sexta-feira, novembro 02, 2007

Entrevista/DANIEL RADCLIFFE


A Contigo! que está nas bancas publicou minha conversa com o ator Daniel Radcliffe, 18, famoso por encarnar na tela grande o bruxinho inglês Harry Potter. Daniel, simpaticíssimo, esteve aqui em NY para o lançamento de seu filme Um Verão Para Toda a Vida, que estréia nos cinemas brasileiros hoje, e é uma desengonçada love story, uma produção independente australiana que não diz bem a que veio. Mas Radcliffe está bem como Maps, o mais velho de um grupo de adolescentes órfãos e consegue provar que podeir além das bruxarias de Potter. Aí embaixo vão os principais trechos da conversa que ele teve com a imprensa em um hotel de luxo nas proximidades do Central Park:


Sexualidade
"Agora que tenho 18 anos, sei que vão aparecer mais papéis vinculados à minha idade real e que tratarão da descoberta da sexualidade, por exemplo, como aconteceu com o Maps. Tudo bem. Também faria um personagem gay, desde que, claro, o papel e o filme fossem bons."

Inspiração e transpiração
"Tenho muita alegria de viver e me empolgo facilmente em conversas e discussões, assim como o Harry. Já Maps é o meu oposto. Para mergulhar no mundo dele gravei alguns CDs de música e os enviei ao diretor (Rod Hardy), para ver se estava no caminho certo do personagem. Ele me disse que era isso mesmo e que após ouvir aquelas músicas de meus queridos Elliott Smith, Willy Mason e Radiohead, ele quase cortou os pulsos (risos)! A música é fundamental no meu processo criativo, artístico. Sempre me ajuda a entender como o personagem vivencia determinada emoção ou situação."

Impondo respeito
"Quando tinha 11 anos, vivi o melhor dos mundos no set do primeiro longa de Harry Potter (E A Pedra Filosofal). Queria que Christian (Byers), Lee (Cormie) e James (Fraser, protagonistas, junto com ele, de Um Verão...) tivessem uma experiência semelhante. Então, mostrei a eles a importância de se trabalhar com seriedade total, para manter a atmosfera sempre calma no set. Quando dava 1h da manhã e queriam ir embora, conversava com eles e dizia 'meninos, concentração total, que temos de voltar para o hotel e dormir'. E eles foram brilhantes."

Amizade e paixão
"Sou muito ligado aos meus amigos. Alguns estão no mundo do cinema, outros, fora. Meu melhor amigo é Robin. Eu o conheço desde quando tínhamos 5 anos e ele não tem nada a ver com Hollywood. Robin não está nem aí para a minha carreira, o que é ótimo. Sobre paixões, é claro que já tive minhas desilusões amorosas, mas não vou contar quantas vezes, não (risos)".

Símbolo Sexual
"É engraçado como se falou do beijo que eu protagonizei no último Harry Potter! Mas que coisa (risos)! E olha que não foi nem meu primeiro beijo. O primeiro, rodei em Um Verão Para Toda Vida. Todas as cenas foram filmadas numa caverna em um único dia. Quando Maps (seu personagem no filme) tem um ataque nervoso, na parte final, já estávamos nesse lugar por 16 horas. Era quase manhã da véspera de Natal, então eu já estava quase tendo uma crise de nervos de verdade (risos)! E Teresa (Palmer, 21, que faz Lucy, por quem Maps se apaixona) foi ótima, pois ela já havia feito duas ou três cenas de sexo em outros filmes e me guiou. Apesar de ser 3h do dia 24 de dezembro, foi ótimo. Afinal, bem, você viu a Teresa, né? (risos)"

Nu no palco
"Foi uma experiência sensacional encenar Equus (a cena em que fica nu na peça foi apontada como um dos motivos de uma legião de fãs ter aparecido no Teatro Gielgud) no meu país e espero que ano que vem, na Broadway, em Nova York, seja ainda melhor - a peça deve estrear nos Estados Unidos no início de 2008. Tive que desenvolver muito meu poder de concentração. Não é como no cinema, em que o take acaba e você pode relaxar. Eu fico em cena o tempo todo! Foi o trabalho mais exaustivo da minha vida. Mas foi sensacional."

Harry Potter e as Relíquias da Morte
"Li e adorei! Meus fãs ficariam chocados se eu não tivesse lido ainda, né? Achei fantástico e, ao terminar, pensei imediatamente que vai ser estranho quando formos filmar a última parte desse épico. Não sei como vou me sentir quando tudo terminar. Vai ser triste, mas bom também. Eu prometo."

