sexta-feira, setembro 15, 2006

ENTREVISTA/MATT DILLON

A agência de notícias BRPress publicou e vendeu minha entrevista com o ator Matt Dillon, que virou capa - vejam só! - de cadernos culturais de jornais do interior de S.Paulo. O moço é um charme só, e é fã ardoroso da emepebê.

CINEMA - Matt Dillon versão comédia
Eduardo Graça/Especial para BR Press

(Nova York, BR Press) - Matt Dillon não é propriamente um ator associado a comédias. Ele pôde ser visto no engraçadinho Quem Vai Ficar com Mary? ou no mais picante Garotas Selvagens, mas sua carreira é marcada pela escolha de personagens fortes em filmes marcantes, como o dependente químico de Drugstore Cowboy e o marido apático da psicopata vivida por Nicole Kidman em Um Sonho Sem Limites, ambos de Gus Van Sant. Isso sem esquecer do policial sádico de Crash, pelo qual foi indicado ao Oscar de melhor ator no ano passado.

Pois a partir desta sexta-feira (15/09), o público brasileiro passa a conhecer uma outra faceta deste nova-iorquino de 42 anos: sua habilidade de nos fazer gargalhar até cair das poltronas das salas de cinema. Em Dois É Bom, Três É Demais, Dillon é um jovem recém-casado que tem de agüentar o típico amigo de infância ‘mala’: aquele que se instala em sua casa e não sai nunca mais.

No filme, a mais nova empreitada dos irmãos Anthony e Joe Russo (famosos pela série de televisão Arrested Development), seu personagem, o boa-pinta Carl, enfrenta ao mesmo tempo as cobranças da mulher, Molly (Kate Hudson, rebento de uma rainha da comédia norte-americana, Goldie Hawn) e do amigo cara-de-pau Dupree (Owen Wilson). E ainda precisa ter muita paciência para lidar com o sogro sabe-tudo Thompson (Michael Douglas).

Na entrevista a seguir, concedida em um hotel à beira-mar em Santa Mônica, Los Angeles, Dillon, que havia acabado de ter um animado almoço com sua mãe, conta de sua paixão por música brasileira, o amadurecimento como ator, as experiências com amigos famosos que andavam sem roupa por seu jardim e o desafio de dirigir seus próprios filmes.



É muito diferente trabalhar com dois diretores ao mesmo tempo?

Matt Dillon - Você quer mesmo saber? (risos). Foi ótimo, mas é claro que às vezes acontecia de Anthony me dizer: "Matt, faça isso desta maneira". E em seguida Joe dizia exatamente o oposto. Eu cheguei a pensar se eles não estavam gozando com a minha cara, me pregando uma ‘pegadinha’ (risos). Mas, sério, eles sabiam exatamente o que queriam com este filme, o que é um alívio, porque já me aconteceu, e não adianta perguntar que não vou dar nomes, de diretores não terem a menor idéia do que queriam de um ator no set de filmagem, amedrontados mesmo. Aí ficava difícil.

O personagem de Owen (Wilson) é mais escrachado e o seu passeia pela comédia e pelo drama...

Dillon - Pois é, no início, vou ser sincero, fiquei em dúvida se deveria fazer o filme porque meu personagem, o Carl, é aquele sujeito muito certinho. Certinho até demais (risos). Eu acho que poderia sim ter feito o papel do Owen, claro, mas ele está perfeito. O que eu acho que não poderia fazer tão bem é o papel da Kate (risos). Mas, de verdade, fiquei impressionado com o talento dela, não a conhecia pessoalmente e ela tem um senso de humor único.

Você dirigiu seu primeiro filme, Cidade Fantasma, há três anos. Pretende voltar à direção?

Dillon - Pois é, Cidade Fantasma foi um ‘tour de force’. Foi um dos grandes e mais ousados projetos de minha vida, dirigir Gerard Depardieu, ficar do outro lado também na produção, tentar conseguir uma distribuição decente, não foi nada fácil. Não conseguia deixar de pensar em David Lynch, em diretores que conseguem fazer trabalhos extremamente pessoais, o que é difícil aqui em Hollywood. Mas, mesmo apenas protagonizando, foi exatamente o que eu senti quando fiz Factotum este ano.

Um filme baseado na obra e na vida do escritor Charles Bukowski e que passa longe da comicidade de Dois É Bom, Três É Demais...

Dillon - Mas lá, exatamente como na comédia dos irmãos Russo, eu encontrei o que busco como ator – algo que nunca havia feito anteriormente. Eu sei que posso ficar fazendo, cá entre nós, papeis semelhantes aos que já fiz em outros momentos de minha carreira, é até mais fácil. Mas não me interessa, não quero me repetir, não quero ficar enjoado de mim mesmo. Quero cada vez mais ajudar os diretores. Até porque agora eu sei que dirigir é, ao mesmo tempo, o melhor e o pior trabalho do mundo.

Então você acha que mudou como ator depois de experimentar a direção?


Dillon - Sim, é claro! Estou menos preocupado em trabalhar mais freqüentemente e mais relaxado em relação à indústria, a Hollywood. Aprendi que, como ator, não sou responsável pelo que acontece, pelo sucesso ou o fracasso, dos filmes que não dirigi. Isso eu aprendi. Tive de ficar velho para entender isso, mas finalmente descobri que as decisões, a visão do filme como um todo, é do diretor. O Matt Dillon ator é apenas um facilitador do pensamento deste diretor, ou diretores, como aqui. Mas minha responsabilidade não vai além disso. E, quando jovem, acreditava mesmo que eu era um fator decisivo para o sucesso de um filme. Que pretensão a minha! (risos).

