sábado, junho 14, 2008

Leitura de Sábado: Entrevista com Gore Vidal

Ótima a entrevista publicada hoje no jornal espanhol El Mundo com um dos maiores intelectuais americanos, o escritor Gore Vidal, 82 anos. O título? Ainda Vai Levar Um Século Para Repararmos Todo o Mal Que Bush Fez.

Em determinado momento ele diz que a eleição de John McCain significaria a continuação do governo de Junta Militar, no 'pior estilo latino-americano' que têm nos comandado ultimamente.

A entrevista completa, infelizmente apenas em espanhol, pode ser conferida aqui.

Alguns destaques:

* "O Império está se acabando porque o dinheiro desapareceu"

* "Sigo tendo minhas dúvidas em relação a Obama. No início, pensei que ele era o maior demagogo da paróquia desde Martin Luther King. Depois ele subiu em meu conceito com o discurso sobre raça que fez. Ele, pelo menos, é inteligente, o que já seria uma bela novidade na Casa Branca"

* "A Espanha têm as touradas, nós a tortura de estrangeiros"

* "Os escritores contemporâneos não têm a menor noção de História, passam o tempo todo escrevendo sobre eles mesmos"

* "Vivemos em um país que me dá medo. Deixamos para trás a República e nos esquecemos da Constituição"

* "Hoje temos um presidente tão preguiçoso que não lê sequer os resumos que seus assessores lhe preparam"

* "McCain me lembra muito de George Bush. Ele seria o prolongamento deste governo de Junta Militar, no estilo da América Latina, que tem nos governado"

sexta-feira, junho 13, 2008

PERFIL/SALMAN RUSHDIE

O expresso Oriente de Salman Rushdie
Por Eduardo Graça, para o Valor, de Nova York

Depois de uma hora ouvindo sir Salman Rushdie, sai-se do encontro mais entusiasmado com a criatura do que com sua mais nova criação. Não se trata de depreciação gratuita. "A Encantadora de Florença" (Companhia das Letras), o décimo romance do escritor britânico de 60 anos, que chega às livrarias brasileiras em novembro, é uma delícia de ler. Se não é uma obra-prima como "Os Filhos da Meia-Noite", oferece uma eletrizante aventura pelos três continentes no ocaso da Idade Média, em meio a conflitos entre Ocidente e Oriente, ao mesmo tempo em que se revela uma ode ao prazer de contar histórias. "Contamos histórias sobre nós essencialmente para entendermo-nos. Elas são o coração do ser", diz o escritor.

Ele encara uma multidão de fãs no lançamento da obra em uma livraria no coração nervoso de Nova York. Vinte anos depois da publicação de "Os Versos Satânicos" e da declaração de fatwa do aiatolá Khomeini, afirmando ser dever de todo muçulmano eliminar o "escritor herege", não deixa de surpreender a falta de policiamento ostensivo no local. Rushdie não parece preocupado. Gripado ou alérgico, trajando um longo sobretudo negro apesar do calor fora de época em plena primavera, lê um trecho do livro passado em meio à histórica Batalha de Chaldiran, em 1514. Pára repetidas vezes, assoa o nariz, mas segue em frente, vitorioso diante do silêncio da platéia. Seus personagens se mesclam a figuras históricas e fica evidente o prazer do historiador formado em Cambridge em revelar de onde retirou determinada informação.

Maquiavel, um dos personagens de "A Encantadora de Florença": "Ao falar sobre alguém que foi tão demonizado em seu tempo, não consegui deixar de ter uma certa simpatia por ele, não é?", diz, bem-humorado, o escritor

Rushdie escreveu esse romance no mesmo momento em que o casamento com a atriz - agora apresentadora de um dos maiores sucessos da TV paga americana, o reality show "Top Chef", do canal Bravo - Padma Lakshmi, de 38 anos, sua quarta mulher, chegava ao fim. Ele já disse que, de certa forma, escrever o livro que começa na Itália renascentista do século XVI e passeia por 50 anos de história na Índia, Pérsia e Turquia, salvou sua vida. Estar naqueles confins perdidos de história era "mais confortável" do que na vida real.

O projeto do livro, porém, é mais antigo. Foram sete anos de estudos revelados em uma bibliografia de mais de 80 títulos. "Tive de fazer uma pesquisa detalhada, por exemplo, sobre o 'Kama Sutra'. O capítulo 4 é um espetáculo, eu recomendo! E há pelo menos outras três narrativas fundadoras do estudo da sexualidade no Oriente. E, neles, exatamente como no 'Kama Sutra', há uma ênfase na preparação, nos cremes, nos preparados. Não posso dizer que eles de fato ajudam na hora do vamos ver, porque não fiz uma pesquisa tão empírica assim, mas todas essas narrativas já são puro realismo mágico", conta, com humor.

Rushdie se diverte ao revelar que, em "A Encantadora de Florença", trechos que os leitores pensarão ser um recurso estético advindo do realismo mágico que ele tanto admira são, de fato, pura história. E vice-versa. Um dos mais saborosos é o da rainha hindu inventada por Akbar, o Grande, o maior dos monarcas do Império Mughal, para a corte muçulmana, tornando-se o primeiro soberano da Índia pré-moderna a valorizar a tolerância religiosa. Rushdie lembra que, na Índia, acredita-se piamente na existência física de tal rainha. Qualquer criança sabe que a mulher de Akbar, o Grande, foi a rainha Jodha, uma figura, entretanto, inexistente nos anais da história.

O título, no entanto, refere-se à lenda da Princesa Desaparecida, Kara Koz, uma nobre mughal que decidira abandonar a Índia para viver com estrangeiros. Quiçá na Toscana renascentista? É um misterioso viajante, vindo das bandas da Itália com ajuda de piratas escoceses, quem traz ao imperador uma solução possível para o mistério da tal "encantadora" (ao mesmo tempo incrivelmente bela e conhecedora de encantamentos mágicos). Em uma trama com nomes e sobrenomes que se confundem mesmo na cabeça do leitor atento, a figura mais bem-construída é a de Akbar. Em seu longo reinado (1556-1605), foi guerreiro incansável e amante da literatura, devoto muçulmano, mas contava no gabinete com seguidores de diversas religiões. Recebeu até jesuítas portugueses (retratados de forma jocosa) na luxuosa capital que construiu para si.

"O livro parte da idéia de que o mundo não mudou. Os homens não estão diferentes. Religião é um negócio tão sangrento quanto há cinco séculos"

Outras figuras históricas surgem na narrativa, incluindo um certo Nicolau Maquiavel. "A Encantadora de Florença" também pode ser lido como uma conversa imaginária entre Maquiavel e Akbar, que, em um intervalo de 50 anos, refletiram sobre variados aspectos do exercício do poder e do bem-fazer público na era dos príncipes. Rushdie revela que almejou recuperar a reputação do italiano. "Maquiavel não estava nem um pouco errado sobre a natureza humana. Ele era um republicano exemplar, um sujeito íntegro que jamais se curvou à corrupção, um homem que foi cruel e direto com os príncipes amorais de seu tempo", afirma. "Sua obra-prima é uma formulação condensada do exercício do poder naquele momento histórico. Ele também era bem-humorado, autor das comédias mais populares da Itália de então. E, ao falar sobre alguém que foi tão demonizado em seu tempo, não consegui deixar de ter uma certa simpatia por ele, não é?", diz, piscando o olho.

Muito alto, com movimentos elegantes, Rushdie transpira o humor e a mágica que povoam seus romances. Quando pensa em Maquiavel, remete tanto à celeuma causada pelos exemplares de "Versos Satânicos" queimados por muçulmanos irados quanto à percepção, por parte do público, de que ele é mais uma personalidade do que um autor de obras fundamentais da literatura contemporânea, como "Os Filhos da Meia-Noite", única a receber duas vezes o prestigioso Booker Prize (em 1981, como livro do ano, e em 1995, como o melhor em 25 anos de premiação).

"Não quero ser um 'talking head', que fala sobre todos os assuntos nos jornais", diz. Mas refuta críticas de que "A Encantadora de Florença" seja seu trabalho mais apolítico. "O livro parte de minha idéia de que o mundo não mudou tanto assim. Os homens não estão tão diferentes. Religião é um negócio tão sangrento quanto o era há cinco séculos. O quão constante é a natureza humana - e aqui incluo também, por favor, todos os aspectos positivos da humanidade - é talvez o tema que mais me interesse. É o que me faz escrever."

Para um homem daquele tamanho e com a história que carrega, seu sorriso manso, suave, quase pedindo licença para ocupar o ambiente, deixa o público intrigado. A imagem de um ser "mais sombrio do que a escuridão", na autodepreciação do escritor, passa longe da personalidade mundana revelada nessa noite quente de Nova York. Aqui ele está mais próximo do dublê de ator bonachão (Rushdie interpreta um ginecologista no primeiro filme dirigido pela atriz Helen Hunt, "The She Found Me", lançado este ano) do que do pomposo cavaleiro da coroa britânica.

"A Encantadora de Florença" teve uma recepção díspar pela crítica especializada dos dois lados do Atlântico. Lançado primeiro na Grã-Bretanha, o livro foi recebido por especialistas como John Sutherland com toda a pompa. No "Financial Times" ele chegou a dizer que "se o Booker Prize não o escolher como melhor livro do ano, vou marinar minha prova com curry e comê-la em um jantar de protesto". Nas terras da rainha, louvou-se este como "o mais novo manifesto de Rushdie pelo poder transformador da narrativa".

Já a inteligência americana, sempre refratrária ao menor traço de melodrama, foi dura. No "New York Times", Michiko Kakutami escreveu que o livro é uma "paródia previsível", em que o melhor de Rushdie - suas analogias políticas em que uma família pode ser a metáfora de uma nação, como em "Os Filhos da Meia-Noite" - é substituído por "ruminações filosóficas sobre o artesanato de escrever ficção e as relações entre arte e vida". Rushdie não segue mais interessado na sugestão de que não houve só um Renascimento, mas dois. E tal peculiaridade histórica pode nos ser deveras útil. Entre as passagens de "A Encantadora de Florença", uma das mais pungentes é quando a rainha Jodha lembra que "os ocidentais são o nosso sonho. E nós, por sua vez, a quimera deles". Impossível não imaginar o sorriso de sir Rushdie ao criar essa fala.

quarta-feira, junho 11, 2008

ENTREVISTA/Liv Tyler

A Contigo! que chegou às bancas hoje publicou minha entrevista com a atriz Liv Tyler, estrela de O Incrível Hulk. Aí vai:

Liv Tyler
A musa de Hulk

Por Eduardo Graça, de Nova York

Não havia aliança no dedo de Liv Tyler, 30 anos, quando ela entrou na suíte do hotel de luxo localizado nas imediações do Central Park, em Nova York, para conversar com os jornalistas da imprensa internacional. Há no ar o temor de uma conversa tensa - afinal, os rumores de que o casamento de cinco anos com o músico inglês Royston Langdom, 36, da banda The Quick, acabou, circulavam nos jornais e revistas americanos. De fato, uma semana depois de dar entrevista para a Contigo!, os pais de Milo, 3 anos, anunciaram a separação.

A tempestade pessoal pela qual passava a bela Liv, uma das estrelas do novo O Incrível Hulk, que estréia sexta-feira (13/6/2008), não transpareceu em nenhum momento da entrevista. Neste novo filme da cinessérie, cujo início retoma o ponto final do primeiro longa, de 2003 - dirigido por Ang Lee e estrelado por Eric Bana, Jennifer Connelly e Nick Nolte -, ela é a doutora Betty Ross, a namorada de Bruce Banner, médico vivido por Edward Norton, 38 - famoso em Hollywood por seu temperamento difícil (desentendimentos com os produtores do filme, sobre aspectos do roteiro, que ele assina junto com Zak Penn, 40, só provam essa sua fama de irascível) -, que busca a cura para a sua raiva radioativa, a princípio, no Brasil. Até que o pai de Betty, o general Ross (papel de William Hurt) resolve caçá-lo e ele acaba voltando aos Estados Unidos.

Filha do roqueiro Steven Tyler, 60, da banda Aerosmith, e de Bebe Buell, 54, uma das primeiras modelos de moda a posar nua para a revista Playboy e que viveu casos com Mick Jagger, 64, e Iggy Pop, 61, entre outros, Liv só soube quem era seu pai de fato quando tinha 11 anos. Três anos depois, ela já estrelava como modelo em Nova York e, cerca de seis anos adiante, em uma série de filmes que lhe renderam milhares de fãs tanto por seu talento quanto por sua beleza - como esquecer a Lucy de Beleza Roubada (1996) ou a princesa Arwen da trilogia O Senhor dos Anéis (2001/2002/2003)?

Muito bem-humorada, apesar do fim de seu casamento, ela fez questão de anunciar sua admiração pela brasileira Débora Nascimento, 22, a Andréia Bijou da novela Duas Caras (Globo), que está no elenco do filme. Generosa, a atriz, eleita sucessivas vezes umas das mais belas faces do mundo pela revista People, saiu-se com essa quando descobriu que o repórter era brasileiro: ''Eu entrava no meu trailer, via a foto dela (Débora) no filme, saía e dizia para todo mundo: 'Isso é que é mulher bonita, hein? Lin-da!'. Fiquei fazendo isso por dias a fio''. A seguir, trechos de sua entrevista para a Contigo!.

- Nossa, que barato o seu gravador de iPod!

- Pois é, ele anda fazendo um certo sucesso em Hollywood. Acho que vou pedir para o Steve Jobs (o gênio por trás da Apple) uma verba pela propaganda gratuita que eu e a Contigo! temos feito do produto dele com as celebridades!
- (rindo muito) Sabe que o meu pai (o roqueiro Steven Tyler, do Aerosmith) me deu um gravador digital mas ainda não aprendi a usar? Ainda estou na fase do velho toca-fitas. Eu adoro fitas e não ligo de vê-las empilhadas, com um monte de rabiscos meus. Também adoro ver um CD na minha frente, com aquela imagem, aquele desenho, que me diz do que se trata. Como vou saber naquele abismo de MP3 o que de fato eu quero ouvir hoje?

- Sendo filha de quem é, deve ter passado uma fase gravando coletâneas de fitas das suas bandas preferidas, não?
- Claaaaaaaro que sim! Ainda guardo algumas daquelas mixtapes. Tem muito Led Zeppelin, Sonic Youth e Iggy Pop, meus favoritos. Atualmente, ando obcecada pelo Gram Parsons, já era fã dele na adolescência, mas agora estou ainda mais. Também gosto muito, muito, muito de Kings of Leon e The Kills. E adoro aquela coisa cool, bem anos 70, do Devendra Banhart. Ouço tudo em aparelhos de som que tenho no banheiro e na cozinha!

- Som no banheiro e na cozinha? Isso é coisa de quem tem filho pequeno, não é?
- É verdade. Quase sempre me pego fazendo alguma coisa com o Milo enquanto ouço rock clássico no rádio mesmo, sabe? Por isso o CD-player fica no banheiro, onde eu consigo ouvir música e dançar debaixo do chuveiro. Milo adora dançar comigo! Mas ele já tem gostos bem definidos, mesmo aos 3 anos! Outro dia, coloquei uma música dos Ramones e ele teve o topete de me pedir para trocar de faixa imediatamente (risos)! É engraçado, porque ele ama Sex Pistols (mais risos). E, como você pode imaginar, o que mais ouço em fitas cassetes são historinhas de criança. Ele ama! O sonho da minha vida, de toda a minha vida, era ter um filho. Nunca tive um sonho específico sobre carreira, por exemplo.

- E você deve ter vivido uma infância daquelas, eu imagino...
- Muito excêntrica, né? Sim! Boa parte dela foi recheada de fantasia. Da fantasia, inclusive, de ter um filho. Então a experiência da maternidade foi tudo o que eu imaginava e ainda mais. É o trabalho mais difícil da face da Terra, mas o mais recompensador também. Me sinto sortuda e maravilhosa por ter encontrado meu pequeno parceiro de crimes (risos). É uma bênção.

- Você acha que a maneira pouco convencional como foi criada fez com que você se tornasse uma mãe um pouco mais conservadora?
- Bem, minha vida exige muita flexibilidade, como você pode imaginar. Mas eu diria que o mais importante para mim, hoje, é que Milo saiba que eu sempre estarei ao lado dele. Ele é a prioridade da minha vida. Nós vivemos um pouco como ciganos, tem filmagem em Toronto, nos mudamos pra lá por três meses. Voltamos um pouco para casa, em Nova York, e embarcamos de novo para o mundo. Quando Milo vê um trailer na rua, ele aponta, todo animado, e diz: Olha lá a casa da mamãe (risos). Sei que isso vai mudar quando ele estiver mais crescido, mas, por hora, gosto de olhá-lo nos olhos o máximo possível e ter a certeza de que ele está sendo ouvido. Sempre.

