quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Diretinho da Redação (5)

Quem quiser checar em loco, o texto abaixo é a coluna da semana no www.diretodaredacao.com, onde o leitor também pode se deliciar com os bastidores da história do repórter credenciado pela Casa Branca que, acredite se quiser, também fazia um bico bancando um site de acompanhantes masculinos.

HILLARY SÓ PENSA NAQUILO

Ela só pensa naquilo. Em suas mais recentes aparições públicas, Hillary Clinton tem falado de fé, de Deus, de crença nos 'valores fundamentais da sociedade norte-amerinana'. Há exatamente um mês, discursando aqui em Nova Iorque para uma platéia formada majoritariamente por ativistas liberais, a senadora manteve seu apoio a grupos favoráveis ao direito de escolha de se interromper a gravidez, mas irritou muita gente ao pedir calma às militantes mais aguerridas e em tentar jogar para debaixo do tapete eleitoral qualquer discussão referente a aborto. Hillary Clinton já botou na rua sua campanha para ser a candidata democrata à sucessão de George W.Bush em 2008.

Converse com qualquer analista político nos Estados Unidos e o diagnóstico será o mesmo: a grande pedra no sapato de Hillary não é o fato de ela ser mulher. O problema é seu índice de rejeição, altíssimo (em recente pesquisa de âmbito nacional, 4 em cada 10 norte-americanos afirmaram não confiar na mulher do ex-presidente Bill Clinton), e sua imagem já estabelecida nos oito anos em que ocupou o posto mais decorativo da Casa Branca. Para os eleitores daqui, Hillary não é, de forma alguma, uma novidade. O que há de diferente é sua postura camaleônica. Poucos esperavam que ela assumisse publicamente uma posição a favor da invasão do Iraque. Agora ela aparece no Congresso cobrando do governo Bush medidas mais duras e claras em relação à Síria. E na semana passada saracoteou pela Europa pedindo o endurecimento dos governos do Velho Continente contra a ameaça terrorista.

Neste fim de semana que passou, a onipresente senadora pôde ainda ser vista no prestigioso programa televisivo "Meet The Press", ao lado do senador republicano John McCain, eterno presidenciável do Arizona, que disse com todas as letras: "Eu acho que Hillary poderia ser uma grande presidente para nosso país". Hillary Clinton, ao lado do marido, mas em posição invertida (ela prestando juramento solene) também foi capa da mais recente edição da revista "New York". A matéria trata da obsessão dos norte-americanos pelas dinastias políticas. Depois de Bush II por que não Clinton II?

Antes de jogar-se nas prévias democratas, Hillary vai disputar a reeleição para o Senado no ano que vem. Os candidatos republicanos - fala-se tanto no ex-prefeito Rudy Giuliani quanto no atual governador do estado, George E. Pataki - ficaram com as duas orelhas levantadas ao receberem pesquisa concluída nesta terça-feira pelo "The New York Times", dando conta de um índice de aprovação de 69% dos nova-iorquinos ao desempenho de Hillary no Congresso, incuindo 49% dos republicanos, que poderiam votar na democrata. O tal "fator rejeição" ou o exército de "Hillary Haters" parece já não existir mais no estado de Nova Iorque.

Com a recente eleição do ex-governador de Vermont, Howard Dean, para o comando do Partido Democrata e seu anúncio de que não vai disputar as prévias de 2007, Hillary parece ter poucos adversários com quem se preocupar dentro de seu partido. Nenhum dos que já apareceram na mídia - o senador John Kerry, o ex-senador John Edwards, o governador Bill Richardson, do Novo México - teriam condições de angariar tanto dinheiro das grandes corporações do país para a campanha eleitoral quanto os Clinton.

Ao mesmo tempo em que cortejam os eleitores conservadores, Hillary e Bill decidiram apoiar a eleição do liberal Howard Dean para o comando do partido. Querido pelos doadores individuais (hoje o único trunfo econômico visível dos democratas), concentrados nas grandes universidades, nos centros de pesquisa e em Hollywood, Dean promete ser o lado mais razoável de um projeto para 2008 que já divide até mesmo as feministas locais. Seria bom para as mulheres eleger uma postulante que anuncia, como principal pedigree, o fato de ser esposa de um ex-presidente? Certa de que a resposta é um grande sim, Hillary Clinton está pronta para mostrar, nos anos que seguem, uma postura bem mais conservadora e autoritária do que a de Bill Clinton. Quem viver verá.