Mostrando postagens com marcador rock. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador rock. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, agosto 14, 2009

VALOR: Woodstock, 40 Anos

Neste fim de semana o Valor Econômico publicou, em sua revista de cultura, um especial sobre os 40 anos do Woodstock. O escriba aqui colaborou com o texto que segue abaixo:

Paz e amor, bicho!
Por Eduardo Graça, para o Valor, de Nova York
14/08/2009


O show de Hendrix (centro, com faixa vermelha na cabeça): "A música de Woodstock, a guitarra de Jimi, eram humanistas. Seus temas centrais eram esperança e amor", diz Tiber, autor de livro sobre o festival


As mãos balançam freneticamente, marcando em caracol o ritmo da percussão. O sorriso, imenso, e o turbante colorido agradam à multidão extasiada com a velocidade com que a baixinha de olhos claros canta suas canções. Lá vem Carmen Miranda, recebida entusiasticamente pelos hippies de Woodstock. Não, a cena não aconteceu há exatas quatro décadas, em meio às chuvas que transformaram o imenso gramado da fazenda de Max Yasgur no lamaçal mais icônico da história do rock 'n' roll. "Mas, se faltou alguém em Woodstock, foi a Carmen", diz Elliot Tiber, autor de "Aconteceu em Woodstock", inspiração para o filme de mesmo nome dirigido por Ang Lee, suas memórias dos bastidores do maior festival de rock de todos os tempos.

O livro conta como o jovem judeu condenado a administrar um hotel de beira de estrada comprado por seus pais, imigrantes bielo-russos, se transformou em protagonista do gigantesco festival de música com uma simples ligação telefônica. Tiber informou o produtor Michael Lang - seu amigo de infância nas ruas do Brooklyn - que, por causa das muitas tentativas de revitalizar o hotel, ele recebera uma permissão da prefeitura para organizar um evento cultural na cidade de Bethel, a poucos quilômetros de Woodstock, também no Estado de Nova York, onde os organizadores do evento tentavam convencer os vereadores locais de que os jovens fãs dos Beatles e dos Rolling Stones (duas bandas que não marcariam presença no fuzuê) não destruiriam suas propriedades.

Quando era criança, Tiber costumava atravessar a Ponte do Brooklyn para se divertir, nos cinemas de Times Square, com os filmes da Brazilian Bombshell. "Foi ali que descobri o sorriso de Carmen. Ela seria um mega-hit em Woodstock", afirma, pontuando não acreditar ser mera coincidência a presença da cantora no movimento contracultural brasileiro desencadeado na mesma época, especialmente em sua vertente musical, com a Tropicália.

Para além dos balangandãs, o colunista Clyde Haberman, do jornal "The New York Times", brinca que é inevitável, neste verão nova-iorquino marcado por temperaturas amenas e muita chuva, deparar com brigadas de sessentões, vestidos com roupas de incrível mau gosto, evocando um certo festival realizado no norte do Estado de Nova York, responsável direto por uma nova era de harmonia, compreensão e honestidade. "Tá bem, a Era de Aquário acabou não saindo como estava programada, mas a música foi inegavelmente sensacional", provoca. Janis Joplin e Jimi Hendrix ainda estavam vivos e marcaram presença ao lado de The Who, Greateful Dead, The Band, Jefferson Airplane, Joe Cocker, Carlos Santana, Sly and the Family Stone, a banda Crosby, Stills & Nash e 24 outras atrações.

O Festival de Música e Artes foi sintetizado no discurso do fazendeiro, contactado por Tiber, que inicialmente alugou seu gramado por míseros 50 dólares/dia, depois aumentou para 5 mil dólares/dia e, finalmente, quando percebeu a dimensão do evento, fechou o acordo com o produtor Michael Lang por um pacote de 50 mil dólares por três dias, ainda assim uma pechincha se levarmos em conta o lucro obtido pelos organizadores com a marca Woodstock nos anos que se seguiriam.

