sexta-feira, novembro 28, 2008
ENTREVISTA/Leonado DiCaprio - Rede de Mentiras
Hoje saiu na Folha de S.Paulo a entrevista que fiz com Leonardo DiCaprio, em Los Angeles, por conta do lançamento de Rede de Mentiras, hoje, nos cinemas brasileiros.
A íntegra da entrevista - e a retranca, com sir Ridley Scott e Russell Crowe, seguem abaixo:
DiCaprio volta nervoso em thriller
Em "Rede de Mentiras", de Ridley Scott, ator vive um agente da CIA enviado ao Oriente Médio para encontrar terrorista
Em entrevista à Folha, astro nega que filme seja panfletário, diz querer trabalhar com Walter Salles e elogia política brasileira
Eduardo Graça, colaboração para a Folha de S.Paulo, de Los Angeles
Leonardo DiCaprio quer ir para casa. O mais rapidamente possível. Para se jogar no sofá e descansar. O ator de 34 anos concedeu uma entrevista exclusiva para a Ilustrada na semana em que Barack Obama e John McCain se enfrentariam pela segunda vez em um dos debates cruciais da corrida eleitoral norte-americana. Mas DiCaprio não quer apenas conferir o duelo sossegado. Ele quer ter seu recanto de volta para si. Nos três dias anteriores à entrevista ele reunira em uma de suas casas em Malibu uma legião de famosos – entre eles Julia Roberts, Tom Cruise, Scarlett Johanson, Cameron Diaz, Harrison Ford, Sascha Baron Cohen personificando Borat, Will Smith e Steven Spielberg – para a gravação de um anúncio incitando os jovens a votarem nas eleições.
A consagração de Barack Obama, para DiCaprio, é o sinal mais forte de que o enredo de Rede de Mentiras, novo longa de Ridley Scott que estréia nesta sexta-feira nos cinemas brasileiros, poderá ficar rapidamente datado. No filme, ele é o agente da C.I.A. Roger Ferris, deslocado para o Oriente Médio a fim de desbaratar células terroristas. Do outro lado do mundo, Russell Crowe é Ed Hoffman, um balofo burocrata, principal contato de Ferris em Washington. Também protagonista de um filme cotado para a corrida do Oscar-2009, Revolutionary Road, que será lançado no Brasil em janeiro, DiCaprio falou sobre a vontade de trabalhar com Walter Salles, as diferenças de estilo entre Ridley Scott e Martin Sorsese (seu diretor mais constante) e até, quem diria, de sua admiração pela política energética de Brasília.
- Você e Russell trabalharam juntos há 13 anos, no western Rápida e Mortal, quando você tinha 21 anos. Foi muito diferente reencontrá-lo no set de filmagem?
- Sim. Aquele foi nosso primeiro filme de estúdio de fato. Éramos dois neófitos em Hollywood. Lembro que todo mundo falava daquele ator australiano fenomenal que estava chegando. Se não me engano foi Sharon Stone quem pediu para colocar a gente no elenco. E ficamos nós dois bem quietinhos e com os olhos bem abertos, prestando atenção em tudo. É o que me lembro. E em Rede de Mentiras somente trabalhamos juntos por algumas semanas, em Washington e no Marrocos. E o que mais gosto em Russell é que ele especialmente sério trabalhando. Isso me agrada muito.
- O roteirista de Rede de Mentiras, William Monahan, é o mesmo de Os Infiltrados, outro filme de ação que você protagonizou. São experiências muito diversas ser dirigido por Ridley Scott e Martin Scorsese?
