Nunca fui fã da série. Jamais me seduzi pelo cumprimento hippie-galático ou pelas orelhas sabidas de Spock. Sim, adorei a foto (reprozudida aí em cima) do Obama de Vulcano. E sabe que gostei da versão do J.J. Adams? Dos lançamentos comerciais de verão, foi, de longe, até o momento, o mais interessante.
Reproduzo aqui os textos originais que saíram no Terra Online com as entrevistas realizadas em Los Angeles. Aí vão:
Eduardo Graça, de Los Angeles, Direto da Redação para o Terra
Quando J.J. Abrams, o nome responsável pelas séries Lost e Alias, recebeu a tarefa de reinventar uma das maiores grifes da cultura pop norte-americana, a reação foi de espanto. O diretor não era exatamente um fã de Jornada nas Estrelas – a série estreou na tevê americana em 1966, o mesmo ano em que Abrams nasceu! - e tinha calafrios ao pensar em títulos como o recente Nêmesis, um dos maiores fracassos de bilheteria de 2003.
Depois de uma dezena de filmes e uma nova geração sem o brilho da original, Abrams percebeu que para fazer a U.S.S.Enterprise decolar novamente seria preciso jogar o cheiro de mofo que pairava na nave espacial para escanteio. Missão cumprida. Seu Jornada nas Estrelas nos leva para a primeira viagem da nave espacial, apresentando as origens de personagens queridos do público, como o Capitão Kirk, vivido pelo galã Chris Pine, e o alienígena mais famoso do universo, Spock, na pele de Zachary Quinto, conhecido pelo vilão da série Heroes.
E, ao contrário de outras marcas poderosas que se voltaram para seu gênesis recentemente e optaram por mostrar cenários sombrios, como o Batman dos irmãos Nolan, o Jornada das Estrelas de Abrams é repleto de esperança, um retrato coloridísimo da Era Obama. É a galáxia unida em prol do bem-comum. Até o romulan vivido pelo Hulk Eric Bana tem lá seus motivos para arrumar confusão entre uma viagem pelo tempo e outra.
Opa, e eu já disse que estas travessias temporais oferecem a desculpa perfeita para que Leonard Nimoy, o eterno Spock, volte à tela grande com toda pompa? Não? Então se segure, o Terra conversou com Abrams e seu elenco no salão de conferências de um hotel de luxo em Beverly Hills. Os principais trechos da conversa com o diretor seguem abaixo. O bate-papo com os atores vem logo em seguida. Aperte os cintos e se prepare, esta viagem vale o ingresso nos cinemas.
J.J. Abrams - highlights
Desafio de Retomar uma Grife de 40 Anos
Logo de início percebi que queria manter elementos da mitologia de Jornada nas Estrelas que fossem importantes para os fãs. A silhueta da Enterprise precisa ser fiel ao original. O fã precisa reconhecer os personagens de imediato (VER QUADRO). A audiência é mais sofisticada agora, claro, então tivemos que trabalhar num nível de precisão com que, em 1966, os produtores não precisaram se preocupar.
Fantasia Realista
Sabia desde o início que seria a parte mais importante de meu Jornada nas Estrelas. Nunca me preocupei nem com os efeitos visuais, nem com o design dos objetos. O que queria eram atores capazes de imprimir realismo no filme. Um de nossos modelos foi o Super-Homem dirigido por Richard Donner em 1978. Até então, a imagem que você tinha do homem de aço era a dos quadrinhos ou da série de tevê. Com Donner, você tem de acreditar que aquele homem pode, de fato, voar. Era o efeito que eu queria em Jornada nas Estrelas. Nunca senti – e talvez isso tenha a ver com os recursos disponíveis anteriormente – que Jornada nas Estrelas era real. Queremos mudar isso.
Elenco
Queria, então, ter atores capazes de trazer humor e verdade para a tela, sem copiar os originais. Achava que o mais complicado seria o Spock. Então, um belo dia, Zachary Quinto apareceu e sim, ele nasceu para fazer Spock um dia na vida. Kirk foi o último a encontrarmos, demorou muito. Queríamos alguém bonito, sapeca e essencialmente engraçado. Foi o que achamos em Chris Pine. Também tínhamos de ter atores que falassem o cientificês tecnológico e não deixassem ninguém de saco cheio. Você acredita no que vê. A primeira vez que tivemos a certeza de que estávamos no caminho certo foi quando Zach e Chris leram juntos algumas cenas. Com este elenco temos a pretensão de fazer um Jornada nas Estrelas que não será esquecido, que ficará. Esta é nossa ambição.
Comparações Com Outras Jornadas
Para começo de conversa eu nunca fui um trekkie. Gostava da série, mas nunca fui um fã ardoroso. Quando descobri que haviam 10 filmes já feitos, quase tive um piripaque (risos). Comecei como produtor, mas logo cheguei à conclusão que ficaria mal se não dirigisse também.
Lutando Contra O Previsível
Um dos desafio foi não fazer algo como os filmes que contam o começo de Guerra Nas Estrelas. Ora, aconteça o que acontecer, você sabe, lá, que o personagem de Ewan McGregor vai sobreviver. Você sabe que o Alec Guiness faz o Obi-Wan Kenobi no futuro. Aqui, com a noção da viagem no tempo e das realidades paralelas, tudo é mais imprevisível.
Leonard Nimoy: O Eterno Spock
Passei tanto tempo com ele durante a preparação para o filme que percebi que não era o suficiente, queria mais. Criamos então especialmente um personagem para ele. Leonard adorou a idéia e eu também.
O novo cap. Kirk acredita que fãs vão gostar de 'Star Trek' Uma das primeiras decisões de J.J.Abrams ao tomar as rédeas de Jornada nas Estrelas foi a de convocar um elenco forte mas destituído de estrelas de Hollywood. A idéia era trazer jovens talentosos que pudessem ser identificados com personagens tão emblemáticos quanto o Capitão Kirk e Spock de forma total, sem resquícios de outro papel marcante feito pelos atores. O autraliano Erica Bana, 40 anos, é a exceção que confirma a regra. Conhecido do público pelo agente-secreto de Munique, de Steven Spielberg, o Heitor de Tróia e, claro, o Incrível Hulk, ele faz no filme Nero, um ser atormentado pela destruiçnao de seu planeta. A seu lado estão Chris Pine, rosto de modelo, pele queimada de sol, aos 28 anos pronto para garantir seu espaço em Hollywood. Seu novo projeto deverá ser o Lanterna Verde, dirigido por Martin Campbell (de 007 Cassino Royale).
O Terra conversou com os dois, mais o hilário John Cho, 36 anos, que, como toda a tripulação de Enterprise, fechou um contrato para duas outras seqüências de aventuras de Jornadas nas Estrelas. Seguem os melhores trechos da prosa:
Como você se preparou para viver o Capitão Kirk?
PINE: Fiz minha lição de casa. Devorei a série original, vi todos os capítulos, par tentar compreender melhor a dinâmica ente os personagens e a estética por detrás de Jornada nas Estrelas. Mas aí descobri que estava tentando encontrar a melhor imitação possível de William Shatner fazendo o Capitão Kirk...
Algo mais fácil, mas ao mesmo tempo mais vaporoso de se conquistar...
PINE: Aquele não foi meu melhor momento, claro. E era o oposto do que J.J. Abrams havia pedido. Ele queria que nós imaginássemos estes personagens de forma absolutamente original, única, singular. Diferente do que todos os predecessores haviam feito com eles.
E como você saiu deste jogo de xadrez?
PINE: Eu conversei com J.J. e fomos juntos encontrando as nuances de meu Kirk. Mantive um senso de continuidade em relação ao trabalho de Shatner, creio, mas criei algo diferente. Encontrar um equilíbrio entre os dois Kirks foi o desafio de minha interpretação.
A preparação física também foi intensa, não? A futura tripulação da Enterprise passou um tempo junta e vocês ficavam tardes inteiras lutando boxe...
PINE: Sim, tivemos dois meses do que eu chamaria de recrutamento militar Star Trek (risos). Aprendemos muito com os dublês. E não foi só boxe, não, teve kick-boxing, krav-magá e aulas de auto-defesa. E com a ajuda das artes marciais, fomos criando uma coreografia para as cenas de luta.
CHO: Eu bem que tentei me manter em forma, mas têm sido aquela coisa de altos e baixos. Mas adorei tanto o taequendô quanto o krav-magá. Zac Quinto, por exemplo, ficou treinando mais aikidô. Foi tudo bem focado em cada personagem.
BANA: Como se chama isso, krav-magá?
