quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Diretinho da Redação (3)

Olha a coluna da semana aí gente. Quem quiser conferir in loco deve passar pelo http://www.diretodaredacao.com/. O texto que entrou no ar hoje é sobre a política externa norte-americana. Lá no site também pode-se ler o texto de John Hemingway sobre o general ianque que declarou ser muito divertido matar. Vale a pena ler.


Supresa? Mas que surpresa?

Nos últimos 10 dias a mídia norte-americana tem celebrado diariamente o sucesso das eleições parlamentares no Iraque. A campanha do dedinho, deslanchada pelos republicanos, é um sucesso na internet. Você mostra o indicador e automaticamente apóia o processo eleitoral no Iraque ocupado. Por aqui há quase uma sensação de dever cumprido e de que, no fim, a democracia venceu as forças opressoras. Na lógica da opinião pública, de Seattle a San Diego e de Las Vegas a Savannah, o único senão é a vitória acachapante dos partidos políticos xiitas nas eleições iraquianas.

Mas por que a surpresa? Em uma eleição teoricamente justa e sem fraudes alguém duvidou de que a maioria da população iraquiana fosse votar de modo diferente? E quando atiça ditaduras aliadas na região - como o Egito e a Arábia Saudita – a fim de que elas rumem para a democracia, quem o governo Bush pensa que os árabes vão sufragar nas urnas?

Bem delineada pelo afiado Tariq Ali em artigo ontem no jornal britânico The Guardian (www.guardian.co.uk), a estratégia da política externa norte-americana para o Terceiro Mundo – a tal “promoção da democracia” – consiste na criação de uma nova elite (os “janízaros neo-liberais do Novo Império”) afinada com o pensamento neo-con predominante em Washington. Foi assim no Afeganistão, vai ser assim, em novembro, no Haiti.

As eleições constituintes do dia 30 de janeiro no Iraque, em última instância, não foram cerzidas para garantir a unidade do país do Oriente Médio, e sim para manter a aliança possível entre as potências ocidentais, entre os Estados Unidos da América e os Estados Unidos da Europa. Estes últimos – notadamente França e Alemanha – parecem ter encontrado no sufrágio de janeiro a desculpa perfeita para o estabelecimento de uma nova ponte com o governo Bush. Eles só não pareciam contar com o aiatolá Ali al-Sistani e seus seguidores xiitas, até o momento liderando as apurações com mais de 50% dos votos. Os xiitas ainda não disseram exatamente a que vieram, mas já avisaram: não querem estabelecer um estado laico no novo Iraque. Ah, a democracia.