quinta-feira, maio 21, 2009

GreenDay - Mais do Mesmo no Webster Hall

O Terra publicou meu texto sobre o show do GreenDay anteontem aqui em NY por conta do lançamento do novo disco dos caras, 21st Century Breakdown. Aqui vai o texto completo (as fotos são minhas):


Resenha - GreenDay - Webster Hall, Nova York, 19/05/2010


Na metade do show de duas horas que o Green Day apresentou para cerca de mil enlouquecidos fãs nesta terça-feira, Billy Joe Armstrong recebe James Brown e, olhos arregalados, arrisca alguns versos de I Feel Good. Não, o Webster Hall não é o Apollo Theater e o Harlem está a milhas de distância do East Village. Mas há algo inegavelmente subversivo quando nova-iorquinos muito brancos, de todas as idades, em alto e bom som, se perguntam, em coro se ‘você quer ser um americano idiota’?

Quatro anos depois da explosão de American Idiot, quiçá a obra-pop-símbolo dos anos Bush, Billy Joe, Mike Dirnt e Tré Cool voltam com 21st Century Breakdown, uma ópera-rock dividida em três atos que giram em torno do casal Christian e Gloria. Depois de apresentarem quase todo o repertório do musical e alguns sucessos de outras safras, como At the Library (a primeira faixa do primeiro disco da banda, o mediano 1,039/Smoothed Out Slappy Hours, de 1991) e 80 (do bom Kerplunk, de 1992), a pergunta inevitável da noite é: “mas este Breakdwon é tão forte quanto o Idiot?”.


É. Mais uma vez a mistura de baladas pop com a velocidade e a zoeira características da banda fizeram com que o público pulasse durante todo o tempo. Muito deleniador no rosto, uma cabeleira à la Robert Smith, Armstrong abriu a noite às 9h15 da noite com o grito gutural “New York Cityyyyyyyyyyy!”. E a platéia logo mostrou a que veio cantando junto com o minúsculo rock star a letra inteira de 21st Century Breakdwon. Sem pausa para respirar, Know Your Enemy prova por que é o single do disco, com o povo saracoteando enquanto repetia, em transe, a letra que anuncia: “Violência é uma energia/contra o Inimigo/Traga a Fúria/Revolte-se contra a honra da obediência”.


No palco, ao lado do trio, Jason Freese, Jason White e Jeff Matka se dividiram entre guitarra, piano e até saxofone, imprimindo uma textura ligeiramente mais melódica às composições da banda. Há, também, uma rendição ao sugar-pop de conjuntos vocais dos sixties, com backing vocals caprichados em uuuhs e aaahhs. Ao contrário do espetáculo mais contido que apresentaram um dia antes para um público menor no Bowery Ballroom, toda a teatralidade do Green Day tomou conta do Webster Hall. Houve quem pensasse estar vendo uma banda de glam rock dos anos 70, ressuscitada e imolada nas ruas sujas do Village. Será que vem daí o delineador de Armstrong? Huuum....


O vocalista parecia possuído. Pediu aos seguranças que tirassem as caixas de proteção do palco. Se jogou em meio a mãos tão protetoras quanto curiosas de meninos e meninas na platéia. Convocou um fã ao palco e deixou-o cantar os versos de Longview, para delírio dos amigos. “Isso aqui, agora, é uma experiência religiosa! Cheguem mais perto! Vamos trocar nossos germes. Quero sentir vocês!”, gritava, enquanto comandava a coreografia da galera, ora ao ritmo de mãozinhas, ora em frenético pula-pula.


Green Day na Broadway


Em entrevista dada a um programa de tevê esta semana nos bastidores do Saturday Night Live, os meninos californianos revelaram um pouco do processo criativo que gerou 21st Century Breakdown. “Em janeiro de 2006, dois anos depois de termos lançado American Idiot, sentamos juntos com um punhado de papel em branco e começamos a escrever. O corpo do novo trabalho surgiu com a música que dá título ao disco. Depois personagens começaram a tomar forma. Eles parecem refletir o que queríamos dizer. Acredito que estamos no melhor de nossa forma. Se American Idiot foi um passo à frente, Breakdown são três pulos adiante”, disse Armstrong.

