quinta-feira, agosto 03, 2006

Diretinho da Redação (49)


A coluna da semana, sobre a apatia dos norte-americanos, que não andam lá tão interessados no conflito entre Israel e Líbano, já está no DR.

OS AMERICANOS E A GUERRA NO LÍBANO

Eduardo Graça


O que a sociedade americana está aprendendo com o conflito entre Israel e o Hezbolá no Oriente Médio? Muito pouco. Os americanos, aparentemente, não estão nem aí para o que acontece no Líbano neste momento. Nem mesmo a morte de dezenas de crianças assassinadas esta semana pelo bombardeio da força aérea de Tel-Aviv despertou a indignação dos norte-americanos.

Ao menos é o que pensa o chefe do escritório de Paris e editor de Oriente Médio da revista semanal ‘Newsweek’, Christopher Dickey. Em um debate nesta terça-feira o jornalista destacou que, no site da revista, o índice de leitura sobre o conflito entre Israel e Líbano é mínimo. Foi baixo há duas semanas, quando as atrocidades começaram, e segue irrisório, com picos aqui e acolá. O interesse da semana, apesar da tragédia de Qana, contou Dickey, foi a prisão do ator Mel Gibson, flagrado ao dirigir bêbado e severamente criticado por um possível surto anti-semita, ao querer saber se o guarda que o deteve era judeu. Na Europa, o jornalista ressaltou, há uma sensação cada vez maior de que é preciso fazer algo na região independentemente do desejo do Império de manter as atrocidades até que o Hezbolá seja severamente atingido.

As razões para mais este distanciamento entre a opinião pública dos dois maiores centros da civilização ocidental são complexas. Mas é preciso levar em conta tanto a força da minoria de origem árabe na Europa – na França em que Dickey vive eles são 10% da população – quanto a certeza de que a população européia ‘compreende’ melhor a noção de ‘ocupação’. Os europeus sabem o grau de ódio e de humilhação que o termo – transmutado pelos americanos como ‘libertação’ – carrega. Nas sociedades que ressurgiram na Europa Ocidental nos anos 40 e na Oriental nos 80, a certeza de que a opinião pública havia sido privada de influir de modo objetivo nos destinos de suas respectivas nações as marcaram profundamente.

Os EUA, como o Brasil, jamais foram ocupados. Na América Profunda, acredita-se na missão de se levar o sonho de liberdade, o legado da América, às atrasadas nações asiáticas. E, por aqui, a força do chamado lobby judaico é intensa. A crescente comunidade muçulmana saiu às ruas de cidades como Los Angeles e Nova Iorque esta semana, mas, numericamente frágil, sem grande impacto na vida do país.

Os americanos, justiça seja feita, percebem de fato que há algo de errado neste conflito – justamente a incapacidade da inteligência e do exército israelenses de esmagarem o inimigo terrorista. Acreditam também que não há sentido em se enviar uma força multinacional para a região, pois as incursões no sul do Líbano são compreendidas como mais um capítulo no direito de Israel se defender do inimigo muçulmano. Não se trata, de modo algum, de uma crise internacional. Os americanos não conseguem, de acordo com pesquisadores e jornalistas, sequer perceber a assustadora contradição entre um império que atua em todo o globo e o escapismo abraçado pela maioria de seus cidadãos, cada vez mais voltados para seus próprios umbigos.

Nenhum comentário: