sábado, junho 21, 2008

ENTREVISTA/Paulo Szot

Está no Portal Terra minha entrevista com o barítono Paulo Szot, 38 anos, o primeiro brasileiro a ganhar um Prêmio Tony, o Oscar do teatro americano. Conversamos ontem de tarde no Central Park e, apesar de visivelmente cansado, Paulo foi um doce de simpatia. As fotos são minhas e da querida Luciana Medeiros. Ó só:

Arte e Cultura


"Foi uma vitória de todos nós", diz vencedor do "Oscar" do teatro

Eduardo Graça
Direto de Nova York


A última vez em que um artista oriundo do Brasil fez tamanho sucesso na Broadway, ela usava um tutti-fruit hat na cabeça. Se não chegou a influenciar a moda da cidade como Carmen Miranda (não se sabe - ainda - de uma súbita disparada às clínicas de cirurgia plástica afim de se conseguir reproduzir as belas feições do barítono paulistano), Paulo Szot, 38 anos, é a unanimidade mais inteligente da vida artística nova-iorquina.


Sua aparição como o fazendeiro Emile de Becque do clássico musical de Rogers & Hammerstein em cartaz (com lotação garantida até setembro) no Teatro do Lincoln Center foi um acontecimento que levou críticos a louvá-lo como uma das razões do retorno da era de ouro dos musicais à sua vizinhança mais nobre. Detalhe: Szot disputou o papel com outros 200 candidatos. Por incrível que pareça, a atual versão de South Pacific é o primeiro revival na Broadway do musical vencedor do prêmio Pultizer em 1949.


Menos alto do que parece - seus 1,85m ganham centímetros extras por conta da postura elegante, que revela a disciplina de atleta - o barítono conversou com o Terra no Central Park quatro dias depois de saborear o prêmio Tony (o Oscar do teatro norte-americano) de Melhor Ator em um musical na atual temporada, feito jamais alcançado por outro brasileiro.


"Foi uma vitória de todos nós", disse Paulo, que já havia estrelado na New York City Opera produções de L'Elisir d'Amore, Carmen e Le Nozze di Figaro. Ópera, Broadway, música popular brasileira (ele prepara um CD para o mercado brasileiro com arranjos de Wagner Tiso), não importa. "O que não vale é preconceito. Se é bom, quero cantar", diz.
Paulo Szot fica até o fim de novembro em cartaz com South Pacific, viaja para a França no fim do ano e retorna para algumas apresentações especiais do musical em 2009. Confira trechos da entrevista com o cantor-ator:

Público

"A maior diferença entre o público de ópera e o da Broadway é o espaço físico. No teatro do Lincoln Center eu fico a um metro do público. Sinto muito esta energia e isso me ajuda muito. Algumas das canções que eu canto como Some Enchanted Evening são conhecidas dos americanos, que desde criança as escutam. E eu consigo escutar parte do público cantando comigo, em murmúrio, as músicas. É bem bonito. E também me dá a segurança de que, se, por um acaso, eu esquecer a letra, alguém vai me dar a dica ali, na hora. Esta presença do público, tão intensa não existe na ópera".

South Pacific

"Senti a sede dos americanos em rever este musical que ficou 60 anos fora da Broadway".


Paulo, ator
"Foi uma descoberta para mim. Ao contrário da ópera, em que a música te conduz o tempo todo, na Broadway ela, em determinado momento, pára. E você precisa encontrar no texto um ritmo próprio. É algo bem diferente do que eu fazia e tive a sorte imensa de contar com um diretor como o Bartlett Sher (também vencedor do Tony este ano como melhor diretor de 2008) e de contar com um elenco paciente, que entendeu o desafio-extra de encontrar a música no texto em uma língua que não é a minha nativa".

A Persistência
"Foi uma batalha conseguir encontrar o ritmo perfeito das falas em inglês. Lembro que nas duas primeiras semanas eu cheguei a pensar: vou-me embora, não sei fazer isso aqui não! Dava um certo desespero. Depois de 11 anos de carreira, tive novamente a sensação de estar no palco pela primeira vez. Tem o lado bom desta sensação, claro, que é o desafio. Agora, principalmente quando o desafio dá certo, né? (risos) E neste caso a resposta foi imediata, já no primeiro espetáculo o público veio abaixo e a crítica foi menos severa do que a de ópera, onde há sempre um porém. Fui muito bem aceito por todos".

