sábado, junho 21, 2008

BURN AFTER READING/trailer

Conversei no início do ano com George Clooney em Los Angeles, quando ele lançava um dos grandes fracassos de 2008, seu filme Leatherheads, sobre a profissionalização do futebol americano, nos anos 30. No Brasil o filme nem sequer passou nas telas grandes, indo direto para o formato DVD. Na ocasião, falamos sobre o novo filme dos irmãos Coen, Burn After Reading.

Sempre um bom-papo, ó só o que Clooney me disse sobre o filme que vai abrir o Festival de Veneza em agosto (e estréia aqui nos EUA em setembro): "Joel e Ethan Coen dizem que meu personagem completa a ‘trilogia Coen de idiotas’ que eu fiz com eles (os outros dois sendo o Everett de E Aí Meu Irmão, Cadê Você? e o Miles de O Amor Custa Caro), o que já dá uma idéia de onde fui me meter (risos)! Outro dia vi um pouco do filme pela primeira vez e a única coisa que me fez ficar um pouco menos envergonhado foi que o papel do Brad é ainda mais tolo do que o meu!".

Dá para ter uma idéia do que Clooney dizia com o trailer que está passando nos cinemas daqui. Como adorei Onde Os Fracos Não Têm Vez, o vencedor do Oscar deste ano, estou doido para ver o que os Coen aprontaram desta vez.

CAMPANHA 2008/John Cusak

A disputa entre Obama e McCain por aqui segue fervendo. John Cusak, que acaba de lançar um filme bem político (e que foi massacrado pela crítica), War Inc., acaba de fazer esta propaganda, anti-McCain, que já circula pela internet e chegou ao horário nobre nos programas jornalísticos liberais das redes de tevê ontem de noite:

ENTREVISTA/Paulo Szot

Está no Portal Terra minha entrevista com o barítono Paulo Szot, 38 anos, o primeiro brasileiro a ganhar um Prêmio Tony, o Oscar do teatro americano. Conversamos ontem de tarde no Central Park e, apesar de visivelmente cansado, Paulo foi um doce de simpatia. As fotos são minhas e da querida Luciana Medeiros. Ó só:

Arte e Cultura


"Foi uma vitória de todos nós", diz vencedor do "Oscar" do teatro

Eduardo Graça
Direto de Nova York


A última vez em que um artista oriundo do Brasil fez tamanho sucesso na Broadway, ela usava um tutti-fruit hat na cabeça. Se não chegou a influenciar a moda da cidade como Carmen Miranda (não se sabe - ainda - de uma súbita disparada às clínicas de cirurgia plástica afim de se conseguir reproduzir as belas feições do barítono paulistano), Paulo Szot, 38 anos, é a unanimidade mais inteligente da vida artística nova-iorquina.


Sua aparição como o fazendeiro Emile de Becque do clássico musical de Rogers & Hammerstein em cartaz (com lotação garantida até setembro) no Teatro do Lincoln Center foi um acontecimento que levou críticos a louvá-lo como uma das razões do retorno da era de ouro dos musicais à sua vizinhança mais nobre. Detalhe: Szot disputou o papel com outros 200 candidatos. Por incrível que pareça, a atual versão de South Pacific é o primeiro revival na Broadway do musical vencedor do prêmio Pultizer em 1949.


Menos alto do que parece - seus 1,85m ganham centímetros extras por conta da postura elegante, que revela a disciplina de atleta - o barítono conversou com o Terra no Central Park quatro dias depois de saborear o prêmio Tony (o Oscar do teatro norte-americano) de Melhor Ator em um musical na atual temporada, feito jamais alcançado por outro brasileiro.


"Foi uma vitória de todos nós", disse Paulo, que já havia estrelado na New York City Opera produções de L'Elisir d'Amore, Carmen e Le Nozze di Figaro. Ópera, Broadway, música popular brasileira (ele prepara um CD para o mercado brasileiro com arranjos de Wagner Tiso), não importa. "O que não vale é preconceito. Se é bom, quero cantar", diz.
Paulo Szot fica até o fim de novembro em cartaz com South Pacific, viaja para a França no fim do ano e retorna para algumas apresentações especiais do musical em 2009. Confira trechos da entrevista com o cantor-ator:

Público

"A maior diferença entre o público de ópera e o da Broadway é o espaço físico. No teatro do Lincoln Center eu fico a um metro do público. Sinto muito esta energia e isso me ajuda muito. Algumas das canções que eu canto como Some Enchanted Evening são conhecidas dos americanos, que desde criança as escutam. E eu consigo escutar parte do público cantando comigo, em murmúrio, as músicas. É bem bonito. E também me dá a segurança de que, se, por um acaso, eu esquecer a letra, alguém vai me dar a dica ali, na hora. Esta presença do público, tão intensa não existe na ópera".

South Pacific

"Senti a sede dos americanos em rever este musical que ficou 60 anos fora da Broadway".


Paulo, ator
"Foi uma descoberta para mim. Ao contrário da ópera, em que a música te conduz o tempo todo, na Broadway ela, em determinado momento, pára. E você precisa encontrar no texto um ritmo próprio. É algo bem diferente do que eu fazia e tive a sorte imensa de contar com um diretor como o Bartlett Sher (também vencedor do Tony este ano como melhor diretor de 2008) e de contar com um elenco paciente, que entendeu o desafio-extra de encontrar a música no texto em uma língua que não é a minha nativa".

A Persistência
"Foi uma batalha conseguir encontrar o ritmo perfeito das falas em inglês. Lembro que nas duas primeiras semanas eu cheguei a pensar: vou-me embora, não sei fazer isso aqui não! Dava um certo desespero. Depois de 11 anos de carreira, tive novamente a sensação de estar no palco pela primeira vez. Tem o lado bom desta sensação, claro, que é o desafio. Agora, principalmente quando o desafio dá certo, né? (risos) E neste caso a resposta foi imediata, já no primeiro espetáculo o público veio abaixo e a crítica foi menos severa do que a de ópera, onde há sempre um porém. Fui muito bem aceito por todos".

Saudades do Brasil

"Adoro Nova York, principalmente agora que está mais quente. No inverno, sofro muito. Tenho saudade da temperatura amena, mas, principalmente, de falar português. Já há alguns anos canto menos no Brasil por conta da diferença no nível de organização das produções. Este é meu maior problema, as coisas aparecem muitas vezes de última hora e eu acabo não podendo me apresentar para os brasileiros com a regularidade que eu gostaria. Fico um pouco frustrado, adoro a platéia brasileira, adoro me relacionar, por exemplo, com São Paulo, que é minha cidade. Quem sabe no ano que vem?"

O Disco Brasileiro
"A idéia é gravar este ano e lançar no começo de 2009. Quero que este disco celebre esta nova fase. Serão arranjos de Wagner Tiso e só posso adiantar que ele será terá alguns números de musicais americanos temperados com boa música brasileira. Ainda não definimos todo o repertório, mas posso garantir que pelo menos um Tom Jobim estará lá".

O Tony do Brasil

"Sinto, honestamente, que toda vez que um brasileiro recebe um prêmio, seja uma medalha nas Olimpíadas, uma Copa do Mundo, ou um laurel artístico que ele é sim, por direito, de toda a nação. Temos tantos problemas no Brasil que quando nos evidenciamos de alguma maneira, as pessoas em geral, e é o que estou sentindo neste momento, têm esta necessidade de repartir. De repartir a alegria com o país. E é muito gostoso ter esta experiência, sabia? É claro que é um reconhecimento importante, o ego do artista fica preenchido. Mas ele é sempre, também, para os familiares, os amigos, o país que pela primeira vez recebe esta lembrança".


