quinta-feira, agosto 25, 2005

A Verdade

Para quem quiser prestigiar o blogueiro aqui, sai amanhã, no suplemento de fim de semana do Valor Econômico uma matéria sobre dois livros que tratam de tema interessante e atual para nosso Brasil - a verdade.

Os filósofos Simon Blackburn, de Cambridge, e, principalmente, Michael P. Lynch, da Universidade de Connecticut, tratam da importância da Verdade para o funcionamento das democracias contemporâneas, criticam o cinismo imperante, falam das mentiras de Estado e do perigo das sociedades dominadas pela covardia social, que vêem a Verdade mais como um fim do que como um princípio. Amanhã, nas bancas brasileiras ou, para assinantes, no www.valor.com.br.

abraços em todos,
Edu

quarta-feira, agosto 24, 2005

Diretinho da Redação (26)



Uma & Eu

Uma das obsessões dos nova-iorquinos é encontrar restaurantes e bares ao ar livre no verão. Como aqui a estação dura de fato pouco menos de quatro meses, esta é a chance de se apreciar uma refeição ao sol, com céu azul ao fundo e um monte de gente querendo ver e ser vista. Gente que vai ao Shake Shack, uma lanchonete assim-assim que tem como maior atração justamente o fato de estar situada na Madison Square, a meio caminho da Union Square e da Penn Station. Foi lá que lanchei, dia desses, ao lado de Uma Thurman, Ethan Hawke e seus pimpolhos Maya e Roan.

Antes de mais nada – eu não sabia que o casal de divorciados tinha dois filhos. Também não poderia imaginar que Maya tinha seis e Roan três aninhos. Muito menos que eles curtiam brincar no parquinho da Madison nestas tardes quentes de verão e que aquele era justamente o local em que a atriz e seu ex-marido colocavam o papo em dia. Tá bem, confesso, eu escutei a conversa alheia, mas somente depois que Uma colocou o dedo na cara do Ethan. Foi justamente este detalhe que motivou a amiga a me condenar, mais tarde: “mas você deveria ter fotografado a cena! Iria ganhar uma bolada com esta imagem!”

Eu nunca havia me deparado com a Uma antes. Não ao vivo. Fiquei me perguntando o que o Ethan teria feito para despertar tanta raiva assim da Noiva de Kill Bill e se ele não sabia com quem estava mexendo. Depois lembrei que minha câmera estava logo ali na parte da frente da bolsa, pois depois do sanduba seguiria para uma reportagem sobre a inauguração de um novo museu nas cercanias de Columbus Circle.

Um turbilhão de sensações e pensamentos invadiu minha cabeça: estava em uma posição privilegiada - o que nos separava era uma vegetação baixa - tiro ou não tiro a foto? - minha digital é mínima - eles jamais iriam perceber - tiro ou não? - o dedo longilíneo de Uma continua em riste - eu nunca fui mesmo com a cara do Ethan - tiro ou? - sempre o achei um canastrão com cara de bebê chorão - ele bem que merecia - tiro? - as crianças voltam para a mesa sorridentes - o dedo baixa - eles sorriem - não tiro.

Não cliquei. No caminho para o museu, um jornal distribuído gratuitamente no metrô cai nas minhas mãos. A reportagem conta a história da terceirização dos caçadores de celebridades: imigrantes ilegais estão sendo treinados por revistas de fofoca para fotografar os famosos. Como trabalham sem contrato formal e em geral não são facilmente identificáveis, torna-se quase impossível para os caríssimos advogados de Beverly Hills conseguir arrancar algum dinheiro ou reparação para seus clientes, em geral estrelas de Hollywood. Se flagrados antes de a foto chegar às mãos dos editores de fotografia, as revistas dizem que jamais fizeram qualquer contato com tal indivíduo.

Mas, de acordo com dois renomados especialistas entrevistados pelo repórter, há um atrativo ainda maior do que o dinheiro para o substancial aumento do número de paparazzi nos Estados Unidos: eles acreditam que fazem parte de Hollywood e, claro, concluem, todos querem fazer parte de Hollywood. Jogo imediatamente o jornal lixeira abaixo, decidido a passar um longo tempo afastado das salas de cinema-pipoca da cidade. Eu, hein..

terça-feira, agosto 23, 2005

Trilhões de Dólares

Secretária-assistente do Departamento de Comércio dos Estados Unidos no governo Clinton, Linda Bilmes fez as contas da aventura ianque no Iraque e no Afeganistão, que o New York Times publicou neste fim de semana. Os números são impressionantes, todos em bilhões de dólares:

• montante gasto até o momento apenas nas operações militares: 258 bi
• custo estimado da ocupação nos próximos cinco anos: 460 bi
• custo com veteranos de guerra (tanto Iraque quanto Afeganistão): 315 bi
• déficit financeiro estimado (cinco anos): 220 bi
• impacto econômico interno gerado pelo aumento do preço do barril de petróleo (cálculo do FMI): 119 bi
• Custo total das invasões de Iraque e Afeganistão até 2010: 1,372 trilhão de dólares.

A dimensão da gastança, diz a professora Bilmes, uma das estrelas da prestigiada Kennedy School, de Harvard, tem sido mascarada por Washington. Eles agora estão sendo cantados em verso e prosa em todas as manifestações que pedem o retorno das tropas ativas no Oriente Médio. Se o governo Bush não se sensibiliza com os mais de 2 mil americanos mortos e 15 mil feridos seriamente desde 2001, o imenso buraco nas contas públicas já está fazendo com que muitos republicanos temam uma derrota retumbante nas eleições parlamentares do ano que vem.