sexta-feira, junho 09, 2006

Verão Musical

É verão e NY é uma festa, com shows e mais shows ao ar livre, de grátis. Em julho tem Belle & Sebastian no Battery Park no dia 4, Okkervil River - a fav - no Castle Clinton (tb no Battery Park) dia 13 e o animadíssimo Siren Festival, com a nata da cena independente local em Coney Island no dia 15, e muito, muito mais...Haja fôlego!







.

PERFIL/GAY TALESE


O perfil que escrevi de Gay Talese, um dos maiores repórteres norte-americanos, foi publicado hoje, na capa do caderno Eu&Fim de Semana, do jornal Valor Econômico.

Valor Econômico > EU&Fim de semana > Cultura


ESCRITOR DE REPORTAGENS

Por Eduardo Graça
09/06/2006


Terno cinza impecável, gravata amarela, lenço vermelho cuidadosamente jogado para a esquerda, sapato marrom italiano artesanal. Gay Talese, 74 anos, encara o público de uma das maiores livrarias de Manhattan com um sorriso maroto. E logo avisa: "Não vou ler um trecho de meu livro mais recente. Acho que já não preciso mais provar a vocês que sou um bom escritor, não é?". Pronto. A platéia está em suas mãos, exatamente como as centenas de entrevistados que, desde a década de 1950, se transformaram em personagens na vasta obra daquele que o escritor Tom Wolfe considera o "verdadeiro pai do novo jornalismo". Utilizando técnicas de ficção sem fugir "um milímetro" da realidade, Talese se tornou uma das lendas da imprensa americana e, depois de 14 anos e muita pressão da editora, finalmente lançou sua aguardada biografia, "A Writer´s Life" (A vida de um escritor), que será lançada no Brasil pela Companhia das Letras, ainda sem data prevista.

O livro recebeu uma crítica azeda de "The New York Times", jornal em que Talese trabalhou como repórter entre 1956 e 1965. "Sabe que quando escrevi a história de 'The New York Times' a resenha foi terrível? Liguei para meu advogado, desesperado, e disse: 'Meu caro, o Times destruiu meu livro. É o fim'. Eu esperava, claro, que ele me consolasse, mas ele concordou: 'E o fim mesmo, senhor Talese'. Só que o livro foi um campeão de vendas e aprendi uma lição: não dou a mínima para o que eles dizem."

"O Reino e o Poder - Uma História do New York Times" (Companhia das Letras), lançado em 1969, é hoje considerado um clássico da literatura de não-ficção. Um impressionante relato do fazer jornalístico, seus protagonistas não são apenas as gerações da família Ochs Sulzberger, que se alternaram no comando do jornal, mas seus redatores, fotógrafos, gráficos, motoristas e leitores.

"A verdade é que eu nunca quis trabalhar em jornal. No fim dos anos 1950, o 'New York Times' era um jornal desimportante e chatérrimo. E eu queria escrever sobre pessoas que não eram notícia, mas que para mim eram obviamente importantes, especialmente do ponto-de-vista da cidade." Logo Talese estaria nas principais livrarias com duas obras singulares - "Fama e Anonimato", lançado em 1961 (Companhia Das Letras) e "The Bridges" (As pontes), escrito em 1964. O livro conta os bastidores da construção, entre 1959 e 1964, da ponte Verrazano-Narrows, que liga Long Island a Staten Island e causou a remoção de sete mil moradores de Bay Ridge, bairro operário do Brooklyn, em Nova York.

"Para concluir o livro, cheguei a viajar ao Canadá para entrevistar parentes dos trabalhadores. Também passei horas a fio conversando com o engenheiro Othmar Hermann Ammann, um suíço de 85 anos que vivia no 35º andar do hotel Carlyle e que tinha por passatempo favorito olhar pelo telescópio, um a um, todos os edifícios e monumentos que havia erguido na cidade. Curiosamente, ele morreu um ano depois de a ponte ser erguida."