A Disciplina

"As pessoas perguntam o que acontece depois que se ganha um Tony. Para mim nada mudou, não tive férias não. São oito espetáculos por semana! No dia seguinte eu já estava no teatro. Tenho uma rotina de atleta. Penso como um atleta. Tenho horário para comer, para dormir, para descansar. Já foram mais de 130 apresentações de South Pacific e a disciplina é fundamental. No dia da apresentação do Tony nós tivemos um ensaio às nove a manhã no Radio City Hall (local em que ele seria apresentado), voltamos para o Lincoln Center, fizemos nosso espetáculo, fizemos o show do Tony, teve todo o nervosismo do prêmio e depois a noite seguiu. Tenho de ter muito cuidado. Dois dias por semana eu faço duas apresentações de South Pacific. Se não dormir, em casa, entre um show e outro, simplesmente não tenho forças para fazer o próximo".


Sensualidade e Sex-Appeal

"É legal saber que isso aconteceu, claro! South Pacific é uma história de amor ardente, da paixão que um homem mais velho sente por uma enfermeira. E desta urgência que ele sente em viver esta paixão, ameaçada pelo preconceito. Este é o tema central do musical, que é bem sério e que, desta vez, é ainda mais explicitada do que na versão original. Mas esta coisa da sensualidade não é mérito exclusivo meu. No meu caso, contracenar com a Kelly O'Hara (indicada ao Tony por melhor atriz em 2008), que é uma atriz sensacional, foi fundamental para encontrar esta sensualidade. Penso que a coisa do sex-appeal é muito mais do personagem do que minha".

Internet & Um Mundo de Opções
"
Vivo on-line. Fico conectado o tempo todo, inclusive no meu camarim. Desde 1998 não vivo sem Internet. A vida de cantor de ópera exige que você mude de cidade a cada dois meses. Minha única exigência sempre é saber se o hotel em que ficaremos tem Internet. Para mim, não tem jeito. Para falar com a família, com os agentes que estão mundo afora, é fundamental. Não tem jeito, Internet é tão fundamental quanto água. E para quem navega pelo Terra vai um toque - fiquem abertos para todas as formas culturais. Tem muita gente que gosta de ópera e aí não curte musicais, ou gosta de música popular e não ouve os clássicos. Isso é uma grande besteira. Existe a boa música, que pode ser encontrada nos mais variados gêneros artísticos. Mantenha a cabeça aberta e encontre coisas legais em todos os cantos."


A Estrela Que Sobe

"A experiência na Broadway não poderia ter sido melhor. Não troquei a ópera pelo teatro musical - foi um acréscimo. Mas sempre que tiver um papel adequado à minha voz e ao meu perfil, estarei interessado. Há dois musicais que amaria fazer, talvez quando estiver um pouco mais velho - O Violinista no Telhado e The Man of La Mancha. A Broadway me rendeu muitos frutos e me deixou mais aberto para novas empreitadas, então, claro, Hollywood seria uma experiência muito interessante também! Por que não?"

sexta-feira, junho 20, 2008

AGENTE 86/Texto e entrevistas

A Folha de S.Paulo publicou ontem, na capa da Ilustrada, meu texto sobre Agente 86, que estréia hoje nos cinemas brasileiros. A Contigo! desta semana saiu com minhas entrevistas com Steve Carell e Anne Hathaway, os protagonistas da comédia, que me fez rir muito e recordar de tardes siderúrgicas de tempos idos passadas na frente da tevê vendo Don Adams aprontando todas.

Aí vão, as conversas com os atores na íntegra:


Velho truque de cara nova

Nova versão de "Agente 86", baseada na série de TV criada por Mel Brooks e Buck Henry nos anos 60, estréia amanhã com Steve Carell na pele do espião atrapalhado
Anne Hathaway e Steve Carell, comparado a Pelé pelo diretor Peter Segal, revivem a Agente 99 e o Agente 86 na adaptação para o cinema da série de 1965

EDUARDO GRAÇA

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES


Eddie Murphy, Leslie Nielsen, Bill Murray, Jack Lemmon, Dan Aykroyd, Adam Sandler, Jack Nicholson e Steve Carell. Nos últimos 15 anos, o diretor Peter Segal escalou em seus filmes uma verdadeira seleção de craques da comédia. É "o velho truque..." do diretor, como diria o protagonista de "Agente 86", que estréia amanhã nos cinemas do país.
A adaptação da festejada série de TV americana tem Carell no papel que foi originalmente de Don Adams.

