quinta-feira, julho 14, 2005

Muito Bem Dito

De Sillio Boccanera, hoje, na página de Opinião de O Globo, sobre o que ele muito propriamente qualifica de terrorismo tupiniquim:

(...) em termos de segurança da população, mesmo com terrorismo ocasional, Londres permanece muito menos perigosa do que cidades como Rio de Janeiro ou São Paulo. Isso não é um elogio à capital britânica e sim uma crítica às grandes cidades brasileiras. Cinqüenta mortos em quatro explosões no centro de Londres, quinta-feira passada, constituem uma selvageria. Mas também é selvagem o fato de que um número equivalente de pessoas é vítima de assassinato a cada fim de semana no Grande Rio. Diferença: a barbárie em Londres é episódica e rara, choca o país, mobiliza as autoridades; a do Rio é rotineira e só provoca indiferença.

O fato de que a maioria dessas mortes no Rio ocorre na periferia pobre da cidade (embora cada vez mais avance pelas áreas “nobres”) não tira dos números o significado de horror que efetivamente têm. Vive-se no Rio o equivalente a uma guerra civil, só que mais discreta, sem tanques ou aviões, não proclamada oficialmente. Mas tão letal quanto as que devastaram outras cidades em luta fratricida. É uma espécie de terrorismo tupiniquim.

o excepcional artigo, enviado por minha amiga Regina Zappa, deve ser lido na íntegra, por leitores cadastrados, em http://oglobo.globo.com/jornal/opiniao/.

Diretinho da Redação (22)



A Volta do Pesadelo em Nova Iorque

O texto abaixo, sobre o pesadelo eterno da ameaça terrorista aqui em Nova Iorque também pode ser encontrado no excelente www.diretodaredacao.com

No dia 7 de julho eu e uma amiga ficamos parados durante meia hora entre duas estações de metrô aqui no Brooklyn, em Nova Iorque. Tínhamos passado a manhã com os narizes grudados no aparelho de televisão, acompanhando pela BBC o ataque terrorista a Londres. Tínhamos de fazer compras e a maneira mais rápida era pegar a linha G, duas paradas apenas. Pouco antes de chegarmos à última estação o trem parou. Depois de 10 minutos uma voz feminina avisou que havia uma emergência relacionada ao trem que estava à nossa frente. E repetiu a mesma explicação, feito mantra tenebroso, de quando em quando nos 20 minutos seguintes.

O ar-condicionado, ainda bem, funcionava. O vagão não estava lotado, mas havia um nervosismo no ar. Todos pensavam em Londres. Depois em Madri. Depois no World Trade Center, logo ali do outro lado do East River. Todos buscavam, ainda que inconscientemente, visualizar malas, pacotes, turbantes, barbas. Sim, turbantes e barbas. Aqui vive-se como nunca o preconceito religioso. Descarado. Sem encontrar a ameaça mais óbvia, os passageiros, resignados, se livraram dos sapatos e gravatas, mas ninguém se encarava. Mesmo no desespero rotineiro de uma tarde asfixiante na capital do mundo, olhos nos olhos é quimera distante.

Meia hora depois finalmente nos movemos e, em menos de dois minutos, chegamos ao destino. Todos seguiram apressados para suas vidas na superfície e apenas os jornalistas se deram ao trabalho de inquirir o motivo do incidente, aparentemente causado por um alarme disparado por acidente no trem que corria cinco minutos à frente do nosso. Não importa. Assim como o absurdo da violência no Rio de Janeiro foi assimilado pelos cariocas, a ameaça terrorista, aqui em Nova Iorque, já faz parte do dia-a-dia de seus habitantes.

Durante todo o dia 7 poucos demostraram desconforto em cruzar com hordas de policiais muito bem armados nas estações de metrô dos cinco distritos da cidade. Não deve causar estranheza, também, a informação de que o preço do metro quadrado em Lower Manhattan – onde ficavam as Torres Gêmeas destruídas pelo atentado de 11 de setembro de 2001- quase duplicou desde então. E que Madri, desde a tragédia de 2003, tem recebido mais e mais visitantes. Os hotéis estão saindo pelo ladrão. Aliás, a terra arrasada onde ficava o World Trade Center é um ponto turístico disputadíssimo em Nova Iorque. Todos querem tirar fotos e brigam por um espaço para garantir esquisitíssimo souvenir.

Cansados de guerra, estressados depois de décadas de difícil relacionamento com o IRA, os britânicos descobriram hoje que quatro dos terroristas de 7 de julho eram jovens. O mais novo adolescente, o mais velho acabara de completar 30 anos. Todos criados na Inglaterra. Todos filhos de trabalhadores de classe-méda baixa completamente adaptados à vida na Europa. Meninos educados nos colégios ingleses são os responsáveis pela morte de 52 pessoas, sem esquecer dos mais de 700 feridos, muitos em estado grave. Como lidar com esta nova bomba?

Há alguma esperança de bom-senso no ar. Ao contrário de seu parceiro Bush II, o primeiro-ministro Tony Blair optou por uma estratégia diversa. Ele já convocou, em uma jogada inteligentíssima, a maioria da comunidade islâmica britânica – formada por gente trabalhadora, pacífica e honesta – para ajudá-lo a liderar uma faxina interna contra quem prega o ódio e a violência. Em suas palavras ‘a moderada e verdadeira voz do Islã precisa ser mobilizada’.

Uma das bombas explodiu justamente em uma das regiões – Eldridge – em que a maioria dos moradores se identifica como muçulmana. Eles estão entre as principais vítimas do atentado. Parentes e amigos das vítimas de fé islâmica que vivem na região se sentem acuados e dizem que o ataque também foi ‘uma mensagem dada pelos fundamentalistas a nós. A de que ou lutamos contra o inimigo cristão ou temos de voltar para casa’’, isto é, para a Ásia e o norte da África, de onde seus pais saíram em busca de trabalho. Como disse Blair - e agora, mais do que nunca, é preciso acreditar na sinceridade de suas palavras - em última instância não há outra maneira de enfrentar e liqüidar este problema, a não ser dentro da própria comunidade muçulmana.

Em Nova Iorque, onde adolescentes de fé islâmica são presos pela polícia federal na calada da noite e devolvidos com um pedido de desculpas a pais atônitos, o maniqueísmo republicano não ajudou em nada a população a lidar com um problema originado na miséria, na desinformação e no totalitarismo apoiado decididamente no passado pelas grandes nações ocidentais. Quem sabe um sopro de argúcia nos chegue aqui também, ainda que quatro estações atrasado?

domingo, julho 10, 2005

Trabalhadores do Meu Brasil

De Jânio de Freitas, na Folha de S.Paulo de hoje:


Ao fazer a nomeação de Luiz Marinho para o Ministério do Trabalho, Lula estará oficializando a CUT como instrumento do governo, ou seja, da política econômica em vigor. Logo, com a CUT no atual Ministério do Trabalho, os trabalhadores nunca estiveram tão longe do governo.