- Você gostaria de ter mais um filho em breve?
- Adoro ser mãe, mas, olha, Milo tem toda a minha dedicação agora e estou cada vez mais apaixonada pelo meu trabalho. Humm... Nunca entendi esta coisa de planejar filhos. Gravidez é um estado milagroso, se vier, vou amar.
- Sua vida romântica mudou com a chegada de Milo?
- Sim, claro! Não há muito romance quando chega um filho. Você está tão apaixonada por seu filho e ao mesmo tempo não tem muito tempo nem para dormir nem para ficar com seu marido. É um período de transição, creio, pelo qual todo casal passa. Tenho uma faxineira duas vezes por semana, mas adoro cozinhar. Sou eu quem lava os pratos e, aqui e ali, coloco a roupa toda para lavar, com Milo me ajudando. Não estou querendo dizer que sou Cinderela, mas nunca gostei de ter um bando de gente me ajudando o tempo todo, sabe? Gosto de ser protagonista de minha própria vida, gosto de saber que estou no controle.

- Diz a lenda que é especialmente difícil criar uma criança em Nova York...
- É que tudo é muito, muito caro. É preciso ter algum dinheiro para se viver aqui hoje em dia com família. Por outro lado, você tem os mercados mais sensacionais na sua rua, parques e playgrounds em cada esquina, portanto é bem conveniente também. Tento passar o máximo de tempo com ele. E sou sortuda: ele é um anjo! Não é uma criança egoísta, mas é independente. Ele não fica atrás de mim o tempo todo e já gosta de sua privacidade. Vejo outras crianças chamando mamãe, mamãe o tempo todo e ele, não. Às vezes, fico pensando se seria bom ele ser um pouco mais grudado na barra da minha saia (risos)! De qualquer modo, estou sempre viajando, por conta das filmagens, com Milo. Ele fica todo feliz, afinal, nesta idade ainda está com os horários mais flexíveis.

- Mas vocês não acompanharam o Edward Norton nas filmagens no Brasil, né?
- Nem me fale! Eu já era conhecida pelos roteiristas como uma ''mala'' pois vivia pedindo para eles criarem alguma situação qualquer para eu ir ao Brasil (risos). Bolei até uma seqüência de sonho em que eu passava um bom tempo deitada nas areias de Ipanema, no Rio, mas por alguma razão muito estranha eles não se comoveram (ri muito)! Mas eu preciso dizer uma coisa sobre o Brasil...

- Ai... fale então!
- Não é nada ruim, não! Ao contrário! É que eu fiquei completamente fascinada pela beleza da atriz, muito jovem, que está no nosso filme e faz a amiga brasileira de Bruce Banner...

- A Débora Nascimento?
- Eu literalmente não consigo olhar para a foto dela sem cair para trás. É insano! Escreva o que eu digo: ela será uma estrela. Uma sensação, da noite para o dia! Ela é tão linda! E nas fotos do filme, ela estava toda molhada de suor, com aqueles lábios e seios! Gente, esta mulher é poderosa! Ela é de uma beleza fenomenal.

- Mas você, com todo o respeito, também é fenomenal...
- Não! Não! Ela é fenomenal em um outro nível! Eu passava pela foto dela no trailer e não conseguia parar de pensar: mas quem é esta pessoa? E como é que, no mundo real, o Bruce Banner voltaria para mim e deixaria ela lá no Brasil? No way (risos)! Ele deveria fugir com a brasileira!

- Você agora vai dizer também que não tem nenhum cuidado especial com sua beleza...
- Sigo uma rotina que aprendi desde menina. Lavo sempre que posso o rosto, por exemplo! E minha avó, minha mãe e meu pai são bem vaidosos. Colocar creme no rosto e no corpo e passar fio-dental depois de todas as refeições eram normas da casa. Diariamente, coloco máscaras de beleza no rosto, tenho todo um armário cheio de produtos que adoro, mas eles já não são mais especiais, sabe? São rotina. E adoro correr para manter o peso ideal. Tenho um personal trainer e adoro malhar.

