quarta-feira, setembro 06, 2006

THE LOOMING TOWER - Lawrence Wright

Também parte do especial sobre os cinco anos do 11 de Setembro na Continente Cultural, meu texto sobre o sensacional livro do repórter Lawrence Wright, da revista The New Yorker, The Looming Tower.

TERROR E HUMILHAÇÃO


Livro do jornalista e acadêmico americano Lawrence Wright explica as raízes do ódio muçulmano e tenta responder à pergunta: o terrorismo é inevitável?

Por Por Eduardo Graça, de Nova York

Um dia antes de Torres Gêmeas de Oliver Stone estrear nos cinemas americanos, um outro thriller sobre o atentado de 11 de Setembro de 2001 invadiu as livrarias da cidade. The Looming Tower – Al-Qaeda And The Road to 9/11, do jornalista Lawrence Wright, ainda sem editora no Brasil, já é considerado pela crítica a mais importante análise sobre a teia de eventos que levaram o ataque ao centro do império.

Repórter da revista New Yorker, professor da Universidade Americana do Cairo, no Egito, e um dos nomes mais respeitados do Centro de Direito e Segurança da New York University (NYU), Wright escreve para um leitor que busca, cinco anos depois de terroristas sauditas explodirem um Boeing 767 na torre norte do World Trade Center, entender o que de fato aconteceu naquele dia e se haveria uma maneira de se prevenir outros atentados. O terrorismo que nos cerca é inevitável?



Para responder a esta pergunta, Wright nos transporta para os subúrbios de capitais árabes, penetra na vida isolada das mesquitas da Europa Central, apresenta-nos à busca desesperada pela ordem tanto nos rincões pobres do Paquistão quanto nos subúrbios ricos e vazios do meio-oeste americano. Wright nos apresenta a John O’Neill, o comandante do FBI em Nova York, personagem shakespeariano, que trabalhou até o último segundo para desmantelar a Al-Qaeda e que acaba perecendo justamente no ataque às Torres. E a um outro Osama Bin-Laden, baixote, humilhado e destratado pelos revolucionários afegãos, que não conseguem entender como um “guerrilheiro pode ser tão fraco de saúde, tão preguiçoso”.

A intensificação da violência nos últimos cinco anos vem se caracterizando como algo mais complexo do que um “choque das civilizações”, na visão simplista dos conservadores norte-americanos. The Looming Tower bate fundo no perigo da co-existência do fundamentalismo islâmico apoiado por Estados religiosos radicais como o Irã e o antigo Talibã com sua contrapartida cristã, apoiada por um status quo de extrema-direita, fantasiado de “democracia evangelizadora”. Um dos personagens mais fascinantes deste estudo impressionante da miséria de idéias do mundo contemporâneo é Sayyid Qutb, principal ideólogo do que os republicanos de Washington agora chamam – em uma referência à Segunda Guerra Mundial, à luta contra o totalitarismo e ao ataque aos judeus – de “fascismo islâmico”. Wright nos conta que Qutb escreveu quase toda a sua obra a partir da sua experiência como visitante-convidado da Universidade do Colorado, em 1940. E de seu horror aos excessos e preconceitos de uma sociedade que parecia destinada a engolir o mundo por meio de sua crença em uma superioridade ética que, no entanto, não se comprovava na prática. Diante de seus escritos, Osama, escreve, é um “teólogo amador”.

Wright tem horror ao fundamentalismo islâmico. Mas não tem medo de afirmar que suas raízes estão em uma experiência profunda de humilhação. Não apenas as classes mais baixas, mas mesmo os que têm acesso à educação sentem na pele as privações da ocupação, termo que um norte-americano comum, assim como um brasileiro, que nunca viveu a sujeição diária, a necessidade de se obedecer ao estrangeiro, ao estranho, para sobreviver, não pode compreender com exatidão.

“Os líderes da Al-Qaeda se revelaram, muitas vezes, amadores incompetentes que tinham de se reerguer depois de cada um dos muitos revezes que sofreram. Mas a organização que eles criaram tinha apenas um único objetivo em mente e permaneceram fiéis a seu objetivo. No caso do 11 de Setembro, os conflitos burocráticos e rivalidades entre CIA e FBI, sua falta de profissionalismo mesmo, jogaram contra uma inegável vantagem que os EUA tinham sobre os seus adversários e que poderia ter impedido a catástrofe”, escreve, por e-mail, Wright, no dia em que agentes britânicos impediram mais um ataque terrorista aos EUA. Mas, então, um novo 11 de Setembro pode ocorrer a qualquer momento? The Looming Tower não termina aqui em Nova York. Não por acaso, o cenário, em março de 2002, é a fronteira do Afeganistão com o Paquistão:

Apesar de toda a artilharia, um grupo de homens à cavalo segue rumando para o Paquistão. Eles chegam a uma aldeia e conversam com o líder local, Gula Jen. Seu turbante negro e longa barba faz com que ele pareça um talibã. Quatro dias depois, Jan contaria aos americanos que havia sim ‘visto um homem gordo, velho, árabe, com grossos óculos negros e um turbante branco. Ele se vestia como um afegão, mas portava um manto muito bonito, que não se vê por aqui, e viajava ao lado de dois outros árabes, que não tinham suas faces à mostra”. O homem do turbante branco desceu do cavalo e conversou com Jan de forma especialmente polida e graciosa. Ele perguntou a Jan a localização das tropas anti-talibã que haviam invadido o país. Enquanto eles conversavam, Jan olhou de relance para o panfleto que havia sido jogado por aviões americanos dias atrás. Ele mostrava a foto de um homem com óculos e um turbante branco. Tinha um calo negro em sua testa, certamente resultado de horas dedicadas à louvação de Allah. O panfleto também dizia que a recompensa por aquele terrorista era de 25 milhões de dólares. Jan voltou a conversar com aquele que ele agora acreditava ser o Dr.Ayman Al-Zawahiri, egípcio e principal ideólogo da Al-Quaeda. Ele lhe disse ‘que Allah o abençoe e mantenha-o a salvo dos inimigos do Islã. E, por favor, se for possível, tente não revelar a eles de onde viemos e para onde iremos, quando eles chegarem”. Havia um número no panfleto, mas Jan não possuía um aparelho telefônico. Zawahiri e os homens mascarados desapareceram pelas montanhas.

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