sexta-feira, setembro 08, 2006

ENTREVISTA / RORY STEWART


O Valor Econômico publicou hoje minha entrevista com o historiador escocês, diplomata, ex-vice rei do Iraque e autor de dois best-sellers aqui nos EUA, Rory Stewart.

UMA TRAGÉDIA AMERICANA

Por Eduardo Graça, para o Valor
08/09/2006

"Há uma sensação de 1968 no ar. Não percebe quem não quer." A frase é de Hendrik Hertzberger, decano articulista político da revista "New Yorker", que pensa menos nos estudantes maoístas em Paris e mais na assimilação, pela América Profunda, da idéia de mais um fiasco militar. Antes, o Vietnã. Agora, o Iraque. O jornalista não está só. Tanto liberais intervencionistas encastelados em Cambridge quanto conservadores cada vez mais irritados com o governo Bush buscam as razões - e um discurso coerente - para explicar o fracasso do projeto do "novo Oriente Médio", elaborado em Washington, que se iniciaria no Iraque pós-Saddam Hussein. O diplomata britânico Rory Stewart está, não por acaso, no centro dessa discussão. Governador durante 11 meses da província de Maysan, território criado por britânicos e americanos no sul do Iraque, ele lançou nos últimos dois anos os best-sellers "The Places in Between" e "The Prince of the Marshes", em que divide com o leitor suas experiências no processo de reconstrução do Afeganistão e do Iraque e se diz "arrependido" de ter acreditado na possibilidade de uma intervenção das forças ocidentais no mundo árabe mostrar-se benéfica. Em uma livraria no Chelsea, em Nova York, Stewart conversou sobre as razões do fracasso. Camisa branca, terno cinza sem gravata, cabelo nigérrimo, olhos azuis brilhantes, muito magro, Stewart fala com pesado sotaque escocês. Inicialmente, passa uma impressão de fragilidade, que pode enganar o ouvinte apressado.

"Uma das tentativas de explicar este revés é apontar para a falta de inteligência, de planejamento, de Washington. Ou se deter sobre certos personagens, como [o presidente] Bush ou o secretário [Donald] Rumsfield. Mas a reconstrução dos países árabes também não funcionaria com uma estratégia mais sofisticada", afirma Stewart. "É verdade que não estávamos preparados para o tamanho da reação da população iraquiana e muitos erros foram cometidos. E é preciso reconhecer que não temos recursos, vontade política e preparo para governar um país em que a grande maioria da população não quer que estejamos lá. É uma irreflexão, e uma irreflexão perigosa, culpar este governo pelo fracasso, como se pudéssemos fazer isso de forma melhor no futuro."

Outro ardoroso ex-defensor da invasão do Iraque, Thomas L. Friedman, do "New York Times", um dos articulistas mais influentes do país, discorda de Stewart. Ele escreveu que o desastre no Iraque se deve à teoria Rumsfield de ocupação, baseada na menor utilização possível de tropas, para diminuir a resistência da opinião pública americana, oposta à teoria Colin Powell, que defendia o envio de um contingente maior de soldados e investimento pesado em segurança, para conter eventuais rebeliões.



Um político ligado à Casa Branca disse à imprensa que o presidente Bush, em conversa com funcionários de alto escalão do Pentágono, revelou-se profundamente insatisfeito com os rumos da ocupação do Iraque, especialmente depois de ver pela TV milhares de pessoas, nas ruas de Bagdá, manifestando-se a favor das ações do Hezbollah em resposta ao bombardeio do Líbano por Israel.

Bush também teria demonstrado desapontamento com o governo xiita, que nunca agradeceu publicamente aos EUA por seus esforços e sacrifícios na liberação do Iraque. Recentemente, o embaixador Paul Bremer, governador-geral do Iraque por 14 meses e superior imediato de Rory Stewart, revelou que, de fato, Bush esperava que as diversas facções do mundo árabe viessem de público agradecer o "desprendimento" dos EUA.

Stewart, que, como diplomata, recebeu a Ordem do Império Britânico pelos serviços prestados à rainha no Iraque, era um oficial da infantaria britânica quando percorreu boa parte do Oriente Próximo, da Turquia até Bangladesh. Participou da força internacional de ocupação na Bósnia e no Kosovo e governou mais de 850 mil pessoas em Maysan, uma área de população predominantemente xiita no Afeganistão.

Suas andanças pela Ásia o deixaram com poucas ilusões sobre a possibilidade de a cultura ocidental ser transposta para o Oriente Médio. "Em Maysan, as pessoas odiavam profundamente o regime de Saddam. Parecia fácil envolvê-las na reconstrução do país. Mas logo nos demos conta de que teríamos de enfrentar, ao mesmo tempo, a imensa pobreza, a ausência de um governo central, a destruição da economia e da infra-estrutura e as divergências de interesses entre as lideranças locais", conta.

Stewart diz que todos os líderes regionais acreditavam ter direito a uma fração de poder no novo governo. Alguns eram líderes religiosos, enquanto outros representavam tribos seculares. Muitos haviam voltado do Irã depois de duas décadas de exílio. As alianças entre eles eram frágeis e os partidos políticos, proibidos durante o governo Saddam, agora eram 54, apenas em Maysan.

"Hoje, vejo que um iraquiano teria vantagem em relação a alguém como eu. No mínimo, saberia reconhecer a hierarquia das famílias no tabuleiro político, teria noção melhor do contexto em que circulam. Eu, um estrangeiro, não tinha como compreender o funcionamento daquela engrenagem", admite Stewart.