- Eles são bem diferentes. Não quero dizer que Ridley não seja meticuloso no que faz, mas Marty presta atenção a cada detalhe, cada câmera, cada momento do filme. E Ridley é um diretor que já edita em sua própria cabeça, simultaneamente controlando cinco ou seis câmeras e mantendo o foco. Ele sabe o que está acontecendo em cada câmera e confia muito em seu instinto, uma qualidade fenomenal. Ele vai te dizer imediatamente se acreditou ou não no que viu na tela. E fará as mudanças que bem entender naquele exato momento. E você precisa estar preparado para estas mudanças radicais. A adrenalina diária no set é algo singular. Você tem câmeras te filmando o tempo todo dos mais diversos ângulos. E Ridley está sempre aberto para improvisações, inclusive de cenário, ele adora ter opções. Já Marty requer um trabalho mais intenso do ator, ele estuda minuciosamente cada cena com uma grande antecedência. Agora, para o ator, creio, há benefícios nos dois estilos.
- Durante o lançamento de O Gângster, Denzel Washington declarou que se viu tímido no set ao ter dividir as cenas com o Russell, com quem Ridley trabalhou tantas vezes (O Gladiador, Um Bom Ano). O mesmo aconteceu com você?
- Peraí! Tem alguma coisa errada com esta declaração. O Denzel, tímido? (risos). Então tá! Acho que tímido não é o termo correto para mim. É mais ‘em total adrenalina’. Nunca havia filmado deste jeito. E Russell e Ridley trabalham de um jeito muito especial. Eles murmuram algo um para o outro e quando você viu, a cena mudou completamente. Você fica meio tentando descobrir como é que aquilo aconteceu tão rapidamente. Você precisa entrar no ritmo deles. Um ritmo ao qual não estou acostumado e que me deixava ao mesmo tempo completamente esgotado e cheio de energia. Eles são assim.
- Imagino que você não teve esta mesma sensação de excitamento e esgotamento filmando The Revolutionary Road...
- Foi o oposto. Quase que como filmar uma peça de teatro. Aliás, jamais tive uma experiência legítima no teatro, queria muito fazer um dia um espetáculo off-Broadway, mais experimental. Em The Revolutionary Road tivemos conversas sem fim sobre o relacionamento de duas pessoas, como eles estariam se sentindo em determinadas situações. Passei um tempo enorme confinado com Kate Winslet e Sam Mendes em uma casa no subúrbio americano e no mês seguinte já estava correndo para cima e para baixo no Marrocos com Ridley enquanto helicópteros jogavam mísseis na minha cabeça. Nada mais diferente, mas esta é minha rotina nesta roda-gigante de Hollywood, de filmar, filmar, filmar. Como disse queria muito trabalhar com outros estilos de direção no teatro, e também no cinema, mas, neste caso, fora dos EUA. Adoraria trabalhar com Ang Lee, Alejandro Iñáritu e Walter Salles. Quem sabe nos próximos anos eles não surjam com um projeto com algum lugar para mim?
- Afinal, o que o atraiu mais em Rede de Mentiras? Fazer mais um thriller ou o aspecto político, já que a trama acontece durante a explosão do terrorismo no Oriente Médio?
- As duas coisas. Adoro o fato de que este é um filme permanente quando se pensa em interpretações no cinema da Era do Terror. De certa forma, ele é um símbolo das relações estabelecidas pelos EUA com os países do Oriente Médio – ou do modo como elas foram percebidas – nos últimos anos. Ao mesmo tempo, não acho que o filme penda para uma seara política específica, não é panfletário. Ele pincela algumas possibilidades de realidade mas deixa que a audiência tire suas próprias conclusões.
- Você é extremamente aberto sobre suas escolhas políticas...
- Sou simpatizante do Partido Democrata e adoraria ver Obama eleito. Mas o que realmente gostaria de ver é um movimento de jovens norte-americanos que pudessem tomar as rédeas deste país, sabe? Estes jovens viram aonde nosso país foi parar recentemente e precisam moldar o país à sua semelhança. O que quero é que eles sejam ouvidos da fato, não importa se votando à direita ou à esquerda.
- Por que não dirigir um segundo documentário? Depois de A Última Hora, focado no aquecimento global, um dedicado aos jovens eleitores?
