sexta-feira, abril 27, 2007

Oh, Joni!

Dois dias depois de chegar às lojas de discos aqui de NY, finalmente escutei o Tributo a Joni Mitchell lançado pela Nonesuch. Finalmente pois o disco completaria este ano uma década de gestação(uma palinha do disco vai aí embaixo, na promo da gravadora). Mas valeu a espera. Geralmente desconfiado deste tipo de celebração do artista - muitas vezes os 'grandes encontros' se revelam uma jogada de marketing, com a gravadora desenterrando, na maior cara-de-pau, figuras abandonadas em seus catálogos - saí feliz da vida com o resultado final.

Há desde as rendições de joelho (como a da conterrânea k.d.lang para Blue, do disco homônimo, de 1971) às surpresas agradabilíssimas de meu querido Sufjan Stevens (ensolarado cover de Free Man in Paris, de Court & Spark, 1973, um de meus CDs de cabeceira) e sim, Mano Caetano, transformando a caribenha Dreamland (do fraquinho Don Juan's Reckless Daughter, de 1977) em uma quase folk-samba canção. Uma delícia.

Aproveitei a viagem para levar para casa um disco essencial da canadense que desfalcava minha coleção - Ladies of the Canyon, de 1970, quando ela troca de vez a guitarra pelo piano como instrumento de acompanhamento da maioria de suas composições. Nos quatro anos seguintes ela lançaria Blue, For the Roses e Court and Spark, uma seqüência impressionante de obras-primas que, arrisco, garantem a Joni a posição de compositora mais importante da música pop norte-americana nos últimos quarenta anos.

Aos 64 anos, Joni Mitchell vive tranqüilamente em Los Angeles, segue fumando um cigarro atrás do outro e, depois de anunciar a aposentadoria em 2002, está finalizando um novo disco de inéditas, Shine, inspirado pela invasão do Iraque. Em março último ela foi o tema de um imperdível documentário na Radio 2 britânica, Come in From the Cold, em que revela que começou a compor para desopilar a dor de um péssimo casamento. 'Eu sentava com meu violão e uma xícara de café e compunha, compunha. Não tenho dúvidas de que era uma forma de exorcismo".

Oh, Joni!

A Tribute to Joni Mitchell

De Prince a Caetano, passando por Annie Lennox e Elvis Costello, uma constelação de artistas presta tributo a Joni Mitchell, que lança ainda este ano um disco de inéditas.

quarta-feira, abril 25, 2007

Música Do Dia: Meg Baird


Ontem chegou aqui em casa o primeiro disco solo de Meg Baird, direto da Philadelphia. Eu já conhecia o trabalho dela com a banda de folk Espers e havia adorado sua voz em "Afraid", cover de Nico, outra eterna favorita, que aparece no disco The Weed Tree, de 2005. O Espers me foi apresentado pelo Devendra Banhart na onda do folk neo-psicodélico (ou freak folk para os mais íntimos) que tomou conta do Brooklyn nas duas últimas primaveras. Rapidamente percebi que eles eram, da turma decidida a revitalizar o folk, os mais obcecados com nomes clássicos da cena britânica, como Pentangle e Bert Jansch, sem cair no pastiche.

Pois My Dear Companion, o solo da Meg que chega às lojas norte-americanas agora em maio, é ainda mais delicado do que os dois álbuns do Espers. O timbre de sua voz, a um só tempo suave e incisivo, enamorado dos velhos vocais indígenas dos Apalaches, nos revela belezuras como a versão da "Valsa dos Jogadores de Tênis", da obscura dupla Daisy DeBolt e Allan Fraser, presente no cult Fraser & DeBolt With Ian Guenther, de 1971. Coincidentemente, no último sábado, enquanto aproveitávos o sol de primavera para zanzar pelas ruas largas de Red Hook, escutamos o disco da dupla canadense em uma vitrola carcomida instalada nos fundos de uma lojinha que vendia sabonetes artesanais. Coisas do Brooklyn.

My Dear Companion foi gravado em 24 horas em um estúdio em Philly e conta ainda com a linda faixa-título, um clássico do bluegrass quase sussurado por Meg, e o belíssimo cover de Jimmy Webb "Do What You Gotta Do", imortalizado por Nina Simone.

Uma delícia.

Ouça "The Waltze of the Tennis Player", aqui.