O governo de ocupação, comandado por americanos e britânicos, buscou trabalhar com aquela parte da população iraquiana - em geral, profissionais liberais da classe média - que havia estabelecido algum tipo de contato com a cultura ocidental - pessoas que valorizassem a idéia de se estabelecer em seu país, a partir de invasão armada, uma democracia pluralista, e que eram classificadas pelos estrategistas ocidentais como "moderadas". Seriam futuros "exemplos" de líderes iraquianos.

Stewart ficou muito próximo de um desses iraquianos, que, em "The Prince of the Marshes", chama de Ali. Era um jovem de 26 anos, que havia se formado na Universidade de Bagdá, falava inglês fluentemente e acreditava na implantação de um programa de direitos humanos e justiça no país. "Ele acreditava que esta era a oportunidade de se erguer um país mais justo, mais democrático. No entanto, percebi que estava completamente divorciado da realidade da política local. Era, também, um alienígena completo para as pessoas que, de fato, controlavam aquele lugar", relembra Stewart. Ali foi morto a tiros quando entrava em seu carro, em Maysan, aparentemente executado por uma milícia ligada ao atual governo.



"Foi um erro de proporções trágicas invadir o Iraque", diz Rory Stewart, comentando em seu livro "a imensa ignorância ocidental"

Stewart afirma que esse é um exemplo extremo dos problemas que qualquer coalizão de forças ocidentais vai enfrentar em países como o Iraque ou o Afeganistão. Ele pergunta, olhos fixos no público da livraria: "De que adianta buscar pessoas muito bem-educadas, que possam se tornar líderes comprometidos com ideais democráticos, se carecem de representatividade entre a população local?"

Em abril de 2004, oito meses depois de sua chegada a Maysan, Stewart via claramente a insatisfação da população, mesmo dos xiitas, que odiavam Saddam, com o fato de serem governados por estrangeiros. Há no Iraque, diz, um forte sentimento nacionalista e islâmico, que a invasão apenas reforçou. Alguns reclamavam da falta de progresso econômico, outros de progresso político. Insurretos comandados por um antigo aliado iraquiano cercaram a sede do governo. Stewart escapou por pouco.

Foi na primavera de 2004 que uma milícia de iraquianos atacou os funcionários terceirizados contratados para trabalhar na prisão de Fallujah. Alguns dos sobreviventes deram depoimentos marcantes ao cineasta Robert Greenwald, contando como alguns de seus colegas foram arrastados pelas ruas e enforcados na ponte da cidade. Diretor conhecido do público americano por seus documentários contra Rupert Murdoch e a rede de supermercados Wal-Mart, Greenwald lança seu "Iraque à Venda: Quem Lucrou com a Guerra", focado na atividade das empresas que trabalham para as forças de ocupação. O filme tenta, diz Greenwald, fazer com que as eleições parlamentares de novembro nos EUA sejam nacionalizadas a partir de um tema: o fracasso americano no Iraque.

Em "Iraque à Venda", as empresas contratadas para reconstruir e reorganizar o Iraque - em sua maioria, dirigidas por ex-altos funcionários dos governos Reagan, Bush pai e Bush Jr. - não aparecem apenas como assaltantes do contribuinte, quando cobram US$ 45 do governo por uma caixa com seis garrafas de Coca-Cola, mas também são denunciadas pelo modo irresponsável como atuam, que ameaçaria os cidadãos iraquianos, as tropas americanas e seus próprios empregados. Entre os vilões do filme estão a Blackwater Security Consulting, que oferece segurança privada (guarda-costas) em países em convulsão crônica; a KBR, subsidiária da Halliburton, responsável por suprir quase todas as necessidades dos militares, de combustível a comida e banheiros químicos; e a Caci International, que fornece funcionários para as mal-afamadas prisões de Fallujah e Abu Ghraib , também incumbidos de interrogar prisioneiros.

Uma das principais críticas à expedição americana no Iraque é justamente a de ter permitido às corporações privadas fazerem o que bem entendessem por lá. De fato, nada saiu como anunciado pela Inspetoria Especial para a Reconstrução do Iraque, criada em 2003. Os lucros do petróleo, inicialmente, seriam destinados para a restauração da eletricidade em toda Bagdá e investimento pesado em saneamento básico e infra-estrutura. No entanto, de acordo com o próprio Departamento de Estado, 45% dos projetos envolvendo água potável sequer saíram do papel e um terço dos projetos relacionados à geração de energia elétrica estão parados.

Três anos depois, nem mesmo a menina-dos-olhos da primeira-dama Laura Bush, o hospital para crianças que seria construído pela Bechtel, foi inaugurado. Detalhe: a empresa já avisou que exauriu o orçamento e precisa de mais dinheiro público para colocar o hospital em funcionamento. E dezenas de investigações estão sendo feitas para apurar possíveis irregularidades em contratos assinados por empresas envolvidas no programa de reconstrução.

Stewart estava no Iraque quando a população reclamava da falta de energia elétrica em Bagdá. "Por que não resolvem de uma vez esse problema? Ora, ainda não resolvemos no Kosovo, sete anos depois da intervenção. O fato é que é bastante difícil implementar esse tipo de investimento com eficiência, mesmo em lugares como o Kosovo, onde a população era menor, cerca de 500 mil habitantes, e mais receptiva."

Os números do malogro americano impressionam: em três anos, mais de 2.500 soldados morreram no Iraque, outros 20 mil de lá saíram seriamente feridos ou incapacitados e pelo menos 75 mil iraquianos morreram em conflitos internos com os americanos. E há os gastos, que já ultrapassam os US$ 350 bilhões. Mais: apesar de toda a atenção dada pela mídia aos conflitos no Líbano, mais gente foi assassinada no Iraque (uma média de 100 por dia) do que nas batalhas entre Israel e o Hezbollah.