Maturidade
"Ainda me vejo como um menino. E ainda jogo Banco Imobiliário sempre que posso (risos). Não acho que a gente tem de crescer assim, de supetão. Tipo, fez 18 anos e pronto, ficou sério. Ainda tenho muito de imaturo e muito o que crescer."

quinta-feira, novembro 01, 2007

Perfil/BEBEL GILBERTO




A Bravo! que acabou de sair nas bancas traz o perfil que escrevi de Bebel Gilberto, 41 anos, a cantora brasileira de maior sucesso no exterior desde Carmen Miranda. A conversa com Bebel aconteceu no verão nova-iorquino, em uma tarde deliciosa e repleta de gargalhadas. Aí vai o texto, as fotos são do meu amigo Victor Affaro:

Moça de Família

Por Eduardo Graça

Já na primeira frase da música que abre Momento, seu mais novo disco, Bebel Gilberto diz para si própria, introspectiva: "Tem tanta coisa aí tão escondida que você não quer nem mais lembrar". Será mesmo? Faz um calor infernal no verão de Manhattan quando a filha de João Gilberto e Miúcha, imensos óculos escuros, se despede do porteiro do prédio onde vive, no Village, dando-lhe conselhos sobre um tratamento de saúde para um problema de bexiga. Bebel é uma bela mulher de 41 anos, que apresenta suas armas logo de saída: um sorriso maior do que o rosto queimado de sol e uma capacidade de falar com desenvoltura sobre o mais banal dos assuntos. Sem tempo nem para respirar, os passos ainda desafinados, fruto de um acidente inusitado, "coisas que só acontecem com a Bebel", ela recebe a reportagem de BRAVO! em sua "cozinha improvisada": um restaurante japonês da vizinhança, que também é o favorito de Tom Waits e David Byrne.

Duas semanas antes do lançamento de Momento, que fecha uma trilogia para o selo belga Crammed, Bebel estava saindo do Nublu, o templo underground da música mais interessante que é feita hoje em Nova York, quando um homem despencou sobre seus pés. Assim. No burburinho da noite do East Village, enquanto ela se preparava para entrar no táxi, o grandalhão, mais para lá do que para cá, se desequilibrou e caiu sobre os pés da cantora e compositora.

No início, ela achou engraçado. Mas a dor e o inchaço lhe mostraram que algo mais grave havia acontecido. O pé, as cirurgias, o gesso, a fisioterapia, a primeira noitada em que pôde novamente beber sua cerveja, a volta claudicante à sagrada rotina das caminhadas pelas ruas nova-iorquinas, tudo faz parte da geografia sentimental mais recente de Bebel. Logo depois da primeira operação, a cantora se apresentou em Londres com um gesso enorme. A crítica britânica pegou pesado. O jornal The Guardian chegou a dizer que, "em boa parte do espetáculo, ela foi incapaz de repetir o formato sensual da pop-bossa que lhe deu tanto prestígio". Bebel se submeteu depois a uma segunda cirurgia e ficou com o pé imobilizado até a primeira semana de junho. Já é tempo de deixar a bruxa para trás. Daí a vontade de fazer a sessão de fotos para a BRAVO! em pleno chafariz da Washington Square, um símbolo da anarquia organizada da metrópole que Bebel aprendeu a chamar de sua (na verdade, a cantora nasceu em Nova York, onde seus pais moravam na época, mas depois se mudou para o Rio).

"Os maiores lembram que, quando eu era pequena, sempre dizia que um dia iria viver em Manhattan. Na virada dos anos 80 para os 90, eu estava meio perdida no Brasil, mas o que me fez vir mesmo para cá foi a vontade de me aproximar do meu irmão." João Marcello, seu irmão mais velho, é filho de seu pai com a cantora baiana Astrud Gilberto, radicada há décadas nos Estados Unidos. "Passei a vida cultivando o desejo de conhecê-lo melhor e agora somos muito próximos. Estacionei na casa dele um pouco, em Nova Jersey, e depois atravessei o rio para me instalar em Manhattan", conta, entre uma e outra mordida nos petiscos preparados pela cozinha do restaurante favorito.

A roupa do dia, prática e casual, comprova a correria dos últimos meses: ela usa um biquíni resguardado por um top e uma calça ligeiramente dobrada na altura do tornozelo. Depois do almoço, voa para a fisioterapia e termina o dia ensaiando com sua banda na cobertura onde mora. O pé ainda é um estorvo para a cantora, que fez a primeira operação, no Brasil, em março, sob os cuidados da amiga Paula Lavigne. Como boa parte dos norte-americanos de sua idade, Bebel não tem um plano de saúde. "Paula é sensacional e me deu uma força enorme. Por ser poderosa e adorar botar ordem em tudo, definiu minha vida: passagem, o médico que iria tratar de meu pé, tudo. Depois do acidente, antes mesmo de ligar para minha mãe, telefonei para a Paula."

A ex-mulher de Caetano Veloso costuma brincar com Bebel, amiga dos bons tempos de Baixo Leblon, dizendo que ela é a única solteira feliz que conhece. Bebel acha graça do elogio truncado: "Tive recentemente alguns namoros mais sérios, mas em geral estive sozinha. O velho chavão da mulher-bem-sucedida-relativamente-conhecida assusta mesmo. E não sou exatamente maria-vai-com-as-outras, eu dou as cartas, né? Tem de ser muito homem para agüentar".

A virada dos 40 a presenteou ainda com outro clichê: o desejo incontrolável de se tornar mãe. "Pode escrever aí que meu próximo passo é congelar óvulos. Que nada, estou brincando! Agora, é possível que em seis meses você me encontre apaixonada e grávida, porque o tal do relógio biológico existe de fato, há uma urgência clara, embora jamais pensei em ter um filho sozinha. Família é tudo. É a chatice, é o compromisso, mas é tudo o que busco na vida. Com sinceridade total. Quero uma relação, sou monogâmica, gosto da coisa mais certa. Pensando bem, acho que esse é o único campo em que não sou louca...", brinca.

