Conversei com a colunista Danuza Leão em minha mais recente temporada carioca, no terraço do Hotel Everest, na Prudente de Morais, com direito à vista para a Praia de Ipanema. Dá até saudade! Danuza conversou comigo sobre o sucesso de seu mais recente livro, "Quase Tudo", e uma porção de outras coisas mais. O bate-papo foi para a revista semanal portuguesa "Sábado", que o publicou este mês. Aí vai uma versão 'abrasileirada', maior do que a publicada, de nossa conversa.
DANUZA LEÃO
Verão carioca, sol forte e céu azulado sem nuvens na cobertura do Hotel Everest, em Ipanema. Danuza Leão, 73 anos, me chega sorrindo, óculos de sol, cabelos curtos, calçando um par de ténis caprichosamente cor-de-rosa. E disposta a contar “Quase Tudo” (Cia. Das Letras, 224 páginas), título de sua autobiografia, há 13 semanas na lista dos campeões de audiência das livrarias brasileiras. Com mais de duas centenas de fotos, este é um livro de memórias diferente. Para começar, não há lugar para nostalgia. Sim, Danuza foi casada com o jornalista Samuel Wainer, um dos príncipes de Getúlio Vargas, quiçá o mais emblemático dos presidentes brasileiros. Sim, ela conta histórias dos poderosos da política brasileira e internacional nos anos 50 e 60. E também os tiques do jet set e dos intelectuais, suas festas, seus amores, suas esquisitices. Mas não há desejo de se lembrar de tempos doirados, que não voltam mais. Autora de um livro de reminiscências que detesta olhar para o passado, Danuza descreve com detalhe suas histórias de amor, especialmente com Wainer e com o compositor António Maria, seu segundo marido. E também suas narrativas de perda, concentradas em um mesmo espaço de tempo, com as mortes da irmã Nara Leão, a musa da Bossa Nova, atacada por um tumor no cérebro, o suicídio do pai e, especialmente, o acidente na Região dos Lagos fluminense que a tomou seu filho, o jornalista Samuca Wainer. “Naquele momento pensei que nunca passaria por sofrimento maior, mas passei, e quantas vezes, e durante quantos anos – como agora”, escreveu. “Quase Tudo” também oferece aos leitores um estilo danuziano de escrever, que ela nega reconhecer, e que já se esboçava em sua coluna social no "Jornal do Brasil", em suas crónicas semanais na "Folha de S.Paulo", assim como em seu livro de etiqueta, o também campeão de vendas "Na Sala com Danuza".
-O livro surgiu mesmo de um artigo sobre a sua relação com o Getúlio?
-Quando a Folha de S.Paulo me pediu para escrever um artigo contando minha visão da morte do Getúlio, 50 anos depois do suicídio, para um caderno especial, eu gostei do resultado, sabe? Achei que humanizou a figura do presidente, que deu a visão de quem estava de dentro. Bem, dez dias depois de meu artigo ser publicado quatro editoras haviam me procurado. Mas minha resposta era uma só: não, nem pensar!
-Imagino sua reacção ao passar as últimas semanas abrindo os jornais e dando de cara com “Quase Tudo” no topo das listas dos mais vendidos...
-Agora estou mais tranquila, mas no início foi muito estressante. Fiquei um pouco histérica. Achei tudo um pouco demais, sabe?
-Sei não. O livro já começa de forma arrasadora com você partindo para Paris adolescente, a primeira modelo brasileira internacional, dividindo as atenções na Discothéque com Simone Signoret e Anouk Aimée. E nos revelando detalhes picantes como a paixão de Marlon Brando pelo actor francês Christian Marquand...
-E ele acaba dando o nome de Christian para seu primeiro filho...
-Então! “Quase Tudo” é uma delícia...
-Mas sou insegura. E tenho a consciência de que o que escrevo é inteiramente banal. Fico muito mal quando me chamam de escritora, um título pomposo. Também não gosto que me nomeiem jornalista. Tive maridos que eram jornalistas de fato – Samuel Wainer, António Maria e Renato Machado. Eu apenas sento na minha cadeira e escrevo.
-Mas eu imagino que o Samuel deveria falar de jornalismo o tempo todo...
-Sim, mas não comigo! (risos). Eu tinha vinte anos, não tinha a menor ideia do que era fazer um jornal. Mas ouvia e via tudo. Quando fui convidada, décadas depois, para fazer uma coluna diária no JB, vi como não era nada perto deles. Como eles eram incríveis e eu era uma amadora.