- Você deve ter usado essa sua malhação um pouco no filme, não? Vi o trailer e você corre para todos os lados...
- Foi o filme que mais me exigiu fisicamente em toda a carreira. O Incrível Hulk é um longa de ação, com um monte de explosões e cenas duras de se fazer. Meu make-up era sempre às 4h da madrugada e eu pensava, ainda bem que eu tenho 30 anos (risos)!. E foi feliz também ter descoberto, depois de ter tido meu filho, uma força nova dentro de mim. É como se agora eu fosse mais forte. Usei isso no filme também. Odeio quando vejo um filme de ação e a heroína sempre está impecavelmente linda, caindo de um helicóptero com o cabelo escovado e batom impecável. Não dá, né? Neste filme, abolimos isso. Apareço bem suada, cansada, com as pernas bambas de cãibra. E adorei!

segunda-feira, junho 09, 2008

Radiohead/Portishead

Ó só o que se ouve por aqui. A linda versão - feita no backstage do show do Radiohead neste finde em Dublin - da linda The Rip, do meu amado Portishead (o álbum dos moços tá ali do lado Na Vitrola). 

domingo, junho 08, 2008

Eu Tinha Um Sonho/CARTA CAPITAL


A Carta Capital desta semana saiu com meu texto sobre a confirmação de Barack Obama como o candidato democrata à presidência dos EUA. Ó só:

Eu tinha um sonho
Eduardo Graça, de Nova York

Depois de mais de um ano de disputa interna, o senador Barack Obama, de 46 anos, é o primeiro político negro escolhido por um partido majoritário para disputar as eleições à Presidência dos Estados Unidos. Ao conseguir, na terça-feira 3, os delegados necessários para se tornar o candidato do Partido Democrata à Casa Branca, Obama fez história e ofereceu aos eleitores norte-americanos a possibilidade de votar, pela primeira vez em 16 anos, em dois presidenciáveis que não carregam os sobrenomes Bush ou Clinton. Seu adversário é o também senador John McCain, de 71 anos. “Esta noite marca o fim de uma jornada histórica e o começo de outra, que trará dias melhores para a América. Hoje, posso afirmar a vocês que eu serei o candidato do Partido Democrata à Presidência”, disse Obama, em um discurso emocionado para milhares de militantes na cidade de Saint Paul, em Minneapolis.

Na manhã seguinte, enquanto subia as escadas do Capitólio, o deputado negro John Lewis, da Geórgia, viu-se abordado pelo turista Larry Ellery, que lhe perguntou o que Martin Luther King diria daquela noite memorável. Lewis, um destacado líder estudantil nos anos 60, é o único palestrante vivo do evento em que o reverendo pronunciou seu famoso discurso “Eu Tenho Um Sonho”, há quatro décadas. “Ele teria ficado muito, muito, satisfeito”, respondeu o deputado. “E provavelmente teria dito Aleluia!” A convenção do Partido Democrata, que oficializará a candidatura de Obama, está marcada para 28 de agosto, exatos 45 anos após o discurso de Luther King e 55 depois do assassinato do adolescente Emmett Till no Mississippi, fato que desencadeou a grande campanha pelos direitos civis, responsável por mudar para sempre a política norte-americana. No Congresso, muitos parlamentares negros choravam de emoção e repetiam, atônitos, que, no fim das contas, jamais haviam imaginado que este dia chegaria. Alguns lembraram que quando Obama nasceu, em 1961, um filho mestiço de pai do Quênia e mãe do Kansas dificilmente conseguiria votar no Sul segregacionista. Foi em outro estado do Sul, a Virgínia, que o senador de Illinois comemorou a vitória, explicitando sua vontade de brigar por votos de estados da parte meridional do país, que há mais de meio século se alinham religiosamente com os republicanos. Essas regiões se transformaram em um campo de batalha por conta da animação da militância negra, que representa cerca de um quarto do eleitorado em alguns estados da área mais conservadora.

