sábado, novembro 24, 2007

Entrevista/NATALIE PORTMAN

Natalie Portman

A nova queridinha da América

Por Eduardo Graça, de Nova York, para a Contigo!

Divulgação / Imagem Filmes

Molly Mahoney (Natalie Portman) em momento de descobrimento, em meio aos brinquedos


Natalie Portman, 26 anos, fala pelos cotovelos. Engraçada, charmosa, muito magra, com o cabelo até o ombro - ao contrário de Molly Mahoney, sua jovial personagem do longa A Loja Mágica de Brinquedos (em cartaz nos cinemas) - e um sorriso de rasgar o rosto, ela conta que viver cercada de crianças,durante as filmagens de seu último longa, estrelado também por Dustin Hoffman, 70, acelerou seu relógio biológico. "Terminei a última cena pronta para engravidar!", brinca, para logo depois contar que não existe nem planos, nem sérios pretendentes para o posto de papai do ano. Querida do público americano por personagens tão díspares quanto a stripper Alice de Closer - Perto Demais e a Rainha Padmé Amidala de Guerra nas Estrelas, ela vive no primeiro filme de Zach Helm, 32 (o talentoso roteirista de Mais Estranho que a Ficção, 2006), uma jovem doce e música talentosa, que busca encontrar dentro de si a mágica de viver. Algo que Portman, como prova neste bate-papo em um dia cinza do outono nova-iorquino, parece ter de sobra.


A Loja Mágica de Brinquedos é seu primeiro filme "para crianças". Gostou da experiência?
Estava em Berlim, filmando V de Vingança (2005), quando chegou um pacote branco todo bonito, com laçarote e tudo (risos). Era o roteiro da Loja Mágica, enviado pelo Zach. Dentro do embrulho tinha uma lista com 20 coisas que crianças adoram, incluindo maçãs do amor, Willy Wonka, montanha-russa e um bilhete do Zach dizendo que queria que o filme entrasse na lista também. Adorei, né? E pensei imediatamente: é isso! Corri para ler o roteiro e encontrei, ali, o mesmo que havia me maravilhado em Mais Estranho que a Ficção: uma proposta de reencontro com um mundo mágico do qual a gente vai se esquecendo quando fica adulto. A gente vai ficando tão blasé, né? Além do mais, Zach tem algo raro em Hollywood, que é a capacidade de ser engraçado e inteligente sem precisar recorrer o tempo todo ao sarcasmo. Ele é um antídoto ao mundo de cinismo em que vivemos.

E, como a Molly Mahoney, sua personagem, você se sente às vezes presa em uma realidade que não deveria ser a sua?
Sim, quase o tempo todo (risos)! Não, sério! Os medos, as ansiedades de quem acha que não vai evoluir, não vai parar de fazer as mesmas coisas sempre, sabe? Foi por aí que me identifiquei com a personagem. Ela tem a vontade de escrever seu próprio concerto. Mas isso é virar adulto, não? Saber quem é você. Que você tem alguma mágica. Quando tinha 19 anos, fiz a peça A Gaivota, no Central Park, dirigida por Mike Nichols, com quem voltaria a trabalhar depois em Closer. Ter aquela pessoa que passei a admirar e respeitar me levando a sério, me dando tanta confiança, dizendo que eu tinha, sim, alguma mágica, foi fundamental para minha carreira.

Você começou no cinema garota ainda...
Sim, e trabalhando de cara com o Luc Besson — no filme O Profissional (1994), estrelado por Jean Reno e Gary Oldman. Tive muita sorte, todos me trataram como uma princesinha, recebi todas as atenções dos adultos que estavam à minha volta. Durante as filmagens tinha apenas 11 anos, e lá estava eu vivendo em Paris, passeando pelos museus nas horas vagas, com mamãe, cada experiência tinha um elemento mágico. Foi uma vivência única. E acho, honestamente, que nunca perdi esse senso de magia. É claro que eu encontrei algumas pessoas neste ramo que não eram lá grande coisa, vamos dizer dois ou três elementos que não me trataram exatamente bem (risos) e poluíram a atmosfera. Mas isso foi tão raro que prefiro nem entrar em detalhes.

Em A Loja Mágica você está rodeada de crianças. O filme lhe fez lembrar como é ser uma criança no set de filmagem?
Totalmente! Um dos figurantes tinha de fazer uma cena com um caminhão de bombeiro, vermelho, e, ao fim, me disse: "que bom que acaboul. Agora vou fazer com o caminhão verde, estou de saco cheio do vermelho". E eu disse "ih, não vai dar. Tem uma coisa chamada continuidade e tal". E ele não entendia e me dizia com toda a propriedade: "mas por quê? Eu não quero mais brincar com o vermelho!"(risos). E eles também me perguntavam por que eu era tão chata de ficar perguntando as mesmas questões o tempo todo. Tive de explicar que haviam os takes diferentes, enfim. Saí do set do filme totalmente apaixonada pela idéia de ser mãe (risos)! Digo, rapidamente! De preferência, amanhã (risos). Mas não tem nada acontecendo ainda, nenhum plano. Acho que tem também o fato de a maioria de meus amigos estarem "engravidando". Aí, dá aquela vontade, né? (risos).