- Bem, nos próximos três dias vou editar uma campanha viral, uma propaganda com várias celebridades voltada diretamente para a internet, convocando os jovens a votarem. Mas já que você mencionou A Última Hora preciso dizer aqui que tenho a maior admiração pela maneira como o Brasil lida com energias alternativas. Vocês são pioneiros. Se os EUA tivessem feito um terço do que vocês fizeram não estaríamos mais tão dependentes da exportação de petróleo. Quando estávamos filmando Rede de Mentiras ficou muito claro que as guerras que estamos lutando neste momento, neste país, têm tanto a ver com o combate ao terrorismo quanto com a necessidade de se assegurar o abastecimento de petróleo para nossa economia. E a política energética do Brasil é um exemplo para países no mundo todo. O novo governo dos EUA precisa seguir o exemplo do Brasil. Estamos oito anos atrasado, no mínimo, em relação a vocês.
*****
Rede de Mentiras não é de forma alguma um filme político. Tampouco funciona como metáfora para a desastrosa política externa do governo Bush no Oriente Médio. É o que diz Sir Ridley Scott, três vezes indicado para o Oscar de melhor direção (por Thelma & Louise, Gladiador e Falcão Negro em Perigo) e responsável por Alien e Blade Runner, sobre sua mais recente obra. “Não, não e não. O filme é uma ótima história de espionagem. Por isso me interessou tanto”, conta.
Adaptado por William Monahan – o premiado roteirista de Os Infiltrados – a partir do livro homônimo do jornalista David Ignatius, uma das estrelas do The Washington Post, Rede de Mentiras foi recebido com frieza pela crítica americana e não se transformou em um sucesso de bilheteria. O The New York Times chegou a dizer que o filme levanta uma questão capciosa: o terrorismo se tornou enfadonho por que os terroristas se tornaram figuras rotineiras da vida contemporânea ou é a cultura de massa norte-americana que segue tendo o poder de transformar qualquer tema em thrillers tediosos e sem vida? Qualquer que seja a resposta, Scott não fica bem na fita.
O experiente diretor, no entanto, não se rende. Neste filme ele retorna a um tema que lhe é caro. Rede de Mentiras trata, ele ensina, de um estudo sobre a honra em que o pano de fundo, desta vez, é o mundo da espionagem nos anos que se seguiram à Guerra Fria. “Não sou um cínico. Fiz um filme em que a honra é, sim, um valor fundamental. E acredito que ela ainda o seja, no mundo contemporâneo. Quando decidi levar a história de Ignatius e Monahan à tela, percebi rapidamente que eu precisava, especialmente por conta da velocidade da narrativa, trabalhar com atores especialmente inteligentes. E, não tenha dúvida, estrelas de cinema quase sempre são inteligentes. É um pré-requisito. Eles precisam saber perguntar as questões certas na hora exata sobre os temas pertinentes. E Russell e Leo foram um time afinadíssimo de mentes brilhantes”, diz.
Rabo-de-cavalo, sorriso largo, Russell Crowe disse que seu personagem em Rede de Mentiras, segundo o próprio ator australiano, é um dos ‘tipos mais asquerosos na história de Hollywood’. E que só foi descobrir de fato quem era Ed, o burocrata de Washington com uma mente brilhante e quase nenhum escrúpulo, ao adotar “aquela voz dúbia, aquele murmurar”. “Veja bem, não preciso gostar dos personagens que encarno. Sou completamente avesso às tradições do teatro, àquela idéia que você ‘deve amar o seu personagem’ para encontrá-lo de fato. Em minha trajetória, descobri que é exatamente o contrário, que se você ama o personagem, necessariamente destrói a objetividade necessária para construí-lo”. Mas jamais uma personalidade fictícia ganhou o coração do Gladiador? “De verdade? Somente um. O Jim Braddock de Cinderella Man – A Luta pela Esperança. Ele era um sujeito e tanto, tão sensacional, mas tão sensacional, que foi uma honra tê-lo feito completamente apaixonado por aquele homem”.(Eduardo Graça).
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Um comentário:
Assistir e adorei o filme.
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