sexta-feira, agosto 04, 2006

ELIAS KHOURY/Artigo


O escritor libanês Elias Khoury, 58 anos, romancista de mancheia e editor do suplemento cultural do jornal Al-Nahar, escreveu um belo artigo na London Review of Books que chega hoje às bancas. Lá ele diz:

Os israelenses dizem que não querem ocupar o Líbano. Esta é a mesma coisa que os norte-americanos falam sobre o Iraque. Não se trata, no entanto, do que eles intencionam fazer, mas do que eles, de fato, estão fazendo. Será que Israel pode tolerar o caos religioso e étnico nas suas fronteiras? Se está de fato prestando um serviço aos EUA ao tentar enfraquecer o Hezbolá, o mais forte aliado do Irã na região? O que é claro, por detrás do bombardeio incecssante nas ruas de Beirute, é que Israel, ao perceber que é incapaz de destruir o Hezbolá, decidiu acabar com todo o Líbano.

O artigo completo, infelizmente apenas em inglês pode ser lido aqui.

CRIME DE GUERRA - Carta dos Intelectuais (Londres)

O Guardian de ontem publicou a seguinte carta assinada pelos intelectuais Tariq Ali, Noam Chomsky, Eduardo Galeano, Howard Zinn, Ken Loach, John Berger e Arundhati Roy:

O ataque israelense ao Líbano, com apoio norte-americano, deixou o país entorpecido, em chamas e com mais ódio. O massacre de Qana e a perda das vidas é não apenas uma 'reação desproporcional'. É, de acordo com as legislação internacional, um crime de guerra.

A sistemática e deliberada destruição da infraestrutura básica do Líbano pela força aérea israelense também é um crime de guerra, desenhada para reduzir o país à posição de um protetorado israelense e/ou norte-americano. Mas o tiro saiu pela culatra. No Líbano, 87% da população agora apóia a resistência do Hezbolá, inlcuindo 80% dos Cristãos e Drusos e 89% dos Muçulmanos Sunitas. Apenas 8% da população acredita que os EUA dão apoio ao Líbano.

No entanto, estas ações criminosas não serão levadas a nenhuma corte internacional, já que os EUA e seus aliados que cometem tais crimes ou compactuam com a carnificina não deixarão que isso aconteça. Agora está mais do que claro que o ataque ao Líbano para esfacelar o Hezbolá foi preparado com grande antecedência. Os crimes de Israel não receberam condenação alguma dos EUA e de seus leais aliados britânicos, apesar da crescente oposição a Tony Blair em seu próprio país.

A paz que o Líbano desfrutou até pouco tempo chegou ao fim, e um país paralisado está sendo obrigado a olhar para o passado que espreava poder esquecer. O estado de terror forçado em que vive o Líbano hoje está sendo implantado também no gueto de Gaza, enquanto a 'comunidade internacional' observa a tudo em impávido silêncio. Enquanto isso, o restante da Palestina é anexado e desmantelado, com participação direta dos EUA e a aprovação tácita de seus aliados.

Nós oferecemos aqui nossa solidariedade e apoio às vítimas desta brutalidade e a todos aqueles que decidiram resistir. De nossa parte, vamos utilizar todos os meios para denunciar a cumplicidade de nossos governos com estes crimes. Não existirá paz no Oriente Médio enquanto as ocupações da Palestina e do Iraque e o bombardeio do Líbano continuarem.



Tariq Ali, Noam Chomsky, Eduardo Galeano, Howard Zinn, Ken Loach, John Berger & Arundhati Roy.

quinta-feira, agosto 03, 2006

ENTREVISTA/ Michael Douglas

Saiu hoje no Valor Econômico a entrevista que fiz com Michael Douglas em Los Angeles.
SEMPRE ALERTA!
Por Eduardo Graça, para o Valor
04/08/2006

Estréia neste fim de semana o filme "O Sentinela", thriller dirigido por Clark Johnson, centrado no confronto entre os personagens de Michael Douglas e Kiefer Sutherland. Leia, a seguir, entrevista com Douglas.

Valor: Dizem que é difícil tirá-lo de casa. Em "O Sentinela", o senhor não só está em quase todas as cenas como também assina a produção...

Michael Douglas: É que hoje o "desperate housewife" sou eu! [risos]. Estou em um momento especial de minha vida. Aos 62 anos, curto a alegria de um novo casamento [com a atriz Catherine Zeta-Jones, 37], de ter filhos novinhos. E vivemos nas Bermudas, que não são um pólo cinematográfico [risos]. Cheguei a um ponto em que posso me dar ao luxo de produzir o que quero, trabalhar com pessoas de quem gosto, quando bem entendo.

Valor: E aqui o senhor está entre amigos...

Douglas: Conheço o Kiefer há anos. Ele é como uma máquina, tem uma ética de trabalho que até hoje me impressiona. Sei que o personagem dele lembra o Jack Bauer [do seriado "24 Horas"] e me senti honrado quando ele decidiu que nas férias do seriado iria fazer "O Sentinela". Afinal, está em um momento em que poderia fazer o que bem quisesse! E a Kim [Basinger], bem, você sabia que ela foi nossa primeira escolha para "Instinto Selvagem"?

