quinta-feira, maio 21, 2009

GreenDay - Mais do Mesmo no Webster Hall

O Terra publicou meu texto sobre o show do GreenDay anteontem aqui em NY por conta do lançamento do novo disco dos caras, 21st Century Breakdown. Aqui vai o texto completo (as fotos são minhas):


Resenha - GreenDay - Webster Hall, Nova York, 19/05/2010


Na metade do show de duas horas que o Green Day apresentou para cerca de mil enlouquecidos fãs nesta terça-feira, Billy Joe Armstrong recebe James Brown e, olhos arregalados, arrisca alguns versos de I Feel Good. Não, o Webster Hall não é o Apollo Theater e o Harlem está a milhas de distância do East Village. Mas há algo inegavelmente subversivo quando nova-iorquinos muito brancos, de todas as idades, em alto e bom som, se perguntam, em coro se ‘você quer ser um americano idiota’?

Quatro anos depois da explosão de American Idiot, quiçá a obra-pop-símbolo dos anos Bush, Billy Joe, Mike Dirnt e Tré Cool voltam com 21st Century Breakdown, uma ópera-rock dividida em três atos que giram em torno do casal Christian e Gloria. Depois de apresentarem quase todo o repertório do musical e alguns sucessos de outras safras, como At the Library (a primeira faixa do primeiro disco da banda, o mediano 1,039/Smoothed Out Slappy Hours, de 1991) e 80 (do bom Kerplunk, de 1992), a pergunta inevitável da noite é: “mas este Breakdwon é tão forte quanto o Idiot?”.


É. Mais uma vez a mistura de baladas pop com a velocidade e a zoeira características da banda fizeram com que o público pulasse durante todo o tempo. Muito deleniador no rosto, uma cabeleira à la Robert Smith, Armstrong abriu a noite às 9h15 da noite com o grito gutural “New York Cityyyyyyyyyyy!”. E a platéia logo mostrou a que veio cantando junto com o minúsculo rock star a letra inteira de 21st Century Breakdwon. Sem pausa para respirar, Know Your Enemy prova por que é o single do disco, com o povo saracoteando enquanto repetia, em transe, a letra que anuncia: “Violência é uma energia/contra o Inimigo/Traga a Fúria/Revolte-se contra a honra da obediência”.


No palco, ao lado do trio, Jason Freese, Jason White e Jeff Matka se dividiram entre guitarra, piano e até saxofone, imprimindo uma textura ligeiramente mais melódica às composições da banda. Há, também, uma rendição ao sugar-pop de conjuntos vocais dos sixties, com backing vocals caprichados em uuuhs e aaahhs. Ao contrário do espetáculo mais contido que apresentaram um dia antes para um público menor no Bowery Ballroom, toda a teatralidade do Green Day tomou conta do Webster Hall. Houve quem pensasse estar vendo uma banda de glam rock dos anos 70, ressuscitada e imolada nas ruas sujas do Village. Será que vem daí o delineador de Armstrong? Huuum....


O vocalista parecia possuído. Pediu aos seguranças que tirassem as caixas de proteção do palco. Se jogou em meio a mãos tão protetoras quanto curiosas de meninos e meninas na platéia. Convocou um fã ao palco e deixou-o cantar os versos de Longview, para delírio dos amigos. “Isso aqui, agora, é uma experiência religiosa! Cheguem mais perto! Vamos trocar nossos germes. Quero sentir vocês!”, gritava, enquanto comandava a coreografia da galera, ora ao ritmo de mãozinhas, ora em frenético pula-pula.


Green Day na Broadway


Em entrevista dada a um programa de tevê esta semana nos bastidores do Saturday Night Live, os meninos californianos revelaram um pouco do processo criativo que gerou 21st Century Breakdown. “Em janeiro de 2006, dois anos depois de termos lançado American Idiot, sentamos juntos com um punhado de papel em branco e começamos a escrever. O corpo do novo trabalho surgiu com a música que dá título ao disco. Depois personagens começaram a tomar forma. Eles parecem refletir o que queríamos dizer. Acredito que estamos no melhor de nossa forma. Se American Idiot foi um passo à frente, Breakdown são três pulos adiante”, disse Armstrong.