"Com cabeça de técnico de futebol brasileiro, se Sandler é meu Beckham, Carell é, indiscutivelmente, o camisa 10, o Pelé deste meu escrete", diz Segal à Folha. Isso porque Segal considera Carell o ator "mais inteligente de sua geração". "Há o fato de ele ser incrivelmente parecido com Adams e ter um amor imenso pela série. Isso também pesou, pois queríamos fazer um filme que exalasse carinho pelo original, sem ser piegas."
"Agente 86" foi uma das comédias de maior sucesso na TV americana entre 65 e 70, criada por Mel Brooks e Buck Henry, uma sátira sobre o mundo da espionagem na Guerra Fria.

Segal lembra que, nos dois anos que teve para concretizar seu desejo de transformar Steve Carell em Maxwell Smart, a pergunta que mais ouviu foi: "Mas você vai fazer um filme de época?". Ele decidiu arriscar e deixou de lado a Guerra Fria, fundamental para o sucesso da série na TV americana em 65, em meio à Guerra do Vietnã. "Mas, de certa forma, seguimos a receita de Mel. Ele tinha os russos, nós temos a Al-Qaeda. O tempero do "Agente" é novamente a sátira política, que agora transpira nos ataques de fúria do vice-presidente e na inteligência muito peculiar de nosso primeiro mandatário."

Maxwell Smart é o agente aparentemente boboca, que surpreende o público e seus parceiros da C.O.N.T.R.O.L (a secretíssima agência de inteligência americana) ao resolver as crises mais complexas, quase sempre deflagradas pelos terríveis elementos da K.A.O.S, agora uma comunidade de terroristas interessada em ameaçar as democracias do Ocidente.


Equilíbrio


Para Mel Brooks, Smart é o filho que James Bond e o Inspetor Clouseau nunca tiveram. O criador se diz satisfeito com o resultado desta adaptação -que o preocupou, após o fracasso, em 1995, de uma tentativa de recriar a série. No filme, afirma, há "um equilíbrio perfeito entre as aventuras de 007 e minhas melhores comédias". Cenas emblemáticas, como a das portas do elevador que nunca têm fim, voltam para fazer rir o público saudoso. O diretor enfatiza: "Por favor, escreve aí: não temos a menor pretensão de fazer algo tão bom quanto a série televisiva. Seguimos humildemente a sombra de Mel Brooks. Buscamos tocar o espírito do que eles criaram para tentar fazer algo original que novos e velhos fãs gostem. Nossa modéstia garante a tranqüilidade com que atravessaremos este fim de semana [de estréia]".

Origem do Agente 86


A preocupação com os neófitos pautou as escolhas do diretor e do ator. O filme é uma espécie de "origem de Smart", explicando como ele foi parar na ativa. E figuras do passado, como o Agente 13 (vivido na série por David Ketchum e, agora, por Bill Murray) surgem em pequenas e hilárias pontas. "Bill é conhecido por não ter um agente e ser dificílimo de contatar. Não é que nossa figurinista era amiga dele?", conta Segal. "Mas não tínhamos a menor idéia do que escrever para ele. Ficamos com os queixos no chão [quando ele aceitou] e dois dias depois o enfiamos dentro de uma árvore em Washington. Nascia assim uma das minhas cenas favoritas!"

Fã dos irmãos Marx e de Buster Keaton, o diretor conta que o caráter subversivo de Carell -conhecido pela capacidade de improvisação- foi um dos principais combustíveis do filme. Ele só convidou Anne Hathaway para encarnar a Agente 99, por exemplo, após perceber que era ela quem respondia com mais rapidez às mudanças do roteiro criadas por Carell. A escolha foi certeira. A atriz exala a sensualidade de uma Bond Girl ao mesmo tempo em que levanta a bola para Carell. "Meu mestre na arte de improvisar foi Alan Arkin, com quem trabalhei no começo da carreira [Arkin faz o Chefe -veja quadro ao lado]", diz Carell. "Com ele, entendi que a improvisação, quando bem-feita, é dar uma nova perspectiva ao tema apresentado. Faço muito isso [na série] "The Office"." Mas, se em "The Office" Carell joga com um humor que deixa seus interlocutores desconcertados, em "Agente 86" ele precisa lidar com o nonsense típico das criaturas imaginadas por Mel Brooks. "É um tipo de comédia menos seco, menos sutil do que em "The Office"."