Jessica Stern, especialista em terrorismo de Harvard, , autora de "Terror em Nome de Deus: Por que Militantes Religiosos Matam", diz que Washington criou no Iraque algo inédito, uma espécie de "nação-escola de terrorismo, com um Estado completamente incapacitado de proteger suas fronteiras nacionais ou mesmo suprir as necessidades mais elementares de seus cidadão". Mesmo assim, no mês passado, a ocupação do Iraque ultrapassou importante barreira psicológica: as forças armadas do país já estavam há mais tempo lutando em solo nacional do que o fizeram em toda a campanha da Segunda Guerra Mundial.

Intelectuais americanos das mais diversas linhas de pensamento apontam para o perigo da falta de conexão entre o cidadão americano - as mais recentes pesquisas mostram que mais de 65% consideram a invasão do Iraque um equívoco - e a diplomacia de Washington, algo comparável justamente com o quadro pintado por Hendrik Hertzberger para lembrar as semelhanças com 1968..

A lógica do prolongamento da agonia, que empurrou o governo Lyndon Johnson para o atoleiro do Vietnã, pode repetir-se agora no governo de George W. Bush. Não se sabe ao certo por que as tropas permanecem em Bagdá, nem por que tiveram de ocupar o país. Autor de "Fiasco: a Aventura Militar Americana no Iraque", o jornalista Thomas E. Ricks, do "Washington Post", vai direto ao ponto: "Não há mais esperança alguma para a vitória". O embaixador Charles Freeman Jr., que serviu na Arábia Saudita durante o governo de Bush pai, vai além. "O que quer que aconteça no Iraque terá repercussões sobre o exercício do poder americano, não apenas no Oriente Médio, mas em todo o mundo".

Como, então, encontrar internamente, em um ano de eleições legislativas, o discurso mais seguro para assimilar a derrota? Deverá ser um discurso que, como lembra Hertzberger, inevitavelmente terá de levar em conta os danos ao prestígio moral dos EUA, os níveis recordes de antiamericanismo no mundo árabe e na Europa, o crescimento da ameaça nuclear no Irã e na Coréia do Norte, o avanço do terrorismo e mesmo a necessidade de se combater o "fascismo islâmico", denominação criada pelos neoconservadores para abrigar os financiadores do Hezbollah, que, no entanto, não se encontram em solo iraquiano. A tarefa é das mais árduas. Neste momento, apenas Washington e os neoconservadores abrigados no "The Wall Street Journal" e na "Weekly Standard" parecem negar em público o que Rory Stewart classifica como absolutamente óbvio.

Mas vem do ex-governador da província de ficção criada por britânicos e americanos no Iraque a pista para democratas e republicanos encontrarem um discurso possível. Stewart diz que viveu uma das experiências mais caóticas das últimas décadas. E que carrega consigo uma profunda sensação de fracasso. "Em meus livros, procurei enfatizar a imensa ignorância ocidental. Alguns americanos citam o escritor V. S. Naipaul e sua afirmação de que a experiência britânica na Índia, no fim, foi positiva, pois teria desmantelado uma sociedade tribal e desigual e implantado a obediência à lei para todos. Por favor, olhem para a colonização britânica no Afeganistão ou mesmo no Iraque e vejam o resultado. Os iraquianos sabem mais de si mesmos do que nós", afirma Stewart. E completa: "Temos de sair de lá. Foi um erro de proporções trágicas invadir o Iraque. E precisamos parar com a chantagem de que, se admitirmos a derrota, o país entra em guerra civil. Balela. Nossa presença tem tido uma conseqüência imprevisível: estamos unindo sunitas e xiitas, que vêm falando, e não apenas no Iraque, e cada vez mais, de um Islã unificado. Acredito que eles vão conseguir se entender e enfrentarão os radicais com mais legitimidade. E se, como diz Thomas L. Friedman, realmente precisamos de mais de 135 mil soldados para controlar o Iraque, então essa é a tradução maior do grande fracasso das potências ocidentais ne terrível aventura iraquiana".

Diretinho da Redação (49)



A coluna da semana, sobre o filme Torres Gêmeas, de Oliver Stone, que estréia no dia 28 no Brasil, já está no DR.

TORRES GÊMEAS E UMA OUTRA HIST HISTÓRIA DOS ATAQUES TERRORISTAS A NOVA IORQUE

Na segunda-feira se completarão cinco anos desde os atentados terroristas de 11 de Setembro. Nas telas de cinema de Nova Iorque uma das opções para o cinéfilo desavisado é pagar dez dólares para reviver o dia fatídico, apresentado por Oliver Stone em seu “Torres Gêmeas”, que estréia no Brasil no próximo dia 28 . Durante as filmagens, gastou-se saliva e tutano com a reclamação de alguns familiares das vitimas da destruição do World Trade Center. Estes diziam que Hollywood explorava economicamente a tragédia que para eles era ainda tão recente. No flanco republicano, dizia-se que o público norte-americano ainda não estava preparado para um relato tão ‘realista’, sem concessões à ficção, como prometia Stone. Temia-se um novo “JFK”.

Surpreendentemente, as primeiras sessões de “Torres Gêmeas”, agradaram em cheio parte do público que, acreditava-se, poderia sair ofendido das salas de cinema. Depois do fiasco de “Alexandre”, um filme sobre um conquistador obstinado em levar os valores da civilização ocidental para a Mesopotâmia a qualquer preço, no mesmo momento em que os EUA iniciavam sua ocupação fadada ao fracasso no Iraque, Stone decidiu agradar a gregos e americanos. E o fez de modo assombroso.