CHO: Mas peralá, Eric, você fez um agente-secreto israelense em Munique! Como é que não sabe que krav-magá é a arte marcial desenvolvida pelo Mossad, o serviço-secreto israelense? (risos)
BANA: Oh...(com o rosto vermelho). É algo como o jiu-jitsu praticado no Brasil?
CHO: Não! Hello, Munique! (mais risos, Bana fica mais vermelho). Eu diria que é um estilo salsa de se matar alguém (risos). Não, sério, é uma arte marcial eficiente, intensa e muito boa para seu corpo.
PINE: Desde que a gente parou de gravar o que eu tenho mesmo praticado é semi-aposentadoria, conhece? Durmo muito. (risos).
Eric, você não teve de se aperfeiçoar em nenhuma arte marcial? E teve de ganhar músculos para o filme?
BANA: Não, os figurinos fizeram o serviço completo.
Chris, o Zachary teve a chance de trabalhar o Spock juntamente com o Leonard Nimoy. Você não gostaria de ter tido a oportunidade de estar mais próximo do William Shatner, que publicamente disse ter ficado sentido por não ter sido incluído no filme?
PINE: Engraçado, sabe que eu finalmente o conheci ontem em uma das ações de caridade que ele faz aqui em Hollywood? Ele é sensacional. Foi menos um encontro diplomático entre os Kirks e mais um apoio que dei às ações deste cidadão exemplar. Ele me mandou uma carta linda enquanto estávamos filmando me desejando toda sorte do mundo na Enterprise. Quero muito passar uma tarde toda conversando com ele. Mas acho que, e isso casa com o que disse no começo, se Shatner estivesse no set de filmagem, seria ainda mais complicado para mim encontrar meu próprio Kirk. Sentir-me livre o suficiente para criar meu próprio Kirk foi a parte mais importante de meu trabalho em Jornada nas Estrelas. Mas não vou mentir, agora que já filmamos, morro de inveja da relação de Zach com o Leonard (risos).
Você ficou nervoso com o encontro?
PINE: Sim, claro. Uma coisa é receber uma carta, outra encontrá-lo e dizer “olá, senhor! Prazer em conhecê-lo, eu sou aquele menino que está fazendo o seu papel” (risos). Mas percebi que havia algo na maneira como ele move seu corpo, anda teatricalmente pela nave espacial, o jeito como ele senta na cadeira, estão no meu Kirk também.
Quando lançada nos anos 60 Jornada nas Estrelas lidou com temas como a Guerra Fria, a necessidade de se fortalecer a ONU, feminismo e racismo. Como é que o filme dialoga com o mundo contemporâneo?
PINE: Enquanto filmes como Watchmen e Batman se aprofundam de uma forma magnífica do lado negro da natureza humana. Eles são niilistas e nós trazemos um sopro de esperança. Quando você termina de ver este filme você sai com um sorriso, olhando para o futuro. Pode parecer brega, mas há quanto tempo Hollywood não traz um filme de ação com um enredo para cima? Por que não uma história positiva? Especialmente neste momento de crise econômica e guerra, entre Sri Lanka e Afeganistão e pessoas perdendo suas casas, por que não contar uma história que termina de um modo diferente?
CHO: Procurando Nemo já fez isso (risos)...
BANA: E é difícil dizer para crianças de 10 anos, por exemplo, que elas não podem ver Watchmen ou Batman. Quando nós éramos crianças, estes personagens, Batman, por exemplo, eram todos infantilizados de certa maneira. Acho que ter pensado num Jornada nas Estrelas tão sofisticado quanto mais próximo de crianças e jovens foi um acerto de J.J.
Vocês acham que os fãs mais ardorosos vão curtir o filme?
CHRIS: É o que mais queremos, claro! Mantivemos vários detalhes que apenas os fãs de carteirinha reconhecerão e, ao mesmo tempo, há todo um universo convidativo a ser descoberto para quem pela primeira vez entrar em contato com Jornada nas Estrelas.
BANA: Estamos bem conscientes de que este é um filme que a audiência se relaciona de uma forma bem específica com o que vê na tela. E, olha, no lançamento mundial na Austrália foi sensacional ver a platéia em Sidnei aplaudindo de pé. E, australiano que sou, te garanto: esta não é uma reação comum em meu país. Foi um dos momentos mais emocionantes de minha carreira.