ENTREVISTA/Steve Carell
Eduardo Graça, de Los Angeles, para a Contigo!

Quando descobriu que havia sido a atriz escolhida para viver a Agente 99 na versão para o cinema da clássica série televisiva Agente 86, criada por Mel Brooks e que durante décadas foi um dos carros-chefe da programação da TV Bandeirantes no Brasil, Anne Hathaway correu ao telefone e ligou para sua mãe, a também atriz Kate McCauley. Queria celebrar a conquista – um dos programas preferidos das duas era ver as trapalhadas do agente Maxwell Smart e de sua namorada 99 nas longas tardes suburbanas de Nova Jérsei – e também pedir conselhos para dona McCauley. “Ela me disse que apenas deveria prestar atenção em Steve. Que se tivesse alguma dúvida, bastaria olhar para ele. Ele saberia me conduzir, sempre, para o caminho certo”, diz Hathaway.

A história corrobora o tamanho do fã-clube de Steve Carell, o protagonista do filme que chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira. Aos 45 anos ele é o comediante de maior sucesso no showbizz americano. Ídolo nacional por conta de sua versão televisiva do sucesso The Office (no Brasil vai ao ar pelo canal FX), ele ganhou um lugar cativo na telona com a explosão de O Virgem de 40 Anos e a magistral interpretação do tio gay de A Pequena Miss Sunshine. Casado com a atriz Nancy Walls, 41 (a Carol de The Office), ele passa boa parte de seu tempo livre fazendo graça para os filhos Elizabeth, 8, e John, 4, que, segundo o pai-coruja, poderá vir a ser um comediante talentoso.

Fã da versão original do Agente 86, que passou na televisão norte-americana entre 1965 e 1970, Carell é quase um clone do falecido ator Don Adams, que encarnou o espião trapalhão, uma paródia de James Bond com uma pitada de Inspetor Clouseau, na versão original. Mas seu grande trunfo, de acordo com o próprio Brooks, consultor-emérito do filme, foi ter criado um Maxwell Smart todo próprio, tão diferente de Adams quanto fiel à imaginação do criador do personagem bonachão. Mesmo quando cede novamente ao humor mais físico – as cenas em que aparece semi-nu ou beijando o ator Dwayne Johnson, de O Rei Escorpião, mais conhecido como The Rock, são absolutamente impagáveis – Carell segue o dono da bola, exatamente como previra a sábia mamãe de dona Hathaway.


- É verdade que você achou que iria ter de fazer testes para encarnar Maxwell Smart na tela? A pergunta é porque você é a cara do personagem, parece-me uma escolha óbvia!
- Foi uma surpresa completa. Fui chamado para uma reunião na Warner e achei que seria um teste de elenco. Então levei meu currículo, algumas fotinhas e imaginei que ficaria um tempo em um quartinho esperando os outros atores que já estariam fazendo cenas de Maxwell Smart. Mas, que nada! Entrei em uma sala imensa, com executivos e produtores que diziam que queriam que eu fizesse o protagonista do filme! Basicamente, posso te dizer que minha cabeça explodiu naquele momento. De felicidade (risos).

- Mas você ficou supreso por ter este acesso direto em Hollywood?
- (fazendo uma voz pomposa) De modo algum. Sempre soube que o sucesso estava na esquina pronto para mim. (risos). O problema é que fiquei esperando, esperando, esperando e esperando de novo! (risos). Não, sério, sim, me surpreendo todos os dias com o sucesso que alcancei nesta carreira, mas tenho a consciência de que isso um dia vai passar. É uma delícia, adoro, mas tento me lembrar todos os dias de que um dia isso acaba. É inevitável.