“Torres Gêmeas” é, um mês depois de sua estréia nos EUA, celebrado efusivamente pela direita mais raivosa. É também um filme fraco. A ação gira em torno da história real de dois policiais que seriam retirados com vida dos escombros do WTC no fim daquele dia 11. Talvez assombrado pelo fracasso de “Alexandre”, Stone dá as costas para a História. E não oferece qualquer reflexão aos espectadores sobre os motivos, as seqüelas, os antecedentes do 11 de Setembro. Ao contrário, aproxima perigosamente seu filme de um discurso muito caro aos conservadores – o de que a infâmia terrorista serviu para despertar os valores mais nobres do homem comum dos Estados Unidos. Sua crença na família, nos valores cristãos, na honra e no excepcionalismo dos heróis ianques.

“Torres Gêmeas” pode ser visto apenas como mais um enorme desperdício de dinheiro de Hollywood e um degrau abaixo na produção artística de um dos mais interessantes diretores do cinemão americano. Mas sua perversidade histórica – explicitada ao insinuar que haveria de fato, quem sabe, uma conexão entre o governo iraquiano e a Al-Qaeda – resulta em um maiores desserviços prestados à compreensão de momento histórico tão crucial. Não há dúvidas de que Oliver Stone se reencontrou, em seu mais recente filme, com a América Profunda. Mas a um preço altíssimo.

quarta-feira, setembro 06, 2006

ENTREVISTA/ OLIVER STONE

A edição de setembro da revista Continente Multicultural, nas bancas brasileiras, traz na capa uma série de reportagens sobre os cinco anos dos ataques terroristas do 11 de Setembro. Entra elas minha entrevista com Oliver Stone, o diretor de "Torres Gêmeas", que estréia nos cinemas brasileiros no dia 28.

STONE E O MITO DO HERÓI AMERICANO

Novo filme de Oliver Stone, o "cineasta maldito" de JFK e Platoon, surpreende pela abordagem sentimental dos heróis do World Trade Center e é aclamado pela direita norte-americana


Por Eduardo Graça, de Nova York

Bastidores do Festival de Cinema de Chicago. Nicholas Cage aproxima-se de Oliver Stone e pergunta, sem mais rodeios: “Meu caro, como é que nós nunca trabalhamos juntos?”. O diretor, espirituoso, não perde a deixa: “E você me faria um preço camarada?”. Cage sorri. Meses depois ele estava debruçado sobre o roteiro de Torres Gêmeas, o filme de Stone que procura contar, a partir do resgate de dois policiais nova-iorquinos dos escombros do World Trade Center, a história do 11 de Setembro de 2001. Um filme, de acordo com todos os envolvidos na produção, apolítico. Como se tal objetivo fosse possível.

Os brasileiros que forem aos cinemas, a partir do dia 28 de setembro, a fim de se reencontrar com o diretor de JFK ficarão desapontados. Nas Torres Gêmeas de Stone não há tempo para metáforas, digressões, teorias conspiratórias. O filme não pretende ir além da experiência, das sensações, do choque que os norte-americanos viveram naquele dia fatídico. Aqui não há nem mesmo o aspecto documental, mais rígido, utilizado por Peter Greengrass em seu Vôo 93. Torres Gêmeas se passa quase que exclusivamente no chamado Ground Zero. E é centrado na história – real – dos policiais John McLoughlin (Nicholas Cage) e Will Jimeno (Michael Peña), duas das últimas vítimas a serem retiradas com vida dos escombros do World Trade Center, e de suas famílias.



Cabelo esgarçado, um terno cinza que destoa de sua camisa lilás, Stone se confessa exaurido. Na suíte do Hotel Regency, em Manhattan, ele trata das surpresas da Copa do Mundo de Futebol antes de encarar o repórter. E, seguindo a receita de seu ator principal, vai direto ao ponto: “Francamente, acho que há um equívoco fundamental na análise das pessoas sobre o que venho fazendo nos últimos 30 anos. Eu me vejo como um simples dramaturgo do cinema. Sempre quis dramatizar a vida, contar histórias. Algumas eram mesmo políticas, como JFK, mas poderia lhe dizer que aquela é, também, uma história de detetive, à maneira de um Rashomon, de Kurosawa, ou de um Z, de Costa-Gavras. Nixon e Alexander eram biografias. O ponto é que nunca me considerei um cineasta político. Não é que não goste do termo. Mas não sou um polemista. A própria definição de cinema engajado – engagé – passa longe de meu trabalho. Ela se aplica a um Costa-Gavras, a um Rossi, a um Pontecorvo, quem sabe até mesmo a Goddard. Nunca estive lá. Sempre fui um pensador livre, pouco ortodoxo, radicalmente independente”.

Em Torres Gêmeas, é bom que se lembre, os dois personagens principais não têm a mais vaga idéia da motivação por trás do atentado. Não se fala de Al Qaeda, de Osama bin Laden, de guerra santa. Nem se vê a imagem dos aviões adentrando os arranha-céus. A perspectiva é sempre subjetiva, de dentro dos prédios. As figuras do presidente George W.Bush e do então prefeito de Nova York Rudy Giuliani, virtual candidato republicano à Presidência em 2008, no entanto, aparecem na tevê, de forma compungida. “Olha, é possível contar a história do 11 de Setembro de muitas maneiras. Pode-se contar do ponto de vista dos árabes, do de Bush. Torres Gêmeas é a história que eu quis contar. Diria que Torres é mais hollywoodiano, por exemplo, do que o Vôo 93 de Greengrass, um filme que, aliás, adorei. Aqui queremos estabelecer uma conexão entre o público e os policiais e suas famílias, em uma abordagem, diria, mais tradicional, à la Frank Capra”, segue Stone.