Presente no histórico e excelente CD lançado pela Rhino, intitulado "Woodstock, 40 Anos Depois: de Volta à Fazenda de Yusgur", o fornecedor dos melhores produtos de laticínios orgânicos da região saúda, do palco a ser ocupado por lendas vivas da música pop americana, a experiência que está por começar: "Vamos provar que meio milhão de pessoas podem se juntar e se divertir durante três dias e contar com nada mais do que o poder da música". Daí o filme de Ang Lee, a reedição de DVDs e CDs, a publicação de livros, a venda de relíquias pela internet e os muitos festivais comemorativos neste mês. Há 40 anos a música popular tinha um poder de transformação comportamental inconcebível no universo do download instantâneo e do YouTube.

A trilha sonora do último ano da década de 60 foi, para Tiber, o solo de guitarra de Jimi Hendrix, reproduzindo o hino nacional americano em Woodstock na manhã de segunda-feira, atração derradeira do evento. Bandana cor-de-rosa na cabeça, bata azul-e-branca e imensos brincos dourados, o artista sintetizava o horror e o nonsense do Vietnã com sua arma mais cara. "A música de Woodstock, a guitarra de Jimi, eram humanistas. Seus temas centrais eram esperança e amor", diz Tiber. Mas, para os protagonistas da grande aventura musical dos anos 60, o que ficou de Woodstock? "Bem, eu fiquei. As pessoas ficaram. Recebi vários e-mails de jovens dizendo que minhas memórias os inspiraram", revela o autor de "Aconteceu em Woodstock".

Já Lang, que acaba de lançar "The Road to Woodstock", crê que a revolução de costumes dos anos 60 não desapareceu com os yuppies e o mundo corporativo. "Ao contrário, nossa mensagem frutificou. O fato de que temos um presidente negro na Casa Branca, o movimento ecológico e a ênfase na alimentação orgânica mostram que essa identidade nascida no tempo de Woodstock está mais viva do que nunca", repete, tal qual um mantra, nas aparições para o lançamento de seu livro de memórias.

Para os protagonistas da história de Tiber é na transformação pessoal que o ideário de Woodstock deixa sua marca mais forte. Ele encerra seu livro escrevendo que a música o ajudou a descobrir quem de fato era. Como se vê no filme de Lee, os bastidores de Woodstock foram o cenário de processos de liberação intensos.

Wayne Rodgers - um dos personagens mais engraçados do documentário "Woodstock" (1970, vencedor do Oscar em 1971), em que aparece saindo de um banheiro químico e oferecendo maconha para a equipe de filmagem - conta em recente entrevista que viajou de carona em um caminhão repleto de pêssegos e laranjas para acampar com milhares de hippies na versão Costa Leste do Verão do Amor. Depois de trabalhar como ajudante de palco de Joan Baez, mudou-se para as montanhas da Virginia, em uma cidade também de nome Woodstock ("mas nada a ver com a de Nova York, aqui há muitos republicanos"). Lá, Rodgers se voltaria para a luta contra a invisibilidade da pobreza americana, sendo reconhecido por seu trabalho nos rincões dos EUA com a ONG Coalizão contra a Fome.

Um dos mais interessantes projetos de memória da cultura popular nos Estados Unidos, o The Woodstock Memories Project, iniciativa do "The Poughkeepsie Journal" e do site Footnote.com, vem amealhando, além de uma impressionante coleção de jornais locais, depoimentos de pessoas que viajaram ao condado de Sullivan para os três dias de farra musical. Em um deles, Michael Gabrielli lembra que chegou a Woodstock no seu jipe azul fabricado em 1962, inteiramente decorado com flores pintadas, na quinta-feira. E, até o fim do evento, o jipe ficou estacionado atrás do palco. "Com o passar dos anos, enquanto a maioria dos pais se orgulhava de seus filhos serem doutores ou advogados, minha mãe sempre contava, cabeça erguida: "Meu filho Michael estava em Woodstock", escreve.

Tiber ainda se emociona com depoimentos de anônimos sobre Woodstock. Mas diz que ele e Lang jamais imaginaram que o festival se transformaria em algo monumental, símbolo da contracultura e apogeu da filosofia hippie de paz e amor, diametralmente oposta à Guerra Fria e à oposição direita e esquerda, um culto à liberdade individual que afetava, de forma indireta, a sociedade como um todo.

Para o autor de "Aconteceu em Woodstock", o festival foi o catalisador que o levou a assumir sua homossexualidade e rumar para a Europa, onde se tornou dramaturgo residente do Teatro Nacional da Bélgica. "Hoje trabalho com o grupo Gay American Heroes, voltado para o combate da violência contra homossexuais. Jovens das metrópoles do planeta veem cidadãos do mesmo sexo aproveitando a noite e andando de mãos dadas em suas ruas e acham que isso é parte do status quo, mas a geração Woodstock apanhou muito para conseguir valer esses direitos. Hoje lutamos pelos direitos civis dos gays, exatamente como a comunidade afro-americana naquela época. Além do direito ao casamento, queremos maior proteção contra crimes hediondos, não apenas nos EUA, mas, por exemplo, em países com grande população de homossexuais, como o Brasil de Carmen Miranda."

Na première de "Aconteceu em Woodstock", no fim do mês em Nova York, Ang Lee pediu a palavra pouco antes do início da sessão: "Quarenta anos atrás Elliot Tiber deu um telefonema. Quarenta anos depois eu finalmente atendi aquela ligação". Woodstock, como se vê, apenas começou. De novo.

quinta-feira, maio 21, 2009

GreenDay - Mais do Mesmo no Webster Hall

O Terra publicou meu texto sobre o show do GreenDay anteontem aqui em NY por conta do lançamento do novo disco dos caras, 21st Century Breakdown. Aqui vai o texto completo (as fotos são minhas):


Resenha - GreenDay - Webster Hall, Nova York, 19/05/2010


Na metade do show de duas horas que o Green Day apresentou para cerca de mil enlouquecidos fãs nesta terça-feira, Billy Joe Armstrong recebe James Brown e, olhos arregalados, arrisca alguns versos de I Feel Good. Não, o Webster Hall não é o Apollo Theater e o Harlem está a milhas de distância do East Village. Mas há algo inegavelmente subversivo quando nova-iorquinos muito brancos, de todas as idades, em alto e bom som, se perguntam, em coro se ‘você quer ser um americano idiota’?

Quatro anos depois da explosão de American Idiot, quiçá a obra-pop-símbolo dos anos Bush, Billy Joe, Mike Dirnt e Tré Cool voltam com 21st Century Breakdown, uma ópera-rock dividida em três atos que giram em torno do casal Christian e Gloria. Depois de apresentarem quase todo o repertório do musical e alguns sucessos de outras safras, como At the Library (a primeira faixa do primeiro disco da banda, o mediano 1,039/Smoothed Out Slappy Hours, de 1991) e 80 (do bom Kerplunk, de 1992), a pergunta inevitável da noite é: “mas este Breakdwon é tão forte quanto o Idiot?”.


É. Mais uma vez a mistura de baladas pop com a velocidade e a zoeira características da banda fizeram com que o público pulasse durante todo o tempo. Muito deleniador no rosto, uma cabeleira à la Robert Smith, Armstrong abriu a noite às 9h15 da noite com o grito gutural “New York Cityyyyyyyyyyy!”. E a platéia logo mostrou a que veio cantando junto com o minúsculo rock star a letra inteira de 21st Century Breakdwon. Sem pausa para respirar, Know Your Enemy prova por que é o single do disco, com o povo saracoteando enquanto repetia, em transe, a letra que anuncia: “Violência é uma energia/contra o Inimigo/Traga a Fúria/Revolte-se contra a honra da obediência”.


No palco, ao lado do trio, Jason Freese, Jason White e Jeff Matka se dividiram entre guitarra, piano e até saxofone, imprimindo uma textura ligeiramente mais melódica às composições da banda. Há, também, uma rendição ao sugar-pop de conjuntos vocais dos sixties, com backing vocals caprichados em uuuhs e aaahhs. Ao contrário do espetáculo mais contido que apresentaram um dia antes para um público menor no Bowery Ballroom, toda a teatralidade do Green Day tomou conta do Webster Hall. Houve quem pensasse estar vendo uma banda de glam rock dos anos 70, ressuscitada e imolada nas ruas sujas do Village. Será que vem daí o delineador de Armstrong? Huuum....