Sentiu-se adulta demais no meio das crianças?
Todas as vezes que penso "huuum, tenho 26 anos", me dá uma sensação de que ainda sou muito imatura para a minha idade, sabe? Deve ser porque sou baixinha (risos). Mas acho que é porque as pessoas ainda pensam em mim como uma adolescente. Mas sabe que alguns figurantes do filme, os meninos especialmente, vieram me perguntar se eu realmente fiquei grávida e tive filhos em Guerra nas Estrelas (risos)? Eu expliquei que não, que era apenas um filme, mas não resisti e também perguntei de volta: "mas vocês acham que eu tenho idade para ser mãe?" E eles todos respondiam: "mas é claro!" (risos) Engraçado, né? Eu acho que ando na rua e pareço ter 16 anos. Acho que as pessoas ficam se perguntando: "mas por que cargas d'água ela não está na escola?" (risos). Mas é a imagem que você tem de si mesma, né? Que, de repente, se congela. Ah, e um fato importantíssimo: meu corpo nunca mudou, desde os 16 anos visto as mesmas roupas. Uso o mesmo figurino há dez anos! (risos).

Hotel Chevalier, o curta-metragem que você estrela com Jason Schwartzman, é um grande sucesso, um cult na internet, com fãs do diretor Wes Anderson fazendo o download do filme antes de correr para ver na tela grande O Expresso Darjeeling...
Adoro saber que Hotel Chevalier é um hit! Foi uma experiência tão sensacional. Sempre quis trabalhar com Wes Anderson e Os Excêntricos Tenembaus é um dos filmes que mais amo na vida. Alguém havia me contado que ele escrevia papéis para os atores, não fazia o cast como é comum em Hollywood, não contactava agentes. Arrumei um jeito de conhecê-lo e fiquei ainda mais encantada. Mas achava que a recíproca não era verdadeira, porque ele nunca escrevera nada para mim! (risos). Mas um belo dia o telefone tocou, eu estava filmando Os Fantasmas de Goya na Espanha e ele me disse que tinha em mente este curta para mim e Jason e que era completamente diferente de tudo o que ele havia feito, que era muito mais cru e que seriam quatro dias de filmagem em Paris. Eu nem pensei. No dia em que terminei de filmar na Espanha já voei para Paris e começamos a filmar no dia seguinte. É interessante, ele trabalha em um esquema de family business que eu nunca havia visto. Todos os amigos dele estão no set trabalhando o tempo todo. Ele trabalha com o mesmo povo com que ele convive diariamente, e o processo todo é muito cool.

E agora você pensa em passar para o outro lado da câmera. Pode contar um pouco de seu projeto de levar para as telas o livro autobiográfico De Amor e Trevas, do escritor israelense Amos Oz?
Atuo em filmes há 15 anos, está na hora de fazer algo novo, diferente. Sou uma admiradora de Amos Oz por um longo tempo e este foi o primeiro livro que eu li em que eu conseguia de fato vizualizar os personagens em minha cabeça. Obviamente tem mais a ver com o talento dele de escritor do que com o meu e leitora, mas, não sei, para mim é o livro mais lindo de Oz. A narrativa que me interessa é a da história de uma família em um tempo específico, 1948, o ano da fundação de Israel, que representa algo muito maior. Já decidi que vou usar apenas atores israelenses, mas ainda estou distante de começar, e vou tentar apenas ver os filmes dos atores e decidir na hora, sem audições, que acho horrendas. E meu hebreu é fluente, pois nasci em Jerusalém, meu pai é israelense, então cresci em uma casa bilíngüe.

E você pretende de alguma maneira fazer, com o filme, um comentário sobre as querelas entre Israel e a Autoridade Palestina?
Sei que a situação lá é muito complexa, com corrupção tanto no lado israelense quanto no palestino, além de muita violência. Mas o filme não pretende ser político ao extremo, não acho que ninguém quer ouvir mais slogans políticos, ainda mais de mim. A idéia é dar uma noção do que aconteceu naquele momento histórico para o espectador, de apresentar uma época em que poucas pessoas lembram de fato, digo, os detalhes mesmo. O importante é que quero ir além das mitologias e das histórias de cada um dos lados.


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