ALÔ, MAMÃE

Mesclando o mistério contemplativo de João Gilberto com a explosão descompromissada de Miúcha Buarque de Hollanda, Bebel pode passar três anos debruçada sobre uma canção como Words, outro destaque de Momento, ou decidir, no estúdio, de uma hora para a outra, intuitiva, modificar o planejamento do dia e migrar para uma idéia nova que lhe ocorreu naquele instante. Ela costuma cantar no banheiro e entrando no táxi, mas pára de ouvir música - qualquer música - quando começa a maratona de gravar seus discos. Algumas canções lhe chegam como um raio, outras demoram uma eternidade, carentes de polimento e dedicação. "Acho que tenho um tanto de João e um tanto de Miúcha. Sou introspectiva, mas também adoro ser o entertainer. Não tenho medo algum de palco. Trabalho muito no estúdio, sou caxias mesmo, mas gosto mais do palco. O barato é você estar ali, com o público."

Recentemente, num show em São Francisco, Bebel percebeu que um espectador mantinha seu telefone desafiadoramente ligado. A cantora desceu do palco, tomou-lhe o aparelho e ligou para sua mãe, no Brasil. Miúcha não estava em casa. A show woman não se fez de rogada e pediu que toda a platéia gritasse, em uníssono, "Miucha, I love you", para ficar gravado na secretária eletrônica.

Uma memória recorrente de Bebel são as ausências dos pais quando ela era mais nova. "Não tinha horário para fazer dever de casa nem para o almoço. Fui criada com a empregada, vendo televisão. Chico [Buarque, irmão de Miúcha], Marieta [Severo] e minhas primas eram minhas referências familiares mais próximas. Talvez teria sido menos complicado se tivesse tido um pouco mais de base em casa... Mas já reclamei muito disso. Chega! Finalmente percebi que também aprendi um monte de coisas mais rápido por conta dessa situação."

O palco, por exemplo, ela conheceu muito cedo. Aos 8 anos, se apresentou com a mãe e o saxofonista Stan Getz no Lincoln Center, em Nova York. Aos 11, estava no coro de um dos maiores sucessos do teatro musical brasileiro - Os Saltimbancos, do tio Chico em parceria com o italiano Sergio Bardotti. "Divido minha vida em dois períodos: antes e depois dos Saltimbancos. Imagina, ainda não era adolescente e já ganhava meu dinheiro!Todas as crianças me adoravam. Comprava roupas da moda, era uma peruinha total. E, por ser alta para a idade, ia de tarde dançar na matinê da New York Disco, no Rio, e curtia festinhas todos os fi ns de semana. Já sabia me divertir."

A quarta faixa de Momento, Os Novos Yorkinos, é uma homenagem aos Novos Baianos, que fizeram parte do catecismo lúdico-musical de Bebel. "Essa é a música mais sincera que já fiz. Fala de uma gente menos racional, mais louca, mais emotiva, tudo o que as pessoas não podem ser hoje em dia. Uma gente que não tem vergonha de dizer que já usou maconha, que bebe, que fuma um cigarro de vez em quando."

A convivência com Moraes Moreira, Baby Consuelo & cia. vem do tempo em que os músicos viviam numa chácara em Jacarepaguá, um dos endereços favoritos de João Gilberto. Ele levaria algumas vezes Bebel a tiracolo para madrugadas musicais inesquecíveis na então longínqua zona oeste do Rio de Janeiro. O clássico disco Acabou Chorare, de 1972 foi batizado a partir da expressão usada pela menina de 6 anos para tranqüilizar o pai, preocupado com um tropeço da filha e a choradeira que ela protagonizara.

Dois anos depois, o grupo gravaria o samba-choro Bebel, de João, em uma versão especialmente feliz. E uma década mais tarde, Marília Mattos, mulher de Moraes Moreira, apresentaria Bebel a Cazuza, um encontro que acabou definindo a trajetória musical da cantora. "Não seria quem sou, não seria nem artista, se não fosse por ele. Lembro que, quando lhe dizia estar com a idéia de uma letra, ele me impulsionava: 'Mas você tem de escrever, mulher!'. Cazuza virou uma estrela, se tornou famoso, e agora me pego pensando se existe essa coisa de os mortos verem a gente... Acho que ele e Suba ficariam orgulhosos de mim. Acho até que dão uma força!"

Bebel conheceu o produtor Mitar Subotic, o Suba, sérvio que morava em São Paulo, depois de uma apresentação de João Gilberto no Carnegie Hall, em Nova York. "Saímos para jantar, ficamos ouvindo música até as 5 da matina e decidimos que tínhamos de fazer algo juntos. Mudei-me para a casa do tio Sergito [irmão mais velho de Chico], na Vila Madalena, e lá ficamos produzindo o Tanto Tempo, meu segundo disco-solo, que seria lançado em 2000 [o primeiro é um EP de 1986]." Suba morreu pouco antes do lançamento, num incêndio, e não chegou a ver o enorme sucesso do trabalho. O álbum vendeu mais de 1 milhão de cópias e fez a carreira de Bebel finalmente decolar.