O vocalista parecia possuído. Pediu aos seguranças que tirassem as caixas de proteção do palco. Se jogou em meio a mãos tão protetoras quanto curiosas de meninos e meninas na platéia. Convocou um fã ao palco e deixou-o cantar os versos de Longview, para delírio dos amigos. “Isso aqui, agora, é uma experiência religiosa! Cheguem mais perto! Vamos trocar nossos germes. Quero sentir vocês!”, gritava, enquanto comandava a coreografia da galera, ora ao ritmo de mãozinhas, ora em frenético pula-pula.


Green Day na Broadway


Em entrevista dada a um programa de tevê esta semana nos bastidores do Saturday Night Live, os meninos californianos revelaram um pouco do processo criativo que gerou 21st Century Breakdown. “Em janeiro de 2006, dois anos depois de termos lançado American Idiot, sentamos juntos com um punhado de papel em branco e começamos a escrever. O corpo do novo trabalho surgiu com a música que dá título ao disco. Depois personagens começaram a tomar forma. Eles parecem refletir o que queríamos dizer. Acredito que estamos no melhor de nossa forma. Se American Idiot foi um passo à frente, Breakdown são três pulos adiante”, disse Armstrong.

As semelhanças com a criação de uma peça de teatro musical são óbvias. E em breve a Broadway, quem diria, deverá ser palco para a adaptação teatral de American Idiot. “Sim, o pessoal responsável por O Despertar da Primavera, um grande sucesso da última temporada, já conversou conosco. Fomos ver o espetáculo e é impressionante, não tem nada a ver com o teatro musical de nossos avós! Achamos que o musical vai ser sexy e direto ao ponto”, disse Dirnt. “A idéia é ter entre os personagens o Jesus do Subúrbio, São Jimmy e Whatshername, presentes no disco, mas sem diálogos e sim com cartas enviadas de um para outro. Vai ser cool”, prometeu Armstrong.

O namoro escancarado com a Broadway e a presença de gerações diversas no Webster Hall dão pistas para se desvendar o segredo do envelhecimento esperto do Green Day. A banda apresentou seu oitavo álbum de estúdio para um público tão próximo da ironia adolescente de Dookie quanto do rock sério de ares políticos de American Idiot. A parte final do show de terça-feira reforçou a idéia de que a popularidade da banda – uma das poucas ainda bancadas pela combalida indústria do disco na atual cena pop americana – advém de um equilíbrio do que ainda restou do humor irreverente dos meninos (com as armas todas voltadas para valores tipicamente americanos, como a liberdade, a democracia e o gigantismo incontrolável) com um tique cada vez mais explícito de se emular os gênios do velho rock’n’roll, de Who a Queen.


Daí o olhar surpreso de punks e indie rockers mais aguerridos, aboletados no vizinho Irving Plaza para conferir um tributo, no mesmo dia e horário, aos Ramones, por conta do aniversário de Joey Ramone. “Não sabia que o Green Day ainda tinha esta importância!”, se admirava Hewitt Pratt, presença assídua na noite roqueira da cidade.

Mais do Mesmo, para Alegria dos Fãs


No show do Webster Hall, letras que falam de lobotomia, ignorância coletiva, heróis e condenados, refugiados e ingênuos, se misturam, até com alguma lógica, a pedaços de clássicos dos Isley Brothers (Shout!) e de Ben E.King (com um Stand By Me mais próximo da interpretação de John Lennon).

Armstrong pede, no êxtase da celebração de terça-feira, que o público encontre a esperança perdida na promessa de Know Your Enemy: "A inssurreição virá/Quando o sangue for sacrificado/Não se deixe chegar pelas mentiras/Violência é uma energia/O inimigo é o silêncio/Dê-me/Dê-me então/a Revolução". E assim se delineia o passeio do casal Christian e Gloria pela selva de pedra desenhada por Billy Joe Armstrong, que nos chega mais como um espelho de American Idiot do que uma natural evolução, os tais três passos imaginados pelo rock star. Mais do mesmo, para a alegria dos fiéis da igreja verdejante.

terça-feira, junho 03, 2008

Bo Diddley

Lá se foi Bo Diddley, o xerife da música popular norte-americana. Um dos criadores do que chamamos de rock'n'roll, Diddley foi a trilha musical de muitas tardes deliciosas que passamos, Will e eu, trabalhando em nosso estúdio na Almirante Tamandaré, no Flamengo. Volta e meia ele entrava em nossa seleção musical - sempre gostamos de trabalhar juntos e ouvindo música sem parar - com sua batida de guitarra única. O NYT deu hoje em primeira-página um de seus mais belos necrológios, que reproduzo aqui embaixo enquanto cozinho um galeto ao alecrim com batatas ao forno e escuto Bo Diddley is a Gunslinger no último volume.