Talese revela que sempre pensou em seus entrevistados como personagens de um conto, "ou, melhor, de uma peça teatral". Repórter incansável, dedicado, que nunca se deixa vencer pelas dificuldades da pauta, o escritor se prova em "A Writer´s Life" um senhor estilista - não por acaso, recebeu a alcunha de "poeta do mundano", pela capacidade de transformar assuntos e criaturas aparentemente desimportantes em seres notáveis. O livro chegou às livrarias depois de um ultimato de sua editora, a Knopf, que lhe havia adiantado, na primeira metade dos anos 1980, US$ 7 milhões por três livros de memórias. Este é o segundo tomo - e para concluí-lo Talese teve de recorrer a histórias esquecidas em seu bloco de anotações. Algumas mais conhecidas do público, como o drama de Lorena Bobbitt, a tal que mutilou o marido infiel. Outras ainda mais pitorescas, como a da maldição de um endereço na rua 63, no Upper East Side, que abrigou uma série de restaurantes fadados ao fracasso.

A história dos Bobbitt - recusada pela revista "The New Yorker", então sob o comando da britânica Tina Brown - se transforma em uma parábola triste do chamado "white trash" americano. "Fugi da piada que foi contada incansavelmente pelos tablóides. Queria contar a história da classe média-baixa anglo-saxônica deste país, marcada por casamentos que não deram certo, pela total falta de perspectiva de ascensão social e por um inegável culto à ignorância."

"Nos Bobbitt encontrei meus personagens ideais, e eles eram de carne e osso." O resultado é um desafio tardio às feministas, que, na visão de Talese, conseguiram transformar o fuzileiro naval em vilão nacional e fazer com que Lorena jamais cumprisse pena por atacar o marido. "E, quanto aos restaurantes, não é sensacional que agora funciona um japonês kosher lá na rua 63? Esta, para mim, acaba sendo a história dos que já se deram conta de que as cozinhas dos restaurantes de Nova York são a Ellis Island dos imigrantes de nossos tempos."

Talese respira por um segundo, degusta a seco a satisfação de finalmente ver duas de suas histórias mais trabalhosas chegarem ao alcance dos leitores, passeia rapidamente o dedo pela ponta do nariz aquilino e lembra, em voz alta, que não mudou tanto assim desde que ocupou pela primeira vez um lugar na redação de "The New York Times". O repórter segue movido pela mesma curiosidade que, aos 11 anos, o levava a passar a tarde na loja de roupas de sua mãe, interessado menos na moda e mais nas histórias que as pessoas contavam. Especialmente, nos detalhes aparentemente aborrecidos de suas vidas comuns. "Já naquela época, inconscientemente, acho, desenvolvi esta característica insuportável de não aceitar um 'não' como resposta. Mas, por favor, investigo sem ser agressivo e me orgulho muito de, em meio século de trabalho, nunca ter escrito algo que alguém dissesse ser falso ou mesmo ter ficado magoado. Posso me encontrar sem medo com os meus entrevistados, por que jamais exagerei ou inventei, nem confundi o que é real com as possibilidades da ficção."

Em uma de suas últimas aparições públicas, o jornalista discordou publicamente de sua mulher, editora da polêmica autobiografia "Million Little Pieces", de James Frey, recheada de inverdades. Nan Talese não vê problemas em um memorialista mesclar a fantasia com a realidade. Gay Talese foi taxativo: "Uma obra de não-ficção não toma, de modo algum, liberdade com os fatos". Ao mesmo tempo, exatamente como na cerzidura dos melhores documentários cinematográficos, ensina Talese, uma boa reportagem nasce do acaso e da sede do descobrimento. Um bom repórter, lembra, sabe que a história, às vezes, não está no lugar aparentemente mais óbvio. Foi assim com um de seus mais famosos perfis, o do Frank Sinatra doente, amedrontado com a possibilidade da perda da voz, escrito para a "Esquire" em 1966. Considerado por muitos o raio-x mais fiel do cantor, ele foi construído sem que Talese se encontrasse uma única vez com a figura mais importante da música popular americana do século XX.