As semelhanças com a criação de uma peça de teatro musical são óbvias. E em breve a Broadway, quem diria, deverá ser palco para a adaptação teatral de American Idiot. “Sim, o pessoal responsável por O Despertar da Primavera, um grande sucesso da última temporada, já conversou conosco. Fomos ver o espetáculo e é impressionante, não tem nada a ver com o teatro musical de nossos avós! Achamos que o musical vai ser sexy e direto ao ponto”, disse Dirnt. “A idéia é ter entre os personagens o Jesus do Subúrbio, São Jimmy e Whatshername, presentes no disco, mas sem diálogos e sim com cartas enviadas de um para outro. Vai ser cool”, prometeu Armstrong.

O namoro escancarado com a Broadway e a presença de gerações diversas no Webster Hall dão pistas para se desvendar o segredo do envelhecimento esperto do Green Day. A banda apresentou seu oitavo álbum de estúdio para um público tão próximo da ironia adolescente de Dookie quanto do rock sério de ares políticos de American Idiot. A parte final do show de terça-feira reforçou a idéia de que a popularidade da banda – uma das poucas ainda bancadas pela combalida indústria do disco na atual cena pop americana – advém de um equilíbrio do que ainda restou do humor irreverente dos meninos (com as armas todas voltadas para valores tipicamente americanos, como a liberdade, a democracia e o gigantismo incontrolável) com um tique cada vez mais explícito de se emular os gênios do velho rock’n’roll, de Who a Queen.


Daí o olhar surpreso de punks e indie rockers mais aguerridos, aboletados no vizinho Irving Plaza para conferir um tributo, no mesmo dia e horário, aos Ramones, por conta do aniversário de Joey Ramone. “Não sabia que o Green Day ainda tinha esta importância!”, se admirava Hewitt Pratt, presença assídua na noite roqueira da cidade.

Mais do Mesmo, para Alegria dos Fãs


No show do Webster Hall, letras que falam de lobotomia, ignorância coletiva, heróis e condenados, refugiados e ingênuos, se misturam, até com alguma lógica, a pedaços de clássicos dos Isley Brothers (Shout!) e de Ben E.King (com um Stand By Me mais próximo da interpretação de John Lennon).

Armstrong pede, no êxtase da celebração de terça-feira, que o público encontre a esperança perdida na promessa de Know Your Enemy: "A inssurreição virá/Quando o sangue for sacrificado/Não se deixe chegar pelas mentiras/Violência é uma energia/O inimigo é o silêncio/Dê-me/Dê-me então/a Revolução". E assim se delineia o passeio do casal Christian e Gloria pela selva de pedra desenhada por Billy Joe Armstrong, que nos chega mais como um espelho de American Idiot do que uma natural evolução, os tais três passos imaginados pelo rock star. Mais do mesmo, para a alegria dos fiéis da igreja verdejante.

quarta-feira, maio 20, 2009

Jornada nas Estrelas: entrevistas

Nunca fui fã da série. Jamais me seduzi pelo cumprimento hippie-galático ou pelas orelhas sabidas de Spock. Sim, adorei a foto (reprozudida aí em cima) do Obama de Vulcano. E sabe que gostei da versão do J.J. Adams? Dos lançamentos comerciais de verão, foi, de longe, até o momento, o mais interessante.

Reproduzo aqui os textos originais que saíram no Terra Online com as entrevistas realizadas em Los Angeles. Aí vão:

Eduardo Graça, de Los Angeles, Direto da Redação para o Terra

Quando J.J. Abrams, o nome responsável pelas séries Lost e Alias, recebeu a tarefa de reinventar uma das maiores grifes da cultura pop norte-americana, a reação foi de espanto. O diretor não era exatamente um fã de Jornada nas Estrelas – a série estreou na tevê americana em 1966, o mesmo ano em que Abrams nasceu! - e tinha calafrios ao pensar em títulos como o recente Nêmesis, um dos maiores fracassos de bilheteria de 2003.