Bo Diddley, Who Gave Rock His Beat, Dies at 79
By BEN RATLIFF

Bo Diddley, a singer and guitarist who invented his own name, his own guitars, his own beat and, with a handful of other musical pioneers, rock ’n’ roll itself, died Monday at his home in Archer, Fla. He was 79.
The cause was heart failure, a spokeswoman, Susan Clary, said.

Mr. Diddley had a heart attack last August, only months after suffering a stroke while touring in Iowa.
In the 1950s, as a founder of rock ’n’ roll, Mr. Diddley — along with Chuck Berry, Little Richard, Jerry Lee Lewis and a few others — helped to reshape the sound of popular music worldwide, building on the templates of blues, Southern gospel, R&B and postwar black American vernacular culture. His original style of rhythm and blues influenced generations of musicians. And his Bo Diddley syncopated beat — three strokes/rest/two strokes — became a stock rhythm of rock ’n’ roll. It can be found in Buddy Holly’s “Not Fade Away,” Johnny Otis’s “Willie and the Hand Jive,” the Who’s “Magic Bus,” Bruce Springsteen’s “She’s the One” and U2’s “Desire,” among hundreds of other songs. Yet the rhythm was only one element of his best records.

In songs like “Bo Diddley,” “Who Do You Love,” “Mona,” “Crackin’ Up,” “Say, Man,” “Ride On Josephine” and “Road Runner,” his booming voice was loaded up with echo and his guitar work came with distortion and a novel bubbling tremolo.

The songs were knowing, wisecracking and full of slang, mother wit and sexual cockiness. They were both playful and radical.
So were his live performances: trancelike ruckuses instigated by a large man with a strange-looking guitar.

It was square and he designed it himself, long before custom guitar shapes became commonplace in rock.
Mr. Diddley was a wild performer: jumping, lurching, balancing on his toes and shaking his knees as he wrestled with his instrument, sometimes playing it above his head. Elvis Presley, it has long been supposed, borrowed from Mr. Diddley’s stage moves; Jimi Hendrix, too.

Still, for all his fame, Mr. Diddley felt that his standing as a father of rock ’n’ roll was never properly acknowledged. It frustrated him that he could never earn royalties from the songs of others who had borrowed his beat.
“I opened the door for a lot of people, and they just ran through and left me holding the knob,” he told The New York Times in 2003.

He was a hero to those who had learned from him, including the Rolling Stones and the Beatles. A generation later, he became a model of originality to punk or post-punk bands like the Clash and the Fall. In 1979 Joe Strummer and Paul Simonon of the Clash asked that Mr. Diddley open for them on the band’s first American tour. “I can’t look at him without my mouth falling open,” Mr. Strummer, star-struck, said during the tour.

For his part Mr. Diddley had no misgivings about facing a skeptical audience. “You cannot say what people are gonna like or not gonna like,” he explained later to the biographer George R. White. “You have to stick it out there and find out! If they taste it, and they like the way it tastes, you can bet they’ll eat some of it!”
Mr. Diddley was born Otha Ellas Bates in McComb, Miss., a small city about 15 miles from the Louisiana border.

He was reared primarily by Gussie McDaniel, the first cousin of his mother, Esther Wilson. After the death of her husband, Ms. McDaniel, who had three children of her own, took the family to Chicago, where young Otha’s name was changed to Ellas B. McDaniel. Gussie McDaniel became his legal guardian and sent him to school.
He was 6 when the family resettled on Chicago’s South Side.

He described his youth as one of school, church, trouble with street toughs and playing the violin for both band and orchestra, under the tutelage of O. W. Frederick, a prominent music teacher at the Ebenezer Baptist Church, where Gussie McDaniel taught Sunday school. Ellas studied classical violin from 7 to 15 and started on guitar at 12, when a family member gave him an acoustic model.
He then enrolled at Foster Vocational School, where he built a guitar as well as a violin and an upright bass. But he dropped out before graduating. Instead, with guitar in hand, he began performing in a duo with his friend Roosevelt Jackson, who played the washtub bass.