"Simplesmente, não precisava falar com ele. Isso todo mundo já havia feito. A história estava no cara que guardava o carro dele, no que cuidava da bagunça de seus direitos autorais, em sua secretária, nos músicos que o acompanhavam, no sujeito que carregava seus instrumentos favoritos."

A Perseverança Como Tema




O que Talese percebeu ao escrever "A Writer´s Life" foi que, ele também - o escritor preocupado em não se repetir - alternou personagens misteriosos para deparar-se com uma mesma temática: a perseverança. Talese é obcecado pelos que não desistem. Não pelos teimosos inconseqüentes, mas pelos que subjugam a gripe para voltar ao palco, os que teimam em reescrever a notícia do jornal que irá para o lixo na manhã seguinte, os que dão a vida por uma ponte que vai encurtar caminhos de milhares ou ainda nos que abrem mais um restaurante na rua 63 na certeza de que, desta vez, o sonho será realizado. "Talvez minha perseverança, a do escritor, seja o desejo de que me leiam como se eu escrevesse ficção. Embora tudo seja de uma verdade absoluta. O que faço é real, real, real."

"Talvez a minha perseverança seja o desejo de que me leiam como se eu escrevesse ficção - embora tudo seja verdade absoluta"

A ênfase não é mais um charme de Talese. Ele não se esquece da frustração que provocou, nos anos 1970, quando anunciou aos quatro cantos que iria escarafunchar a vida sexual dos americanos. Seu "A Mulher do Próximo" (Companhia das Letras), lançado em 1982, era um livro sério, uma seqüência deliciosa de perfis dos mais interessantes "pecadores" das terras de Tio Sam, incluindo Hugh Heffner, Larry Flynt e as primeiras coelhinhas da "Playboy". "Mas a imprensa deu um enorme destaque ao meu método de trabalho, que parecia exótico. Por exemplo, quando passei dois meses no campo de nudismo de Sandstone, na Califórnia. Resultado: o livro foi um sucesso imenso, fiquei rico, embolsei US$ 2,5 milhões e muita gente, eu sei, ficou decepcionada com o resultado final, que não tinha nada de apimentado." Mas o escritor que foi coroinha da igreja de sua comunidade em Nova Jersey coça as mãos em júbilo ao revelar que "A Mulher do Próximo" será reeditado este ano, em uma série dedicada aos "grandes clássicos do jornalismo americano".

Talese não é mesmo o Henry Miller do jornalismo ou o Edmund White do universo heterossexual. Mas seus modelos não são tão mais convencionais. "Sabe quem me inspirou? Acima de todos, claro, Scott Fitzgerald. Mas também autores tidos como menores, como John O'Hara e John Cheever. E, claro, todos os escritores da 'New Yorker', que batiam ponto nas páginas de ficção da revista."

Mesmo um observador distraído contrapõe sem dificuldades a escrita objetiva de Talese à retória quase barroca - vá lá, ao menos flamboyanesca - de um Wolfe ou de um Hunter Thompson, dois de seus mais notórios companheiros de "novo jornalismo". Talvez suas grandes reportagens se aproximem mais dos perfis de Truman Capote. "Adorava lê-lo, mas estou falando da ficção dele. Aliás, vamos deixar isso bem claro: só leio ficção. Agora, é engraçado, hoje, por causa do filme, as pessoas vivem me perguntando como ele era, e me apontam na rua dizendo: 'Aquele é o Talese, ele conheceu o Capote'. Ledo engano. Ninguém de fato, conheceu Capote, uma das figuras mais misteriosas e reservadas com quem já me deparei."

Ser apontado na rua, no caso de Talese, é figura de linguagem. Não é tarefa das mais banais desvendar os anseios do eremita mais elegante de Manhattan, quase sempre protegido pela guarida da metodologia talesiana. Há anos o escritor transformou o porão de sua casa, no Upper East Side, em um escritório carpetado, sem janelas, com paredes à prova de som e sem vestígio algum do mais prosaico avanço tecnológico. Lá ele trabalha diariamente, das 8h30 às 13h, no mais completo isolamento. "Escrevo, escrevo, escrevo, sempre com meus lápis a tiracolo. Não uso e-mail, não recebo telefonemas. Depois de um leve almoço, vou para a academia e só aí leio os jornais, rapidamente, fazendo bicicleta. Depois, volto para casa e tento trabalhar mais duas horas. Quando minha mulher vem do trabalho, peço para ela ler em voz alta o que escrevi e presto atenção no que ela está achando. E aí saímos para jantar. A rotina é esta."