Depois de uma dezena de filmes e uma nova geração sem o brilho da original, Abrams percebeu que para fazer a U.S.S.Enterprise decolar novamente seria preciso jogar o cheiro de mofo que pairava na nave espacial para escanteio. Missão cumprida. Seu Jornada nas Estrelas nos leva para a primeira viagem da nave espacial, apresentando as origens de personagens queridos do público, como o Capitão Kirk, vivido pelo galã Chris Pine, e o alienígena mais famoso do universo, Spock, na pele de Zachary Quinto, conhecido pelo vilão da série Heroes.

E, ao contrário de outras marcas poderosas que se voltaram para seu gênesis recentemente e optaram por mostrar cenários sombrios, como o Batman dos irmãos Nolan, o Jornada das Estrelas de Abrams é repleto de esperança, um retrato coloridísimo da Era Obama. É a galáxia unida em prol do bem-comum. Até o romulan vivido pelo Hulk Eric Bana tem lá seus motivos para arrumar confusão entre uma viagem pelo tempo e outra.

Opa, e eu já disse que estas travessias temporais oferecem a desculpa perfeita para que Leonard Nimoy, o eterno Spock, volte à tela grande com toda pompa? Não? Então se segure, o Terra conversou com Abrams e seu elenco no salão de conferências de um hotel de luxo em Beverly Hills. Os principais trechos da conversa com o diretor seguem abaixo. O bate-papo com os atores vem logo em seguida. Aperte os cintos e se prepare, esta viagem vale o ingresso nos cinemas.

J.J. Abrams - highlights

Desafio de Retomar uma Grife de 40 Anos

Logo de início percebi que queria manter elementos da mitologia de Jornada nas Estrelas que fossem importantes para os fãs. A silhueta da Enterprise precisa ser fiel ao original. O fã precisa reconhecer os personagens de imediato (VER QUADRO). A audiência é mais sofisticada agora, claro, então tivemos que trabalhar num nível de precisão com que, em 1966, os produtores não precisaram se preocupar.

Fantasia Realista

Sabia desde o início que seria a parte mais importante de meu Jornada nas Estrelas. Nunca me preocupei nem com os efeitos visuais, nem com o design dos objetos. O que queria eram atores capazes de imprimir realismo no filme. Um de nossos modelos foi o Super-Homem dirigido por Richard Donner em 1978. Até então, a imagem que você tinha do homem de aço era a dos quadrinhos ou da série de tevê. Com Donner, você tem de acreditar que aquele homem pode, de fato, voar. Era o efeito que eu queria em Jornada nas Estrelas. Nunca senti – e talvez isso tenha a ver com os recursos disponíveis anteriormente – que Jornada nas Estrelas era real. Queremos mudar isso.

Elenco

Queria, então, ter atores capazes de trazer humor e verdade para a tela, sem copiar os originais. Achava que o mais complicado seria o Spock. Então, um belo dia, Zachary Quinto apareceu e sim, ele nasceu para fazer Spock um dia na vida. Kirk foi o último a encontrarmos, demorou muito. Queríamos alguém bonito, sapeca e essencialmente engraçado. Foi o que achamos em Chris Pine. Também tínhamos de ter atores que falassem o cientificês tecnológico e não deixassem ninguém de saco cheio. Você acredita no que vê. A primeira vez que tivemos a certeza de que estávamos no caminho certo foi quando Zach e Chris leram juntos algumas cenas. Com este elenco temos a pretensão de fazer um Jornada nas Estrelas que não será esquecido, que ficará. Esta é nossa ambição.

Comparações Com Outras Jornadas

Para começo de conversa eu nunca fui um trekkie. Gostava da série, mas nunca fui um fã ardoroso. Quando descobri que haviam 10 filmes já feitos, quase tive um piripaque (risos). Comecei como produtor, mas logo cheguei à conclusão que ficaria mal se não dirigisse também.

Lutando Contra O Previsível

Um dos desafio foi não fazer algo como os filmes que contam o começo de Guerra Nas Estrelas. Ora, aconteça o que acontecer, você sabe, lá, que o personagem de Ewan McGregor vai sobreviver. Você sabe que o Alec Guiness faz o Obi-Wan Kenobi no futuro. Aqui, com a noção da viagem no tempo e das realidades paralelas, tudo é mais imprevisível.