As semelhanças com a criação de uma peça de teatro musical são óbvias. E em breve a Broadway, quem diria, deverá ser palco para a adaptação teatral de American Idiot. “Sim, o pessoal responsável por O Despertar da Primavera, um grande sucesso da última temporada, já conversou conosco. Fomos ver o espetáculo e é impressionante, não tem nada a ver com o teatro musical de nossos avós! Achamos que o musical vai ser sexy e direto ao ponto”, disse Dirnt. “A idéia é ter entre os personagens o Jesus do Subúrbio, São Jimmy e Whatshername, presentes no disco, mas sem diálogos e sim com cartas enviadas de um para outro. Vai ser cool”, prometeu Armstrong.

O namoro escancarado com a Broadway e a presença de gerações diversas no Webster Hall dão pistas para se desvendar o segredo do envelhecimento esperto do Green Day. A banda apresentou seu oitavo álbum de estúdio para um público tão próximo da ironia adolescente de Dookie quanto do rock sério de ares políticos de American Idiot. A parte final do show de terça-feira reforçou a idéia de que a popularidade da banda – uma das poucas ainda bancadas pela combalida indústria do disco na atual cena pop americana – advém de um equilíbrio do que ainda restou do humor irreverente dos meninos (com as armas todas voltadas para valores tipicamente americanos, como a liberdade, a democracia e o gigantismo incontrolável) com um tique cada vez mais explícito de se emular os gênios do velho rock’n’roll, de Who a Queen.


Daí o olhar surpreso de punks e indie rockers mais aguerridos, aboletados no vizinho Irving Plaza para conferir um tributo, no mesmo dia e horário, aos Ramones, por conta do aniversário de Joey Ramone. “Não sabia que o Green Day ainda tinha esta importância!”, se admirava Hewitt Pratt, presença assídua na noite roqueira da cidade.

Mais do Mesmo, para Alegria dos Fãs


No show do Webster Hall, letras que falam de lobotomia, ignorância coletiva, heróis e condenados, refugiados e ingênuos, se misturam, até com alguma lógica, a pedaços de clássicos dos Isley Brothers (Shout!) e de Ben E.King (com um Stand By Me mais próximo da interpretação de John Lennon).

Armstrong pede, no êxtase da celebração de terça-feira, que o público encontre a esperança perdida na promessa de Know Your Enemy: "A inssurreição virá/Quando o sangue for sacrificado/Não se deixe chegar pelas mentiras/Violência é uma energia/O inimigo é o silêncio/Dê-me/Dê-me então/a Revolução". E assim se delineia o passeio do casal Christian e Gloria pela selva de pedra desenhada por Billy Joe Armstrong, que nos chega mais como um espelho de American Idiot do que uma natural evolução, os tais três passos imaginados pelo rock star. Mais do mesmo, para a alegria dos fiéis da igreja verdejante.

2 comentários:

Henrique Crespo disse...

Meu primeiro contato com o som do Green Day foi em Dookie. Divertido e já um pouco irônico. American Idiot é mesmo um passo a frente do que faziam e do que poderia se supor de uma banda de punk(pop?).

O contrasenso de uma ópera ao som punk ou, pior, uma musical da Broadway com o repertório de uma banda punk é tão subversivo quanto a prórpia origem do punk num distante 1977.

Curioso é ver que os punks tradicionais (essa palavra não deveria ser usada junto com a outra hehehe) ainda ficam prestando tributo aos clássicos do gênero. Como a turma do Bowery que voc~e contou. Isso é um contrasenso punk. rsrsrs

Eduardo Graca disse...

Verdade. Concordo. Mas também é irônica a leigão de punks de boutique que seguem o GreenDay para lá e para cá. Eles vão baixar na Broadway felicíssimos na próxima temporada. Aposto!