Depois de duas horas de projeção, é óbvio que Stone faz mais do que isso. Não são apenas os dois policiais que são resgatados, mas suas famílias, e a crença nos valores mais caros da classe média norte-americana. Aqui, não se louva apenas a coragem dos heróis ianques, mas sua honra e seu Deus. Se este é um raio-x “capriano” da América do século 21, a harmonia e a união nos momentos mais difíceis, a transmutação da tragédia em mito refundador da sociedade norte-americana são, no mínimo, conformistas.

Rosto sério, olhos semicerrados, Nicholas Cage não sorri sequer um momento durante a meia hora de entrevista. Conta que o filme foi uma resposta às “minhas preces”. Que queria muito fazer algo que inspirasse as pessoas, que ajudasse outros seres humanos. “Não sou um ser político e acho que contar a história de John é uma maneira de todos nós nos purificarmos, de curarmos nossas feridas. Digo mais: se eu começar a falar dos aspectos políticos do pós-11 de Setembro serei injusto com o filme”, diz. Talvez Cage já temesse o que as primeiras projeções de Torres Gêmeas para platéias selecionadas parecem sugerir: este é, também, o filme da reabilitação nacional de Oliver Stone, de seu reencontro com a América Profunda. O odiado cineasta de JFK vem sendo saudado pela direita mais raivosa dos EUA como seu novo campeão. “Este é um dos filmes mais pró-EUA, mais pró-família jamais feitos. Saímos dos cinemas agitando a bandeira nacional e cantando ‘God Bless America’”, diz o comentarista conservador da rede Fox, Carl Thomas.



Não há sinal de Michael Moore nas Torres de Stone, muito menos concessões às muitas teorias conspiratórias que sugeriam uma ligação de Washington com os terroristas. “É claro que estou ciente de que as conseqüências do 11 de Setembro foram muito piores do que aconteceu naquele dia. Tivemos muito mais mortes, o terrível ataque à Constituição e às liberdades civis, sem falar no fato de que vivemos sob o domínio do medo. Estamos pagando um imenso preço por conta de nossas reações ao ataque. Mas esta é outra história. Torres é sobre o resgate destes dois homens daquele inferno. E mesmo o fuzileiro naval que expressa seu desejo de vingança oferece uma reação emocional, e não política”, diz Stone.

Não deixa de ser irônico ler, agora, o editorial do jornal mais direitista do país, o Washington Times, defendendo entusiasticamente o filme de Stone. “Mas o importante é a história destes dois homens, dos policiais! Quando li o script, quis conhecê-los pessoalmente e isso me fez um bem enorme, sabia? Eu queria que o público apenas se deixasse levar pela emoção. Mais nada.”, diz o diretor, ecoado por Cage: “Juro que não tivemos sequer uma conversa sobre o aspecto político do 11 de Setembro. O tempo todo pensávamos apenas em ser o mais realista possível. O que há de mais bonito nas Torres Gêmeas é o fato de que, para sobreviver, aqueles dois homens tiveram de se transformar em um só”.

Ainda em 2001, em um outro festival de cinema, o de Nova York, poucas semanas após o ataque às Torres, em uma mesa-redonda chamada “Fazendo Filmes Que Marcam”, alguém da audiência perguntou a Stone como seria um filme seu sobre o 11 de Setembro. Ele respondeu que certamente seria algo que lembrasse A Batalha de Algiers, o clássico do engajado Gillo Pontecorvo, um filme que mostrasse como o terrorismo do novo milênio funcionava na cabeça de árabes e norte-americanos. Disse ainda mais – ‘que se ele fosse filmado de modo realista, sem a busca de um herói, teria um resultado ainda mais fascinante’. Cinco anos depois, Torres Gêmeas é, curiosamente, a exata antítese desta descrição.

THE LOOMING TOWER - Lawrence Wright

Também parte do especial sobre os cinco anos do 11 de Setembro na Continente Cultural, meu texto sobre o sensacional livro do repórter Lawrence Wright, da revista The New Yorker, The Looming Tower.

TERROR E HUMILHAÇÃO


Livro do jornalista e acadêmico americano Lawrence Wright explica as raízes do ódio muçulmano e tenta responder à pergunta: o terrorismo é inevitável?

Por Por Eduardo Graça, de Nova York

Um dia antes de Torres Gêmeas de Oliver Stone estrear nos cinemas americanos, um outro thriller sobre o atentado de 11 de Setembro de 2001 invadiu as livrarias da cidade. The Looming Tower – Al-Qaeda And The Road to 9/11, do jornalista Lawrence Wright, ainda sem editora no Brasil, já é considerado pela crítica a mais importante análise sobre a teia de eventos que levaram o ataque ao centro do império.

Repórter da revista New Yorker, professor da Universidade Americana do Cairo, no Egito, e um dos nomes mais respeitados do Centro de Direito e Segurança da New York University (NYU), Wright escreve para um leitor que busca, cinco anos depois de terroristas sauditas explodirem um Boeing 767 na torre norte do World Trade Center, entender o que de fato aconteceu naquele dia e se haveria uma maneira de se prevenir outros atentados. O terrorismo que nos cerca é inevitável?



Para responder a esta pergunta, Wright nos transporta para os subúrbios de capitais árabes, penetra na vida isolada das mesquitas da Europa Central, apresenta-nos à busca desesperada pela ordem tanto nos rincões pobres do Paquistão quanto nos subúrbios ricos e vazios do meio-oeste americano. Wright nos apresenta a John O’Neill, o comandante do FBI em Nova York, personagem shakespeariano, que trabalhou até o último segundo para desmantelar a Al-Qaeda e que acaba perecendo justamente no ataque às Torres. E a um outro Osama Bin-Laden, baixote, humilhado e destratado pelos revolucionários afegãos, que não conseguem entender como um “guerrilheiro pode ser tão fraco de saúde, tão preguiçoso”.