Do outro lado do campo democrata, Hillary Clinton resistiu até onde pôde. Em meio ao carnaval dos “obamaníacos”, a ex-primeira-dama lembrou que ela também conduzira uma campanha memorável. Era, afinal, a primeira mulher a ter uma oportunidade real de se tornar presidente dos EUA. Quando Obama já havia conseguido a maioria dos votos dos delegados democratas, ela comemorava o fim das primárias em Nova York. Seus partidários, concentrados no Baruch College, não tinham, providencialmente, acesso a celulares ou a aparelhos de tevê. Portando faixas com os dizeres “ou Hillary ou ninguém mais”, muitos ainda vibravam com o anúncio, feito pelo coordenador-geral da campanha, de que o próximo discurso do dia seria “da futura presidente dos EUA”. Hillary foi aclamada aos gritos de “Denver! Denver!”, referência à cidade do Colorado que sediará a convenção democrata. Clinton procurava ganhar mais tempo, valorizando os 18 milhões de votos angariados na campanha e a maioria absoluta de eleitores brancos, de classes mais baixas e do sexo feminino. Mas, na manhã da quarta-feira 4, 23 deputados e oito senadores de seu grupo mais próximo avisaram à senadora que iriam anunciar o apoio a Obama em nome da unidade do partido, com ou sem ela. A pré-candidata decidiu então convocar seus militantes para um evento no sábado 7, em Washington, com o objetivo de anunciar o apoio oficial ao adversário. Não sem antes dizer, por meio de partidários fiéis, que aceitaria ser vice-presidente se Obama a convidasse. Na mesa de negociação entre as duas estrelas democratas, estará também o imenso buraco financeiro de sua campanha. De acordo com colaboradores próximos da ex-primeira-dama, as dívidas chegam a 23 milhões de dólares. O bolso milionário dos Clinton teria injetado 11 milhões de dólares na campanha a título de “empréstimo”.

Em sua primeira entrevista sobre o tema, na quarta-feira 4, para a rede NBC, Obama saiu pela tangente. Disse que ainda é cedo para decidir sobre seu vice e que, de qualquer modo, “Hillary não espera que eu decida isso nos próximos dias”. Assessores do senador lembram que o ícone histórico de Obama sempre foi Abraham Lincoln. Uma das virtudes que ele mais admira no presidente que venceu a Guerra Civil foi a capacidade de indicar para seu gabinete alguns de seus opositores políticos mais ferrenhos. “Lincoln deixou de lado todos os atritos pessoais e se concentrou na seguinte questão: como sairemos desta crise em que vive o país? Este é exatamente o meu sentimento agora”, disse Obama aos assessores. Sua idéia seria a de convocar ao governo os adversários na primária democrata John Edwards, Joe Biden e Hillary Clinton, respectivamente como secretário de Justiça, secretário de Estado e titular de uma pasta que englobasse Saúde e Projetos Sociais. A senhora Clinton poderia deslanchar seu plano mais ambicioso, o de reformar o sistema de saúde pública.

Seria o bastante para garantir os votos de Hillary para o novo indicado? Uma pesquisa do Pew Research Institute realizada no fim de maio mostra que 8% das democratas em todo o país não votam em Obama de jeito nenhum. Foi para esse público que o senador John McCain centrou seu mais forte – e raivoso – discurso até agora em uma tentativa de diminuir a festa democrata. Depois de um elogio à “minha amiga Hillary Clinton, que não tem sido tratada como deveria”, o republicano lembrou que, ao contrário de Obama, “não busco a Presidência na presunção de que fui abençoado com tal grandeza pessoal que a História me escolheu para salvar o país em uma hora de necessidade”. A mensagem era referência ao suposto elitismo de Obama.

As duas pesquisas realizadas logo após o anúncio de que Obama vencera as prévias democratas mostram que a briga será feia: o senador tem entre 42% e 46% dos votos segundo a CBS e de 45% a 47% (configurando empate técnico) na apuração da CNN. O primeiro debate entre Obama e McCain deve acontecer em 12 de junho, em Nova York. Peter Hart, estrategista do Partido Democrata, usa uma analogia interessante para definir o momento político: “Metade do eleitorado hoje celebra, feliz, ‘sim, nós podemos’. A outra metade, incluindo boa parte dos independentes e indecisos, pergunta, atônita: ‘Mas, afinal, quem é este sujeito?’ E muitos deles estão descobrindo a resposta por meio dos sermões de Jeremiah Wright”, diz, em uma referência ao pastor radical de Chicago que foi o mentor espiritual do senador democrata.

Apesar de Obama ter-se desligado oficialmente da congregação de Wright nesta semana, estrategistas conservadores e liberais concordam que a grande questão de 2008 é saber se na boca-de-urna de novembro o fato de Barack Obama ser negro será fonte de júbilo como foi nesta semana. McCain prometeu não se aproveitar do preconceito racial na campanha. Mas em uma disputa tão acirrada e com os republicanos temendo sofrer uma derrota de proporções gigantescas, as dúvidas sobre os métodos utilizados pelos dois lados nos próximos meses aumentaram estupidamente.