sexta-feira, agosto 22, 2008

ENTREVISTA/Morgan Freeman


Saiu hoje na Ilustrada, na Folha de S.Paulo, minha micro-entrevista com Morgan Freeman, uma das estrelas de O Procurado, que estréia hoje nos cinemas brasileiros.

Segue o texto:
"Angelina é inteligentíssima", diz Freeman

EDUARDO GRAÇA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NY


"Angelina, An-ge-liiii-na, would you get up? We need the sheets for the table!" [Angelina, é melhor você se levantar. Precisamos de toalhas para a mesa!] Era assim, com uma música tradicional americana, que Morgan Freeman iniciava o dia no set de "O Procurado".
O filme, que estréia no Brasil hoje, depois de faturar mais de US$ 130 milhões nos EUA, conta com Freeman, Jolie e James McAvoy. São, respectivamente, dois assassinos e um noviço de uma associação voltada para eliminar vítimas que lhe são designadas por meio de códigos decifrados com um tear.

"Angelina é uma mulher forte, inteligentíssima, não é nenhuma Lindsay Lohan, sabe?", conta.
Poucas semanas depois de falar à Folha, Freeman sofreu um acidente de carro no Sul dos EUA e ficou em estado grave. Agora, o ator de 71 anos se recupera a passos largos. Não deixa de ser curioso o fato de que tenha "enfrentado" a morte em "O Procurado". "Há uma cena em que um tear está prestes a cair sobre mim. É aquela coisa: este é seu último momento na vida, o que você dirá? Eu teria que dizer algo que representasse meu último momento vivo neste planeta. E soltei um baita f...!", diz.

Freeman seria, para os produtores, o único astro de Hollywood capaz de levar a audiência a crer que uma bala pode fazer uma trajetória tal que atinja o alvo com alguém entre o atirador e a vítima, um dos efeitos impressionantes do filme.
"É, mas se eu tivesse esse poder de persuasão iria agora mesmo a um banco e anunciaria, solene: "Preciso de US$ 40 milhões para meu próximo filme". Será que eles me dariam no ato? Não creio! Isso é só mais uma gracinha para se falar de mim. Não sou a "pessoa a ser contratada se você precisa de credibilidade na tela". O Danny De Vito poderia fazer muito bem o Sloan."

Na tela, ele interpretou até Deus. "Dizem que ao fazer o papel de Deus você dá um tiro no próprio pé. E fiz duas vezes [em "O Todo-Poderoso" e "A Volta do Todo-Poderoso']. Por muito tempo, recebi roteiros para fazer bonzinhos na tela. Por isso o Sloan me atraiu. Você não sabe ao certo se ele é mocinho ou bandido", diz.

segunda-feira, agosto 18, 2008

ELEIÇÕES NOS EUA/Comentário-Terra

Neste fim de semana o Terra publicou meu comentário sobre os possíveis candidatos a vice-presidente nas chapas democrata e republicana-2008, com aspas do jornalista inglês e meu vizinho Andrew Purcell, correspondente do The Sunday Herald aqui em NYC.

Aí vai:

Candidaturas a vice têm disputa acirrada nos EUA
EDUARDO GRAÇA
DIRETO DE NOVA YORK

A câmera fecha um close no rosto tenso do ator Paul Giamatti. À sua frente, a confusão impera com parlamentares do primeiro Congresso do recém-criado Estados Unidos da América discutindo sem cessar. Ele é o personagem-título de uma das séries de maior sucesso este ano nos EUA, John Adams, do canal HBO. Um dos pais fundadores da República e primeiro vice-presidente eleito do país, em 1789, Adams, afastado até mesmo das reuniões de cúpula do presidente George Washington com seus ministros de Estado, pensa se deveria voltar para sua fazenda no Massachussets, pois, afinal, seu posto era meramente decorativo, ou, em suas palavras "o cargo mais insignificante jamais criado pela inteligência humana".

Duzentos e trinta anos depois não se fala em outra coisa na campanha eleitoral americana: quem serão, afinal de contas, os companheiros de chapa dos candidatos à presidência Barack Obama e John McCain?