A intensificação da violência nos últimos cinco anos vem se caracterizando como algo mais complexo do que um “choque das civilizações”, na visão simplista dos conservadores norte-americanos. The Looming Tower bate fundo no perigo da co-existência do fundamentalismo islâmico apoiado por Estados religiosos radicais como o Irã e o antigo Talibã com sua contrapartida cristã, apoiada por um status quo de extrema-direita, fantasiado de “democracia evangelizadora”. Um dos personagens mais fascinantes deste estudo impressionante da miséria de idéias do mundo contemporâneo é Sayyid Qutb, principal ideólogo do que os republicanos de Washington agora chamam – em uma referência à Segunda Guerra Mundial, à luta contra o totalitarismo e ao ataque aos judeus – de “fascismo islâmico”. Wright nos conta que Qutb escreveu quase toda a sua obra a partir da sua experiência como visitante-convidado da Universidade do Colorado, em 1940. E de seu horror aos excessos e preconceitos de uma sociedade que parecia destinada a engolir o mundo por meio de sua crença em uma superioridade ética que, no entanto, não se comprovava na prática. Diante de seus escritos, Osama, escreve, é um “teólogo amador”.

Wright tem horror ao fundamentalismo islâmico. Mas não tem medo de afirmar que suas raízes estão em uma experiência profunda de humilhação. Não apenas as classes mais baixas, mas mesmo os que têm acesso à educação sentem na pele as privações da ocupação, termo que um norte-americano comum, assim como um brasileiro, que nunca viveu a sujeição diária, a necessidade de se obedecer ao estrangeiro, ao estranho, para sobreviver, não pode compreender com exatidão.

“Os líderes da Al-Qaeda se revelaram, muitas vezes, amadores incompetentes que tinham de se reerguer depois de cada um dos muitos revezes que sofreram. Mas a organização que eles criaram tinha apenas um único objetivo em mente e permaneceram fiéis a seu objetivo. No caso do 11 de Setembro, os conflitos burocráticos e rivalidades entre CIA e FBI, sua falta de profissionalismo mesmo, jogaram contra uma inegável vantagem que os EUA tinham sobre os seus adversários e que poderia ter impedido a catástrofe”, escreve, por e-mail, Wright, no dia em que agentes britânicos impediram mais um ataque terrorista aos EUA. Mas, então, um novo 11 de Setembro pode ocorrer a qualquer momento? The Looming Tower não termina aqui em Nova York. Não por acaso, o cenário, em março de 2002, é a fronteira do Afeganistão com o Paquistão:

Apesar de toda a artilharia, um grupo de homens à cavalo segue rumando para o Paquistão. Eles chegam a uma aldeia e conversam com o líder local, Gula Jen. Seu turbante negro e longa barba faz com que ele pareça um talibã. Quatro dias depois, Jan contaria aos americanos que havia sim ‘visto um homem gordo, velho, árabe, com grossos óculos negros e um turbante branco. Ele se vestia como um afegão, mas portava um manto muito bonito, que não se vê por aqui, e viajava ao lado de dois outros árabes, que não tinham suas faces à mostra”. O homem do turbante branco desceu do cavalo e conversou com Jan de forma especialmente polida e graciosa. Ele perguntou a Jan a localização das tropas anti-talibã que haviam invadido o país. Enquanto eles conversavam, Jan olhou de relance para o panfleto que havia sido jogado por aviões americanos dias atrás. Ele mostrava a foto de um homem com óculos e um turbante branco. Tinha um calo negro em sua testa, certamente resultado de horas dedicadas à louvação de Allah. O panfleto também dizia que a recompensa por aquele terrorista era de 25 milhões de dólares. Jan voltou a conversar com aquele que ele agora acreditava ser o Dr.Ayman Al-Zawahiri, egípcio e principal ideólogo da Al-Quaeda. Ele lhe disse ‘que Allah o abençoe e mantenha-o a salvo dos inimigos do Islã. E, por favor, se for possível, tente não revelar a eles de onde viemos e para onde iremos, quando eles chegarem”. Havia um número no panfleto, mas Jan não possuía um aparelho telefônico. Zawahiri e os homens mascarados desapareceram pelas montanhas.

ENTREVISTA/ Uma Thurman

A edição desta semana da revista Contigo! traz minha entrevista com a atriz Uma Thurman, protagonista de Minha Super Ex-Namorada, comédia em cartaz nos cinemas brasileiros.

UM MULHERÃO QUE GOSTA DE COLO

Por Eduardo Graça, de Nova York


No filme Minha Súper Ex-Namorada, que estréia sexta, ela é trocada por outra e parte pra cima. Na vida real, a atriz diz que prefere homens fortes:''Busco alguém que possa me dar apoio e carinho''


Aos 36 anos, linda como nunca, queimada de sol - efeito adquirido após férias ao lado do namorado, o empresário André Balazs, em Saint Tropez, em julho -, Uma Thurman é, definitivamente, uma supermulher. Nas telas, ela o é, literalmente, a partir desta sexta (1°), quando estréia a comédia Minha Súper Ex-Namorada. No filme, a atriz é G-Girl, uma heroína dotada de superpoderes, que tem de lidar com o fato de ser abandonada pelo arquiteto Matt Saunders (Luke Wilson), interessado em outra mulher. No longa, a vingança de sua personagem é turbinada por maldades (hilárias, é bem verdade).