O veterano e o novo Spock falam sobre 'Star Trek'
Bastam cinco minutos em cena para se ter a certeza: Zachary Quinto era a escolha óbvia para o novo Spock. Ele parece menos o temido Sylar de Heroes e mais o cerebral vulcano de sangue-verde a cada cena. Aos 31 anos, ele é o segundo ator a assumir controle no papel imortalizado por Leonard Nimoy. De tanto maravilhar os colegas com seu conhecimento estelar e simpatia à toda prova no set ajudando seu pupilo, o veterano de 78 anos ganhou um papel no Jornada nas Estrelas de J.J.Abrams. Um dos momentos mais emocionantes do filme é quando os dois Spocks se encontram. Mas a reportagem do Terra não é estraga-prazeres e não vai contar mais nada. Vejam a conversa que tivemos, em um hotel de luxo em Beverly Hills, com os dois atores e uma linda Zoë Saldana, 31, que vive Nyota Uhura, a especialista em lingüística que se apaixona, e, na versão de J.J. Abrams, é mais do que correspondida, pelo genial – e genioso - Spock:
Você era um fã da série?
QUINTO: Não. Sou da geração Guerra nas Estrelas. E creio que os temas em torno de Jornada nas Estrelas me pareceram um pouco avançados demais para mim na época.
Como você se preparou para viver o Spock?
QUINTO: Li muito. Há volumes enciclopédicos sobre Jornada nas Estrelas. E, claro, Leonard. Ele esteve sempre ao meu lado, foi sempre uma presença fiel quando precisava de qualquer coisa. Mas para falar a verdade o que eu mais queria saber era do impacto de Spock na vida dele. Conversamos muito sobre isso.
A preparação física foi muito intensa?
QUINTO: Você vai achar que é mentira, mas tive de fazer muitos exercícios de controle-motor para as mãos. Cheguei a usar um elástico nas mãos durante horas a fio para conseguir memorizar na pele o famoso gesto de saudação de Vulcan. Dirigi muito em Los Angeles, para cima e para baixo, com o elástico nos dedos (risos). Mas para mim, essencialmente, este personagem foi um exercício de contenção.
Qual o significado para vocês do encontro dos dois Spocks?
NIMOY: Acho que fica claro o fato de que este filme funciona como uma espécie de começo e fim da história de Spock. J.J. apresenta a origem de Spock e a batalha para ele encontrar seu próprio design psicológico. É um filme sobre esperança, que coincide maravilhosamente bem com a Era Obama, é nova energia para o país, para o planeta, para estes personagens em Jornada nas Estrelas. E o filme, claro, mostra também como vingança é um sentimento vazio, especialmente nas relações internacionais entre países e, no futuro, planetas.
Spock vive no filme um relacionamento amoroso explícito com a Uhura. Vocês se preocuparam com a reação dos fãs às cenas de amor nada racionais que protagonizam?
SALDANA: De fato, em um primeiro momento, pensei que J.J. estava insano (risos). Mas depois de ler o roteiro vi que fazia todo o sentido. Ela sabe o que quer, ele é muito lógico, e ela odeia Kirk. É a combinação perfeita. Foram cenas muito cândidas eu diria, há uma ligação clara agora entre os dois, mais profunda do que antes, uma conquista para a mitologia da série.
QUINTO: Talvez tenha sido a maior liberdade dramática de nosso Jornada nas Estrelas. Foi um risco, mas acho que valeu muito. O público compreende ainda mais quem é Spock.
SALDANA: E quem melhor do que uma lingüista do calibre da Uhura para trabalhar bem com a língua? (risos).
NIMOY: Eu fiquei morrendo de ciúmes! (mais risos).
Quando Nichelle Nichols pensou em sair da série de tevê, ela recebeu um telefonema do reverendo Martin Luther King, pedindo que ela repensasse a decisão, dada a importância de Jornada nas Estrelas. O senhor tinha, na época, a noção da importância da série no imaginário norte-americano?
NIMOY: Sim, honestamente, eu tinha. Sabia que estávamos lidando com temas contemporâneos de enorme importância, como o movimento feminista e a luta pelos direitos civis dos negros aqui nos EUA. Foi uma plataforma para roteiristas lidarem com estes temas, 300 anos no futuro, de uma maneira original. Sempre tive esta consciência e usei esta informação na construção de Spock. E eu sinto que o JJ entendeu isso muito bem, fico muito feliz, estamos, como se diz aqui nos EUA, na mesma página (risos).
quarta-feira, maio 20, 2009
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