Tempo, Tempo, Tempo


Uma das mais interessantes facetas de Talese é justamente sua relação com o tempo. Meticuloso ao extremo, ele escreve e reescreve seus parágrafos quantas vezes achar necessário, para fúria dos editores mais celebrados do país. "Não trabalho com prazos de fechamento, nem em jornais, nem em revistas, nem nos livros. Estou sempre, no mínimo, quatro meses atrasado." Bem ao seu ritmo, passou seis anos 'perseguindo' uma das principais famílias de contraventores da Costa Leste para contar sua história da máfia americana. "Vamos ser sinceros? Escrevi os 'Soprano' com duas décadas de antecedência, não é não?", pergunta, senhor absoluto da resposta que chega em um meio-sorriso.

"Honor Thy Father" conta a história de Bill Bonnano, filho do poderoso chefão Joe Bonnano, a partir de suas intrincadas relações familiares. Talese acompanhou de perto o que restava da máfia, chegou a morar com Bill e seus capangas, mas seus olhos e ouvidos estavam voltados para a maneira como mulheres e crianças eram afetadas pelos negócios nada legais dos provedores de suas casas. "Essa história de que o jornalista não pode se envolver com os entrevistados é uma tremenda falácia. Sabe que prometi à terceira geração dos Bonnano que, se eles não se envolvessem com o crime, eu bancaria seus cursos universitários? Pois todos os quatro se formaram, um até virou médico, o doutor Bonnano. E eu sempre me encontro com eles. Ano passado, aliás, me reuni com alguns dos trabalhadores da Verrazano-Narrows. Entendo o meu ofício desta maneira: sou aquele que escreve sobre pessoas de quem gosta ou, para ser mais exato, sobre as pessoas de quem quero gostar."

Quando anunciou em casa que iria escrever uma radiografia da máfia nova-iorquina, Talese se deparou com a oposição ferrenha dos pais - Catherine DePaolo e, especialmente, seu Joseph Talese, um alfaiate italiano que imigrou para Nova Jersey nos anos 1920. "Papai ficou indignado. E me perguntava: 'Se vai escrever sobre os italianos, por que não investiga a vida de Puccini, de Verdi, de Toscanini?'"

"Ele fazia parte de uma geração marcada por sobrenomes como Capone ou DiMaggio. Os italianos, neste país, ou eram gângsteres ou esportistas. Ele ficava envergonhado. Eu lhe disse que não iria conversar com os capos me apresentando como um repórter de polícia, mas algo assim como um jornalista-sociólogo."

O jornalismo sociológico de Talese pode ser resumido, ele diz, por uma devoção sem limites à sua santa mais querida: a paciência. "Sempre me armo de muita paciência. E nunca digo a ninguém que sou Gay Talese e que gostaria de fazer uma entrevista. Eu quero é passar um tempo com eles, ver como se divertem. Também deixo claro que acredito que aquela pessoa, aparentemente mais uma na multidão, tem algo de absolutamente extraordinário. Algo que precisa ser dividido com a sociedade."

Foi, de certo modo, seguindo a sugestão de seu Joseph que Talese chegou, em 1981, a Lee Iacocca. "Achei que ele daria uma bela reportagem, o executivo que havia sido demitido da Ford e reerguera a Chrsyler com seus carros econômicos. Ele seria minha desculpa para contar a história da imigração italiana nos EUA. Cheguei a conversar com o pessoal do marketing, entrevistei um monte de gente especializada em propaganda de tevê para carros, mas desisti quando vi que jamais conseguiria chegar mais perto de Iacocca. Claro, Iacocca acabou escrevendo o livro com a ajuda de um colaborador, e foi um grande best-seller. Mas aquele, certamente, não era o meu livro."