Leonard Nimoy: O Eterno Spock

Passei tanto tempo com ele durante a preparação para o filme que percebi que não era o suficiente, queria mais. Criamos então especialmente um personagem para ele. Leonard adorou a idéia e eu também.

O novo cap. Kirk acredita que fãs vão gostar de 'Star Trek'
Uma das primeiras decisões de J.J.Abrams ao tomar as rédeas de Jornada nas Estrelas foi a de convocar um elenco forte mas destituído de estrelas de Hollywood. A idéia era trazer jovens talentosos que pudessem ser identificados com personagens tão emblemáticos quanto o Capitão Kirk e Spock de forma total, sem resquícios de outro papel marcante feito pelos atores. O autraliano Erica Bana, 40 anos, é a exceção que confirma a regra. Conhecido do público pelo agente-secreto de Munique, de Steven Spielberg, o Heitor de Tróia e, claro, o Incrível Hulk, ele faz no filme Nero, um ser atormentado pela destruiçnao de seu planeta. A seu lado estão Chris Pine, rosto de modelo, pele queimada de sol, aos 28 anos pronto para garantir seu espaço em Hollywood. Seu novo projeto deverá ser o Lanterna Verde, dirigido por Martin Campbell (de 007 Cassino Royale).

O Terra conversou com os dois, mais o hilário John Cho, 36 anos, que, como toda a tripulação de Enterprise, fechou um contrato para duas outras seqüências de aventuras de Jornadas nas Estrelas. Seguem os melhores trechos da prosa:

Como você se preparou para viver o Capitão Kirk?
PINE: Fiz minha lição de casa. Devorei a série original, vi todos os capítulos, par tentar compreender melhor a dinâmica ente os personagens e a estética por detrás de Jornada nas Estrelas. Mas aí descobri que estava tentando encontrar a melhor imitação possível de William Shatner fazendo o Capitão Kirk...
Algo mais fácil, mas ao mesmo tempo mais vaporoso de se conquistar...
PINE: Aquele não foi meu melhor momento, claro. E era o oposto do que J.J. Abrams havia pedido. Ele queria que nós imaginássemos estes personagens de forma absolutamente original, única, singular. Diferente do que todos os predecessores haviam feito com eles.

E como você saiu deste jogo de xadrez?
PINE: Eu conversei com J.J. e fomos juntos encontrando as nuances de meu Kirk. Mantive um senso de continuidade em relação ao trabalho de Shatner, creio, mas criei algo diferente. Encontrar um equilíbrio entre os dois Kirks foi o desafio de minha interpretação.
A preparação física também foi intensa, não? A futura tripulação da Enterprise passou um tempo junta e vocês ficavam tardes inteiras lutando boxe...
PINE: Sim, tivemos dois meses do que eu chamaria de recrutamento militar Star Trek (risos). Aprendemos muito com os dublês. E não foi só boxe, não, teve kick-boxing, krav-magá e aulas de auto-defesa. E com a ajuda das artes marciais, fomos criando uma coreografia para as cenas de luta.
CHO: Eu bem que tentei me manter em forma, mas têm sido aquela coisa de altos e baixos. Mas adorei tanto o taequendô quanto o krav-magá. Zac Quinto, por exemplo, ficou treinando mais aikidô. Foi tudo bem focado em cada personagem.
BANA: Como se chama isso, krav-magá?
CHO: Mas peralá, Eric, você fez um agente-secreto israelense em Munique! Como é que não sabe que krav-magá é a arte marcial desenvolvida pelo Mossad, o serviço-secreto israelense? (risos)
BANA: Oh...(com o rosto vermelho). É algo como o jiu-jitsu praticado no Brasil?
CHO: Não! Hello, Munique! (mais risos, Bana fica mais vermelho). Eu diria que é um estilo salsa de se matar alguém (risos). Não, sério, é uma arte marcial eficiente, intensa e muito boa para seu corpo.
PINE: Desde que a gente parou de gravar o que eu tenho mesmo praticado é semi-aposentadoria, conhece? Durmo muito. (risos).

