quinta-feira, abril 13, 2006
Programinha Saboroso de Primavera
SARAVANAAS & ICP
Esta é para quem resolveu aproveitar as milhas da Varig com medo de o Smiles ir para a cucuia e resolveu baixar aqui em Nova Iorque e curtir a Primavera. Tire uma tarde para um almoço tardio no Saravanaas, um indiano sensacional e baratex que fica na Lexington com Rua 26, do outro lado do Chelsea, ali por Murray Hill. A comidinha aqui é do sul da Índia, com ênfase em pratos vegetarianos e uma espécie de P.F. que é um luxo só. Depois de forrar o estômago com os melhores Dosas (espécie de crepe com recheios que você monta) da cidade, rume para o ICP. Lá, até o dia 28 de maio, pode-se conferir a genial exposição "Snap Judgments - New Positions in Contemporary African Photography", reunindo uma coleção impressionante de imagens de fotógrafos contemporâneos de todas as partes do continente. A foto foi tirada no Saravanaas, e a querida Erika Sallum parece feliz da vida com tanta guloseima.
Diretinho da Redação (43)
O texto da semana, que já está no DR, é sobre o impressionante movimento de massas que levou mais de 1 milhão de norte-americanos às ruas na semana passada.
UM VOTO DECISIVO
Nós estamos cansados. Cansados de trabalhar sem documentação, sem poder exigir direitos trabalhistas. Do outro lado da cidade, meio milhão de angelenos marchavam aos gritos de ‘We are America’, deixando claro seu descontentamento com a política de imigração em vigor e, mais ainda, com as modificações propostas pelos conservadores. No quarto do hotel de luxo de Beverly Hills, enquanto aguardava a hora de entrevistar dois astros de Hollywood, eu ouvia as duas camareiras que, em espanhol, me perguntavam: mas o senhor acha mesmo que eles têm medo de nosso voto?
Foram 500 mil em Los Angeles, 300 mil em Chicago, 50 mil em Denver, 30 mil em Washington e em Nova Iorque. Não há como não escutá-los. Não há como não temer o que eles dirão nas urnas. Boa parte dos manifestantes já foi ilegal, ganhou seu green card e vai votar em novembro. Mas está engajada na luta de sua comunidade. Um de seus líderes mais controversos, Nativo Lopez, presidente da cada vez mais poderosa Mexican American Political Association (MAPA), é o arquiteto do boicote nacional que, no dia Primeiro de Maio, promete tirar das escolas, dos escritórios e, especialmente, das lojas, os cerca de 12 milhões de imigrantes ilegais e seus apoiadores, em sua esmagadora maioria oriundos da América Latina. Se não nos vêem como cidadãos ou eleitores, diz Lopez, ao menos vão sentir no bolso a nossa força. Vai ser, ele diz, um boicote à americana.
A MAPA diz que seus filiados são ‘contribuintes sem direito de cidadania’. É que os imigrantes ilegais pagam taxas locais e estaduais. Sem eles, vários municípios do oeste americano teriam de pedir falência. E se os boicotes, muito semelhantes aos que os negros comandaram nos anos 60, continuarem, o comercio destas cidades será severamente atingido. Lopez também não aceita o tratamento de ‘illegal aliens’. Em rede aberta de televisão, ele lembrou que uma sociedade tão preocupada com o politicamente correto, que aboliu termos como ‘nigger’ (crioulo), ‘faggot’ (bicha) e ‘kyke’ (judeu sujo, em traduções livres do colunista), deveria lembrar que os tais ‘alienígenas’ são, sem eufemismos, nada menos do que ‘contribuintes de segunda-categoria’.
Há muito tempo não se via por aqui um movimento de massas como o dos ‘hispânicos’. E os democratas não querem perder o bonde. Em Nova Iorque, a senadora Hillary Clinton, muito aplaudida, lembrava que a maneira como Bush lida com o tema é ‘anti-cristã’. Explica-se: a reforma da imigração é ameaçada por uma proposta de caráter punitivo, que transforma em criminoso o trabalhador ilegal, assim como qualquer cidadão ou instituição que o auxilie. A truculenta iniciativa republicana conseguiu unir, pela primeira vez, os sindicatos, os imigrantes e a Igreja Católica. Na semana passada, o Cardeal Roger Mahony, de Los Angeles, anunciou oficialmente que pregará a desobediência civil no caso de a emenda virar lei.
No hotel, as duas jovens me contam que não puderam ir à passeata. Tinham, afinal, de arrumar os quartos do meu andar. Mas seus familiares lá estavam, com bandeiras americanas a tiracolo e a certeza de que não estão fazendo nada além de lutar pelos seus direitos. E todos, elas me garantiram, vão votar nas eleições de novembro.
Assinar:
Postagens (Atom)