Você teve ao menos um Dupree em sua vida, amigos que chegam para passar uma noite em sua casa e jamais vão embora?


Dillon - Um? Tive vários! (risos). Quer saber qual foi meu principal erro nesta questão? Foi quando comprei uma casa com um quarto de visitas famoso por ser especialmente confortável. E vários amigos me dizem o quão sensacional é minha casa, o quarto deles. E, olha, uma coisa que ainda não aprendi é dizer a eles que não é tão sensacional assim para mim! (risos). Mas, sabe, pensando bem, teve um amigo, conhecido, que tem este, digamos assim, um ‘espírito mais livre’, que teimava em se hospedar lá em casa e andar nu pelo jardim. Juro! E eu vivia lá com minha namorada da época, foi uma situação delicada, mas tive de lidar com aquilo. Hoje parece muito engraçado, mas na época me deu uma enorme dor de cabeça. Ele foi meu Dupree mais complicado. Ainda bem que nenhum dos meus Duprees é brasileiro, então não tem problema eu ser indiscreto com você (risos).

É verdade que você é um apaixonado pela musica brasileira?

Dillon - A mais pura verdade! Curto muito jazz, música africana, cubana e porto-riquenha, mas principalmente brasileira. Eu adoro música brasileira, e não apenas as coisas mais óbvias, Bossa Nova, João Gilberto, Jorge Ben, que amo também, mas alguns amigos DJs me apresentaram, por exemplo, a Orlandivo, Elza Soares e Cartola, que são mais obscuros aqui nos EUA e são absolutamente geniais. Meninos e meninas, escutem Orlandivo, Elza e Cartola já!

Por Acaso, Gullar


Ele foi meu primeiro empregador, milênios atrás. Agora ele recebe esta homenagem que eu ainda não vi e já amei de meus amigos queridos Maria Rezende e Rodrigo Bittencourt. O documentário Por Acaso, Gullar é uma das atrações do Festival de Cinema do Rio de Janeiro, o Festival do Rio 2006, com apresentações nos dias 22 de Setembro, no Odeon, e 29 e 30 no Caixa Cultural 2. Se eu estivesse no balneário, eu maracaria presença.

Ah, além do genial poeta maranhense, o filme de Maria - que é outra poeta de primeiro time - e Rodrigo - um senhor compositor e cantor - conta com a partipação de uma cantora de Santo Amaro da Purificação chamada Maria Bethânia.

Diretinho da Redação (50)


O texto da semana já está no DR, e é sobre as profecias - quase sempre nefastas - sobre o futuro dos jornais impressos nas próximas décadas aqui no hemisfério norte.

A MORTE DO JORNAL IMPRESSO

Eduardo Graça

Nova Iorque - Neste setembro a revista The Economist dedicou uma de suas capas à ‘morte do jornal impresso’. Em meio a uma miscelânea de números, análises e profecias, a reportagem previa uma diminuição drástica de títulos no mundo desenvolvido nos próximos anos e a sobrevivência de alguns produtos de excelência, como um The New York Times, um El País, um Guardian.

Foi justamente no jornal britânico que o jornalista Richard Addis, até pouco tempo responsável pela ótima edição de fim de semana do Financial Times, publicou nesta segunda-feira um artigo provocativo intitulado ‘Jornais De Graça Para Todo Mundo’, que oferece uma interessante contra-partida ao estudo daquela que talvez seja a mais influente revista do momento.

Aqui nos EUA há uma espécie de consenso entre a maioria dos jovens de que notícia, assim como música, deve ser um produto de consumo livre. Quem assina dois jornais por dia, e uma série de revistas, passa, para a nova geração de leitores acostumados com o mundo on-line, um atestado de imbecilidade.

Barões da velha imprensa, como Rupert Murdoch (Fox, London Times) e o lorde Jonathan Rothermere (Daily Mail), parecem ter entendido o impacto da internet em seus negócios, e, assim como o NYT fez em Boston, lançaram jornais gratuitos em Londres, a fim de atingir justamente o leitor que se recusa a pagar por um artigo de produção sofisticada – encacercida pela produção de reportagens e entrevistas que envolvem pesquisa, o investimento em pessoal especializado e tecnologia.

Basta uma folheada rápida nestes jornais gratuitos para perceber, no entanto, que eles não passam em um teste de qualidade de conteúdo. São prisioneiros do entretenimento, da leitura rápida, da cópia do release enviado às redações por assessores de imprensa. Richard Addis lembra que o aumento de leitura de um jornal que decidir parar de cobrar nas bancas (assinaturas, é claro, envolvem a taxa de entrega) corresponderia a um incremento de 25% na circulação, em média (e o mesmo percentual de aumento de custo para a impressão em maior quantidade).

Ele aposta que o ganho em publicidade diminuiria o peso das despesas com o aumento de gastos no papel – que, a longo prazo, tenderia a diminuir, com a equiparação do preço da publicidade no jornal e na internet gratuitos. Mais: ele aposta que uma gama imensa de leitores que hoje prefere os tablóides ou os semanários gratuitos, especialmente os mais jovens, vai migrar para os grandes jornais, em busca de qualidade. E dá como exemplos as experiências do The Washington Post (com sua versão Express) e do alemão Welt (e seu Kompact). O futuro da imprensa escrita a eles pertence? É pagar – ou não – para ver.