- Você era um fã da série criada por Mel Brooks em 1965?
- Sim, claro! Cresci vendo Agente 86 na tevê. E criei meu Maxwell com muito amor e carinho pelo original.

- A cena em que você beija Dwayne Johnson na boca é reveladora. Como foi sapecar um beijo no The Rock?
- Foi exatamente o que você imaginaria (risos) e sonharia por noites a fio (mais risos). Há três coisas sensacionais sobre Agente 86, o filme.

- Que são?
- Uma, o serviço de catering (risos). Comemos lagosta ao termidor o tempo todo. O elenco, sensacional. E poder beijar Dwayne na boca. Ele é genial, doce, agradável, inteligente. E também tem aquela pele macia, os lábios volumosos (risos). E ele tem aquele cheiro de cookies que acabaram de sair do forno, sabe? Ai, ai...(risos). Não, sério, tiveram dois dias de filmagem – o que eu beijo o Dwayne e o que eu apareço com o bum-bum de fora – em que eu tive de ligar para mulher para contar o que eu havia feito! (risos). No dia em que ficava pelado em cena, disse a ela; “Amoreco, há 500 pessoas nesta sala de concerto em que estamos filmando e eu tenho que me abaixar e mostrar minha bunda para eles!”.(risos). E eu tinha esquecido que estas duas cenas estavam no roteiro, é assim que eu funciono. O que fazer? Ora, respirar fundo e manter a dignidade, sempre.

- O filme é repleto de paródias e ironias com instituições norte-americanas como a C.I.A. e o F.B.I. e pega pesado tanto com o presidente Bush quanto com o vice Dick Cheney. Você, que esteve durante anos em um dos programas mais cáusticos da tevê americana, o Daily Show, com John Stewart (apresentado no Brasil em sua versão internacional, na CNN) segue um adepto da comédia mais politizada?
- Acho que esta é uma das melhores características de nosso país. É fundamental que programas como o Daily Show e o Colbert Report, que caçoam de nossos políticos continuem existindo. Eles nos ajudam a pensar sobre a sociedade em que vivemos e, ao mesmo tempo, são divertidos pacas.

ENTREVISTA/ Anne Hathaway
Eduardo Graça, de Los Angeles, para a Contigo!

Ela é apontada pelas publicações de entretenimento norte-americanas como a possível sucessora de Julia Roberts no panteão das estrelas de Hollywood. Exagero? Pode ser, mas a bilheteria acumulada de seus últimos cinco papéis de peso (incluindo a Andy de O Diabo Veste Prada e a Lureen da Montanha Brokeback) somam impressionantes US$ 704 milhões. Número que deve aumentar ainda mais com Agente 86. Aos 25 anos Anny Hathaway já fatura, de acordo com as ótimas e afiadas línguas, US$ 5 milhões por filme.

Desde que explodiu com a franquia O Diário da Princesa ela já jogou de igual para igual com ninguém menos do que Meryl Streep e agora capricha no quesito sedução para explorar seu lado pin-up. Sua Agente 99 é tão eficiente quanto engraçada, mas especialmente sensual. Além de não ficar para trás nos diálogos cômicos com o craque Steve Carell – tarefa bem difícil, o homem é rápido no gatilho - ela deixa os marmanjos de boca aberta com seus figurinos ousados e uma câmera enamorada, que parece procurar as curvas da atriz. Depois da conversa com a Contigo!, na sala de conferências de um hotel cinco-estrelas de Beverly Hills, a atriz foi relaxar na piscina com uma amiga dos tempos de faculdade e o namorado de quatro anos, o empreendedor imobiliário Raffaello Follieri, 28. Com seu ragazzo italiano, Hathaway saboreou uma tequila e dividiu um prato de nachos, se protegendo sempre do sol, mas mostrando para os privilegiados hóspedes do hotel uma forma invejável.


