sábado, novembro 24, 2007

Perfil/IRMÃOS CAMPANA

O Valor Econômico publicou na revista de fim-de-semana o perfil que fiz dos irmãos Fernando e Humberto Campana, a partir do encontro que tivemos aqui em Nova Iorque. Dois dos mais prestigiados designers brasileiros, eles me contaram um pouco de seus dois novos projetos - a exposição Manufacturing Emotions, aqui no Cooper-Hewitt, e a criação de figurinos e cenários para o novo espetáculo do Ballet Nacional de Marseille.


As metamorfoses dos irmãos Campana
Por Eduardo Graça, para o Valor, de Nova York

Fernando Campana se lembra bem quando ouviu pela primeira vez a frase atribuída ao general Charles de Gaulle sobre a nação deitada eternamente em berço esplêndido. E mais ainda de sua imediata reação. "Então não somos um país sério? Graças a Deus!", diz, com um sorriso maroto, no saguão apertado do Hotel W, em Manhattan. Os irmãos Fernando, de 46 anos, e Humberto Campana, de 54, dois dos mais respeitados designers brasileiros, acabam de chegar a Nova York depois de uma temporada na França, onde criam os figurinos e desenham o cenário do novo espetáculo do Ballet National de Marseille, baseado no longo poema épico "Metamorfoses" de Ovídio, com estréia mundial em Luxemburgo (a capital européia da Cultura) em dezembro, e paradas em São Paulo, Rio e Brasília em 2009, durante o Ano da França no Brasil. Antes disso os dois vão se encontrar com o público nova-iorquino na exposição "Manufacturing Emotions", um olhar bem brasileiro sobre o acervo do Cooper-Hewitt National Design Museum, a única instituição americana dedicada exclusivamente a obras de design históricas e contemporâneas.

Enquanto dribla o barulho ensurdecedor que vem das caixas de som instaladas acima da mesa do bar ironicamente batizado de Oasis - com a assinatura do arquiteto e designer David Rockwell - Fernando faz questão de refletir sobre sua "boutade" de um minuto atrás. Ela não se traduz, enfatiza, como uma rendição à esculhambação geral reinante em certas esferas do país. Ao contrário. "Indiscutivelmente, nossa obra é repleta de brasilidade. É, de certa maneira, um cultivo permanente deste Brasil livre de grilhões históricos, aberto às marés da criação e sem medo de margear as emoções mais intensas", afirma.

Humberto, ao lado, sorri. E lembra da reação um tanto surpresa de Frédéric Flamand, o diretor do Ballet National de Marseille, quando percebeu que os Campana não pretendiam de forma alguma enviar de seu estúdio, localizado no bairro de Santa Cecília, em São Paulo, desenhos e esboços do figurino a partir de um estudo inicial, a distância, sobre a obra imaginada pelo coreógrafo. "Nada disso. Nossa criação surge do caos nosso de cada dia. Fazíamos tudo na hora, ele nos mostrava a cena e desenhávamos na frente dele, no ato, muitas vezes nos corpos dos próprios bailarinos", relata.

É claro que o processo de criação de todo um aparato cênico e do trabalho com o corpo humano em movimento - algo inédito para a dupla em 23 anos de Estúdio Campana - não foi realizado na base do improviso. Durante oito meses os dois zanzaram pelos mercados de pulga provençais, lojas de materiais de construção de Marselha e, claro, pelos camelódromos das grandes metrópoles brasileiras. "Usamos velcro, plástico, muito fio-espaguete e sacos plásticos. Que viraram vestidos de ninfa. A idéia foi trabalhar com materiais específicos que deixassem aberta a possibilidade de cada bailarino ser encarado como mais uma parte do todo cenográfico", explica Humberto.

De certa forma, é como se os irmãos tivessem transportado para o Sul da França a rotina de trabalho do Estúdio, onde nove artistas, o time Campana, buscam diariamente a inspiração na pororoca formada pela degeneração paulistana e a fixação da cidade pelo contemporâneo, pelas novas modas. "Em Marselha, descobrimos que podemos criar para o corpo em movimento, mas foi uma evolução bem gradual. O mais bacana foi trabalhar diretamente no corpo dos bailarinos e, já que se trata das 'Metamorfoses', algumas vezes eles próprios confeccionaram os figurinos, que, também, podem mudar em cena, dependendo da vontade deles. Queremos proporcionar o máximo de flexibilidade", diz Fernando.