Eric, você não teve de se aperfeiçoar em nenhuma arte marcial? E teve de ganhar músculos para o filme?
BANA: Não, os figurinos fizeram o serviço completo.
Chris, o Zachary teve a chance de trabalhar o Spock juntamente com o Leonard Nimoy. Você não gostaria de ter tido a oportunidade de estar mais próximo do William Shatner, que publicamente disse ter ficado sentido por não ter sido incluído no filme?
PINE: Engraçado, sabe que eu finalmente o conheci ontem em uma das ações de caridade que ele faz aqui em Hollywood? Ele é sensacional. Foi menos um encontro diplomático entre os Kirks e mais um apoio que dei às ações deste cidadão exemplar. Ele me mandou uma carta linda enquanto estávamos filmando me desejando toda sorte do mundo na Enterprise. Quero muito passar uma tarde toda conversando com ele. Mas acho que, e isso casa com o que disse no começo, se Shatner estivesse no set de filmagem, seria ainda mais complicado para mim encontrar meu próprio Kirk. Sentir-me livre o suficiente para criar meu próprio Kirk foi a parte mais importante de meu trabalho em Jornada nas Estrelas. Mas não vou mentir, agora que já filmamos, morro de inveja da relação de Zach com o Leonard (risos).

Você ficou nervoso com o encontro?
PINE: Sim, claro. Uma coisa é receber uma carta, outra encontrá-lo e dizer “olá, senhor! Prazer em conhecê-lo, eu sou aquele menino que está fazendo o seu papel” (risos). Mas percebi que havia algo na maneira como ele move seu corpo, anda teatricalmente pela nave espacial, o jeito como ele senta na cadeira, estão no meu Kirk também.

Quando lançada nos anos 60 Jornada nas Estrelas lidou com temas como a Guerra Fria, a necessidade de se fortalecer a ONU, feminismo e racismo. Como é que o filme dialoga com o mundo contemporâneo?
PINE: Enquanto filmes como Watchmen e Batman se aprofundam de uma forma magnífica do lado negro da natureza humana. Eles são niilistas e nós trazemos um sopro de esperança. Quando você termina de ver este filme você sai com um sorriso, olhando para o futuro. Pode parecer brega, mas há quanto tempo Hollywood não traz um filme de ação com um enredo para cima? Por que não uma história positiva? Especialmente neste momento de crise econômica e guerra, entre Sri Lanka e Afeganistão e pessoas perdendo suas casas, por que não contar uma história que termina de um modo diferente?
CHO: Procurando Nemo já fez isso (risos)...
BANA: E é difícil dizer para crianças de 10 anos, por exemplo, que elas não podem ver Watchmen ou Batman. Quando nós éramos crianças, estes personagens, Batman, por exemplo, eram todos infantilizados de certa maneira. Acho que ter pensado num Jornada nas Estrelas tão sofisticado quanto mais próximo de crianças e jovens foi um acerto de J.J.
Vocês acham que os fãs mais ardorosos vão curtir o filme?
CHRIS: É o que mais queremos, claro! Mantivemos vários detalhes que apenas os fãs de carteirinha reconhecerão e, ao mesmo tempo, há todo um universo convidativo a ser descoberto para quem pela primeira vez entrar em contato com Jornada nas Estrelas.
BANA: Estamos bem conscientes de que este é um filme que a audiência se relaciona de uma forma bem específica com o que vê na tela. E, olha, no lançamento mundial na Austrália foi sensacional ver a platéia em Sidnei aplaudindo de pé. E, australiano que sou, te garanto: esta não é uma reação comum em meu país. Foi um dos momentos mais emocionantes de minha carreira.

O veterano e o novo Spock falam sobre 'Star Trek'

Bastam cinco minutos em cena para se ter a certeza: Zachary Quinto era a escolha óbvia para o novo Spock. Ele parece menos o temido Sylar de Heroes e mais o cerebral vulcano de sangue-verde a cada cena. Aos 31 anos, ele é o segundo ator a assumir controle no papel imortalizado por Leonard Nimoy. De tanto maravilhar os colegas com seu conhecimento estelar e simpatia à toda prova no set ajudando seu pupilo, o veterano de 78 anos ganhou um papel no Jornada nas Estrelas de J.J.Abrams. Um dos momentos mais emocionantes do filme é quando os dois Spocks se encontram. Mas a reportagem do Terra não é estraga-prazeres e não vai contar mais nada. Vejam a conversa que tivemos, em um hotel de luxo em Beverly Hills, com os dois atores e uma linda Zoë Saldana, 31, que vive Nyota Uhura, a especialista em lingüística que se apaixona, e, na versão de J.J. Abrams, é mais do que correspondida, pelo genial – e genioso - Spock:

Você era um fã da série?
QUINTO: Não. Sou da geração Guerra nas Estrelas. E creio que os temas em torno de Jornada nas Estrelas me pareceram um pouco avançados demais para mim na época.

