Estive cobrindo como um louco a convenção republicana e agora a NY Fashion Week e não tive um segundo para postar aqui no blog. Estou desde a semana passada para colocar aqui o perfil de Matt Damon - que entrivistei três vezes desde que me exilei aqui no Brooklyn e, por acaso, é um de meus atores favoritos - publicado na capa da Revista MONET de Setembro.
Então, aqui vai ó:
Gente Fina É Outra Coisa
Ele Bate E Arrebenta Em O ULTIMATO BOURNE.
Mas Foi Com Simpatia De Hollywood Que MATT DAMON Se Tornou
Um Dos Atores Mais Poderosos De Hollywood (E O Reprodutor Dos Sonhos Das Norte-Americanas)
por Eduardo Graça, de Nova York
James McAvoy é um dos atores em ascensão no panteão de Hollywood. Ele acaba de protagonizar um dos filmes mais aguardados do ano em que sapeca beijos em uma Angelina Jolie como veio ao mundo, coberta apenas por dezenas de tatuagens. O que mais quer o astro de O Procurado, em cartaz nos cinemas brasileiros? “Eu queria ser o Matt Damon e fazer um filme de ação com sucesso estrondoso, protagonizado por um herói que pensa”, ele confessa, nas páginas da revista Details, “como o Jason Bourne”.
Em um ambiente não exatamente renomado pelas demonstrações sinceras de afeto, Matthew Paige Damon, 37, é uma exceção gritante. Seu colega Steve Carell, estrela da série The Office e de Agente 86, e conterrâneo do liberal estado de Massachussetts, ao ser perguntado por este escriba se o incomodava a fama de bom-moço, também não hesitou em citar o colega mais jovem: “É como o Matt diz, não é o mínimo que se pode esperar de uma pessoa civilizada, a polidez, a educação, tratar bem o outro? Mas isso não deveria ser normal, gente? O Matt não é normal?”.
Talvez. Nos lançamentos internacionais de A Supremacia Bourne, O Bom Pastor e Os Infiltrados, Damon usou e abusou de sua afabilidade, mas sem deixar de lado uma ironia fina e uma capacidade de fazer graça de si mesma e dos colegas à sua volta que nada lembram o personagem criado por Trey Parker e que repetia, em Team América- Detonando o Mundo, o hilário bordão: Maaaaaat Daaaaaamon! Quando informado, na suíte de um hotel em Manhattan, sobre a decisão de Angelina Jolie de não responder a perguntas que considerasse pessoais na estréia mundial de O Bom Pastor, ele não se fez de rogado. “Não tem problema. Sei tudo da vida dela. Tim tim por tim tim tim! É só me perguntar. E não precisa nem usar minhas declarações em off’”, disse, com um sorriso de lado e uma marota coçadela no nariz, quiçá seu cacoete mais reconhecível.
Quem ainda não teve a oportunidade de ver, pode correr ao You Tube e conferir sua imitação do amigo Matthew McCohneghy, uma fantasia sobre o que seria a presença do ator texano no set de Onze Homens e um Segredo, sempre buscando a oportunidade de tirar a camisa em cena. Não satisfeito? Veja o vídeo gravado com a comediante Sarah Silverman que acaba de ser indicado para o prêmio Emmy em que ela avisa ao então namorado, Jimmy Kimmel: Eu Estou Transando com Matt Damon! O vídeo-resposta do apresentador de programas de entrevista não foi menos revelador: Eu Estou Transando com Ben Affleck!
Mas não foi sempre esta descontração toda na vida de Damon. O ator passou a adolescência em Cambridge, o distrito mais intelectualizado de Boston, sede das universidades Harvard e M.I.T. Lá sua mãe era professora em um colégio experimental para crianças. O loirinho, apaixonado por teatro, logo descobriu que um menino franzino de nome comprido, um ano e meio mais novo, Benjamin Geza Affleck-Boldt, morava a dois blocos de sua casa. Quando os dois foram estudar no mesmo colégio, Ben Affleck já havia feito um programa de tevê na rede pública de Boston e Damon imediatamente previu que sua posição como protagonista nas peças de teatro estudantis estava com os dias contado. Mas, na primeira oportunidade, Affleck pegou um papel menor, não deu bola para a competição, e ainda teve de ouvir de um arrogante Damon: “Com esta falta de seriedade você nunca vai dar certo na carreira”.