The group became a trio when they added another guitarist, Jody Williams, then a quartet when they added a harmonica player, Billy Boy Arnold.
The band, first called the Hipsters and then the Langley Avenue Jive Cats, started playing at the Maxwell Street open-air market. They were sometimes joined by another friend, Samuel Daniel, known as Sandman because of the shuffling rhythms he made with his feet on a wooden board sprinkled with sand.

Mr. Diddley could not make a living playing with the Jive Cats in the early days, so he found jobs where he could: at a grocery store, a picture-frame factory, a blacktop company. He worked as an elevator operator and a meat packer. He also started boxing, hoping to turn professional.
In 1954 Mr. Diddley made a demonstration recording with his band, which now included Jerome Green on maracas. Phil and Leonard Chess of Chess Records liked the demo, especially Mr. Diddley’s tremolo on the guitar, a sound that seemed to slosh around like water. They saw it as a promising novelty and encouraged the group to return. By Billy Boy Arnold’s account, the next day, as the band and the men who were soon to be their producers were setting up for a rehearsal, they were idly casting about for a stage name for Ellas McDaniel when Mr. Arnold thought of Bo Diddley.

The name described a “bow-legged guy, a comical-looking guy,” Mr. Arnold said, as quoted by Mr. White in his 1995 biography, “Bo Diddley: Living Legend.”
That may be all there is to tell about the name, except for the fact that a certain one-string guitar — native to the Mississippi Delta, often homemade, in which a length of wire is stretched between two nails in a board — is called a diddley bow. By his account, however, Mr. Diddley had never played one. In any case, Otha Ellas McDaniel had a new name and the title of a new song, whose lyrics began, “Bo Diddley bought his babe a diamond ring.” “Bo Diddley” became the A side of his first single, in 1955, on the Checker label, a subsidiary of Chess. It reached No. 2 on the Billboard singles chart. Mr. Diddley said he had first heard the “Bo Diddley beat” — three-stroke/rest/two-stroke, or bomp-ba-domp-ba-domp, ba-domp-domp — in a church in Chicago.

But variations of it were in the air. The children’s game hambone used a similar rhythm, and so did the ditty that goes “shave and a haircut, two bits.”
The beat is also related to the Afro-Cuban clave, which had been popularized at the time by the New Orleans mambo carnival song “Jock-A-Mo,” recorded by Sugar Boy Crawford in 1953. Whatever the source, Mr. Diddley felt the beat’s power. In early songs like “Bo Diddley” and “Pretty Thing,” he arranged the rhythm for tom-toms, guitar, maracas and voice, with no cymbals and no bass. (Also arranged in his signature rhythm was the eerie “Mona,” a song of praise he wrote for a 45-year-old exotic dancer who worked at the Flame Show Bar in Detroit; this song became the template for Buddy Holly’s “Not Fade Away.”)

Appearing on “The Ed Sullivan Show” in 1955, Mr. Diddley was asked to play “Sixteen Tons,” the song popularized by Tennessee Ernie Ford. Without telling Mr. Sullivan, he played “Bo Diddley” instead. Afterward, in an off-camera confrontation, Mr. Sullivan told him that he would never work in television again. Mr. Diddley did not play again on a network show for 10 years. For decades Mr. Diddley was bitter about his relationship with the Chess family, whom he accused of withholding money owed to him. In her book “Spinning Blues Into Gold,” Nadine Cohodas quoted Marshall Chess, Leonard’s son, as saying, “What’s missing from Bo’s version of events is all the gimmes.” Mr. Diddley would borrow so heavily against projected royalties, Mr. Chess said, that not much was left over in the final accounting.

Mr. Diddley’s watery tremolo effect, from 1955 onward, came from one of the first effects boxes to be manufactured for guitars: the DeArmond Model 60 Tremolo Control. But Mr. Diddley contended that he had already built something similar himself, with automobile parts and an alarm-clock spring.
His first trademark guitar was also handmade: he took the neck and the circuitry off a Gretsch guitar and connected it to a square body he had built. In 1958 he asked Gretsch to make him a better one to the same specifications. Gretsch made it as a limited-edition guitar called “Big B.”