Como você se preparou para viver o Spock?
QUINTO: Li muito. Há volumes enciclopédicos sobre Jornada nas Estrelas. E, claro, Leonard. Ele esteve sempre ao meu lado, foi sempre uma presença fiel quando precisava de qualquer coisa. Mas para falar a verdade o que eu mais queria saber era do impacto de Spock na vida dele. Conversamos muito sobre isso.

A preparação física foi muito intensa?
QUINTO: Você vai achar que é mentira, mas tive de fazer muitos exercícios de controle-motor para as mãos. Cheguei a usar um elástico nas mãos durante horas a fio para conseguir memorizar na pele o famoso gesto de saudação de Vulcan. Dirigi muito em Los Angeles, para cima e para baixo, com o elástico nos dedos (risos). Mas para mim, essencialmente, este personagem foi um exercício de contenção.

Qual o significado para vocês do encontro dos dois Spocks?
NIMOY: Acho que fica claro o fato de que este filme funciona como uma espécie de começo e fim da história de Spock. J.J. apresenta a origem de Spock e a batalha para ele encontrar seu próprio design psicológico. É um filme sobre esperança, que coincide maravilhosamente bem com a Era Obama, é nova energia para o país, para o planeta, para estes personagens em Jornada nas Estrelas. E o filme, claro, mostra também como vingança é um sentimento vazio, especialmente nas relações internacionais entre países e, no futuro, planetas.

Spock vive no filme um relacionamento amoroso explícito com a Uhura. Vocês se preocuparam com a reação dos fãs às cenas de amor nada racionais que protagonizam?
SALDANA: De fato, em um primeiro momento, pensei que J.J. estava insano (risos). Mas depois de ler o roteiro vi que fazia todo o sentido. Ela sabe o que quer, ele é muito lógico, e ela odeia Kirk. É a combinação perfeita. Foram cenas muito cândidas eu diria, há uma ligação clara agora entre os dois, mais profunda do que antes, uma conquista para a mitologia da série.
QUINTO: Talvez tenha sido a maior liberdade dramática de nosso Jornada nas Estrelas. Foi um risco, mas acho que valeu muito. O público compreende ainda mais quem é Spock.
SALDANA: E quem melhor do que uma lingüista do calibre da Uhura para trabalhar bem com a língua? (risos).
NIMOY: Eu fiquei morrendo de ciúmes! (mais risos).

Quando Nichelle Nichols pensou em sair da série de tevê, ela recebeu um telefonema do reverendo Martin Luther King, pedindo que ela repensasse a decisão, dada a importância de Jornada nas Estrelas. O senhor tinha, na época, a noção da importância da série no imaginário norte-americano?
NIMOY: Sim, honestamente, eu tinha. Sabia que estávamos lidando com temas contemporâneos de enorme importância, como o movimento feminista e a luta pelos direitos civis dos negros aqui nos EUA. Foi uma plataforma para roteiristas lidarem com estes temas, 300 anos no futuro, de uma maneira original. Sempre tive esta consciência e usei esta informação na construção de Spock. E eu sinto que o JJ entendeu isso muito bem, fico muito feliz, estamos, como se diz aqui nos EUA, na mesma página (risos).

Obama: Saúde

A Carta Capital desta semana saiu com um textinho meu sobre a prioridade número um de Barry O. em termos de política doméstica: revolucionar o sistema de saúde nos EUA. Não vai ser fácil. Mas uma virada de mesa é fundamental para o democrata combater, a médio prazo, a imensa dívida pública da maior economia do planeta.