"Baixa tecnologia"

A companhia de dança de Frédéric Flamand é identificada pelo uso intenso de tecnologia visual nos espetáculos, como na cidade futurista projetada pela arquiteta iraquiana radicada no Reino Unido Zaha Hadid para o espetáculo anterior do grupo, "Metapolis". Os Campana resolveram nadar contra a corrente e apostar na redução de vídeos, sem esquecer o desejo de se comunicar através de novos meios, concentrados agora nos elementos do figurino, todos criados com o que eles chamam de "baixa tecnologia" made in Brazil.

"Quando tínhamos de representar a Medusa, por exemplo, que é um dos mitos retratados em cena, optamos por fazer algo com material reciclado, aparentemente bem pobre, mas com um efeito para as cobras que acaba sendo surpreendente, algo não muito distante de nosso trabalho com o mobiliário", explica Humberto.

A idéia de reciclagem está presente também em outra frente de trabalho do Estúdio Campana - o remodelamento do Royal Olympic Hotel, um dos mais badalados de Atenas, na Grécia, que deverá ficar pronto na segunda metade de 2008. "Lá a idéia foi incorporar todo o detrito originado quando o hotel se reinventou em uma grande reforma há dois anos. Paradoxalmente, queríamos criar algo mais "clean", mas a partir do lixo", conta Fernando.

Grandes projetos de design de prédios, assim como a criação de figurinos e cenários para um espetáculo de dança e a curadoria de uma exposição com objetos de outros artistas são novas atividades que apontam para um momento de reinvenção do Estúdio Campana.

Desde que conquistaram o mercado externo, os Campana são imediatamente lembrados pela famosa Cadeira Vermelha que projetaram para a Edra. Ou por outras peças icônicas, como os trabalhos criados especialmente para a Casa Swarovski, O Lucce, Fontana Arte, Capellini, Progetto Oggetto e Alessi. Isso, sem falar nas divertidas Poltronas Psicodélicas e nas cadeiras boladas para o estúdio Disney. A idéia mestra sempre foi a de interferir na vida das pessoas de uma forma original, até contemplativa, mas nunca exatamente suave. "Nossa capacidade de adaptação, testada mais uma vez nestes novos projetos, é, repito, a senha para nosso trabalho. Temos horror a regras, catecismos ou manuais", afirma, categórico, Fernando.

Às vezes, a espontaneidade dos artistas pode assustar quem espera deparar com estetas cosmopolitas, senhores de si e conscientes em demasia de sua história de sucesso em uma cena especialmente competitiva. Foi o que ocorreu, por exemplo, quando, em uma conversa recente com Flamand, Humberto pediu que o coreógrafo lhe contasse detalhadamente certa passagem das "Metamorfoses". Flamand percebeu que o designer não havia lido a obra de Ovídio, algo inacreditável para o artista europeu.

"Foi engraçadíssimo. Brincamos com ele, dizendo que o livro era muito longo, a versão reduzida tem 400 páginas, não teríamos tempo de ler e ele quase caiu para trás. Mas o que não queríamos, de forma alguma, era ficar especialmente comprometidos com o texto clássico. Queríamos imprimir o frescor brasileiro, a capacidade de não ser enciclopédico, esta coisa bem singular que é a de entender as coisas sem precisar saber", revela Fernando.

Mundo encantado

Nascidos e criados em Brotas, cidade localizada a 240 quilômetros de São Paulo, na região de Araraquara, filhos de um engenheiro agrônomo que ainda conseguiu aproveitar os últimos suspiros da economia cafeeira no Oeste paulista, os Campana parecem, aqui e acolá, personagens saídos diretamente de um livro de Monteiro Lobato. Em seu mundo encantado cabem tanto as reinações das grandes feiras de design européia quanto figuras mitológicas como o Saci-pererê e a mula-sem-cabeça.

"Quando nos debruçamos pela primeira vez sobre o acervo do Cooper-Hewitt, deparamos com uma biblioteca repleta de livros de história natural, uma paixão das irmãs Sarah, Eleanor e Amélia Cooper-Hewitt, que fundaram o museu em 1897. E lá estavam vários livros de história natural e outros, retratando os monstros que os primeiros descobridores imaginavam existir na América do Sul. Imediatamente pensamos na mitologia rural brasileira e demos início a nosso processo de curadoria", diz Humberto.