Uma década e meia depois os amigos inseparáveis receberiam um Oscar pelo roteiro original de Gênio Indomável. Um ano antes, em 1997, Damon havia abandonado Harvard depois de atuar em alguns poucos filmes. O amigo Affleck vivia na Califórnia com o irmão, Casey, os dois investindo pesado na carreira em Hollywood. Damon crizou o país com o esboço de roteiro escrito em uma aula de dramaturgia em Harvard (onde cursava Língua Inglesa) e durante quatro dias os dois amigos se enfurnaram na casa dos Affleck em Los Angeles e completaram o pré-roteiro. Este logo rodaria nas mãos de maravilhados produtores da cidade. As ofertas para se levar à tela a história do jovem, brilhante e revoltado Will Hunting e sua relação com o psicanalista Sean Maguire (que seria vivido por Robin Williams) aumentavam de valor a cada semana. Mas todas tinham um mesmo porém: ninguém queria que o protagonista do filme fosse o então desconhecido Damon. “As pessoas diziam que não havia precedente em Hollywood e quem nos ajudou, por incrível que pareça, foi Sylvester Stallone. Ele fez exatamente a mesma coisa com Rocky, uma década atrás. Então, só queríamos repetir a ousadia”, contou o ator ao programa televisivo Inside The Actor’s Studio.
Daí para o papel-título de O Resgate do Soldado Ryan, de Steven Spielberg, foi um pulo. Mas o que Damon lembra mais daqueles tempos foi a dura lição que tirou da exposição demasiada por conta da explosão de Gênio Indomável, concretizado quando ele tinha 28 anos. A repetição na mídia da história de Cinderela dos dois amigos que subiam junto ao estrelato por conta da persistência, em mais uma edição do sonho americano, deixou o gato de Boston escaldado.“Ficou, no mínimo, vulgar. Era como se estivéssemos explorando nossa amizade para vender o filme. Pareceu oportunismo barato”, conta.
Damon protege sua vida privada com elegância e garbo. Ele vive em Miami com sua mulher, a ex-garçonete argentina Luciana Barroso, Isabella, a primeira filha do casal, de dois anos, a filha de Luciana Alexia, de oito, e seu mais novo rebento, uma outra menina que estava para nascer quando da produção deste perfil. “É uma loucura, as mulheres predominam mesmo na minha casa”, disse Damon ao jornal USA Today ao anunciar que teria mais uma filha. O ator conheceu Luciana na maior cidade da Flórida, quando filmava a comédia Ligado em Você, com Greg Kinnear, em 2002. Morena, cabelos compridos lisos, sorriso aberto, muito tímida, Luciana é a ‘razão pela qual descobri o melhor lugar do mundo, minha casa’, diz Damon.
Claramente enfadado com a indústria de celebridades de Hollywood, o ator chegou a declarar que ‘jamais prostituiria suas filhas nas páginas de revistas para aumentar a bilheteria da franquia Bourne’. Não que precisasse. Os três filmes da série – A Identidade Bourne, A Supremacia Bourne e O Ultimato Bourne – renderam pouco mais de US$ 524 milhões nos cinemas norte-americanos. Somente a aventura mais recente do ex-assassino profissional Jason Bourne, lançada em 2007 e dirigida por Peter Greengrass, rendeu US$ 227 milhões para a Universal Pictures. O produtor Doug Lyman, que dirigiu o primeiro filme, anunciou em julho a existência de um novo roteiro e que em 2010 a dupla Greengrass-Damon deverá acrescentar mais um filme à sua parceria. O diretor de Vôo United 93 considera Damon o ‘melhor ator de sua geração’ e está neste momento filmando com o amigo o aguardado Zona Verde. No filme político Damon encarna um soldado norte-americano em busca das tais armas de destruição em massa que o governo Bush garantia estarem em território iraquiano, muito bem escondidas por Saddam Hussein.
Para conseguir intercalar as filmagens de Zona Verde e O Informante, sua nova parceria com Steven Soderbergh, que o dirigiu na série One Homens e Um Segredo, Damon teve de se utilizar novamente de uma técnica a ele ensinada por Lyman quando do primeiro Bourne: a prática de boxe. Quando tentava descobrir como seria seu Jason Bourne, Damon ouviu de Lyman que ele ‘deveria experimentar praticar a mais americana da lutas’. “Durante seis meses, treinei todos os dias, sem descanso. Mais do que me colocar em forma e esculpir minha musculatura, o boxe me fez entender como Bourne se movimentaria, olharia, sua noção espacial”, conta.