Não deixa de ser significativo o fato de Suba e Bebel terem se conhecido após uma noite regada a João Gilberto. Se há algo constante nos três discos mais recentes da cantora(Tanto Tempo, Bebel Gilberto e Momento) é a influência da batida gilbertiana do violão. Bebel lembra que, aos 4 anos, mudou-se com seus pais para a Cidade do México. Eles viviam em uma casa imensa, com poucos móveis, acústica perfeita para João, que tocava violão sem parar. O som do disco João Gilberto en México, com as clássicas interpretações de Farolito e Besame Mucho, a acompanharia por toda a vida.

Mas música, diz Bebel, não se discute na sala de jantar dos Gilberto ou dos Buarque de Hollanda. "Veja bem: a mamãe acaba de lançar um disco, eu não ouvi ainda o dela, nem ela o meu. É que a gente compete por espaço, sabe? (risos). Sempre foi assim. Mamãe sempre foi muito crítica comigo, então não procuro muito saber a opinião dela. A de meu pai, menos ainda. Meu tio também não costuma opinar. Quando tem muita gente envolvida no mesmo métier, você acaba, talvez, se fechando um pouco..."

Um dos pontos altos de Momento é a versão de Bebel para Caçada, pérola do cancioneiro de Chico Buarque presente na trilha sonora do filme Quando o Carnaval Chegar, de 1972. "Desde criança, essa música me chama a atenção. Fiz a versão e mostrei para o Chico meio de surpresa. Era aniversário de minha avó, ele foi me pegar em casa, eu estava com um namorado novo, aquele constrangimento, o clima meio tenso, e eu, para limpar a barra com ele, disse, ouve aí, e coloquei para tocar no carro mesmo. Ele não fez nenhum comentário mais direto, mas acho que gostou."

GLOBETROTTER

Dezesseis anos depois de ter deixado o Brasil, Bebel confessa que, apesar das visitas costumeiras, já se sente um pouco como "um peixe fora d'água". Graças ao sucesso de Tanto Tempo, o disco de uma brasileira que mais vendeu no exterior, converteu-se em artista de projeção planetária. "Às vezes acho que ninguém entende por que me dedico tanto à carreira, por que faço essas excursões todas pelo mundo, por que entro num ônibus e percorro cinco cidades da Alemanha. Loucura? Pode ser, mas assim vendo discos e ganho público. Você acha que o Caetano faria isso? Não. Ele vai apenas para Berlim, se for. Eu, só neste ano, já estive na Finlândia, Noruega, Bulgária, Turquia e Croácia. Todos também acham que fiquei rica. Nada disso. Os Gilbertos não são tão bem-sucedidos financeiramente. Mas, pelo menos, somos felizes e bons vivants."

Após duas cervejas, Bebel se solta de vez. "Momento é o disco em que apareço mais como letrista. Acho que estou ficando com menos medo de falar de mim... Busco a inovação o tempo todo. Ser livre e boêmia em Nova York faz com quevocê sempre se renove, não se prenda a formatos, não fique estagnada." Talvez esteja justamente aí o segredo da solteira mais feliz do Village que, caso tivesse de se explicar por meio de uma única música, não titubearia. Escolheria A Mulher, de Caetano Veloso, gravada por Gal Costa no álbum Água Viva: "Lá vai a mulher subindo/ a ponta do pé tocando ainda o chão/ já na imensidão/ é lindo/ ela em plena mulher/ brilhando no poço de tempo que abriu-se/ ao rés de seu ser de mulher/ que se abriu/ sem ter que morrer/ todo homem viu".

quarta-feira, outubro 31, 2007

Rio de Janeiro - Era Assim (1936)

Minha amiga Regina Zappa acabou de me enviar o link para este documentário de James A. Fitzpatrick. Saudades do que eu nunca vi, de fato...

terça-feira, outubro 30, 2007

TROPA DE ELITE

Aqui no blog tivemos textos de Márcia Pereira, Rozane Monteiro, Teté Ribeiro e Olga de Mello sobre o filme do momento no Brasil. Vi Tropa de Elite na semana passada e tento acompanhar as meninas aqui com uma pensata sobre o filme do José Padilha. Taí:

Justiceiros, aqui e acolá


Na semana em que finalmente vi Tropa de Elite fugi para o cinema aqui do bairro e passei pouco mais de duas horas me segurando na poltrona enquanto tentava engolir Valente, em que Jodie Foster, armada, faz justiça com as próprias mãos na Nova Iorque do doutor Bloomberg. O filme, que estréia nesta sexta-feira no Brasil, gerou uma discussão interessante por aqui. Até que ponto a trajetória da personagem de Foster, uma radialista pacata quase assassinada pelo brutal ataque de uma gangue no Central Park, representa um sentimento catártico do americano médio, insatisfeito com as instituições, o Estado, a Justiça, a polícia, os mecanismos arcaicos das democracias ocidentais? A.O. Scott, o crítico de cinema do New York Times de que mais gosto (sim, eu gosto de críticos de cinema!), escreveu que Valente, como se tal paradoxo fosse possível, era um “filme pró-linchamento que até os liberais podem amar”. Já Stephen King, em sua coluna na Entertainment Weekly, em um delicioso mea-culpa sobre o fetichismo da violência tão corriqueiro na cultura popular norte-americana (e em boa parte de seus livros), lembrou que até o título do filme sugere uma aprovação imediata, uma identificação óbvia com o protagonista do filme.

Valente, em menor escala, e Tropa de Elite, até o momento o mais popular produto de consumo da indústria cultural produzido no Brasil este ano, têm o mérito inegável de gerar discussão, de virar tema de conversa de bar e das páginas de opinião e dos cadernos de cultura da imprensa. Neste sentido, deixar o José Padilha em paz, como pedia minha querida amiga Márcia Pereira no artigo que iniciou a série de textos sobre o filme aqui no blog, seria negar justamente o maior atrativo deste filme de ação muito bem produzido e com uma campanha de marketing de primeiríssima qualidade.

Tanto o documentário Ônibus 174, filme que apresentou Padilha a seus primeiros fãs, quanto o livro Elite da Tropa, escrito pelo antropólogo Luiz Eduardo Soares e pelos ex-capitães do BOPE André Batista e Rodrigo Pimentel, são obras que nos levam a uma profunda reflexão sobre como a desigualdade social, a ausência do Estado, a falta de vontade política da sociedade, o esvaziamento econômico e a corrupção das instituições alimentam a escalada da violência na cidade de São Sebastião. Tropa de Elite, ao contrário, é refém da narração onipresente do Capitão Nascimento de Wagner Moura, uma espécie de Robocop tropical, desprovido de qualquer humanismo, amputado emocional que segue adiante apenas pelo medo de se transformar em mais uma vítima na guerra sem fim da cidade. É pouco.

A tortura é apresentada como método necessário para se adquirir informações nos dois lados da guerra. Todas as vezes que alguém é sufocado com um saco plástico, apanha brutalmente ou leva um cabo de vassoura ao ânus alcança-se o prêmio da informação certeira que nos poupará tantas outras vítimas. Aparentemente, nos cinemas cariocas, parte do público aplaude com gosto as cenas de seviciamento. Na sala de exibição aqui do Brooklyn a audiência também urrou em uníssono apoiando as execuções sumárias dos bad boys conduzida por Foster, um Rambo urbano de saias, vazia de idéias na selva de pedra de Manhattan.

Tropa é um filme feito à imagem e semelhança de Hollywood, para o bem (a qualidade técnica primorosa) e para o mal, com sua ausência de nuances e adoção do estereótipo fácil. Pobre não tem opção e cai no crime, mauricinho é alienado, maconheiro é traficante incubado, ongueiro é o ingênuo útil e policial militar é corrupto. E pronto. O roteiro reflete o desespero e a sensação de impotência de uma cidade sufocada de forma desigual, sedenta por encontrar algum arrego, algum ponto de contato com realidade tão grotesca, quiçá o piratão comprado na esquina por dois merréis. O piratão que nos mostrará na tela. Eis aí a perversidade maior do filme de Padilha. Em um retrocesso histórico, a voz do morro, em duas horas de entretenimento, resume-se a um único personagem adulto, oriundo da favela, com direito a fala, não imediatamente identificado como bandido - a mãe de um meliante assassinado pelo BOPE.

Tropa de Elite exclui a possibilidade de diálogo entre os diferentes personagens envolvidos na desgraça carioca. Padilha não abre janelas para esperanças ou denúncias e tampouco oferece um novo elemento de reflexão para seus espectadores. Seu simplismo é tão gritante que não pode sequer ser apreendido como uma obra de viés conservadora. Não há transformação a ser vislumbrada, à direita ou à esquerda – é matar ou morrer. Tropa é cinema de conteúdo pobre, vazio, um olhar de um ângulo só para um problema extremamente complexo, que passa fazendo um barulho maior do que merecia. Sinal dos tempos.

Osso Duro de Roer - artigo de Rozane Monteiro

A jornalista Rozane Monteiro, que já subiu muito morro e entrou em muita favela carioca, escreveu este artigo, originalmente em inglês, no insidebrazilnews, que ela edita. Vale ler o texto - sem sair por aí cantando o melô do Capitão Nascimento, pelo amor do Papa! - e conferir o ótimo site.


Osso duro de roer, por Rozane Monteiro


Quer saber, eu estou ficando cansada de todo esse debate sobre Tropa de Elite, o filme brasileiro que, dizem, é o maior sucesso de todos os tempos aqui. Desde que foi lançado no país, todo o mundo está tendo um ataque de nervos e ninguém parece se preocupar com o fato de o presidente do Senado, Renan Calheiros, ter passado dias perdendo sua batalha e ter finalmente voltado para casa, lugar do qual, vamos combinar, nunca deveria ter saído. Ok, quem se importa, no fim das contas? Ninguém agüentava mais aquela ópera bufa que aconteceu em Brasília.