Com as férias de verão, as Olimpíadas ocupando todo o espaço na mídia e Obama voltando das férias no Havaí, este é o assunto político do momento. Os partidos têm até o último dia de suas respectivas convenções para apresentar os seus candidatos a vice. A convenção democrata ocorre na última semana de agosto. Na semana seguinte, é a vez dos republicanos.

Uma das razões para tamanha expectativa é a exuberância do atual vice-presidente, o ultra-conservador Dick Cheney, que, desde 2001 é um dos protagonistas mais ativos da administração Bush. "Cheney é um vice-presidente atípico, pois é ele quem manda na Casa Branca. A chamada "guerra ao terror" reduziu a influência do Congresso, e esta administração reinterpretou aspectos-chave da Constituição, deixando o Executivo ainda mais poderoso. É senso comum na parcela liberal dos EUA que Cheney, um político experiente, controla o governo Bush", diz o jornalista Andrew Purcell, correspondente do jornal britânico The Sunday Herald em Nova York.

Grosso modo, o vice-presidente tem duas funções estratégicas: presidir o Senado (e dar o voto de minerva em um caso de empate nas votações apertadas) e substituir o presidente em caso de impedimento, doença ou morte. A maior atração da vice-presidência, para fins políticos, é uma certa tradição de que o vice-presidente que trabalhou por oito anos na Casa Branca seja o candidato natural do partido da situação ao posto mais importante do governo americano.

Foi assim com Al Gore (vice de Bill Clinton entre 1993 e 2001) e George Bush (vice de Ronald Reagan entre 1981 e 1987). Cheney, extremamente impopular e com 67 anos, deixou claro que não entraria na disputa este ano. Como o mais recente candidato democrata à vice-presidência, o senador John Edwards (que foi o companheiro de chapa de John Kerry em 2004), se envolveu em um tenebroso escândalo extra-conjugal ao mesmo tempo em que sua mulher sofria de câncer terminal, a corrida para o segundo posto da hierarquia do Executivo ficou ainda mais ampla.

Do lado republicano, aparecem como fortes candidatos o ex-governador Mitt Romney, de Massachussets, que ficou em segundo lugar nas primárias do partido, e os governadores sulistas Charlie Christ (da Flórida), Bobby Jindal (da Louisiana) e Mark Sanford (da Carolina do Sul).

Romney, aos 61 anos, foi o mais forte adversário de McCain na disputa interna do Partido Republicano, mas tem se dedicado com tal ânimo à campanha de McCain que o senador de Arizona saiu-se com uma deliciosa tirada: "Romney está se empenhando mais por mim do que por ele mesmo".
O ex-governador de um dos Estados mais liberais do país traria para a campanha uma experiência em economia que é o tendão de Aquiles de McCain. Com a recessão em pauta, contar com o auxílio direto de um homem de negócios bem-sucedido pode ser importante na hora de se pescar votos em áreas que sofrem mais com a crise econômica. Por outro lado, Romney é mórmon, o que pode complicar a vida de McCain com um de seus eleitorados mais fiéis, os evangélicos, e tem se esforçado além da conta, na opinião de muitos republicanos, pelo posto.

Dos dois governadores sulistas, o que tem mais projeção nacional é Charlie Christ, que herdou o governo da Flórida de ninguém menos do que Jeb Bush, o popularíssimo irmão de George W. Com o aumento do voto hispânico não-cubano no Estado, a Flórida voltou a ser considerada um "swing state", ou seja, pode pender para um lado ou para o outro e decidir as eleições de novembro. Ao contrário de Romney, no entanto, Christ não é um social-conservador, sendo favorável ao direito de aborto, à união civil para pessoas do mesmo sexo e às pesquisas com células-tronco.