Valor: Não sabia. E o senhor já teve a chance de ver "Instinto 2", com Sharon Stone? Gostou?


Douglas
: Não, não vi [pausa]. É que não vamos mais ao cinema regularmente. Catherine e eu pegamos mais DVDs e vemos na TV.

Valor
: Mas o que acha da continuidade de filmes de grande sucesso? Tanto se falou de mais uma seqüência de "Tudo por uma Esmeralda", reatando sua parceria com Kathleen Turner...

Douglas: E o Harrison [Ford] agora está filmando "Indiana Jones 4". Que Deus o proteja! [risos]. Preciso ser honesto com você: um dos meus joelhos não funciona mais. Não vejo nenhuma possibilidade de fazer um filme neste estilo no futuro próximo.

Valor: Em "O Sentinela", o senhor tem a missão de proteger a primeira-dama, vivida por Kim Basinger. Acha que a tarefa seria tão agradável se tivesse de cuidar da segurança de Laura Bush?

Douglas: Sabe que eu fui a um evento em Washington recentemente e descobri que a Laura é uma mulher extremamente charmosa? Atraente, mesmo! Digamos que ela tem um estilo muito, muito particular.

Brooklyn Em Chamas!


Este pode ser um souvenir, no mínimo, original, para quem passar por aqui nos próximos dias. O Corpo de Bombeiros da cidade acaba de colocar à venda o Calendário dos Galãs-Bombeiros/2006-2007, que sai por US$ 15 e uns cents. Na capa, o bravo Mark de Rosa, 22 anos, que trabalha ali na Pitt Street, na saída da ponte de Williamsburg, no Lower East Side. Para as brasileiras interessadas: ele é solteiro, tem 22 anos, e mora em Staten Island.

Diretinho da Redação (49)


A coluna da semana, sobre a apatia dos norte-americanos, que não andam lá tão interessados no conflito entre Israel e Líbano, já está no DR.

OS AMERICANOS E A GUERRA NO LÍBANO

Eduardo Graça


O que a sociedade americana está aprendendo com o conflito entre Israel e o Hezbolá no Oriente Médio? Muito pouco. Os americanos, aparentemente, não estão nem aí para o que acontece no Líbano neste momento. Nem mesmo a morte de dezenas de crianças assassinadas esta semana pelo bombardeio da força aérea de Tel-Aviv despertou a indignação dos norte-americanos.

Ao menos é o que pensa o chefe do escritório de Paris e editor de Oriente Médio da revista semanal ‘Newsweek’, Christopher Dickey. Em um debate nesta terça-feira o jornalista destacou que, no site da revista, o índice de leitura sobre o conflito entre Israel e Líbano é mínimo. Foi baixo há duas semanas, quando as atrocidades começaram, e segue irrisório, com picos aqui e acolá. O interesse da semana, apesar da tragédia de Qana, contou Dickey, foi a prisão do ator Mel Gibson, flagrado ao dirigir bêbado e severamente criticado por um possível surto anti-semita, ao querer saber se o guarda que o deteve era judeu. Na Europa, o jornalista ressaltou, há uma sensação cada vez maior de que é preciso fazer algo na região independentemente do desejo do Império de manter as atrocidades até que o Hezbolá seja severamente atingido.

As razões para mais este distanciamento entre a opinião pública dos dois maiores centros da civilização ocidental são complexas. Mas é preciso levar em conta tanto a força da minoria de origem árabe na Europa – na França em que Dickey vive eles são 10% da população – quanto a certeza de que a população européia ‘compreende’ melhor a noção de ‘ocupação’. Os europeus sabem o grau de ódio e de humilhação que o termo – transmutado pelos americanos como ‘libertação’ – carrega. Nas sociedades que ressurgiram na Europa Ocidental nos anos 40 e na Oriental nos 80, a certeza de que a opinião pública havia sido privada de influir de modo objetivo nos destinos de suas respectivas nações as marcaram profundamente.

Os EUA, como o Brasil, jamais foram ocupados. Na América Profunda, acredita-se na missão de se levar o sonho de liberdade, o legado da América, às atrasadas nações asiáticas. E, por aqui, a força do chamado lobby judaico é intensa. A crescente comunidade muçulmana saiu às ruas de cidades como Los Angeles e Nova Iorque esta semana, mas, numericamente frágil, sem grande impacto na vida do país.

Os americanos, justiça seja feita, percebem de fato que há algo de errado neste conflito – justamente a incapacidade da inteligência e do exército israelenses de esmagarem o inimigo terrorista. Acreditam também que não há sentido em se enviar uma força multinacional para a região, pois as incursões no sul do Líbano são compreendidas como mais um capítulo no direito de Israel se defender do inimigo muçulmano. Não se trata, de modo algum, de uma crise internacional. Os americanos não conseguem, de acordo com pesquisadores e jornalistas, sequer perceber a assustadora contradição entre um império que atua em todo o globo e o escapismo abraçado pela maioria de seus cidadãos, cada vez mais voltados para seus próprios umbigos.