Agora, todo o mundo fica tentando botar a culpa em alguém pela guerra que o Estado do Rio de Janeiro vem travando contra os traficantes há anos. Ai, meu Deus! O protagonista do filme, capitão Nascimento (Wagner Moura), do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), chama toda a confusão de "guerra"! Como ele ousa? Este é um país pacífico! Nós estamos sempre criticando nações que estão em guerra!

Tem mais: capitão Nascimento não gosta de traficantes; não gosta de pessoas que são amigas deles em nome de algum tipo de "consciência social", como ele diz; não gosta de pessoas ricas e de classe média que usam drogas e saem em marchas pela paz no Rio; sua mulher, Rosane (nenhum comentário sobre o nome dela, eu juro) está para ter um bebê e o está pressionando para que largue o BOPE. Ah, quase esqueci: ele tortura e mata traficantes.

E a cerejinha do bolo: embora capitão Nascimento seja um personagem fictício, a trama do filme se passa em 1997, quando o BOPE montou uma operação para combater uma quadrilha de traficantes de uma favela perto da casa do arcebispo do Rio, que iria receber o papa João Paulo II. "Bota na conta do papa", diz o capitão Nascimento, logo depois de torturar um traficante. À certa altura, ele está furioso com o papa, que, segundo o policial, deveria saber que a área perto da favela não é segura, meu Deus do céu. "Ele já esteve aqui antes!", diz o capitão.

Cara, esse país (a maior nação católica do mundo) está confuso. Um policial que se apresenta como "homem de preto" e tortura gente, aliás, traficantes, dá uma bronca no papa? Deve ter algum pecado aqui. O problema é que não sabemos exatamente onde está o pecado.

O problema é que não consigo parar de cantar trechos da trilha sonora do filme: "Tropa de Elite, osso duro de roer, pega um, pega geral, também vai pegar você"; "Homens de preto, qual é a sua missão? É entrar pela favela e deixar corpo no chão".

Alguém chama a ONU, por favor! Ah, não, desculpem, não somos um país em guerra.

segunda-feira, outubro 29, 2007

CRÔNICA/Oscar Niemeyer, 100

A princípio, este blog somente publica textos em português, nossa língua adorada. Mas a revista Zoo, que chegou às bancas neste mês, e tem sede na Alemanha, cometeu o despautério de publicar três - isto mesmo, três! - textos meus em inglês em sua última edição. Uma pequena memória, bem pessoal, sobre o grande Oscar Niemeyer, uma visão de um não-especialista em moda sobre a São Paulo Fashion Week (SPFW) e um bate-papo com os designers e irmãos Fernando e Humberto Campana. Aqui embaixo segue o primeiro texto, sobre doutor Oscar. As imagens das reportagens sobre os Campana e a São Paulo Fashion Week são de meu talentoso amigo Victor Affaro:

Ode To Oscar

A Tribute to Brazilian Architect Oscar Niemeyer
By Eduardo Graça

I was 14 when I first met Oscar Niemeyer. He was walking on a pile of concrete debris in a square located in an industrial city in Rio de Janeiro state. It was 1988 and Brazil was a three- year old democracy. An obscure rightist group had just claimed responsibility for the bombing of a Niemeyer monument inaugurated the previous day. It had been built to serve as a memorial for three workers who died in a strike. More than the image of the small old man perched on what used to be his own art, what astonished me was his serene decision not to rebuild his beloved piece. He left it there in all its bruised glory, and included a single inscription at the bottom of the mess: “Nothing, not even the bomb that destroyed this monument, is able to stop the ones who fight for Justice and Freedom."

Niemeyer was 98 the second time I met him, two years ago. Still working daily, the architect who built Brasília talked about his new projects: an aquatic center in Potsdam, Germany, and an impressive series of public buildings, including a cathedral and a public theater, facing Rio on the other side of Guanabara Bay. He was pleased to find out that his destroyed monument remained untouched, serving as one of the main attractions in the city where I was raised.

Niemeyer's architecture is unique, at once international and deeply Brazilian. The cold rationality of his concrete-based buildings is juxtaposed by curves - his suave rendition of the of the beautiful women walking on Ipanema beach. He is our last communist. He is the myth of the Latin lover, but a real one, in love again at the age of 100. He is one of the symbols of the 20th century. He is also intensely 21st century. He is a sweet radical. He reads fiction and despises art theory. But he loves to talk about philosophy. He is a prophet, but lives like the Everyman. His art, still alive, comes from these opposite forces. Not unlike Brazil, with its singular mix of kindness and brutality.

SPFW/Summer 2008


BEDLAM IN BRAZIL

The madness of São Paulo Fashion Week


by Eduardo Graça/photography Victor Affaro

Summer and Brazil. Put those two words together and you think Rio de Janeiro, right? Not always. It is in São Paulo, with its luxurious hotels, restless nightlife, aggressive bourgeoisie, and obsessive cosmopolitanism that Brazilian Summer Fashion Week runs each June, at the peak of winter in the Southern Hemisphere.

The Bienal, a Bauhaus-style pavilion, is located in the main urban park of São Paulo. For one week, the building—it is one of Oscar Niemeyer’s most important works in this city—is swamped by Brazilian beauties and their fashion entourages, including local powerhouses and exciting new designers. Zoo was there and checked out the best and the most exotic of São Paulo Fashion Week’s 23rd season.