"Manufacturing Emotions" reúne 20 objetos selecionados por Humberto e Fernando a partir do gigantesco acervo do Cooper-Hewitt, reunidos em uma sala especial da instituição. "Decidimos fazer um estudo sobre o trançado, a base de nosso trabalho. Não por acaso, o pôster da exposição é a ilustração de Cupido feita por Robert John Thornton para o livro 'O Templo da Flora', uma imagem linda, no meio de uma floresta tropical, com muita banana e a frase em inglês 'o cupido ajuda os artistas a criar'", relata Humberto.

A parceria com o Cooper-Hewitt incluiu também a criação de uma cadeira a partir do processo curatorial, que será incorporada ao acervo de mobiliário do museu. A peça está vindo para os Estados Unidos, chama-se Cadeira Trans... (denominada assim mesmo, com a reticência) e é filha direta da TransPlastic, a cadeira de plástico colorida desenvolvida em Londres para uma exposição no prestigioso Victoria and Albert Museum, com acabamento em vime trançado, em um encontro explosivo do artesanal com o industrial.

"A cadeira explode, literalmente, com plástico e borracha. Ela vai soltando, como se fossem espinhos, tudo o que faz mal para o planeta, vai expelindo os recipientes nocivos", explica Humberto, com os olhos bem abertos, como se fossem saltar do rosto, para enfatizar o drama ecológico por que passa o planeta.

Se Humberto é o irmão reconhecido por sua capacidade manual e de experimentação com novos materiais, Fernando, formado em arquitetura, se debruça constantemente sobre a elaboração dos conceitos a ser desenvolvidos pelo Estúdio Campana. "Humberto foi mais resistente, no início, ao projeto do Cooper-Hewitt e eu queria fazer algo mais funcional, menos preso ao belo. Mas acabamos percebendo que esse seria um exercício interessantíssimo, no sentido de podermos olhar para o nosso processo criativo a partir das escolhas que fazíamos. Tudo foi tão interessante que ficamos imaginando como seria fazer algo em instituições brasileiras. Imagine um olhar sobre os retratos da Pinacoteca ou os objetos do Museu da Casa Brasileira, as obras do Museu do Inconsciente, as peças do Museu do Folclore, no Rio", diz.

As marcas pessoais dos irmãos Campana - a fabricação manual e o tributo ao trançado - estão presentes em cada detalhe de "Manufacturing Emotions", a sétima mostra dentro da série "Selects", que já levou para o Cooper-Hewitt os olhares de designers como a holandesa Hella Jongerius e o artista multimídia nigeriano-londrino Yinka Shonibare.

Gabinete de curiosidades

Os gostos dos Campana se revelam nos tecidos, nas jóias feitas de cabelo dos séculos XIX (uma tradição da nobreza inglesa, de imenso poder imagético e de memória sentimental), na porcelana quase kitsch, nos objetos de cerâmica, nos cestos de bambu, nas peças de mobiliário, como a cadeira Longhorn do século XIX atribuída a Wenzel Friedrich, e até nos livros e gravuras expostos. Não é exagero afirmar que o trançado está para os irmãos Fernando e Humberto Campana como a curva serve aos sonhos em concreto do arquiteto Oscar Niemeyer. E na exposição, que fica em cartaz entre fevereiro e agosto, a escolha dos objetos foi claramente mais emocional do que lógica.

Fernando lembra que a coleção das irmãs Cooper-Hewitt guiou-os nessa direção, já que é mais pitoresca do que rara. Os irmãos não se vexaram e optaram por criar um gabinete de curiosidades, apostando na variedade e na descoberta de um vocabulário específico, pronto para ser revelado.

Eles também levaram em conta o tempo dedicado a artistas muitas vezes anônimos, para completar certas obras, remetendo ao resgate de processos de fabricação manual perdidos no desvairado mundo pós-industrial, com um olhar bem característico. "É o nosso olhar que vem do Sul, para o qual há uma curiosidade cada vez maior, muito mais intensa do que quando começamos. A globalização pode ter vários males, mas houve, inegavelmente, uma abertura para outras formas de pensar. Aqui, exercemos nossa liberdade para deixar de lado qualquer compromisso com cronologias", comenta Humberto.

