quarta-feira, junho 14, 2006

Diretinho da Redação (45)


O texto da semana, em ritmo de Copa do Mundo, já está no DR.


MILAGRE PARA OS PELADEIROS DE NOVA JÉRSEI


Neste fim de semana compareci a um casamento aqui nas cercanias de Nova Iorque. Um amigo, filho de israelenses, celebrou sua união com uma filha de albaneses muçulmanos. Na volta do rega-bofe, apesar do mapa cuidadosamente enviado aos convidados, nos perdemos no caminho do Holland Tunnel. Acabamos nos deparando com ruas estreitas, repletas de gente – é quase-verão no Hemisfério Norte – batendo papo animadamente. Domingo, fim de tarde, e a imagem dos copinhos de plástico com sangria (não, não era cervejinha não) nos transportaram para as cidades do interior do Brasil, para os subúrbios cariocas, os bairros operários paulistanos.

A sensação aumentou ao cruzarmos uma larga avenida e nos depararmos – menos nervosos e mais curiosos, quase celebrando o presente que nosso precário senso de direção nos dera – com um, dois, três, não, quatro campinhos de futebol. Estávamos em Kearny e Harrison, descobri depois, áreas de classe média-baixa famosas em Nova Jérsei por contarem com uma comunidades repleta de fãs do esporte bretão nas imediações da Grande Nova Iorque. Também me atentei depois para o fato de que Newark fica do outro lado do Rio Hudson. Endereço das melhores churrascarias da região, é lá que os portugueses e, na rabeira destes, os brasileiros, formam duas das minorias mais animadas da municipalidade.

Nos campinhos de Nova Jérsei, a maioria esmagadora dos peladeiros – e dos torcedores – era de adolescentes, bem jovens. Não resisti à curiosidade, abaixei o vidro do carro, e escutei, entre um e outro sinal fechado, o papo exaltado que só poderia girar em torno da Copa do Mundo. Carente da pátria, aguardei, a cada sinal fechado, a palavra mágica associada, mundo afora, ao futebol: Brasil. Nada. Absolutamente nada. Só se falava do jogo do dia seguinte, entre Estados Unidos e Tchecoslováquia, das esperanças da ‘melhor seleção que jamais tivemos’.

Vinte minutos depois de driblarmos ruelas e placas mal-sinalizadas retornamos para a auto-estrada, mas meu pensamento ficou com aqueles meninos de rosto latino-americano ou negro – tá bem, havia um ou outro ‘russo’, como apelidávamos os mais aloirados nas pelejas de minha infância – acompanhando apaixonadamente os dramas do futebol. Será que eles tinham razão, será que o túmulo do futebol, com o inevitável ‘boom’ hispânico aqui nos Estados Unidos, vai implodir?

Confesso - somente um dia depois fui descobrir quem eram Keller, Beasley e outros bandidos da derrocada ianque. A derrota por três a zero para os tchecos foi uma grande decepção para a imprensa esportiva daqui e, imagino, para os meninos de Nova Jérsei também. Esta é a primeira vez que acompanho uma Copa do Mundo fora do Brasil e, meus amigos, o que se escreveu sobre o senhor Bruce Arena, técnico do humilhado esquadrão azul-e-vermelho, foi de uma raiva, de um ódio, de um fel que só mesmo em países que levam o futebol a sério.

Meus amigos norte-americanos não nutrem esperança alguma em uma vitória contra a Itália no próximo sábado, única possibilidade de Arena se redimir e levar seus pupilos para a próxima fase da competição. Mas quem sabe os meninos de Nova Jérsei não acabem presenciando um milagre, destes que só os deuses do futebol concedem, aqui e acolá, a seus devotos mais sinceros? Um golzinho solitário de Landon Donovan e um pouco de atenção do goleiro-capitão Keller dariam outro sabor à animada pelada de domingo nos campinhos de Harrison e Kearny.

Um comentário:

Olga de Mello disse...

Amigo,
AMEI SUA CRÔNICA!
Estou ouvindo a poesia do Bial sobre o jogo do Brasil. Bial é nosso novo Armando Nogueira, fazendo odes aos deuses dos estádio. Agora, me diga: uma partidinha daquelas merecia isso?
Viu só o que vc está perdendo na sua primeira Copa Off Brasil???
Beijo