“People ask me about my job all the time. They are eager to know what it means to be a fashion designer in Brazil. Well, I have no clue. When I think about myself, I see someone who enjoys creating clothes, not a fancy fashion maker,” says Wilson Ranieri, 28, a pudgy, black paulistano who hails from the capital’s suburbs and who has been a national sensation since last year.

Ranieri’s summer collection caught the attention of international fans due to its devotion to a sensuality that has no room for vulgarity. His dresses are sober but not boring, provocative but not explicit, fresh but timeless.

“I don’t think you need to be over-sexualized to do a summer collection just because you are in a tropical country,” he says. “For instance, I really like to display an amount of volume in my pieces. That’s why you’ll see those huge sleeves on the back of my dresses. It is at the same time sensual and sober.”

One of the highlights of his new collection - which also conquered Japan and is now available in select stores in Tokyo and Osaka - was a red jumpsuit made with bamboo acetates. Ranieri’s desire to create something original extends to his decision to work exclusively with the hand shaping moulage technique, whereby pieces are created directly from the body of his human-sized models.


"I Don't Think You Need To Be Over-Sexualized To Do A Summer Colletction Just Because You Are In A Tropical Country" - Wilson Ranieri


Ranieri’s fondness for moulage started during his years as a freshman at the most prestigious Fashion School in São Paulo. “I was obsessed by this African tribe, the Ndebeles, Zulus from Zimbabwe,” he explains. “They did these amazing clothes with animal skin. Things that would seem really primal in the first place, but their level of sophistication and the elegance of the final product caught my attention. I was so fascinated by it that I bought my first moulage model right before the presentation of my final thesis and never stopped. Due to the fact that I like to work with several fabrics – not just one kind of material – the moulage is perfect to develop my notion of fashion construction. But I would also say that there’s nothing insanely exotic about this process. The Ndebele moulage, for instance, is very similar to the most common technique that the main jeans and pants designers use nowadays”.

And speaking of jeans, the world of denim in Brazil has never been the same since Zoomp, with its unmistakable lightning logo, showed its first collection in São Paulo 33 years ago. Zoomp’s main innovation was also its secret golden touch: the jeans were reshaped to emphasize one of the main assets of Brazilian girls – their behinds.

“My then-wife was our first model and our main idea was to show off the beauty of, let us say, the Brazilian’s more Africanized ass,” says Renato Kherlakian, 57, the creator of Zoomp. “Even our name was a push for something more energetic that would translate in velocity and the sound of the universe.”

Although he’s been on the scene for some time, Kherlakian refuses to be a slave to tradition. Quite the contrary, in fact. His 2008 summer collection was inspired by The Matrix. The movie influenced both the men’s line - think Leonard Wilson as The Merovingian - and the women’s line - think Monica Belluci’s Persephone. The extravagant denim, with its hyper-reflective prints and futuristic look, was one of the talk-of-the-town items of the SPFW.

After an international explosion in Europe, particularly in Paris, in the 90s, Zoomp suffered from the success of Diesel jeans in Brazil. Now, it is trying to regain the market by investing in names such as Alessandra Ambrósio, 26, the supermodel who is going to be the face of the label for next summer. Zoomp has also reined in Alexandre Herchkovitch, probably the most adored Brazilian fashion designer, who is to become their new creative director. But more on him later.

Affectionately known as ‘Ale,’ Alessandra Ambrósio is regarded here as the new Gisele Bündchen. Anointed as one of the 100 hottest women in the world for Maxim magazine, the Victoria’s Secret beauty attracts zillions of photographers who can’t stop taking her picture.

“This is insane. I wish I could feel more like I was at home but I can barely breathe,” mumbles Ambrósio, as the paparazzi nearly suffocates her.

Ambrósio’s brief but sexy scene with Daniel Craig in Casino Royale drove the male portion of the SPFW crowd crazy. But there was one more reason for the frisson: Ale, who lives in New York and will be the new face of Zoomp, was returning to the event after a three-year absence. Everybody was hungry for her.

So much so that Ale outshone the other celebs at the SPFW, including Hollywood actress Chloé Sevigny (one of the main reasons to watch the North American TV hit Big Love), the local music diva Ivete Sangalo (who sells millions of CDs in Brazil with her Axé style), and the singer Jamie Burke, Sienna Miller’s latest beau.

Sevigny was invited to be part of the Ellus show. The actress came to Brazil to star in the ads of this other famous Brazilian jeans label, created in 1972. She talked a bit, walked a bit, danced a bit, and vanished suddenly, leaving Brazilian fans happy and desiring a little more. Touché.

Meanwhile, Sangalo brought loud fans to check out the Neon beachwear show, while Burke played an exclusive concert for fashionistas, who were keen to see if the new Calvin Klein hunk had more than just long hair and seductive lips.

Burke’s concert was a hit, and Miller will certainly forgive him for being awestruck by the beachwear (and its fabulous models) that were showcased. It was as diverse as a parade of semi-naked bodies could be.