On songs like “Who Do You Love,” his guitar style — bright chicken-scratch rhythm patterns on a few strings at a time — was an extension of his early violin playing, he said.
“My technique comes from bowing the violin, that fast wrist action,” he told Mr. White, explaining that his fingers were too big to move around easily. Rather than fingering the fretboard, Mr. Diddley said, he tuned the guitar to an open E and moved a single finger up and down to create chords.

As his fame rose, his personal life grew complicated. His first marriage, at 18, to Louise Woolingham, lasted less than a year. His second marriage, in 1949, to Ethel Smith, unraveled in the late 1950s. He then moved from Chicago to Washington, settling in the Mount Pleasant district, where he built a studio in his home.
Separated from his wife, he was performing in Birmingham, Ala., when, backstage, he met a young door-to-door magazine saleswoman named Kay Reynolds, a fan, who was 15 and white. They moved in together in short order and were soon married, in spite of Southern taboos against intermarriage.

During the late 1950s Mr. Diddley’s band featured a female guitarist, Peggy Jones (stage-named Lady Bo), at a time when there were scarcely any women in rock. She was replaced by Norma-Jean Wofford, whom Mr. Diddley called the Duchess. He pretended she was his sister, he said, to be in a better position to protect her on the road.


The early 1960s were low times. Chess, searching for a hit, had Mr. Diddley make albums to capitalize on the twist dance craze, as Chubby Checker had done, and on the surf music of the Beach Boys. But soon a foreign market for his earlier music began to grow, thanks in large part to the Rolling Stones, a newly popular band that was regularly playing several of his songs in its concerts. It paved the way for Mr. Diddley’s successful tour of Britain in the fall of 1963, performing with the Everly Brothers, Little Richard and the Rolling Stones, the opening act.
But Mr. Diddley was not willing to move to Europe, and in America the picture worsened: the Beatles, the Stones, Bob Dylan and the Byrds quickly made him sound quaint. When work all but dried up, Mr. Diddley moved to New Mexico in the early 1970s and became a deputy sheriff in the town of Los Lunas.

With his sound updated to resemble hard rock and soul, he continued to make albums for Chess until his contract expired in 1974.
His recording career never picked up after that, despite flirtations with synthesizers, religious rock and hip-hop. But he continued apace as a performer and public figure, popping up in places both obvious, like rock ’n’ roll nostalgia revues, and not so obvious: a Nike advertisement, the film “Trading Places” with Eddie Murphy, the 1979 tour with the Clash, and inaugural balls for two presidents, George H. W. Bush and Bill Clinton.

His last recording was the 1996 album “A Man Amongst Men” (Code Blue/Atlantic), which was nominated for a Grammy. He was inducted into the Rock and Roll Hall of Fame in 1987 and in 1998 was inducted into the National Academy of Recording Arts and Sciences Hall of Fame as a musician of lasting historical importance.
Since the early 1980s Mr. Diddley had lived in Archer, Fla., near Gainesville, where he owned 76 acres and a recording studio. His passions were fishing and old cars, including a 1969 purple Cadillac hearse.

The last of Mr. Diddley’s marriages was to Sylvia Paiz, in 1992; his spokeswoman, Ms. Clary, said they were no longer married. His survivors include his children, Evelyn Kelly, Ellas A. McDaniel, Tammi D. McDaniel and Terri Lynn McDaniel; a brother, the Rev. Kenneth Haynes; and 15 grandchildren, 15 great-grandchildren and three great-great-grandchildren.
Mr. Diddley attributed his longevity to abstinence from drugs and drinking, but in recent years he had suffered from diabetes. After a concert in Council Bluffs, Iowa, on May 13, 2007, he had a stroke and was taken to Creighton University Medical Center in Omaha. On Aug. 28 he suffered a heart attack in Gainesville and was hospitalized. Mr. Diddley always believed that he and Chuck Berry had started rock ’n’ roll, and the fact that he couldn’t financially reap all that he had sowed made him a deeply suspicious man. “I tell musicians, ‘Don’t trust nobody but your mama,’ ” he said in an interview with Rolling Stone magazine in 2005. “And even then, look at her real good.”