A jornalista Rozane Monteiro, que já subiu muito morro e entrou em muita favela carioca, escreveu este artigo, originalmente em inglês, no insidebrazilnews, que ela edita. Vale ler o texto - sem sair por aí cantando o melô do Capitão Nascimento, pelo amor do Papa! - e conferir o ótimo site.
Osso duro de roer, por Rozane Monteiro
Quer saber, eu estou ficando cansada de todo esse debate sobre Tropa de Elite, o filme brasileiro que, dizem, é o maior sucesso de todos os tempos aqui. Desde que foi lançado no país, todo o mundo está tendo um ataque de nervos e ninguém parece se preocupar com o fato de o presidente do Senado, Renan Calheiros, ter passado dias perdendo sua batalha e ter finalmente voltado para casa, lugar do qual, vamos combinar, nunca deveria ter saído. Ok, quem se importa, no fim das contas? Ninguém agüentava mais aquela ópera bufa que aconteceu em Brasília.
Agora, todo o mundo fica tentando botar a culpa em alguém pela guerra que o Estado do Rio de Janeiro vem travando contra os traficantes há anos. Ai, meu Deus! O protagonista do filme, capitão Nascimento (Wagner Moura), do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), chama toda a confusão de "guerra"! Como ele ousa? Este é um país pacífico! Nós estamos sempre criticando nações que estão em guerra!
Tem mais: capitão Nascimento não gosta de traficantes; não gosta de pessoas que são amigas deles em nome de algum tipo de "consciência social", como ele diz; não gosta de pessoas ricas e de classe média que usam drogas e saem em marchas pela paz no Rio; sua mulher, Rosane (nenhum comentário sobre o nome dela, eu juro) está para ter um bebê e o está pressionando para que largue o BOPE. Ah, quase esqueci: ele tortura e mata traficantes.
E a cerejinha do bolo: embora capitão Nascimento seja um personagem fictício, a trama do filme se passa em 1997, quando o BOPE montou uma operação para combater uma quadrilha de traficantes de uma favela perto da casa do arcebispo do Rio, que iria receber o papa João Paulo II. "Bota na conta do papa", diz o capitão Nascimento, logo depois de torturar um traficante. À certa altura, ele está furioso com o papa, que, segundo o policial, deveria saber que a área perto da favela não é segura, meu Deus do céu. "Ele já esteve aqui antes!", diz o capitão.
Cara, esse país (a maior nação católica do mundo) está confuso. Um policial que se apresenta como "homem de preto" e tortura gente, aliás, traficantes, dá uma bronca no papa? Deve ter algum pecado aqui. O problema é que não sabemos exatamente onde está o pecado.
O problema é que não consigo parar de cantar trechos da trilha sonora do filme: "Tropa de Elite, osso duro de roer, pega um, pega geral, também vai pegar você"; "Homens de preto, qual é a sua missão? É entrar pela favela e deixar corpo no chão".
Alguém chama a ONU, por favor! Ah, não, desculpem, não somos um país em guerra.
terça-feira, outubro 30, 2007
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Um comentário:
Achei o texto fraco.
Estou meio decepcionado com a autora !
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