Saudades do Brasil

"Adoro Nova York, principalmente agora que está mais quente. No inverno, sofro muito. Tenho saudade da temperatura amena, mas, principalmente, de falar português. Já há alguns anos canto menos no Brasil por conta da diferença no nível de organização das produções. Este é meu maior problema, as coisas aparecem muitas vezes de última hora e eu acabo não podendo me apresentar para os brasileiros com a regularidade que eu gostaria. Fico um pouco frustrado, adoro a platéia brasileira, adoro me relacionar, por exemplo, com São Paulo, que é minha cidade. Quem sabe no ano que vem?"

O Disco Brasileiro
"A idéia é gravar este ano e lançar no começo de 2009. Quero que este disco celebre esta nova fase. Serão arranjos de Wagner Tiso e só posso adiantar que ele será terá alguns números de musicais americanos temperados com boa música brasileira. Ainda não definimos todo o repertório, mas posso garantir que pelo menos um Tom Jobim estará lá".

O Tony do Brasil

"Sinto, honestamente, que toda vez que um brasileiro recebe um prêmio, seja uma medalha nas Olimpíadas, uma Copa do Mundo, ou um laurel artístico que ele é sim, por direito, de toda a nação. Temos tantos problemas no Brasil que quando nos evidenciamos de alguma maneira, as pessoas em geral, e é o que estou sentindo neste momento, têm esta necessidade de repartir. De repartir a alegria com o país. E é muito gostoso ter esta experiência, sabia? É claro que é um reconhecimento importante, o ego do artista fica preenchido. Mas ele é sempre, também, para os familiares, os amigos, o país que pela primeira vez recebe esta lembrança".


A Disciplina

"As pessoas perguntam o que acontece depois que se ganha um Tony. Para mim nada mudou, não tive férias não. São oito espetáculos por semana! No dia seguinte eu já estava no teatro. Tenho uma rotina de atleta. Penso como um atleta. Tenho horário para comer, para dormir, para descansar. Já foram mais de 130 apresentações de South Pacific e a disciplina é fundamental. No dia da apresentação do Tony nós tivemos um ensaio às nove a manhã no Radio City Hall (local em que ele seria apresentado), voltamos para o Lincoln Center, fizemos nosso espetáculo, fizemos o show do Tony, teve todo o nervosismo do prêmio e depois a noite seguiu. Tenho de ter muito cuidado. Dois dias por semana eu faço duas apresentações de South Pacific. Se não dormir, em casa, entre um show e outro, simplesmente não tenho forças para fazer o próximo".


Sensualidade e Sex-Appeal

"É legal saber que isso aconteceu, claro! South Pacific é uma história de amor ardente, da paixão que um homem mais velho sente por uma enfermeira. E desta urgência que ele sente em viver esta paixão, ameaçada pelo preconceito. Este é o tema central do musical, que é bem sério e que, desta vez, é ainda mais explicitada do que na versão original. Mas esta coisa da sensualidade não é mérito exclusivo meu. No meu caso, contracenar com a Kelly O'Hara (indicada ao Tony por melhor atriz em 2008), que é uma atriz sensacional, foi fundamental para encontrar esta sensualidade. Penso que a coisa do sex-appeal é muito mais do personagem do que minha".

Internet & Um Mundo de Opções
"
Vivo on-line. Fico conectado o tempo todo, inclusive no meu camarim. Desde 1998 não vivo sem Internet. A vida de cantor de ópera exige que você mude de cidade a cada dois meses. Minha única exigência sempre é saber se o hotel em que ficaremos tem Internet. Para mim, não tem jeito. Para falar com a família, com os agentes que estão mundo afora, é fundamental. Não tem jeito, Internet é tão fundamental quanto água. E para quem navega pelo Terra vai um toque - fiquem abertos para todas as formas culturais. Tem muita gente que gosta de ópera e aí não curte musicais, ou gosta de música popular e não ouve os clássicos. Isso é uma grande besteira. Existe a boa música, que pode ser encontrada nos mais variados gêneros artísticos. Mantenha a cabeça aberta e encontre coisas legais em todos os cantos."


A Estrela Que Sobe

"A experiência na Broadway não poderia ter sido melhor. Não troquei a ópera pelo teatro musical - foi um acréscimo. Mas sempre que tiver um papel adequado à minha voz e ao meu perfil, estarei interessado. Há dois musicais que amaria fazer, talvez quando estiver um pouco mais velho - O Violinista no Telhado e The Man of La Mancha. A Broadway me rendeu muitos frutos e me deixou mais aberto para novas empreitadas, então, claro, Hollywood seria uma experiência muito interessante também! Por que não?"

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