Anos mais tarde, Talese acabou atendendo ao apelo de seu Joseph de uma maneira inusitada: debruçou-se sobre a história de seus pais. "Unto the Sons" (1993) foi uma grande volta ao passado, o ponto de partida de sua trilogia que ganha agora um segundo olhar com "A Writer´s Life". Para contar a história dos Talese, ele viveu por quase um ano em Roma e em uma bucólica vila na Calábria. "Descobri que não sabia nada sobre eles. Aliás, mudei-me para lá sem falar uma palavra de italiano, mas deu tudo certo e consegui informações sobre minha família até no século XIV." Essa intersecção entre história e narrativa ganha novo fôlego em "A Writer´s Life". "O que eu realmente quis fazer aqui foi contar a história do escritor que conheço mais intimamente, eu mesmo. E também acho que pode ser uma ferramenta para futuros jornalistas, para eles verem como trabalho minhas idéias e as transformo em histórias."

Uma das partes mais interessantes do livro é a que trata da relação de Talese com o Sul dos EUA. Foi no Alabama que o jornalista se graduou, em 1953, "porque não consegui ser aceito em nenhuma outra faculdade". Para lá ele voltou a fim de cobrir o Domingo Sangrento de Selma, em 7 de março de 1965, uma data mítica da luta pelos direitos civis dos negros americanos. Nesse dia, a polícia do governador segregacionista George Wallace investiu contra 500 manifestantes na ponte localizada na saída da cidade, que os levaria à capital do estado, Montgomery. "Anos depois, reli os jornais e percebi que aquela história ou era sempre contada a partir do ponto de vista do reverendo Martin Luther King ou da Ku Klux Klan. Decidi que iria revisitar Selma, só que pela ótica do homem comum. Para isso, retornei lá nos anos 1970, 80 e 90. Queria saber o que havia acontecido com aquelas pessoas depois do fato consumado. Minha questão era uma só: o que acontece quando os jornalistas vão embora?".

Pistas podem ser finalmente encontradas em "A Writer´s Life", definido por Talese como "meu único livro em que não há, de fato, uma história". A grande reportagem sobre Selma permanece inédita, mas cenas como a do jovem Talese chegando de trem no Alabama, "esta terra estrangeira", são quitutes saborosos oferecidos no novo livro, um balanço fiel de meio século de excelente jornalismo.

Os olhos de Talese piscam mais rápido quando ele fala de sua labuta. O ritmo da fala também muda, ganha em velocidade e perde em inflexão. O dedo indicador passeia pela boca, sem apontar um caminho, uma saída. Mas quem ousaria negar-lhe ouvidos? "Um bom repórter vive de pesquisa, muita pesquisa. Depois vem a parte mais complicada, que é organizar a informação amealhada. É como se fosse a coreografia de um balé. Claro, há a exigência do uso correto da linguagem. Agora, sabe quando você tem certeza de que determinado sujeito escreve bem? Quando ele tem a capacidade de sugerir sem cair na vulgaridade. De denunciar sem ser rude. De revelar facetas até constrangedoras de determinada pessoa sem denegrir sua imagem. Além disso, acho que, no meu caso, me ajudou muito saber quem sou e o que faço, ter um senso de honra e integridade de que me orgulho, mas, principalmente, o cultivo diário do que eu chamaria de senso de responsabilidade." Palavra de quem compara o ato de escrever ao momento em que se expele uma pedra nos rins. E de quem acaba de entregar aos leitores "A Writer´s Life", um livro sobre a busca desesperada, sofrida e quase sempre aliviadora, da história do dia.