O resultado foi uma leveza que remete a valores centrais na trajetória de Humberto e Fernando, como a ética pessoal, a do trabalho, a da possibilidade de escolhas, sem precisar ser quadrado, rígido ou acadêmico. "Algo assim como o Fernando Gabeira faz na esfera política, sabe? Aliás, imagine quão interessante seria se essa nossa noção de brasilidade se estendesse de forma mais intensa na política. Já pensou?", perguntam, em coro, os irmãos Campana. Sim, mas esse seria um espetáculo quase tão improvável quanto o "causo" dos moços matutos de Brotas que reinstituíram o valor dos meios artesanais no processo de produção em massa de mobiliário fino, humanizando de forma elegante, lúdica e acachapante o design contemporâneo.

Entrevista/NATALIE PORTMAN

Natalie Portman

A nova queridinha da América

Por Eduardo Graça, de Nova York, para a Contigo!

Divulgação / Imagem Filmes

Molly Mahoney (Natalie Portman) em momento de descobrimento, em meio aos brinquedos


Natalie Portman, 26 anos, fala pelos cotovelos. Engraçada, charmosa, muito magra, com o cabelo até o ombro - ao contrário de Molly Mahoney, sua jovial personagem do longa A Loja Mágica de Brinquedos (em cartaz nos cinemas) - e um sorriso de rasgar o rosto, ela conta que viver cercada de crianças,durante as filmagens de seu último longa, estrelado também por Dustin Hoffman, 70, acelerou seu relógio biológico. "Terminei a última cena pronta para engravidar!", brinca, para logo depois contar que não existe nem planos, nem sérios pretendentes para o posto de papai do ano. Querida do público americano por personagens tão díspares quanto a stripper Alice de Closer - Perto Demais e a Rainha Padmé Amidala de Guerra nas Estrelas, ela vive no primeiro filme de Zach Helm, 32 (o talentoso roteirista de Mais Estranho que a Ficção, 2006), uma jovem doce e música talentosa, que busca encontrar dentro de si a mágica de viver. Algo que Portman, como prova neste bate-papo em um dia cinza do outono nova-iorquino, parece ter de sobra.


A Loja Mágica de Brinquedos é seu primeiro filme "para crianças". Gostou da experiência?
Estava em Berlim, filmando V de Vingança (2005), quando chegou um pacote branco todo bonito, com laçarote e tudo (risos). Era o roteiro da Loja Mágica, enviado pelo Zach. Dentro do embrulho tinha uma lista com 20 coisas que crianças adoram, incluindo maçãs do amor, Willy Wonka, montanha-russa e um bilhete do Zach dizendo que queria que o filme entrasse na lista também. Adorei, né? E pensei imediatamente: é isso! Corri para ler o roteiro e encontrei, ali, o mesmo que havia me maravilhado em Mais Estranho que a Ficção: uma proposta de reencontro com um mundo mágico do qual a gente vai se esquecendo quando fica adulto. A gente vai ficando tão blasé, né? Além do mais, Zach tem algo raro em Hollywood, que é a capacidade de ser engraçado e inteligente sem precisar recorrer o tempo todo ao sarcasmo. Ele é um antídoto ao mundo de cinismo em que vivemos.

E, como a Molly Mahoney, sua personagem, você se sente às vezes presa em uma realidade que não deveria ser a sua?
Sim, quase o tempo todo (risos)! Não, sério! Os medos, as ansiedades de quem acha que não vai evoluir, não vai parar de fazer as mesmas coisas sempre, sabe? Foi por aí que me identifiquei com a personagem. Ela tem a vontade de escrever seu próprio concerto. Mas isso é virar adulto, não? Saber quem é você. Que você tem alguma mágica. Quando tinha 19 anos, fiz a peça A Gaivota, no Central Park, dirigida por Mike Nichols, com quem voltaria a trabalhar depois em Closer. Ter aquela pessoa que passei a admirar e respeitar me levando a sério, me dando tanta confiança, dizendo que eu tinha, sim, alguma mágica, foi fundamental para minha carreira.