- Você, que agora é uma expert no assunto, gostou do guarda-roupa da Agente 99?
- Adorei! Adorei! A figurinista do filme, Debbie Scott, que ganhou o Oscar por Titanic, passou horas conversando comigo sobre como faríamos para a Agente 99 ser ao mesmo tempo uma garota interessada em sua aparência, ao mesmo tempo em que não tinha problema algum em parecer perigosa. Queríamos encontrar um look que serviria tanto para um desfile de modas quanto uma luta contra ninjas assassinos (risos). Meu vestido favorito é o que uso quando minha identidade é revelada. Sei que fica estranho eu dizer isso, mas aquele é um vestido sexy!(risos).

- Mas não ficou difícil fazer todas aquelas cenas de ação usando salto alto?
- Acho que O Diabo Veste Prada funcionou como um ‘treinamento em salto-alto’ para Agente 86. (risos). Naquele filme, muita gente não sabe, eu tive de fazer malabarismos enquanto tinha quebrado um dedo. Foi uma loucura! A Agente 99, no entanto, teve muito mais ajuda. Tinha um dublê, um professor de artes marciais para ajudar a fazer tudo no estilo correto, para parecer de fato autêntico. A produção ofereceu tudo o que queríamos, até porque eles sabiam que tinham nas mãos os dois atores mais improváveis para fazer um filme de ação (risos). Também pesou o fato de que eu cresci praticando esportes. Vi toda a ação da Agente 99 como um mix de treinamento de balé com lacrosse (esporte praticado nas universidades americanas que lembra o críquete).

- A Agente 99 teve de fazer uma cirurgia plástica. Há algo que você mudaria em seu rosto?
- Tenho uma artrite terrível no dedão de meu pé esquerdo e me incomoda muito. Muito mesmo. Se houvesse uma maneira de consertar isso, certamente entraria na faca. Quando era mais jovem – e existe muita pressão social nas adolescentes – e pensava que era necessário fazer algo para me moldar mais na tal beleza clássica pensei em operar o nariz. Não achava que ele era bonito o suficiente. E é engraçado isso porque hoje acho que o meu nariz é que me permite mudar de rosto em um filme na hora em que bem entendo. Posso ser glamurosa como a Agente 99 ou uma ex-viciada em heroína, como em meu próximo filme, em que a personagem é barra-pesada. Acho que uma atriz tem de ter um rosto expressivo, ou você será eternamente apenas uma face conhecida, sem personalidade.

- Você consegue acreditar no conto de fadas vivido por Maxwell Smart, que ganha o coração de uma mulher-perfeita, como a Agente 99?
- Não acho que ela seja o estereótipo da mulher perfeita! Ela é uma workaholic e leva a sério seu trabalho a um ponto exaustivo. Max faz com que ela entre em contato com seu senso de humor, com sua sensibilidade. Ele a surpreende, e ela adora isso. Eu entendo bem esta sensação, de você pensar que domina tudo, sabe do que está falando e, de repente, alguém te surpreende.

- Você ainda é muito jovem e já trabalhou com gênios da interpretação como Meryl Streep, Alan Arkin e Steve Carell. O que aprendeu mais nos sets de filmagem que poderia dividir conosco?
- Em O Diabo Veste Prada aprendi a diminuir a intensidade da piada sem perder o timing. Com Alan e Steve aprendi a importância de se ter liberdade para errar. De encontrar o tom cômico exato depois de tentar muitas vezes, a busca do aprimoramento. É quase que como entender que para realmente você ser engraçada você precisa antes compreender que isso não é uma regra. O importante é continuar tentando.

terça-feira, junho 17, 2008

NA VITROLA/Bonnie 'Prince' Billy - Lie Down in the Light


Não sai da vitrola de casa o discaço de Bonnie 'Prince' Billy lançado na segunda-feira aqui em Obamalândia. É uma volta de meu querido Will Oldham a um som mais 'rural' que o caracterizava nos anos 90, com recriações de temas e sons caros à música folclórica dos Apalaches, rica pelo mix de imigrantes irlandeses e do leste europeu. É uma música menos percussiva e que oferece um tipo de transe diferente da experiência mais deslumbrante dos ritmos oriundos da África que aqui desaguariam no jazz, no blues e no gospel.

