sexta-feira, setembro 08, 2006
Diretinho da Redação (49)
A coluna da semana, sobre o filme Torres Gêmeas, de Oliver Stone, que estréia no dia 28 no Brasil, já está no DR.
TORRES GÊMEAS E UMA OUTRA HIST HISTÓRIA DOS ATAQUES TERRORISTAS A NOVA IORQUE
Na segunda-feira se completarão cinco anos desde os atentados terroristas de 11 de Setembro. Nas telas de cinema de Nova Iorque uma das opções para o cinéfilo desavisado é pagar dez dólares para reviver o dia fatídico, apresentado por Oliver Stone em seu “Torres Gêmeas”, que estréia no Brasil no próximo dia 28 . Durante as filmagens, gastou-se saliva e tutano com a reclamação de alguns familiares das vitimas da destruição do World Trade Center. Estes diziam que Hollywood explorava economicamente a tragédia que para eles era ainda tão recente. No flanco republicano, dizia-se que o público norte-americano ainda não estava preparado para um relato tão ‘realista’, sem concessões à ficção, como prometia Stone. Temia-se um novo “JFK”.
Surpreendentemente, as primeiras sessões de “Torres Gêmeas”, agradaram em cheio parte do público que, acreditava-se, poderia sair ofendido das salas de cinema. Depois do fiasco de “Alexandre”, um filme sobre um conquistador obstinado em levar os valores da civilização ocidental para a Mesopotâmia a qualquer preço, no mesmo momento em que os EUA iniciavam sua ocupação fadada ao fracasso no Iraque, Stone decidiu agradar a gregos e americanos. E o fez de modo assombroso.
“Torres Gêmeas” é, um mês depois de sua estréia nos EUA, celebrado efusivamente pela direita mais raivosa. É também um filme fraco. A ação gira em torno da história real de dois policiais que seriam retirados com vida dos escombros do WTC no fim daquele dia 11. Talvez assombrado pelo fracasso de “Alexandre”, Stone dá as costas para a História. E não oferece qualquer reflexão aos espectadores sobre os motivos, as seqüelas, os antecedentes do 11 de Setembro. Ao contrário, aproxima perigosamente seu filme de um discurso muito caro aos conservadores – o de que a infâmia terrorista serviu para despertar os valores mais nobres do homem comum dos Estados Unidos. Sua crença na família, nos valores cristãos, na honra e no excepcionalismo dos heróis ianques.
“Torres Gêmeas” pode ser visto apenas como mais um enorme desperdício de dinheiro de Hollywood e um degrau abaixo na produção artística de um dos mais interessantes diretores do cinemão americano. Mas sua perversidade histórica – explicitada ao insinuar que haveria de fato, quem sabe, uma conexão entre o governo iraquiano e a Al-Qaeda – resulta em um maiores desserviços prestados à compreensão de momento histórico tão crucial. Não há dúvidas de que Oliver Stone se reencontrou, em seu mais recente filme, com a América Profunda. Mas a um preço altíssimo.
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