Na vida real, há quase três anos ela se separou do ator Ethan Hawke, 35, após cerca de seis anos juntos e com quem teve dois filhos, Maya Ray, 8, e Roan, 4. O casamento terminou com Hawke flagrado na cama de um hotel com uma modelo canadense de 22 anos. Entre as muitas explicações que deu, o ator contra-atacou, justificando sua atitude como troco à traição de Uma, que também estaria tendo um caso com o diretor Quentin Tarantino, 43, durante as filmagens de Kill Bill 1 e 2 (o que nunca foi confirmado por nenhum dos dois). Resultado: um divórcio nada amigável. É quase inevitável pensar que sua G-Girl oferece a oportunidade perfeita para a atriz reagir com humor, no cinema, à sempre desagradável experiência de ser abandonada ou trocada. Sobre isso e muito mais, ela falou a Contigo!.


Namorar uma supermulher, assim como você, não é para qualquer um...

Definitivamente, não é fácil namorar uma mulher famosa. Quem tem paciência? Qualquer cara mais legal que possa escolher entre uma mulher bonita e uma famosa vai escolher a mais normal das duas, não acha? É muito complicado se envolver com uma pessoa famosa.

Tem alguma preferência no equilíbrio de forças em um relacionamento?

As pessoas são diferentes, claro, mas eu prefiro estar com alguém mais forte do que eu. Conheço mulheres que gostam de ficar com menininhos, de carinhas bonitas. Mas, se eu pudesse escolher, iria buscar alguém que pudesse me dar apoio, carinho e uma espécie de sabedoria, sabe? E, graças a Deus, existe uma imensa variedade de homens neste mundo (risos).

Acredita que o filme é, de alguma forma, contra os homens?

Olha, ele foi escrito e dirigido por um homem, produzido por um grupo de homens, comigo no papel-título. Sou eu contra sete homens (risos)! Então acho que o filme é tanto um pesadelo para os homens quanto uma catarse das mulheres que ficam loucas ao serem abandonadas. Agora, claro, eu jamais faria um filme que não fosse a favor das mulheres!

Você se acha uma feminista?

Não conheço o feminismo a fundo para me dizer feminista, mas sou independente desde os 15 anos, quando saí de casa e comecei a trabalhar como modelo. Vivo como uma mulher independente a partir daí e hoje cuido de minhas crianças. Acho que minha experiência exemplifica bem como é a vida de uma mulher que trabalha duro. Com prazer e privilégio, claro, pois muitas mulheres penam mais do que eu.

E usa seus "superpoderes" para criar seus filhos? Criá-los sozinha é barra?

É um desafio, sim. Mas sofro as mesmas dificuldades que qualquer mulher, que trabalha fora sofre. E, hoje, nem é uma questão tão importante para mim, a batalha. Sou tão feliz por tê-los. E meus filhos são maravilhosos, uns anjos. Sou, na verdade, uma mãe muito coruja.

Mas se pudesse escolher ter apenas um dos superpoderes da G-Girl na vida real, qual escolheria?

Ah, adoraria poder voar. Mas o que ela faz na cama neste filme com o Luke também seria útil para qualquer mulher (risos).

Você se acha engraçada, divertida em cena?
Eu sempre achei que poderia fazer as pessoas rirem se tivesse a chance. Mas há 20 anos que venho tentando fazer uma comédia e ninguém me levava a sério, quer dizer me dava um papel. Aí fiz Os Produtores e agora Minha Súper Ex-Namorada. Eu adoro as comédias. Acho muito mais divertido fazer mulheres engraçadas e à beira de um ataque de nervos do que guerreiras que andam para cima e para baixo com espadas de samurai (risos).

Por que demorou tanto para fazer comédia?
Eu era uma pessoa muito mais intensa quando jovem. Mais intensa e mais tensa também (risos)! Digamos que eu tinha uma certa atração por coisas mais pesadas, que queria muito ser uma "atriz mais séria, densa", seja lá o que isso for. Decididamente, não queria ser mais uma "carinha bonitinha" em Hollywood, sabe? Por causa disso, acabei me divertindo menos do que devia.

Acha que sua forte presença (ela tem 1,83 metro de altura), que é notória e impossível de não ser notada, atrapalhou um pouco seus planos?

Pode ser que sim. Tenho esta aparência que certas pessoas consideram ser uma "beleza mais clássica". Sou mais alta do que a média. Acho que acabei ficando com uma marca de "atriz européia", "exótica", quando nada mais sou do que uma típica moradora de Nova York, criada em Massachusetts e por uma família bem normal. Nossa única excentricidade foi ter passado, quando eu era adolescente, um ano na Índia. Isso aconteceu porque meu pai era um acadêmico.

Mesmo assim, você se tornou uma das atrizes mais poderosas em Hollywood…

Engraçado, não me sinto nada poderosa. Cada vez que encontro o papel certo, o filme certo, é um milagre! Eu já estive na lista das 10 mais de Hollywood tantas vezes quanto estive na das 10 menos. Sobreviver como atriz, para mim, também é outro milagre.

E quais são seus planos para o futuro?
Crescimento pessoal, estar mais aberta para os desafios da vida e ter, sempre, uma atitute positiva.

ENTREVISTA/Luke Wilson

Na mesma edição da Contigo! foi publicada minha entrevista com o par romântico de La Thurman na comédia Minha Super Ex-Namorada, o ator texano Luke Wilson.

Solteiro à procura...