Cia.Marítima, a favorite label, took its inspiration from the French Riviera in the 70s, with pieces that were practical and elegant, restrained in color and theme.

Poko Pano’s Paola Robba presented a bright and sunny collection, while Água de Coco’s models walked on water, er, plastic silver. It got some love from the audience by showcasing a one-piece suit with a long cape, in super-hero mode.

And there was more. The traditional and classy Maria Bonita opted for sport-chic in a blue-and-silver collection. Tufi Duek presented his navy theme with marine caps in the favored bleu-blanc-rouge combination. And Marcelo Frommer went deep into what critics called a “periphery style” at the first fashion show of AfroReggae, a cultural institution that works with local creators from poor communities in Rio.

The favela chic proposed by Sommer, a hyper-multi-color streetwear style exclusively presented by black models, had fewer fans than the creations of Isabela Capeto. The Rio de Janeiro-based designer brought romanticism back in all its glory. Her show, presented outside the Bienal building in Ibirapuera Park, was well received. Capeto’s delicate pieces included handmade needlework details. If she were living in New York, her style would certainly be described as “greenmarket fashion.”

And now, back to Alexandre Herchkovitch. The main name of the São Paulo underground fashion scene one decade ago, he is adored here for his theatrical and androgynous shows. This year, Herchkovitch made his women wear ties and sober vests. But it was his men’s collection that was the shocker. The theme was black-metal fashion, with long-haired models wearing extravagant pieces that speak of the dark times in which we live. Sad tropics? Hell yes! They wore excessive, Kiss-esque make-up, leggings, cycling shorts (the Black Sabbath-inspired print is unforgettable), and Vivienne Westwood’s bondage pants, resurrected in a neo-punk look. Herchkovitch proved to be the true showman of the event. Not surprising, then, that he’s just been hired as the new artistic director of Zoomp. His version of a Brazilian summer has plenty of space for darkness, doubt and fear. After all, this is São Paulo, my friends.

www.spfw.com.br

PERFIL/Irmãos Campana


THE BOYS FROM BRAZIL

The Campana brothers on style and São Paulo

by Eduardo Graça/photography Victor Affaro

Not more than ten minutes. That’s how long one can talk about trends in the Brazilian capital of style without hearing the name “Campana” crop up. After all, it is Estúdio Campana, located in the Santa Cecília neighborhood of downtown São Paulo, that created the famous ‘Red Chair’ for Italian company Edra. The studio is also the birthplace of other iconic pieces, including the Disney Chairs (a partnership with Uncle Walt’s powerhouse) and several works for Swarovski, O Lucce, Fontana Arte, Capellini Progestto Oggetto and Alessi.

Humberto Campana is the brother best known for his manual skills. He focuses on the artisanal aspects of their work. Fernando Campana, meanwhile, concentrates on the abstraction of their projects - the elaboration of concepts that will be developed by the Estúdio’s nine workers.

“25 years after leaving the architecture school, I am finally ready to admit that academia gave me this capacity of vision, this notion of proportion, light and space,” says Fernando. Aided by Humberto’s magical hands, Fernando juxtaposes elements to achieve their main goal: “Interfere, for real, with people’s lives.”

Currently, the brothers are designing a diverse range of projects. They include the Royal Olympic, Athen’s coolest hotel; the set for the new Marseilles Ballet show (an adaptation of Ovid’s Metamorphosis); the concept of London’s new Camper store; and a winter exhibition at the prestigious Cooper-Hewitt National Design Museum in New York.

“Our basic principle at the hotel is recycling,” says WHO? “We are going to absorb the trash, the demolition originated after the place was rebuilt two years ago, to create, in a paradox, something clean. And with the ballet, our desire is to dream. We are eager to literally bring design to the stage, doing something closer to the Corallo Chair, the one we created for Edra, with its anti-symmetrical body, its lines floating in the air, so the dancers can move between the objects.”

The Cooper-Hewitt show, which will open to the public this February, is a study of the representations of the twist in a two-dimensional space. “To do this, we will use fabric, several objects, hair artifacts, and, last but not least, furniture,” he explains.

The Campanas’ twist is one Brazilian aspect of their work. But ask them what is really brasileiro in their work, and they come up with something more nebulous.

“Our work is undoubtedly Brazilian due to our spontaneity and our capacity to adapt, which was developed as a reaction to the chronic economic and political instability that we faced during the majority of the last century,” says WHO? “We realize that improvisation is not a synonym to either laziness or lack of efficiency. Our art is Brazilian because it is acute and never surrounds itself with either rules or commandments. Brazil is a very funny place. Here, even if you try hard, it is impossible to become a square person.”

Despite their success, the Campanas say they will never leave São Paulo, the most populated city in South America, bursting with 11 million people. Their city, they claim, epitomizes the Brazilian ethos.

“Here, like nowhere else, you can taste this mix of degeneration and modernity that touches us daily. We have received many proposals to move to Europe on a definitive basis, but our inspiration comes from São Paulo, its streets and people,” says WHO? “Here it overflows with the best and the worst of the human beings in a second. We adore this fabulous archive of images outside our window. They inform us, they make us what we are. From here we will never part.”