quinta-feira, março 16, 2006
Medo 10x0 Nova Iorque
Por aqui, segue a goleada do medo. O cenário no teatro nova-iorquino anda tão modorrento, mas tão modorrento, que o tema mais palpitante do momento é o cancelamento de uma das mais aguardadas estréias da primavera. Depois de apresentada com sucesso de público e crítica em Londres, pelo Royal Court Theater, e ganhar prêmios a rodo, “Meu Nome é Rachel Corrie” corre o risco de não ser vista pelo público americano. Harold Pinter já chiou. Tony Kushner (“Angels in America”) e Vanessa Redgrave também, alem de outros, muitos outros artistas dos dois lados do Atlântico. Todos indignados com a decisão do New York Theater Workshop de cancelar a estréia do espetáculo baseado no diário e nas mensagens eletrônicas da jovem Rachel Corrie. Hoje foi o terceiro aniversário da morte da ativista americana, que teria 26 anos, e foi assassinada pelo exército israelense na Faixa de Gaza, quando tentava proteger a propriedade de uma família palestina. Sob fogo cerrado, o diretor do NYTW, James C.Nicola, disse hoje que tudo é um grande mal-entendido e que a peça não foi cancelada, apenas adiada. Depois de conversar com ‘líderes religiosos da comunidade judaica em Manhattan’, Nicola, que não viu “Meu Nome é Rachel Corrie” nos palcos de Londres, conta que decidiu modificar o calendário de seu pequeno teatro no circuito off-Broadway por conta das mudanças no Oriente Medio, com Ariel Sharon em coma, o Hamas assumindo o governo palestino e o ‘caráter claramente político da peça'. É ruim, hein? Quer dizer que os diretores do NYTW não sabiam do ‘caráter politico’ do texto quando eles incluíram a peça, com uma antecedência nova-iorquina, no calendário-2006 de seu teatro do East Village? Os responsáveis pela adaptação teatral, o genial ator Alan Rickman (o sinistro professor Severus Snape dos filmes do Harry Potter)e a editora Katharine Viner, do Guardian, disseram que não há adiamento coisíssima nenhuma e acusaram os diretores do NYTW de covardia e de promoverem censura artística. No teatro do Nicola, eles avisaram, a peça não entra mais em cartaz. Como provincianismo pouco é bobagem, Nova Iorque vê o medo, mais uma vez, triunfar. Medo que Corrie, aliás, não teve, naquela manhã em Rafah, na fronteira egípcia, há exatos três anos, quando, de acordo com o The International Solidarity Movement, foi fuzilada pelo exército de Sharon à sangue frio.
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