Por Eduardo Graça, de Nova York

Ele sempre foi fã de caminhadas e corridas, e muito mais adepto delas do que das aulas de arte dramática. Mas Luke Wilson, 34 anos, o caçula (e mais bonito) de uma família texana bem-sucedida - pai, Robert, executivo de uma agência de publicidade, e mãe, Laura, fotógrafa -, foi levado a atuar pelos irmãos mais velhos, Owen, 37, e Andrew, 42.Depois de devidamente apresentado a Hollywood, aos 23 anos, ele se fartou das benesses do seleto clube, entre elas a facilidade de namorar beldades, como Drew Barrymore, 31, com quem morou por dois anos (de 1997 a 1999), e Gwyneth Paltrow, 33, com quem teve um breve namoro em 2001. Agora, solteiro, tem se divertido com várias amigas. Todas desconhecidas das telonas e nenhuma delas, por enquanto, candidata a ganhar uma aliança.Enfiado em uma calça jeans justa, o educado Luke, com seu sorriso manso, recebeu Contigo! na suíte de um hotel em Manhattan, com um copo de uísque nas mãos para falar do fime Minha Super Ex-Namorada, que estréia sexta (1o). A seguir os melhores trechos desse encontro.


Você namorou mulheres poderosas, como Drew Barrymore e Gwyneth Paltrow. Também penou na hora de terminar a relação?

Não (risos)! Tudo sempre foi muito pacífico, juro. Mas sabe que o meu irmão mais velho, o Andrew, teve uma namorada que botou fogo em algumas páginas de jornais e incendiou o teto solar do carro que estava na porta de casa? Foi radical. O pior era que o carro pertencia ao meu outro irmão, o Owen, que ficou furioso (risos)!

Por falar em Owen, ele esteve no Rio há pouco, você não tem planos de ir ao Brasil?

Eu nunca fui ao Brasil e é um de meus sonhos, sabia? Só que diferente do Owen, que foi para o Rio, eu gostaria de sair um pouco dos grandes centros e conhecer o Brasil de verdade, as cidades interioranas, os lugares menos turísticos e mais reais.

Você está conversando comigo e estou prestando atenção em sua voz...
É? Por quê (risos)?

Porque o diretor do filme, Ivan Reitman, acabou de me dizer que o escolheu para viver o Matt muito por causa da sua voz...
Sério? Olha, fui criado em Dallas, no Texas, mas meus avós paternos são de Boston, falam igualzinho aos Kennedys. Essa mistura de sotaques me deu essa voz neutra, que os diretores gostam. Mas eu não gosto de ouvir minha voz, não, acho ela meio mole (risos)!

Você falou no Texas e agora vai viver o Bobby Ewing (de Dallas, famoso seriado de TV das décadas de 70 e 80) no cinema. Está animado?
Claro! Dallas foi genial, um marco dos anos 80! E o Travolta vai fazer o J.R., sabia? Cara, eu estava na 4ª série quando J.R. foi atacado. Lembro até hoje dos adesivos nos carros dizendo "Eu atirei em J.R. Ewing" (risos). Lembro que todo mundo ficou à frente da TV para saber quem havia matado o J.R.

Hoje, quando se pensa em Texas, fora dos EUA, a primeira imagem que vem à cabeça é a do presidente Bush...

Isso é tão triste. Quando eu estava no 2° grau, ele veio dar uma palestra em meu colégio. Lembro que quando ele terminou, cochichei com um colega meu: "Mas que babaca! Parece um filhinho de papai crescido, brincando de ser governador do Texas".

Você imaginou que ele chegaria à presidência?

Você só pode estar me gozando (risos)! Ele não conseguia nem falar em público! Eu poderia discursar melhor do que ele. Olhe, não sou muito ligado em política, mas o que ele tem feito contra a imagem do Texas, colocando um chapéu de caubói e andando como um rancheiro, inventando um sotaque que não existe, me deixa possesso. Quando vou à Europa as pessoas me apontam na rua e dizem: "Ih, ele é texano!" Pode? Isso me deprime.

Então vamos falar de algo menos triste: se pudesse, assim como Uma Thurman, qual o tipo de super-herói você gostaria de ser?

O supercompreensivo (risos). E vestiria calça de moletom como uniforme! Bem largadão, que é meu estilo.

Foi bom trabalhar com ela?

Foi um sonho. Pensa bem, a Uma! Cara, eu a vi em Ligações Perigosas (1988) quando tinha 18 anos! Ela é a Uma, né? Um ícone.

Você gosta de trabalhar com mulheres poderosas? É verdade que você vai filmar de novo com a Sarah Jessica Parker (eles rodaram juntos Tudo em Família, de 2005)?
Isso mesmo! Vai ser um thriller sobre um casal em crise que se hospeda em um motel de beira de estrada, desses que as pessoas entram e nunca mais saem, e aí eu não posso contar mais nada. Conheci a Sarah em Tudo em Família e foi bom demais! Viramos amigos de infância. Há uma coisa que eu admiro muito nela. Sarah trata do mesmo jeito todo mundo no filme, do diretor ao pessoal da eletricidade. Ela sabe que o trabalho é da equipe. Tento ser como ela, e isso não é exatamente a regra em Hollywood.

Mas você tem uma turma boa em Los Angeles, não é? Está sempre acompanhado de seus irmãos e também de Vince Vaughn, Jack Black, Will Ferrell...

É verdade. Quando a gente está filmando juntos, eu adoro ficar batendo papo com essa cambada (risos). Sou um cara que detesto essa coisa de estrela que fica enfurnada no trailer. Gosto de sair e me divertir com os amigos. E preciso dizer que nunca me afinei tanto com um ator quanto com o Will Ferrell. Adoro o humor dele, adoro como a cabeça dele funciona, aquela velocidade de raciocínio. Ele é muito, muito, mas muito talentoso mesmo.