segunda-feira, maio 08, 2006

SHOW/Gorillaz no Apollo (6/4/2006)


Já está na BIZZ deste mês meu texto sobre o show derradeiro dos Gorillaz, aqui no Apollo Theater, no Harlem.


Gorillaz cria a Broadway do terceiro milênio: Projeções, orquestra e até Dennis Hopper levam a “ópera-rap” virtual para o santuário da música americana

Por Eduardo Graça, de Nova York

Demon Days Live é, para o bem e para o mal, o que a Broadway seria se um dia sacudisse a poeira e abraçasse sem medo a galera. No palco, 25 músicos (incluindo dez violinos, duas baterias, dois DJs e três contrabaixos) de uma trupe de 80 profissionais dividem as atenções com um telão mostrando as animações de Jamie Hewlett e uma dezena de convidados. As cinco apresentações do Gorillaz no histórico Apollo Theater, no coração do Harlem – todas com ingresso esgotado – provaram a mira certeira de Damon Albarn, quiçá o pop star que traduziu com mais acuidade a angústia do mundo pós-11 de Setembro, e sua tentativa nem sempre vitoriosa de abraçar o hip hop.

Nas coxias do Apollo, Albarn confessou em entrevistas que “este talvez seja o último álbum que a gente faz”.E perguntou para si mesmo: “Como fazer algo tão bom como Demon Days?”. Mas logo depois emendou: “Se bem que é uma tradição do hip hop anunciar o fim para, logo em seguida, lançar um novo trabalho!”.

Teria ele, em Demon Days Live, inventado a ópera rap? Quase. No Apollo, celebrando os quase 2 milhões de cópias vendidas nos EUA, Albarn provou que as faixas produzidas pelo mago da eletrônica Danger Mouse foram, sim, talhadas para o palco. Mas o uso de um coral de 23 crianças negras em “Dirty Harry” e de um outro, do Harlem Gospel Choir, em “Demon Days”, empurra o show perigosamente para a fronteira entre o pastiche e o tributo, com o grand finale característico dos musicais cênicos. De frente para o crime, fica difícil esquecer a tirada de Alex James – baixista do Blur. Foi ele quem disse, com boa dose de veneno, que “Albarn é o músico mais africano de West London” (algo como “o negro mais autêntico dos Jardins”). Demon Days Live, tal qual apresentado no Harlem e no DVD gravado ao vivo na Manchester Opera House, é um frankenstein criado para espelhar uma sociedade de consumo ávida e acéfala, na visão do comandante do Blur. Funciona, mas é ainda mais desigual que o CD e, um pouco aqui e ali, beira o constrangedor.

Mas é preciso levar em conta que foi há exatos cinco anos que Albarn e Hewlett lançaram seu “manifesto contra a cultura da celebridade”, propondo um rompimento entre a música e o culto vazio do ego. E que em sua mais recente biografia ninguém menos do que 50 Cent escreveu que o clipe de “Clint Eastwood”, o hit do primeiro Gorillaz, foi tão impactante que fez com que ele batizasse seu grupo de G Unit. Doze milhões de cópias de CD vendidas depois, um DVD ao vivo, cinco dias de casa lotada no mais tradicional teatro do Harlem e o frankstein de Albarn ainda respira. E requebra. E sampleia. E tem um alcance muito, mas muito maior do que o Blur, nas terras de Tio Sam. Alguém aí já sente saudades dos velhos Gorillaz?

Aproveite o Rega-bofe

Damon Albarn, 37, foi à África. E gostou do que ouviu. Ele inaugurou seu selo Honest Jon com Mali Music, uma jam com músicos africanos reunindo gravações do inglês em bares e ruas de Bamako. Gente como Afel Bocoum, Lobi Traoré, Toumain Diabate e Ko Kan Ko Sata Doumbia marcou presença no que foi considerado pela critica ums dos mais brilhantes lançamentos de 2002. No ano seguinte ele decidiu gravar Think Tank, o derradeiro álbum do Blur, em Marrocos, com faixas como Carvan e On The Way To The Club com forte sabor árabe. E o Honest Jon – que começou como uma loja de discos – segue um dos selos mais interessantes da cena inglesa, com um catálogo precioso, que vai do folk inglês dos anos 70 à obscura música negra produzida na Grã-Bretanha do pós-guerra e um punhado de geniais gravações de juju music e outros ritmos africanos dos anos 60.

Vem de seu interesse pela África a melhor notícia para os fãs da música de Albarn. Se o projeto Gorillaz-2007 parece mesmo aposentado, há no ar a notícia de que o ex-Blur será o líder de um novo supergrupo, que deve reunir Simon Tong (a guitarra de Demon Days Live), o eterno baixista do Clash Paul Simonon, um fino connoisseur da música negra das ilhas e ninguém menos do que o nigeriano Tony Allen, um dos inventores do Afro Beat, responsável pela cozinha da África 70, a mitológica banda de Fela Kuti. Albarn compôs :Every Season”, a faixa que abre o festejado solo de Allen, “Home Cooking”, e viajou para Lagos em uima imersão na cena nigeriana. Ele conta que os músicos já começaram a gravar em Londres e que deverão ter algo pronto no meio do ano.

O interesse de Albarn em estender seus limites também o levou à China, onde contribuiu com o projeto “War Child” gravando com Zeng Zhen. Do sucesso da faixa “Hong Kong” surgiu a idéia, ainda embrionária, da confecção de toda uma ópera inspirada em lendas orientais. Outro musical, desta vez inspirado em seu ‘quintal’, ou seja, sua vizinhança no bairro chique de Notting Hill, deve ser apresentado em 2007 no National Theatre de Londres, a instituição localizada em South Bank.

Por estas e outras Albarn foi imediatamente alçado à categoria de ‘músico mais eclético de sua geração’. Tão multifacetado, diga-se, quanto polêmico. Depois de esculhambar com o Live 8 – “que mostra a África como um continente doente, pobre, que precisa de nós, anglo-saxônicos para cantar sua música. Ora bolas, aonde estão os músicos africanos?” – e de recusar o convite do primeiro-ministro Tony Blair para um chazinho das cinco com um hilário recado: ‘não vou, pois tenho horror ao novo trabalhismo que o senhor representa. Agora, aliás, sou um comunista. Aproveite o rega-bofe, camarada. Com carinho, Damon’.

domingo, maio 07, 2006

Perguntas, perguntas...

Não estou entendêindo. Por que é que na histeria que dominou a imprensa brasileira no episódio da nacionalização do gás - deles - pelo companheiro Morales, ninguém se deu ao trabalho de entrevistar os bolivianos que trabalham como semi-escravos em S.Paulo, especialmente no Bom Retiro, no Brás, na Vila Maria e na Mooca?

Será que eles não ajudariam a entender melhor o que se passa de fato em nosso vizinho?

Será que é um bom serviço para o leitor deslocar repórteres para a fronteira com a Bolívia e esquecer de mandar uma equipe ali para a praça Cantuta, no Pari, ponto de encontro dos bolivianos na capital paulistana?

Será que este episódio todo vai servir para acabar com a invisibilidade dos bolivianos sem-documento no nosso querido Brasil?

Sei não...

Lendo Sarah Manguso


MEU EUFEMISMO FAVORITO PARA MORTE É FUTURO

Sarah Manguso, Siste Viator, poemas, aqui nos EUA.