Vashti Bunyan, responsável pelo clássico folk Another Diamond Day (1968) e que cantou lindamente Pillow, do primeiro (e melhor) disco de Adem, Homesongs; e, claro, Devendra Banhart. O fã de Caetano fechou a noite com duas arrebatadoras músicas novas, com banda eletrificada no palco, e letras de uma objetividade desconcertante. Em uma delas ele declara que ‘está doidão, alegre e livre’. Em Banderas, a nova carta de intenções de Banhart, com Cibelle nos backing vocals, ele parte das semelhanças nos desenhos de símbolos de terras tão distantes quanto a Alemanha e a Califórnia a fim de encontrar um tempo de congraçamento entre os homens de boa paz.

Não por acaso, com Byrne à frente, ecoando suas palavras no início do evento (‘que este seja mais uma provocação do que apenas um outro show’) os artistas se juntaram ao fim para cantar o Bird’s Lament, de Moondog, o mais freak dos folks, que vivia nas ruas de Nova Iorque e morreu em 1999, aos 83 anos. Durante mais de duas décadas ele bateu ponto logo ali na esquina da rua 54 com a Sexta Avenida, portando seu chapéu de viking e cantando como ninguém. Foi de arrepiar.

terça-feira, março 20, 2007

Manchetes de Terça-Feira

Uma corrida pelos principais jornais da vizinhança que trataram dos cinco anos de ocupação norte-americana no Iraque. O destaque fica por conta do especial trazido pelo Washington Post, com uma série de reportagens e análises sobre a presença de 135 mil soldados ianques no Oriente Médio:



- WASHINGTON POST: Especial - Invasão do Iraque completa 5 anos (Bush pede que Congresso democrata mostre 'coragem e capacidade de decisão' ao tratar das novas diretrizes da ocupação militar)

- USA TODAY: Apoio à democracia despenca (pesquisas mostram que iraquianos não acreditam nem em eleições nem no governo de Bagdá)

- N.Y. TIMES: Bush pede 'paciência' no aniversário de quatro anos da ocupação do Iraque (presidente alerta para a 'tentação' de 'arrumar as malas e voltar para a casa' antes do dever cumprido)

O Voto das Mulheres Negras

Na revista New York que acabou de chegar aqui em casa, Donna Brazile, estrategista da campanha de Al Gore e comentarista da CNN, uma das maiores especialistas em corridas eleitorais aqui nos EUA, diz que a chave para a conquista do voto negro (basicamente democrata) em 2008 está com as mulheres.

Uma recente pesquisa da ABC-Washington Post mostra que o apoio dos negros a Hillary Clinton caiu dramaticamente desde o lançamento da candidatura Barack Obama: de 60% para 33% das intenções de voto. Pior, no eleitorado feminino, em todos os grupos étnicos, seu eleitorado caiu de 49% para 40%.

Diz Brazile:

"O que realmente comanda a maré política no eleitorado afro-americano é o apoio das mulheres negras logo no início da campanha. São elas que comandam o discurso político dentro de casa. Em geral elas são também as menos volúveis: quando escolhem de fato um candidato, não viram a casaca".

Parece que este candidato, para o azar de Hillary, é Obama.

segunda-feira, março 19, 2007

Manchetes de Segunda-Feira

Uma corrida pelos principais jornais da vizinhança e, no detalhe, a primeira página do USA Today, com um triste balanço da vida dos iraquianos quatro anos após a invasão americana:



- USA TODAY: Iraquianos vivem em total desesperança (pesquisa mostra que 100% se sentem inseguros em Bagdá e 61% acham que a vida piorou depois da queda de Saddam, na semana que marca quatro anos da invasão americana)

- N.Y. TIMES: Senadores democratas insistem que colaboradores mais próximos de Bush testemunhem na investigação instaurada pelo Congresso sobre a demissão dos oito procuradores federais (oposição quer ouvir publicamente Karl Rove, o homem-forte do governo, e o vice-presidente Dick Cheney)

- WASHINGTON POST: Documentos internos revelam as mordomias do primeiro escalão do Smithsonian Institute, às custas do contribuinte.

- L.A. TIMES: Empreiteiras brigam por espaço no coração de Los Angeles

domingo, março 18, 2007

Manchetes de Domingo

Os principais jornais americanos neste domingo registraram os quatro anos de invasão do Iraque (e 40 do início da série de protestos contra a Guerra do Vietnã). O Washington Post (abaixo) deu grande destaque para as manifestações em todo o país, enquanto o NYT e o LA Times iniciaram duas séries interessantíssimas de reportagem: respectivamente, sobre os avanços da genética e o drama da viagem dos imigrantes que entram ilegalmente nos EUA pelo Texas, na área mais perigosa da chamada Fronteira da Morte.



- WASHINGTON POST: Quatro Anos Depois - Ira (protestos marcam o aniversário de quatro anos de ocupação do Iraque pelos EUA e aliados)

- N.Y. TIMES: Vivendo com um Gene Letal (série de reportagens revela os novos testes que revelam doenças genéticas)

- L.A. TIMES: Histórias de Crimes (série de reportagens mostra a viagem aos infernos de imigrantes ilegais viajando dentro de uma van sufocante pelo sul do Texas, com 19 mortos).

- NY DAILY NEWS: Vexame no Transporte Escolar em NY: Motoristas, Instrutores e Estudantes flagrados em diversos casos de abuso pela reportagem do jornal