Sete anos depois ele voltou ao ringue para perder os 14 quilos que ganhou para O informante, sua outra aposta para 2009. No filme ele vive um alto-executivo que decide colaborar com o governo americano em uma investigação contra a própria empresa que trabalha. Menos vaidoso do que a maioria de seus pares, Damon foi tranqüilamente à praia com o novo corpanzil nos intervalos das filmagens. O resultado? Um massacre da imprensa, horrorizada com os pneus à mais e o rosto rechonchudo do homem eleito no ano passado o mais sensual do planeta pela revista People. O ator não se fez de rogado: “Tem grilo não. Agora ganho o título de primo gorducho mais sexy do planeta. Na boa”.
Com um bigodinho, óculos de aros brancos e suéteres daqueles que o vovô usava, ele de fato parece uma década mais velho nas fotos já divulgadas pela produção do filme. Ben Affleck não perdeu tempo e disse que ‘algumas coisas são óbvias, ninguém precisa ficar enfatizando. Vocês sabiam que o Matt agora precisa comprar duas cadeiras quando viaja de avião?”. O primeiro-amigo garantia que ele comera, nos últimos meses, mais doughnuts do que Homer Simpson.
Damon não está nem aí. Sua imagem de galã foi cristalizada de modo surpreendente quando a clínica especializada New England Cryogenics anunciou com toda pompa que as mulheres da Costa Leste americana buscavam desesperadamente o esperma de Matt Damon para os processos de fertilização artificial lá conduzidos. Como nunca conseguiram convencê-lo a ajudar as futuras mães de modo tão direto, os médicos criaram uma equipe para buscar sósias do ator, considerado o DNA ideal por suas clientes. Detalhe: a corrida pela identidade Damon começou justamente depois do lançamento do primeiro Bourne. “Esta série mudou o rumo de minha carreira para sempre”, diz Damon.
Seu Jason Bourne é um anti-herói pouco visto na história dos filmes de espionagem. É um assassino profissional com amnésia que se volta contra as agências de inteligência que o criaram. Não há mocinhos no filme e o Bourne de Damon é também, de certa maneira, uma compilação de muitos de seus personagens mais marcantes, como o frio Tom Ripley e o angustiado Gerry (do filme de mesmo título dirigido por Gus Van Sant). “Eu coloco sempre algo de mim em meus personagens. Não tem jeito”, diz o ator que amargava um auto-exílio na Inglaterra, trabalhando no West End, a Braodway londrina, há seis meses sem receber qualquer convite para estrelar um filme, quando recebeu o telefonema de Lyman.
Baixinho para os padrões holyywoodianos, exatamente como o fã James Mc Avoy, seu James Bond ‘com cérebro e sempre pronto para questionar a lógica do governo’ caiu como uma luva em um cenário marcado por um governo republicano interessado em criar um clima de medo e patrulhismo no dia-a-dia do país. Bourne era o antídoto oferecido pela máquina de sonhos ao Jack Bauer de Kiefer Sutherland no sufocante 24 Horas. Filho das tradições liberais da Nova Inglaterra, Damon nunca deixou de celebrar ‘o indivíduo que enfrenta sozinho a máquina do Estado’ como uma parábola dos tempos neo-conservadores que grassavam em Washington. É este o cerne da série, pontua, que tanto interessou um diretor de posições contundentes como Greengrass a comandar duas – muito provavelmente três – seqüências de A Identidade Bourne.
Seis anos depois da estréia mundial do primeiro Bourne, ele é, para muitos, o maior injustiçado da atual Hollywood, por nunca ter recebido um Oscar de melhor ator. Sua atuação como o corrupto policial Colin de Os Infiltrados foi inegavelmente um dos pontos altos do thriller que daria o primeiro prêmio da academia para o diretor Martin Scorsese. As parcerias com Marty – apelido carinhoso do diretor nova-iorquino – e Robert de Niro (que o dirigiu em O Bom Pastor) são considerados ‘grandes presentes’ pelo ator, que, no entanto, jamais escondeu ter dois grandes parceiros do outro lado da tela: Soderbergh e Greengrass.
O primeiro, “por sua capacidade de editar enquanto filma, algo que só vi igual com Spielberg’. O segundo, pela linha de pensamento similar ao do sofisticado ator. Joan Allen, que em O Ultimato Bourne repete seu papel como a agente Pámela Landy, que causa uma reviravolta crucial na trama, diz que trabalhar com Damon é prazeroso porque funciona quase que como uma extensão do ‘pensamento de Greengrass’. De acordo com Damon, uma definição ‘mais do que generosa’ de sua colega. Não importa. Senhoras e senhores, eis aí Matt Damon. O homem que já iniciou a contagem-regressiva para o novo Bourne, desde já uma das notícias mais importantes do mundo do entretenimento no ano que se encaminha para o fim.
domingo, setembro 07, 2008
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