quarta-feira, março 21, 2007

SHOW/Welcome to Dreamland

Chegou aqui em casa hoje a Bizz de março, com outras duas colaborações do blogueiro aqui. A primeira foi o ótimo Welcome to Dreamland, uma reunião de feras do freak folk americano aqui no Carnegie Hall em pleno 2 de Fevereiro, que abriu a seção Barulho da revista. Fui convidado por Mr.Pratt e curti tanto que escrevi para a revista o relato abaixo:

FREAK BROTHERS

Evento organizado por David Byrne reúne adeptos do neo-folk no lendário Carnegie Hall

E quem disse que não se dá vivas a Iemanjá em Manhattan? No dia 2 de fevereiro, com a chuva castigando impiedosamente o inverno nova-iorquino, Cibelle, vestido azul-água comme il faut, adentrou o palco do Carnegie Hall e dedicou a jobiniana Por Toda a Minha Vida à deusa das águas em uma interpretação delicada. Ao lado da parceira de Suba no delicioso São Paulo Confessions estavam o coletivo californiano Vetiver e o nerdíssimo britânico Adem. O pretexto era Welcome to Dreamland, a segunda das quatro noites organizadas por David Byrne dentro da série Perspectives, o evento de luxo da temporada no mais cool dos palcos do circuito mainstream da cidade.

DEVENDRA BANHART FECHOU A NOITE ORGANIZADA POR DAVID BYRNE APRESENTANDO DUAS MÚSICAS NOVAS. NUMA DELAS, DECLARA: "ESTOU DOIDÃO, ALEGRE E LIVRE"

Pela terra dos sonhos passaram ainda as irmãs Casady, isto é CocoRosie, com seus vestidos vitorianos, harpas, violinos e vozes de um estranhamento ímpar; a diva folk Vashti Bunyan, responsável pelo clássico folk Another Diamond Day (1968) e que cantou lindamente Pillow, do primeiro (e melhor) disco de Adem, Homesongs; e, claro, Devendra Banhart. O fã de Caetano fechou a noite com duas arrebatadoras músicas novas, com banda eletrificada no palco, e letras de uma objetividade desconcertante. Em uma delas ele declara que ‘está doidão, alegre e livre’. Em Banderas, a nova carta de intenções de Banhart, com Cibelle nos backing vocals, ele parte das semelhanças nos desenhos de símbolos de terras tão distantes quanto a Alemanha e a Califórnia a fim de encontrar um tempo de congraçamento entre os homens de boa paz.

Não por acaso, com Byrne à frente, ecoando suas palavras no início do evento (‘que este seja mais uma provocação do que apenas um outro show’) os artistas se juntaram ao fim para cantar o Bird’s Lament, de Moondog, o mais freak dos folks, que vivia nas ruas de Nova Iorque e morreu em 1999, aos 83 anos. Durante mais de duas décadas ele bateu ponto logo ali na esquina da rua 54 com a Sexta Avenida, portando seu chapéu de viking e cantando como ninguém. Foi de arrepiar.

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