segunda-feira, junho 19, 2006

GUNS’N’ROSES/Hammerstein Ballroom (12,13,15 e 17 de Maio)


Mês passado acompanhei uma das apresentações do Guns'N'Roses - a banda do seu Axl Rose - aqui no Hammerstein Ballroom, para a Bizz. O texto completo está nas bancas, ao lado de uma reportagem de Paulo Terron. O meu vai aqui embaixo:

GUNS’N’ROSES – Nova Iorque - Hammerstein Ballroom (12, 13, 15 e 17 de Maio)

Eduardo Graça, de Nova Iorque, para a BIZZ

IIIIIIIAAAAAAAAAAAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII! São onze e meia da noite de quarta-feira e a última das quatro apresentações dos Guns’N’Roses na primavera nova-iorquina acaba de começar. O grito, a bocarra aberta, as notas altas, altíssimas, o microfone imenso em punho, até o rebolado, são os mesmos – Axl Rose voltou. E diz a que veio: assim, uma atrás da outra, sem tempo para respirar, emenda Welcome to the Jungle, It’s So Easy e Mr.Brownstone.

Pouco mais de 3 mil fãs cantam, dançam e se abraçam no que tinha tudo para ser uma apresentação histórica. Calma. O dia foi longo. Desde às seis e meia da tarde fiéis seguidores da banda formavam uma fila quilométrica, que ultrapassava em cinco quadras os limites do Hammerstein, instalado no meio da cidade, na Rua 34, entre a Sétima e a Oitava Avenida. A ansiedade era imensa. Tratava-se do primeiro show da banda em Nova Iorque desde a fatídica noite no Madison Square Garden, no longínquo 2002. De lá para cá, sete faixas do aguardado Chinese Democracy – projeto iniciado há uma década e que teria consumido mais de US$ 13 milhões – vazaram na rede, o guitarrista Buckethead abandonou de vez o barco e Axl substituiu a imagem de eremita pela de quarentão encrenqueiro em festas e boates da cidade (chegando a trocar socos com o magricela Tommy Hilfiger em uma festa de aniversário na boate Plumm).

Uma hora e meia depois que os meninos da banda de punk-metal britânica Bullet For My Valentine encerram sua insossa apresentação com um ‘vocês estão preparados para o novo Guns?’, Axl & Cia. surgiram em meio a um cenário para lá de kitsch. Longas escadarias conduziam os músicos a dois queijos de desfile de escola-de-samba, reservados para o batera Brian Brain Mantia e os dois tecladistas, Dizzy Reed e Chris Pitman, este último se revezando nos bongos. No centro da plataforma ficavam Rose, o baixista Tommy Stinson e os guitarristas Robin Finck, Richard Fortis e Ron Thal. Este último, até a semana anterior, um dos líderes da banda de rap-metal local Bumblefoot.

No fundo do palco, longos panos dourados com caracteres chineses e telas de vídeo. À frente, Axl, óculos escuros, camisa de couro com o botão aberto, torso malhado à mostra, jeans escuros e uma cruz de prata no pescoço. O cabelo, todo trançadinho, agora termina em um rabo-de-cavalo. “Eu estou gostando para c…de estar aqui! Vocês não têm idéia do que isso significa para mim!”, diz.

A esta altura, o público, em sua maioria acima dos 30, está em suas mãos. Sinal de que a noite será inesquecível. O Hammerstein é conhecido por ser uma casa difícil de ser domada. Aqui vi em 2001 um grande show dos Strokes. Avassalador. Um ano depois os queridinhos do Belle & Sebastian encurtaram uma apresentação marcada por bocejos e ruídos de celulares. Não seguraram. O novo Guns entrou no Hammerstein como se estivesse em pleno Maracanã, em um gostinho de como vai ser a turnê dos festivais de verão Europa afora. Axl comandou olas, ofereceu o microfone à galera, falou pacas. Parecia feliz.

Tanto que partiu com gás para a amostra dos primeiros quitutes novos, coisas como The Blues, Madagascar (com imagens de Martin Luther King nos vídeos), There Was a Time e IRS, todas de ‘Chinese Democracy’, que finalmente deverá ser lançado no segundo semestre deste ano. O público ameaça seguir cantando com o vocalista, que provoca: “Estão cantando as músicas novas? Baixaram da internet, né? Seus desgraçados”. Para os que ainda não escutaram, elas são menos Guns e mais Axl, repleta de teclados em um flerte com ritmos eletrônicos às vezes irritantes e repetitivos.

O jeito foi fazer o caminho de volta com as versões de Knockin’ On Heaven’s Door (esta com menção à invasão do Iraque: “andamos, andamos, e cá estamos de novo no mesmo lugar”) e Live or Let Die. Aqui a voz de Axl falha. Ela vai lhe faltar de novo, mais à frente, em Sweet Child O’ Mine. Compreende-se. Ele, afinal, acaba de completar 44 anos. É preciso respirar. As oportunidades aparecem quando explosões e fogos cênicos desviam a atenção do público. E quando o showman dá lugar ao primeiro de longos seis solos, seguramente os momentos mais fracos da noite.

Há de um tudo no momento-virtuose da noite. Percussão crua, um surto jethrotulliano de Finck e até um dueto com variações a partir de Beautiful, de Christina Aguilera. Sim, você leu corretamente. Será que Axl ainda precisa convencer o público – e a si mesmo – de que esta banda é tão boa quanto os Guns originais? Antes que a questão seja respondida nosso guru volta ao palco para dizer que um ‘velho parceiro dos tempos de skate’ está ali de bobeira para tocar com seus amigos. É Izzy Stradlin que mostra serviço em Think About You com um dos guitarristas originais do Guns.

A platéia ainda urra quando alguém aparece no palco de chapéu preto. Não, não é Slash. É Kid Rock, mala suprema, ajudando Axl e Izzy a segurar Night Train. Outro incorrigível arroz-de-festa, Sebastian Bach – alguém aí lembra do Skid Row? - bateu ponto em My Michelle. Mas tudo parece ensaiado. Ensaiado demais. Falta espontaneidade na apresentação do novo Guns e sobram firulas.

Por falar nas tais, um piano é levado ao já poluído palco e é hora de November Rain, com uma cascata de fogos de artifício que levam um fã mais desconfiado a desabafar, bem do meu lado, ‘mas será que o Axl resolveu se transformar no Ozzy Osbourne?”. Não há tempo para maldades. Logo isqueiros acesos anunciam Patience. Que chega acompanhada de uma altaneira bandeira brasileira, prontamente levada ao palco. Axl estende a verde-e-amarela por dois segundos, murmura ‘São Paulo’, olha para o teto, agradece e segue em frente.

Este foi um show de Axl Rose. E isso já diz muito. Se a nova encarnação do Guns é melhor ou pior do que a que o Brasil tanto celebrou? Depende da fé de cada um. A melhor medida de que valeu a nova festa na floresta? O sorriso do vendedor de suéteres do GNR ao fim do show. Serviço completo, não sobrou nenhuma unidade. O preço? R$ 200. Mas a noite ainda não havia terminado. E Paradise City abraça os sobreviventes em meio a uma chuva de confete e papel picado. Foi quase carnaval. Quase. Porque boa parte da platéia sabia muito bem que ainda não foi desta vez que presenciaram o tal milagre na Rua 34.

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