No NYT de ontem Ben Ratliff traduziu bem o velho-novo som de Oldham, 'seus acordes de violão secos, oblíquos, transparentes, desprotegidos e com flashes, aqui e acolá, de intensa sexualidade. As músicas podem parecer vagas, mas ganham força com a poesia e com a vontade clara de se passar ao ouvinte princípios nítidos. Em um primeiro momento pode parecer uma rendição a um tipo específico de música country ou a uma Americana mais profunda. Mas não, é algo novo, completamente diferente'.

O que me importou é que o resultado é muito, muito bonito, sem cair no preciosismo.

Esta é a faixa que abre o disco, Easy Does It. Deleitem-se:

domingo, junho 15, 2008

Coluna de Domingo: Frank Rich, NY

A obrigatória coluna dominical de Frank Rich no NYT, hoje, está tinindo. O jornalista contesta o novo conto de fadas da mídia norte-americana: o de que os eleitores - mais precisamente, as eleitoras - de Hillary estariam migrando para McCain.

A coluna, completa, apenas em inglês, você lê aqui.

Seguem alguns bons trechos:

* "Pelas propagandas de McCain dizendo que ele, e não Obama, está mais próximo das eleitoras de Hillary, você jamais desconfiaria que o senador republicano é um dos maiores inimigos ao direito de escolha da mulher na questão do aborto. Ou que ele ajudou a derrubar o programa público de ajuda ao combate de câncer de mama"

* "As últimas três pesquisas de opinião, no entanto (Gallup, Rasmussen E Wall Street Journal-ABC) mostram Obama liderando entre as mulheres, com vantagem que vai de 13% a 19%. Para se ter uma idéia, as mulheres, que nos EUA historicamente votam com os democratas, deram a Al Gore uma vantagem de 11% sobre Bush em 2000 e a John Kerry uma vantagem de apenas 3% em 2004. A vantagem de Obama impressiona".

* "A noção de que as eleitoras de Hillary Clinton se transformaram, com sua derrota, em angry white women, é, por si só, sexista e estereotipada. O cenário fictício de hordas de mulheres furiosas migrando para a candidatura McCain é apenas mais um capítulo de uma história que querem nos vender como real - a de que o Partido Democrata é invariavelmente dividido e que apenas se Hillary for convidada para a vice-presidência a lealdade de seus eleitores (18 milhões nas primárias) seria garantida por Obama. Esta é a realidade de pernas pro ar. São os republicanos que vivem nas gargantas uns dos outros, e não os democratas".

* "A mídia se concentrou nos problemas de Obama apresentados pelas pesquisas - ele está bem atrás de McCain entre os homens caucasianos (20%) e entre as mulheres caucasianas que vivem nos subúrbios (6%). Mas está bem à frente quando se consideram todas as mulheres (19%) ou mesmo apenas a totalidade das mulheres caucasianas (7%). A rede NBC, por exemplo, sequer mencionou que Obama vence McCain em todos os outros grupos: eleitores brancos de origem hispânica, independentes, católicos e trabalhadores de baixa-renda. A vantagem de Obama entre os hispânicos é a mais assustadora para os republicanos: 62% a 28%. Não custa lembrar que Bush só chegou à Casa Branca com os 44% de votos dos hispânicos."

* "É claro que há muitas maneiras de Obama perder esta eleição, mas não se pode deixar de notar que os 6% de vantagem sobre McCain (47% a 41% da totalidade dos votos) é maior do que a de Bush, em qualquer momento da campanha, sobre Kerry em 2004."

* "Quem não consegue unir seu partido é McCain. O acadêmico conservador Douglas Kmiec já anunciou seu apoio a Obama. Exatamente como o economista republicano Lawrence Hunter e um dos pais do neo-conservadorismo, Francis Fukuyama. Até Rupert Murdoch, o dono da Fox, anda namorando explicitamente os democratas. E simplesmente 14 republicanos do Congresso se recusam a declarar o apoio a McCain. Dos 62.800 doadores da campanha Bush-2004, apenas 8% (ou 5.000) estão dando alguma ajuda a McCain".