-Mas quando você percebeu que o livro havia conquistado os leitores?
-Foi quando a primeira edição, de 40 mil exemplares, foi para as ruas no dia 19 de Novembro. Eu marquei uma viagem para o Natal e comecei a receber telefonemas de meu editor que dizia, mandei rodar mais 20 mil. E mais 30 mil. Até que ele me disse que era assustador o que estava acontecendo.
-E você tem alguma ideia do motivo deste sucesso?
-Nenhuma. A única coisa quhttp://www.blogger.com/img/gl.bold.gife posso dizer é que eu tinha um ano e três meses para terminar o livro. E eu entreguei em nove meses. Ou seja, ele estava pronto. Era só eu contar. E meu critério foi o mais simples possível: só incluí no livro as coisas importantes da minha vida.
- Mas você manteve anotações ou mesmo um diário durante algum tempo?
-Tudo estava apenas guardado na minha memória. Inclusive histórias como a do Aga Khan (líder espiritual do Paquistão). Já idoso, o Aga vivia na Côte d’Azur e, uma vez por ano, no dia de seu aniversário, ia a Karachi e, em uma cerimónia em praça pública, subia em uma balança. Ficava de pé num dos pratos até que o outro atingisse seu peso, com diamantes e barras de ouro lá colocados. Esta lembrança me fez literalmente voltar no tempo e me recordar, por associação, da história de uma amiga que passou uma temporada no palácio de um marajá, na Índia. Todas as manhãs ela acordava e via, da varanda de seu quarto, um jardim maravilhoso, e totalmente diferente! Porque uma das delicadezas do milionário com seus hóspedes era o de trocar o jardim todas as noites. E assim as coisas vieram vindo...
-Foi um exercício de memória saboroso ou doloroso?
-Foi mais sofrido do que gostoso. Bem mais sofrido.
-Porque existiam temas em que você preferiria não ter tocado...
-Temas como as mortes de meu pai, de meu filho e de minha irmã, ou mesmo o casamento com António Maria, eu nunca jamais havia aberto minha boca para falar com ninguém. Nem em conversas com amigos, nem com meu psicanalista. Percebi que sou uma pessoa que me exprimo melhor escrevendo, sozinha, do que falando. E de repente, quando comecei a escrever, estes temas foram surgindo e me fizeram bem. E, se eu iria escrever, de verdade, não poderia omitir fatos importantes da minha vida.
-O cineasta Cacá Diegues, que foi casado com sua irmã Nara, teve a sensação de que você escreveu ‘Quase Tudo’ na terceira pessoa, como se olhasse para sua vida do prisma do leitor...
-Sabe que não tive preocupação alguma com estilo? Apenas nos momentos mais difíceis, como quando eu falava da morte de meu filho Samuca, tive o cuidado enorme de não cair na pieguice, no sentimentalismo. Mas acho que ajudou o fato de eu não ser melodramática.
-A parte que mais me emociona é quando você resolve falar da sua impossibilidade de relacionamento com Felipe, seu neto que é a cara de Samuca...
-Eu acho que escrevi ali (Ele precisava de mim, mas eu não poderia dar o que ele queria. Quando o via, via Samuca. Nunca pude chegar muito perto dele. As dores podem até melhorar, mas passar, não passam. Nunca.) o que nunca consegui falar para ele, toda esta dificuldade que eu tenho de me relacionar com ele.
-Você conta que a morte de Samuca a tornou alcoólatra. Não há como deixar de pensar em um paralelo entre a sua própria experiência, você chegou a experimentar heroína, e o outro lado da história, quando tem de lidar com seus filhos adolescentes, experimentando drigas. Você trata do tema de modo tão natural...
-Natural, sim, mas complicado! Não foi fácil o que eu passei. Vivi o dia-a-dia das intervenções médicas. E lidei com isso do jeito que foi possível, sabendo de tudo, às vezes com esperança, às vezes descrente. A realidade é que, com drogas, você nunca sabe o fim da história. Nunca. Não tem jeito. A vida é que se encarrega de ir acertando as coisas. E, olha, as drogas que a gente usa são sempre diferentes daquelas que os filhos usam, sabia? É igualzinho a sofrimento. Me dê a dor toda para mim que eu seguro tudo, mas não vai me fazer meus filhos sofrerem...
- Você traça um perfil profundo de seu pai e trata do suicídio dele, planejado nos mínimos detalhes...