Ó só o texto:

Diga trinta e três

Eduardo Graça, de Nova York


Não pareceu obra do acaso. Na segunda-feira 11, o presidente Barack Obama reuniu-se com os barões dos planos de saúde na Casa Branca e anunciou um acordo histórico com o objetivo de reduzir os custos anuais de tratamentos médicos em até 2,5 mil dólares para as famílias norte-americanas. Em meio à recessão, a terça-feira surgiu com o governo anunciando a acelerada deterioração financeira do Medicare, em consequência do crescimento brutal do desemprego verificado desde dezembro.

Em 2017, dois anos antes do previsto, o único programa federal público de seguro de saúde para idosos e inválidos nos EUA estará insolvente. O mesmo acontecerá com a Previdência Social, se nada for feito, em 2037. A erosão dos dois maiores fundos de segurança social do país é a mais nova arma usada pela administração democrata para avançar a sua agenda prioritária na política doméstica: a reforma do falido sistema de saúde norte-americano.

A ex-governadora do Kansas Kathleen Sebelius, que ocupa o equivalente ao cargo de ministro da Saúde na administração Obama, foi direto ao ponto, afirmando na quarta-feira 13 que o presidente vai fazer absolutamente tudo para que idosos e cidadãos mais pobres “finalmente tenham acesso à saúde”. “Queremos abandonar um sistema doentio para apresentar uma opção saudável para todo o país”, disse.

A secretária da Saúde celebrou o compromisso firmado por redes hospitalares, indústria farmacêutica, companhias de seguro de saúde e médicos em reduzirem em até 2 trilhões de dólares os custos do setor nos próximos dez anos. E refutou as críticas de que o plano democrata representará um ataque à livre concorrência, ao reforçar uma opção pública aos planos privados, hegemônicos no mercado. “A oposição dizer que se trata de um ataque ao capitalismo americano é uma falácia. A decisão final seguirá sendo a do cidadão”, afirmou, em entrevista ao principal programa jornalístico da rede de tevê pública dos EUA.

O governo estima que ao menos 45 milhões de norte-americanos (cerca de 15% da população) estejam sem qualquer plano de saúde no momento. Um profissional liberal em Nova York, por exemplo, paga até 800 dólares por mês – cerca de 1,7 mil reais – para garantir uma cobertura total, com leito exclusivo e atendimento em clínicas especializadas. Um custo que, com a recessão, vem sendo apelidado de “pesadelo americano”, em oposição ao american dream dos anos 50. Números que fizeram com que o setor engolisse a seco a frase de Obama na reunião de segunda-feira: “Os senhores assumiram aqui um compromisso. E nós esperamos que ele seja cumprido”.

O colunista Joe Klein, da Time, um dos mais influentes do país, escreveu esta semana que a esquerda democrata está correta ao argumentar que a margem imensa de lucro das seguradoras é parte fundamental dos altos custos do serviço para o cidadão comum. “Mas minha opinião é que a opção de um plano público é apenas um elemento de barganha do governo para incluir nas discussões moderados e até republicanos conservadores, criando um plano consensual, bem ao estilo de Obama”, arriscou Klein.

A pressão por uma regulamentação do setor já começou. A Organizing For America (OFA), organização criada por Obama a partir da lista de milhares de contribuintes de sua campanha à presidência, iniciou esta semana uma campanha de abaixo-assinados – e são mais de 3 milhões de e-mails associados à lista do grupo - pedindo que o Congresso vote um Plano de Reforma da Saúde ainda este ano. A OFA pretende pressionar especialmente os parlamentares de 37 distritos eleitorais representados por republicanos, mas que votaram em Obama no ano passado.

Mas a primeira grande batalha do braço político do presidente democrata não será das mais fáceis. Em análise publicada no The New York Times, Robert Pear lembrou que “se a história for levada em conta, as seguradoras não cumprirão as reduções de custo sugeridas, o que já se anuncia pelas propostas vagas de cortes. Neste exato momento, controle de custos é uma aspiração de todos os envolvidos. E nada mais”. Para o correspondente da The Nation em Washington, Ari Melber, o maior problema é justamente a falta de profundidade do plano. “Temos apenas três princípios básicos, redução de custos, a manutenção do direito de escolha do cidadão entre um número de planos e o compromisso do governo de levar a cobertura para todos. Como mobilizar o público a partir de noções tão vagas?”, pergunta.

