sexta-feira, setembro 15, 2006
Diretinho da Redação (50)
O texto da semana já está no DR, e é sobre as profecias - quase sempre nefastas - sobre o futuro dos jornais impressos nas próximas décadas aqui no hemisfério norte.
A MORTE DO JORNAL IMPRESSO
Eduardo Graça
Nova Iorque - Neste setembro a revista The Economist dedicou uma de suas capas à ‘morte do jornal impresso’. Em meio a uma miscelânea de números, análises e profecias, a reportagem previa uma diminuição drástica de títulos no mundo desenvolvido nos próximos anos e a sobrevivência de alguns produtos de excelência, como um The New York Times, um El País, um Guardian.
Foi justamente no jornal britânico que o jornalista Richard Addis, até pouco tempo responsável pela ótima edição de fim de semana do Financial Times, publicou nesta segunda-feira um artigo provocativo intitulado ‘Jornais De Graça Para Todo Mundo’, que oferece uma interessante contra-partida ao estudo daquela que talvez seja a mais influente revista do momento.
Aqui nos EUA há uma espécie de consenso entre a maioria dos jovens de que notícia, assim como música, deve ser um produto de consumo livre. Quem assina dois jornais por dia, e uma série de revistas, passa, para a nova geração de leitores acostumados com o mundo on-line, um atestado de imbecilidade.
Barões da velha imprensa, como Rupert Murdoch (Fox, London Times) e o lorde Jonathan Rothermere (Daily Mail), parecem ter entendido o impacto da internet em seus negócios, e, assim como o NYT fez em Boston, lançaram jornais gratuitos em Londres, a fim de atingir justamente o leitor que se recusa a pagar por um artigo de produção sofisticada – encacercida pela produção de reportagens e entrevistas que envolvem pesquisa, o investimento em pessoal especializado e tecnologia.
Basta uma folheada rápida nestes jornais gratuitos para perceber, no entanto, que eles não passam em um teste de qualidade de conteúdo. São prisioneiros do entretenimento, da leitura rápida, da cópia do release enviado às redações por assessores de imprensa. Richard Addis lembra que o aumento de leitura de um jornal que decidir parar de cobrar nas bancas (assinaturas, é claro, envolvem a taxa de entrega) corresponderia a um incremento de 25% na circulação, em média (e o mesmo percentual de aumento de custo para a impressão em maior quantidade).
Ele aposta que o ganho em publicidade diminuiria o peso das despesas com o aumento de gastos no papel – que, a longo prazo, tenderia a diminuir, com a equiparação do preço da publicidade no jornal e na internet gratuitos. Mais: ele aposta que uma gama imensa de leitores que hoje prefere os tablóides ou os semanários gratuitos, especialmente os mais jovens, vai migrar para os grandes jornais, em busca de qualidade. E dá como exemplos as experiências do The Washington Post (com sua versão Express) e do alemão Welt (e seu Kompact). O futuro da imprensa escrita a eles pertence? É pagar – ou não – para ver.
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