Já Bobby Jindal é a grande estrela jovem da direita americana. Aos 37 anos, ele seria um antídoto aos que vêem McCain como um candidato cansado, que assumiria a Casa Branca com 72 anos. Também conta o fato de que é conservador ao extremo e ganhou projeção com a reconstrução de seu Estado, profundamente afetado pela tragédia do furacão Katrina. Mas há um senão geográfico aqui: ninguém duvida que McCain vencerá com folga os Estados do sul e que a grande batalha se dará ao norte e a oeste. E o recente anúncio de que o ex-governador Mike Huckabee fará um talk-show no canal Fox, do qual ele já é comentarista político, parece ter diminuído a possibilidade de o mais eloqüente político sulista também ser convidado para disputar a vice-presidência por McCain.

Também surgem, ainda que com menos intensidade, mas alavancados pelo aspecto geográfico, os nomes do governador de Minnesota, Tim Pawlenty (extramente popular na região dos Grandes Lagos, mas visto com desconfiança pelos conservadores) e do deputado ultra-conservador Rob Portman, de Ohio, Estado que decidiu as eleições de 2004, com uma apertada vitória local (contestada por muitos) de Bush sobre Kerry. Para se ter uma idéia, as principais pesquisas, hoje, dão uma vantagem de quatro pontos percentuais para Obama em Minnesota, e colocam McCain à frente em Ohio por seis pontos. Ou seja, a batalha, nos Estados da região, tende a ser voto a voto.

No lado democrata, a principal estrela, senadora Hillary Clinton, dificilmente será escolhida pelo comitê de Barack Obama para formar a chapa da oposição. Com 18 milhões de votos nas primárias mais populares da história do país e uma aceitação entre os eleitores brancos de classe baixa que Obama ainda sofre para conquistar, ela poderia formar a chamada "chapa dos sonhos" com o senador de Illinois. Os problemas são as feridas deixadas pela primeira fase da campanha e a possibilidade de Hillary voltar a disputar a presidência contra McCain em quatro anos, no caso de uma derrota democrata em novembro. "A animosidade entre as duas campanhas foi tão intensa que é comum você ler, no site de Obama, apoiadores entusiasmados afirmando que 'não devemos oferecer nada para esta mulher'. Minhas apostas, hoje, são a governadora do Kansas, Kathleen Sibelius, que apoiou Obama desde o início, e os senadores Jim Webb, que serviu no governo Reagan e é tão especialista em defesa nacional quanto contrário à guerra do Iraque, e Evan Bayh, de Indiana", diz Purcell.

Webb e Bayh ainda contam com o fato de serem de dois Estados importantes na luta eleitoral. Webb é da Virgínia, que é o Estado sulista em que os democratas têm mais chance de vitória, por conta da migração interna e do aumento de eleitores de origem hispânica, e Bayh de Indiana, no meio-oeste, que pode influenciar importantes Estados vizinhos e com dados demográficos semelhantes, como Ohio e Pensilvânia.

Também de Virgínia é o governador Tim Kaine, talvez hoje o mais forte candidato. Eleito em 2005 com uma plataforma moderada, ele é um católico devoto de 50 anos, contrário ao direito de aborto, e formado, assim como Obama, pela Universidade de Harvard. Mas são suas semelhanças com o candidato presidencial seus pontos mais fracos - a inexperiência legislativa e sua timidez em temas relacionados à defesa nacional e à política externa. Por outro lado, ele é fluente em espanhol e sua atuação no massacre de Virginia Tech, no ano passado, quando conversou pessoalmente com as famílias das vítimas e com cada estudante que passou pela traumática experiência de ver um de seus colegas atirar contra alunos, funcionários e professores, foi considerada exemplar.

Correndo por fora ainda estão o ultra-experiente senador Joe Biden, de Delaware, mais cotado no entanto para ser o futuro poderoso secretário de Estado em um governo Obama, e o governador do Novo México, Bill Richardson, mais importante líder hispânico do país. Analistas garantem que o voto hispânico será decisivo para o resultado de uma eleição tão disputada.

O candidato a vice-presidente do Partido Democrata, seja quem for o escolhido, está escalado pelo partido para fazer um dos principais discursos da convenção que dura entre os dias 22 e 29 de agosto em Denver, no Colorado.
Até agora já estão confirmados como palestrantes Hillary, Richardson e Bayh. Será esta uma pista de que o vice de Obama é um dos três? Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.