Você começou no cinema garota ainda...
Sim, e trabalhando de cara com o Luc Besson — no filme O Profissional (1994), estrelado por Jean Reno e Gary Oldman. Tive muita sorte, todos me trataram como uma princesinha, recebi todas as atenções dos adultos que estavam à minha volta. Durante as filmagens tinha apenas 11 anos, e lá estava eu vivendo em Paris, passeando pelos museus nas horas vagas, com mamãe, cada experiência tinha um elemento mágico. Foi uma vivência única. E acho, honestamente, que nunca perdi esse senso de magia. É claro que eu encontrei algumas pessoas neste ramo que não eram lá grande coisa, vamos dizer dois ou três elementos que não me trataram exatamente bem (risos) e poluíram a atmosfera. Mas isso foi tão raro que prefiro nem entrar em detalhes.

Em A Loja Mágica você está rodeada de crianças. O filme lhe fez lembrar como é ser uma criança no set de filmagem?
Totalmente! Um dos figurantes tinha de fazer uma cena com um caminhão de bombeiro, vermelho, e, ao fim, me disse: "que bom que acaboul. Agora vou fazer com o caminhão verde, estou de saco cheio do vermelho". E eu disse "ih, não vai dar. Tem uma coisa chamada continuidade e tal". E ele não entendia e me dizia com toda a propriedade: "mas por quê? Eu não quero mais brincar com o vermelho!"(risos). E eles também me perguntavam por que eu era tão chata de ficar perguntando as mesmas questões o tempo todo. Tive de explicar que haviam os takes diferentes, enfim. Saí do set do filme totalmente apaixonada pela idéia de ser mãe (risos)! Digo, rapidamente! De preferência, amanhã (risos). Mas não tem nada acontecendo ainda, nenhum plano. Acho que tem também o fato de a maioria de meus amigos estarem "engravidando". Aí, dá aquela vontade, né? (risos).

Sentiu-se adulta demais no meio das crianças?
Todas as vezes que penso "huuum, tenho 26 anos", me dá uma sensação de que ainda sou muito imatura para a minha idade, sabe? Deve ser porque sou baixinha (risos). Mas acho que é porque as pessoas ainda pensam em mim como uma adolescente. Mas sabe que alguns figurantes do filme, os meninos especialmente, vieram me perguntar se eu realmente fiquei grávida e tive filhos em Guerra nas Estrelas (risos)? Eu expliquei que não, que era apenas um filme, mas não resisti e também perguntei de volta: "mas vocês acham que eu tenho idade para ser mãe?" E eles todos respondiam: "mas é claro!" (risos) Engraçado, né? Eu acho que ando na rua e pareço ter 16 anos. Acho que as pessoas ficam se perguntando: "mas por que cargas d'água ela não está na escola?" (risos). Mas é a imagem que você tem de si mesma, né? Que, de repente, se congela. Ah, e um fato importantíssimo: meu corpo nunca mudou, desde os 16 anos visto as mesmas roupas. Uso o mesmo figurino há dez anos! (risos).

Hotel Chevalier, o curta-metragem que você estrela com Jason Schwartzman, é um grande sucesso, um cult na internet, com fãs do diretor Wes Anderson fazendo o download do filme antes de correr para ver na tela grande O Expresso Darjeeling...
Adoro saber que Hotel Chevalier é um hit! Foi uma experiência tão sensacional. Sempre quis trabalhar com Wes Anderson e Os Excêntricos Tenembaus é um dos filmes que mais amo na vida. Alguém havia me contado que ele escrevia papéis para os atores, não fazia o cast como é comum em Hollywood, não contactava agentes. Arrumei um jeito de conhecê-lo e fiquei ainda mais encantada. Mas achava que a recíproca não era verdadeira, porque ele nunca escrevera nada para mim! (risos). Mas um belo dia o telefone tocou, eu estava filmando Os Fantasmas de Goya na Espanha e ele me disse que tinha em mente este curta para mim e Jason e que era completamente diferente de tudo o que ele havia feito, que era muito mais cru e que seriam quatro dias de filmagem em Paris. Eu nem pensei. No dia em que terminei de filmar na Espanha já voei para Paris e começamos a filmar no dia seguinte. É interessante, ele trabalha em um esquema de family business que eu nunca havia visto. Todos os amigos dele estão no set trabalhando o tempo todo. Ele trabalha com o mesmo povo com que ele convive diariamente, e o processo todo é muito cool.

E agora você pensa em passar para o outro lado da câmera. Pode contar um pouco de seu projeto de levar para as telas o livro autobiográfico De Amor e Trevas, do escritor israelense Amos Oz?
Atuo em filmes há 15 anos, está na hora de fazer algo novo, diferente. Sou uma admiradora de Amos Oz por um longo tempo e este foi o primeiro livro que eu li em que eu conseguia de fato vizualizar os personagens em minha cabeça. Obviamente tem mais a ver com o talento dele de escritor do que com o meu e leitora, mas, não sei, para mim é o livro mais lindo de Oz. A narrativa que me interessa é a da história de uma família em um tempo específico, 1948, o ano da fundação de Israel, que representa algo muito maior. Já decidi que vou usar apenas atores israelenses, mas ainda estou distante de começar, e vou tentar apenas ver os filmes dos atores e decidir na hora, sem audições, que acho horrendas. E meu hebreu é fluente, pois nasci em Jerusalém, meu pai é israelense, então cresci em uma casa bilíngüe.

E você pretende de alguma maneira fazer, com o filme, um comentário sobre as querelas entre Israel e a Autoridade Palestina?
Sei que a situação lá é muito complexa, com corrupção tanto no lado israelense quanto no palestino, além de muita violência. Mas o filme não pretende ser político ao extremo, não acho que ninguém quer ouvir mais slogans políticos, ainda mais de mim. A idéia é dar uma noção do que aconteceu naquele momento histórico para o espectador, de apresentar uma época em que poucas pessoas lembram de fato, digo, os detalhes mesmo. O importante é que quero ir além das mitologias e das histórias de cada um dos lados.


terça-feira, novembro 20, 2007

The Age of Music is Past


Bem interessante a coluna de hoje do David Brooks, aqui no NYT, tratando da segmentação da música popular a partir da virada dos anos 80 e a diminuição de sua ressonância na sociedade. É um texto interessante, que ecoa um pouco a entrevista que fiz com o Chris Anderson, editor da Wired.

Alguns dos trechos mais interessantes da coluna de Brooks:

The 1970s were a great moment for musical integration. Artists like the Rolling Stones and Bruce Springsteen drew on a range of musical influences and produced songs that might be country-influenced, soul-influenced, blues-influenced or a combination of all three. These mega-groups attracted gigantic followings and can still fill huge arenas.

But cultural history has pivot moments, and at some point toward the end of the 1970s or the early 1980s, the era of integration gave way to the era of fragmentation. There are now dozens of niche musical genres where there used to be this thing called rock. There are many bands that can fill 5,000-seat theaters, but there are almost no new groups with the broad following or longevity of the Rolling Stones, Springsteen or U2.

People have been writing about the fragmentation of American music for decades. Back in the Feb. 18, 1982, issue of Time, Jay Cocks wrote that American music was in splinters. But year after year, the segmentation builds.

People who have built up cultural capital and pride themselves on their superior discernment are naturally going to cultivate ever more obscure musical tastes. I’m not sure they enjoy music more than the throngs who sat around listening to Led Zeppelin, but they can certainly feel more individualistic and special.

Steven Van Zandt, (the guitarrist guitarist for Bruce Springsteen and the E Street Band) believes that if the Rolling Stones came along now, they wouldn’t be able to get mass airtime because there is no broadcast vehicle for all-purpose rock. And he says that most young musicians don’t know the roots and traditions of their music. They don’t have broad musical vocabularies to draw on when they are writing songs. As a result, much of their music (and here I’m bowdlerizing his language) stinks.

He describes a musical culture that has lost touch with its common roots. And as he speaks, I hear the echoes of thousands of other interviews concerning dozens of other spheres.

It seems that whatever story I cover, people are anxious about fragmentation and longing for cohesion. This is the driving fear behind the inequality and immigration debates, behind worries of polarization and behind the entire Barack Obama candidacy.

If you go to marketing conferences, you realize we really are in the era of the long tail. In any given industry, companies are dividing the marketplace into narrower and more segmented lifestyle niches.

We live in an age in which the technological and commercial momentum drives fragmentation. It’s going to be necessary to set up countervailing forces — institutions that span social, class and ethnic lines.

Music used to do this. Not so much anymore.