-Um bom tempo depois eu fiquei me cobrando, pensando como não havia pensado nisso antes, pois era claro que aquilo iria acontecer. E a gente sempre pensa que poderia ter evitado, que as mortes que acontecem perto da gente poderiam ser estancadas. Mas meu pai estava lidando mal com a velhice e quando ele soube da doença da Nara tudo ficou ainda mais complicado. Ele era uma pessoa muito profunda, ele não suportava a ideia de ver a agonia da filha.
-Ele não viu a morte da filha e você acabou perdendo, de uma forma brutal, seu filho, em um acidente. Você aguentou...
-Ah, mas eu tinha que aguentar. Eu tinha! Evidentemente que é muito difícil comparar dores, mas se por um lado a maior dor do mundo é você perder um filho, por outro lado eu sei que foi rápido para ele. Foi instantâneo. E a dor que eu tive com Nara foi a de saber que ela, durante tantos anos, sabia o que estava acontecendo. Ela esteve consciente até o último momento. Ela me deu um outro tipo de dor, mas que também foi de matar.
-Você praticamente diz que ‘a Bossa Nova passou lá em casa em eu nem percebi’ (risos). É verdade isso, Danuza?
-Mas é claro! Eu visitava meus pais e via aqueles meninos por lá, uma galera. Não teve uma época em que um povo fazia rock na garagem? Então, eles tocavam violão na sala lá de casa (risos). Tom Jobim, João Gilberto, Carlinhos Lyra. E eu não vi nada. Na-da! (risos)
-E quando você se deu conta que era irmã de uma das figuras mais importantes da música brasileira?
-Eu acho que a ficha caiu mesmo quando eu voltei da Europa e Nara ia estrear “Opinião”. Já a tinha visto em “Pobre Menina Rica”, uma coisa mais intimista. Mas quando a vi protagonizando aquele libelo contra a ditadura eu pensei – mas aquela menina tímida, quietinha, meu Deus, a minha irmãzinha, no palco, está lá, fazendo horrores!(risos)
-A sua mãe sai do livro como uma figura quieta, misteriosa...
-Mas até hoje quando me perguntam quem foi minha mãe eu não sei direito o que responder. Não sei quem ela foi. Mas tem um momento que eu conto no livro que, para mim, foi importantíssimo. Foi crucial na minha vida. É quando minha mãe toma, sozinha, uma condução no Rio e vai para Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, e me conta que aquela foi a maior aventura da vida dela. Ali tive uma pena enorme de minha mãe, uma pessoa que não viveu. Ela simplesmente não viveu. Era como se ela lamentasse que tanta coisa havia acontecido na vida de nós todas e ela simplesmente não viveu nada.
-Você foi muito precoce, conheceu o jet set mundial com 17 anos. A cultura da celebridade mudou muito o ‘grand monde’?
- Acho que sim. Talvez a elite até tenha permanecido a mesma, mas o mundo mudou. Ela ficou ultrapassada.
-De onde vem esta naturalidade nas relações com os poderosos? Seu pai era um ser politico?
-Não. Isso vem de Samuel. Se eu não tivesse me casado com ele talvez jamais teria entrado neste mundo. E eu me interesso muito por política. Meu filho Samuca era muito interessado em politica...
-Falando em politica, como vai a cena brasileira, em que a corrupção com o PT no governo ganha aspectos até mesmo brejeiros, com os dólares sendo transportadas pelas cuecas?
-Bem, corrupção é corrupção, tem que se levar o dinheiro de algum jeito, não é mesmo? Aí não tem etiqueta (risos). Mas este facto que foi tão festejado, inclusive por mim, de eleger um operário para a presidência e que as coisas iriam mudar, se revelou uma frustração sem mais tamanho. E isso apesar do carisma de Lula, que convence, especialmente, hoje em dia, as classes menos favorecidas. Sabe o que é pior nisso tudo? É que eu nunca pensei que teria tanta saudades de Fernando Henrique Cardoso (risos).
-Então, nas eleições deste ano...
-Ainda não sei o que farei, mas não há a menor hipótese de votar novamente em Lula. E o que mais ouço com as pessoas com quem me dou, inclusive com os mais empolgados com o PT, é que eles não aguentam mais nem ouvir a voz de Lula. Quando ele aparece na televisão eles desligam o som. E Lula abusa, apela muito. Lá vem ele com as raízes, a mãe. Ah, chega, né? Esta sensação de ressaca eterna, nem com o FHC!
