quinta-feira, outubro 12, 2006

Diretinho da Redação (49)

O texto da semana é sobre a reportagem da tevê australiana que flagrou um Alckmin diferente. Dêem uma olhada no vídeo.

UM OUTRO ALCKMIN NO YOUTUBE

Eduardo Graça

Se o presidente Lula fosse um dos cerca de 40 milhões de internautas que entram todos os dias no site YouTube ele não teria ficado tão espantado com a agressividade de Geraldo Alckmin no debate de domingo na Bandeirantes. Está lá, para quem quiser ver, uma faceta pouco conhecida do ex-governador. Se nas tevês brasileiras ele aparece calmo ao extremo, uma combinação de coroinha de igreja com professor de magistério, no programa Dateline, apresentado no dia 2 de agosto pela rede australiana SBS, ele reage indignado, interrompendo bruscamente a repórter Olivia Rousset quando questionado sobre a falência da política de segurança pública do PSDB em São Paulo.

Durante doze anos Alckmin despachou no Palácio Bandeirantes, sede do governo paulista. No entanto, não entendeu a insistência da repórter em saber se ele estava de fato chocado com a ação dos grupos de extermínio em São Paulo. A reação de Alckmin – “se eu soubesse que este era o tema do programa não teria dado a entrevista” – só não é cômica porque arreganha a um só tempo o grau de subserviência da mídia brasileira e o descaso de boa parte de nossa elite política com a inteligência do cidadão de Pindorama. Por que não se fez uma entrevista como esta na televisão brasileira? Será que os políticos exigem dos jornalistas o conhecimento prévio da pauta e só conversam com a imprensa se as perguntas os agradam? “Este é um problema do governo do estado de São Paulo, vá procurar as autoridades”, ensina Alckmin à imprensa estrangeira.

Quando Olívia Rousset, em vão, argumenta que ninguém nos Bandeirantes quer ouvir falar sobre o assunto, nem mesmo a Secretaria de Segurança Pública e a chefia da Polícia, Alckmin usa seu inglês pela primeira vez e deixa a repórter falando sozinha: “Bye, bye!”. Tudo isso pode ser acompanhado no YouTube, site criado em fevereiro de 2005 por três amigos e que acaba de ser comprado por US$ 1,67 bilhões pela turma do Google. Todos os dias aproximadamente 100 milhões de vídeos são baixados de graça no site, que responde sozinho por 46% do mercado de vídeos na internet e, até ontem, contava com 67 funcionários em sua folha de pagamento.

Em pouco mais de um ano o YouTube se transformou em uma impressionante videoteca virtual, reunindo tanto imagens históricas da televisão mundial quanto registros de concertos de rock que pareciam perdidos para sempre. Com eleições por aqui em quatro semanas, pululam no site imagens que mostram candidatos ao Congresso norte-americano em situações comprometedoras, especialmente em comícios e aparições públicas (que ganharam nova dimensão com a gravação amadora, livre das regras das grandes redes jornalísticas). O vírus, felizmente, parece ter chegado ao Brasil. O Google, ao abocanhar o site, anunciou estar ciente de que terá de encontrar meios para assegurar a seriedade das imagens publicadas e evitar a pirataria. Mas também assegurou que seu novo produto manterá a vocação libertária que o caracteriza desde o nascedouro.

A transcrição do programa da SBS sobre o descaso das autoridades com a violência em São Paulo, uma aula de jornalismo inteligente e independente, pode ser lida em http://news.sbs.com.au/dateline/index.php?page=transcript&dte=2006-08-02&headlineid=1166, infelizmente apenas em inglês. Mas o link da gravação com Alckmin foi felizmente postado no YouTube. E conta com legendas em português. Para quem tem acesso à rede de computadores e vai votar no segundo turno das eleições presidenciais, o endereço, obrigatório, é o http://www.youtube.com/watch?v=vsRynm18_Eg