segunda-feira, junho 12, 2006

Jornalismo - Cinco Anos de Acelerada Decadência


A gente pensa que é só no Brasil, mas não é não. A Federação Internacional dos Jornalistas (IFJ) publicou na semana passada em seu site – infelizmente apenas em inglês – os resultados de uma pesquisa interessantíssima que leva o título de The Changing Nature of Work: a Global Survey. Depois de entrevistar jornalistas de 41 empresas espalhadas por 38 países (inclusive o Brasil, via FENAJ), a IFJ trata da inegável queda de qualidade do jornalismo produzido em todo o globo nos últimos cinco anos.

Seguem alguns destaques da pesquisa:

56% dos entrevistados apontam mudanças importantes na relação entre jornalistas e patrões nos últimos cinco anos. As principais: ênfase na livre-negociação e na contratação de profissionais não-sindicalizados, aumento da cultura do free-lancer e achatamento das Redações, com a substituição de jornalistas experientes (e mais caros) por focas (mais baratos), mesmo em postos importantes da estrutura das empresas. Outro vilão, mundo afora: a privatização e/ou sucateamento de órgãos de mídia independentes vinculado ao setor público (como a ótima PBS americana, aviltada pelos neocons por aqui).

53,6% dizem que despencou, em suas empresas, a média salarial dos jornalistas, em todos os níveis.

73,2% dizem que o valor pago a um free-lancer é infinitamente inferior ao de um profissional contratado, descontados impostos. Apenas 12% dos chamados freela-fixos têm direito a licença-maternidade e menos de 10% folgam nos feriados.

75,6%
dos jornalistas entrevistados afirmam que o conteúdo editorial dos jornais vem sendo seriamente afetado pelas modificações no mercado, com um declínio em reportagens e uma cobertura bem mais tímida em setores de interesse específico (negócios, mídia, política), por conta da crescente concentração de órgãos de imprensa nas mãos das grandes corporações.

E alguns casos específicos:

No Brasil (alô sindicato, alô Ana Cristina Machado! Alô Coleguinhas, alô Ivson!): juntamente com o México é o pais em que mais cresceu o número de jornalistas trabalhando sem qualquer contrato de trabalho.

Na Austrália, Argentina, Paquistão, Peru, Nicarágua e Grécia: a moda é fechar contratos individuais (que não respeitam pisos salariais) ou os chamados ‘contratos de termo curto’, para um período reduzido de tempo, mais uma vez abaixo dos pisos salariais estabelecidos em cada país.

Bélgica, Índia e Hong Kong
: apresentam os mais altos índices de substituição desmedida da velha-guarda por jovens em busca de seu primeiro emprego na mídia.

Em Formosa, Austrália, Nicarágua, Paquistão, Peru e Sérvia: encontramos os casos mais acintosos – e costumeiros - de cancelamento de reportagens por conta da pressão de anunciantes foram relatados por jornalistas


Vou parar por aqui para não estragar o prazer da leitura do belo estudo comandado pelos colegas Emma Walters, Christopher Warren e Mike Dobbie. O texto, completinho, pode ser lido – de graça - aqui.

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