- Então vamos deixar a dor de cabeça para lá e falar de Portugal. Durante os anos 70 você trabalhou na TAP recebendo a elite portuguesa...
-Pois é! Eu era uma das juradas do Programa Flávio Cavalcanti, de grande sucesso na televisão. E uma das anunciantes era a a TAP, que queria melhorar sua imagem no Brasil. Tomara que ninguém fique bravo comigo em Portugal, mas o apelido da empresa por aqui era ‘tamancos aéreos portugueses’. Joaquim de Carvalho, que era o director da empresa no Brasil, começou a mudar esta imagem. Patrocinava actores que viajavam pela TAP e um dia me chamou para receber os V.I.P’s. Ele queria alguém conhecido para marcar presença e foi assim que minha história com Portugal começou.
-Um trabalho divertido...
-Sim, mas uma vez tive de recepcionar o Rui Patrício, ministro dos Negócios Exteriores do governo Marcelo Caetano. Lá, ele deu uma entrevista e disse algo como ‘nós não vamos deixar acontecer nas colónias africanas o que deixamos acontecer no Brasil’ (risos). Eu olhei para ele, mantive o sorriso, mas pensei: eu não acredito no que estou ouvindo!
-E você me contava que a publicação do livro a levou a descobrir suas origens lusas...
-Pois é. Meu pai saiu do Espírito Santo, foi para o Rio de Janeiro, e perdeu o contacto com a família. Depois que “Quase Tudo” foi publicado, recebi a carta de um primo, Zeca, que eu jamais conheci, me contando que nossa família era originalmente de Ericeira, os Barbosa Leão. E o filho que veio para o Brasil era um estroina, que estava jurado de morte. Agora, o melhor: o irmão que ficou em Portugal acabou virando Bispo de Porto. Fui para a internet e lá está o tal bispo e, apesar de não eu não ser aficionada por genealogias, fiquei impressionada com uma história que é um pouco demais para a minha cabeça – há um santo na família! Um dos Barbosa Leão foi canonizado!(risos)
-E não deu vontade de conferir isto em Ericeira?
-Eu quero muito ir a Portugal. Só tenho muito medo porque ouço dizer que está tudo muito moderno. Estou relendo pela quinta vez ‘A Cidade e As Serras”, e o que eu sonho é com o Portugal do Eça. Não quero ver auto-estrada! Queria percorrer a região do Douro. Hoje eu sei que não há nada mais que eu quero do que parar em uma quinta fantástica à beira do rio e por lá ficar.
-Você escreve que ‘deixar meus filhos livres foi uma forma de ser boa mãe’. Volta e meia você volta a esta mesma tecla - liberdade. Eu posso entender “Quase Tudo” como uma ode à liberdade?
-Pode. Pode, sim! Meu livro é uma comemoração do que eu acho que há de mais importante na minha vida – a liberdade. E esta noção da importância de ser livre me foi passada pelo meu pai, quando eu era menina. Ele me mostrou que a gente não deve se forçar a nada. Por exemplo, ontem, saí para jantar em um grupo de cinco pessoas. Que eu adoro, mas quando voltei para casa pensei: mas por que é que eu fui, hein? Estava tão feliz em casa lendo “A Cidade e As Serras”. Ora, não exerci a minha liberdade de dizer que estava felicíssima com meu . E isso é o que devemos fazer o tempo todo, na medida do possível, fazer exclusivamente o que queremos.
-Mas sem pensar na etiqueta social?
-Por favor! Não devemos fazer nada porque o social manda, as convenções ordenam. Isso é uma grande asneira. Faça só e apenas o que você quer. É engraçado, como me acham um pouco extravagante, as pessoas já encaram com naturalidade quando eu pergunto quem vai jantar, quantas pessoas estarão em tal festa. E muitas vezes eu digo ‘ah, querida, nem pensar!’. Agora, muita gente não me convida para eventos sociais por causa disso? Claro! Se é uma pena? Não, graças a Deus! (risos).
-As festas de hoje também são diferentes, não?
-Sabe que depois que o livro foi publicado eu me lembrei de algumas histórias que acabaram não entrando no livro? Outro dia li uma coluna social que era um merchandsing total. Assim: as flores são da casa fulano, o bufe de sicrano, o D.J. é a celebridade tal. Enfim, a festa é uma propaganda só. E eu dava muita festa. E não me lembro de nenhuma festa minha ter flor. Para quê flor, meu Deus? Tinha uísque, gelo e água. E as festas só tinham um objectivo: a gente se divertir, mais nada. E como nos divertíamos! Hoje as festas são para vender produtos. Não entendo isso.