Diretinho da Redação (44)


A Coluna da Semana, que já está no DR, é sobre uma nova tática para se enfrentar a violência urbana que vem recebendo muitos aplausos aqui nos EUA.http://www.blogger.com/img/gl.link.gif


DELINQÜÊNCIA JUVENIL


Aqui em Nova Iorque falou-se muito esta semana de MST e de violência. Mas aqui MST é a sigla em inglês para a terapia multi-sistêmica, uma técnica utilizada por um programa de combate à delinqüência juvenil que vem recebendo aplausos em um país assombrado pelo crescimento das gangues e a aparente impotência do Estado em lidar com adolescentes problemáticos. O principal motivo do fuzuê: a MST rejeita veementemente reformatórios ou centros de correção e inverte a lógica da punição – o jovem deve ser acompanhado, sempre, em seu território. E as famílias nunca devem ser quebradas.

O programa anti-violência desenvolvido pelo psiquiatra e psicólogo Scott Henggeler começou a ser testado em 1992, no estado de Ohio, e parte do princípio de que todas as causas de ‘comportamento anti-social’ devem ser atacadas ao mesmo tempo. Henggeler bebe da Ecologia Social e trata não apenas do indivíduo, mas de seu ecossistema - composto por família, vizinhança, escola, o grupo de amigos e sua relação com a comunidade. Modificar este ecossistema – e não afastar a criança do que a cerca – é sua meta.

Para tanto, a MST faz uso de profissionais de várias especialidades e se imiscui nos labirintos dos problemas legais, no consumo, produção e tráfico de drogas e no nível de excelência escolar. Cada terapeuta cuida de, no máximo, seis famílias ao mesmo tempo. As visitas são diárias e o contato permanente. Trata-se de um esforço intensivo, muitas vezes incômodo e invasivo (de acordo com o relato das famílias envolvidas no projeto), mas com resultados surpreendentes. A MST centra fogo na separação dos jovens atendidos das ‘más-companhias’ e no acompanhamento minucioso dos responsáveis – pais, tios, padrinhos –, que assumem o compromisso de manterem a ação terapêutica depois do fim da assistência dada pelos psicólogos. Parte do programa consiste justamente no treinamento dos adultos e na tentativa de dar poder às comunidades, incentivando a criação de programas independentes de desenvolvimento e incremento do ecossistema, que vão desde mutirões até aulas de educação artística.

Não se trata de um programa barato, é claro. As ações duram em média cinco meses, e cada caso custa cerca de US$ 7,5 mil (ou R$ 19 mil) aos cofres públicos. Mesmo assim, trata-se de uma economia fascinante quando se pensa que o custo de cada jovem norte-americano institucionalizado, para o Estado, é, hoje, de US$ 50 mil, ou cerca de R$ 125 mil, por ano. E, exatamente como no Brasil, o índice de infratores que reincidem em crimes contra a sociedade é altíssimo, com o retorno do investimento beirando o nulo.

Mas a MST poderia ser uma história de sucesso em outras paragens, como no Brasil? Talvez. Comandante da divisão de Justiça Criminal da Universidade de Cincinnati, Ohio, o especialista Edward Latessa tem suas dúvidas. Em um texto sobre o programa publicado na revista dominical do The New York Times ele lembra que a iniciativa depende muito d capacitação de profissionais extremamente comprometidos com o sucesso da terapia – obviamente, a resistência a uma atuação intensiva, que altera toda a rotina da família, é significativa. Mas pelo menos no meio-oeste americano, a MST é uma das poucas histórias de sucesso na luta pela recuperação dos menores infratores.

quinta-feira, junho 08, 2006

Aqui do meu ladinho...

Da série vivendo sob terror: o prédio onde ficam as sucursais do New York Times e do Daily News aqui perto de casa, ao lado da Ponte do Brooklyn, a meio caminho da minha academia, acaba de ser evacuado. Ameaça de bomba. Os jornalistas trabalham todos do lado de fora pois a cidade, afinal, não pode parar. E viva Nova Iorque!

quarta-feira, junho 07, 2006

Cajuína, Caetano & Torquato

Há um texto belíssimo de Caetano Veloso, contando como compôs Cajuína, obra-prima presente no lindo Cinema Transcendental (79), no blog do Jorge B.Moreno. O baiano conta que criou a música no Piauí depois um impactante encontro com o pai de Torquato Neto, que se matara sete anos atrás. Vale a leitura, aqui.