Uma das primeiras pistas de como o Plano Obama funcionará foi dada por Sebelius nas entrevistas que concedeu esta semana. “Não há dúvidas de que os que têm mais possibilidades de pagar um plano de saúde arcarão com uma parte dos subsídios para os mais pobres, por exemplo, pagando mais caro por remédios. O valor do incremento será desviado para subsidiar os que comprovem não ter como pagar um plano privado nas condições de hoje”, disse.

Transferência de renda através de uma reforma na Saúde é justamente o que assusta a parcela de democratas eleitos em áreas mais afluentes, tradicionalmente ligadas aos republicanos. São eles, que, no fim das contas, garantem a maioria governista no Congresso. Já na terça-feira, 45 governistas, todos parte do grupo de austeridade fiscal conhecido como Blue Dog Coalition, anunciaram seu desagrado com a ausência de representantes das alas mais conservadoras do partido nas discussões em curso em Washington. Um dos líderes da banda moderada, Mike Ross, do Arkansas, já disse que o custo das reformas, que poderia chegar a US$ 1 trilhão em 10 anos, será uma pedra no sapato do governo na hora da votação no plenário. Entre os moderados, há médicos como Parker Griffith, do Alabama, que já se manifestou céptico quanto à criação de um plano de saúde público e universal.

Por se tratar de um dos temas mais contenciosos na atual legislatura, o ex-líder democrata no Senado, Tom Dashcle, nome inicialmente cogitado por Obama para ocupar a secretaria de Saúde, acredita que haja 50% de possibilidade de o plano democrata passar pela casa. Sebelius é mais otimista. “O presidente deixou muito claro que esta é sua prioridade número para política interna. Com os dados do Medicare e da Previdência, vimos que não há a opção de se jogar este problema pra frente. Também há uma lógica irrefutável aqui: tratando de mais americanos antes dos 65 anos, deixamos o Medicare menos sobrecarregado, pois as pesquisas mostram que os idosos serão mais saudáveis. Hoje, diria que temos 75% de chances de aprovar as novas regulamentações”, afirmou.

No Senado, outro quadro mais à esquerda do partido, o senador Charles Schumer, do Brooklyn, tenta estabelecer um compromisso em que as margens de lucro da indústria dos planos de saúde não seja reduzida drasticamente ao mesmo tempo em que o cidadão tenha a oportunidade de optar pelo plano público. Parte da oposição aponta a reforma no sistema de saúde como a prova das ‘tendências socialistas de Obama’, como vem martelando o comentarista de rádio Rush Limbaugh, o de maior audiência no país. Mas as vozes dissonantes, mesmo no reino da direita, começam a aparecer. O historiador Bruce Bartlett, que trabalhou nas administrações de Ronald Reagan e Bush pai, publicou texto no site Político defendendo uma postura diferente dos republicanos da que tiveram em 1993, quando os esforços de reforma comandados pela então primeira-dama Hillary Clinton foram duramente combatidos pela direita e acabaram sendo rejeitados pela opinião pública.

O encontro de segunda-feira teria sido justamente uma tentativa da administração Obama de se distanciar da batalha entre progressistas e conservadores que caracterizou o debate sobre a saúde na década passada. O especialista em saúde pública Greg Dworkin, um dos fundadores do site Daily Kos, quiçá o mais popular na porção liberal da blogosfera, concorda com Bartlett e avalia que o Congresso irá legislar sobre o tema ainda este ano. “A direita está esfacelada e os democratas têm maioria nas duas casas do Congresso, então os republicanos deveriam ao menos sentar-se à mesa para não terem de se debater com temas críticos depois de virarem lei”, diz.

Dworkin concorda com Joe Klein no ponto mais importante do Plano Obama – o oferecimento de uma real alternativa do governo para a massa de americanos abandonadas pelos planos de saúde e confinadas em imensas filas nos setores de emergências dos grandes hospitais. “Considero importante termos a opção de um plano de saúde público, mas ainda não podemos afirmar se esta administração nos oferecerá uma opção séria ou se este será apenas mais um tópico para se barganhar no Congresso”, diz.