-Você sente falta de algum personagem que era fundamental em suas festas?
-Eu sinto falta de mim mesma! Daquela que dava festas sem parar e que não dá mais.
- Mas, se fosse convidada, você voltaria a fazer uma coluna social?
-Nem morta! Coluna é uma pauleira e eu não estou disposta a enfrentar isso novamente. E só aceitei na época porque eu sou assim, quando o cavalo passa na minha frente encilhado, eu monto mesmo. Agora, eu adorei fazer a coluna, embora tenha apanhado muito. Por um lado, é muito vibrante fazer uma coluna. E a vida dentro da redação, especialmente aquela redação do JB dos anos 90, era uma maravilha. E tem algumas coisas que eu me lembro com grande satisfação, como as campanhas pela iluminação do morro Dois Irmãos e de se baptizar o aeroporto internacional do Rio de Janeiro com o nome de Tom Jobim. Claro, não é todas as vezes que eu olho para o morro e penso nisso, mas acho algo legal que eu fiz (risos). Eu tinha muita liberdade no JB para ter opinião, inclusive sobre política. Agora, por outro lado, é muito trabalhoso e difícil fazer uma coluna social como a que eu fazia. E você nunca vai saber, mas nunca, quem está tentando se aproveitar do espaço para se promover.
-Como é sua rotina hoje?
-Acordo todos os dias às sete horas em ponto. Como metade de um mamão papaia e corro na Lagoa. Volto, leio os jornais e às 11h faço um aula de uma hora de ginástica. Tomo banho, almoço e escrevo. Saio no máximo duas vezes por semana, para jantar fora. E volto para casa imediatamente.
-Nenhuma saudade da época em que você trabalhava na noite carioca, recebendo os famosos no Hippopotamus?
-Mas nem pensar! (risos) Outro dia eu estava saindo do jantar e passamos em frente à Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, um lugar agitado, repleto de jovens, e pensei quanto precisariam me dar para eu entrar em naquela boate. Cinco mil dólares? Não, não entrava. Dez mil? Hum, talvez entrasse, mas não ficaria mais que vinte minutos. Fiquei ali, fazendo estas contas.(risos)
-Apesar de ‘Quase Tudo’ ser um livro de memórias, ele não cai no saudosismo. E o Brasil vive uma onda nostálgica – a série sobre os anos dourados de Juscelino Kubitschek na TV Globo, o documentário sobre Vinícius de Morais...
-Está se vendo isso, não? As pessoas têm uma certa tendência em achar o passado melhor do que o presente, mas este não é o meu caso. Sabe quando eu fui mais feliz na minha vida? Agora! “Quase Tudo” foi uma ideia do Millôr Fernandes, que adorei, já que a editora não gostou de meu título, que seria “Por Enquanto”. Mas o cerne é o mesmo, ou seja, de que nada acabou.
-Como mostra o fim do livro, no encontro especial com um misterioso homem de Cuba, no Café de Buci, em Paris, com quem você vive um romance-relâmpago...
-E aquilo foi incrível. E aconteceu. E aconteceu comigo. E há alguns poucos meses. Eu não conseguia acabar o livro de jeito nenhum. Não queria terminar dizendo que vivo uma vida tranquila, em casa, escrevendo, que quase não saio e que estou muito bem assim. Não! Peguei então um avião e achei que longe do Rio poderia me vir uma ideia melhor. Mas o que me veio foi muito mais do que uma inspiração, foi um acontecimento, mais um! (risos).
-A biografia que um jornalista brasileiro escreveu sobre seu segundo marido, António Maria, acaba de ser reeditada por conta do sucesso de ‘Quase Tudo’. Nela ele conta o episódio de um aborto que você teria feito depois do fim da relação com Maria, quando você deixou o jornalista. Isso a chateou?
-Olha, eu soube disso. Ouvi dizer. Não li o livro dele e nem vou ler. Não fiquei chateada, não vou polemizar. Minha vida foi pautada pela elegância, e ela está toda contada em meu livro.
quarta-feira, março 15, 2006
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2 comentários:
Oi, Edu!
Adorei essa matéria. Vou comprar o livro para eu ler.
Beijo.
Eu adorei, Rafa. Você vai devorá-lo e ficar com vontade de ler mais.
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