sexta-feira, junho 20, 2008

AGENTE 86/Texto e entrevistas

A Folha de S.Paulo publicou ontem, na capa da Ilustrada, meu texto sobre Agente 86, que estréia hoje nos cinemas brasileiros. A Contigo! desta semana saiu com minhas entrevistas com Steve Carell e Anne Hathaway, os protagonistas da comédia, que me fez rir muito e recordar de tardes siderúrgicas de tempos idos passadas na frente da tevê vendo Don Adams aprontando todas.

Aí vão, as conversas com os atores na íntegra:


Velho truque de cara nova

Nova versão de "Agente 86", baseada na série de TV criada por Mel Brooks e Buck Henry nos anos 60, estréia amanhã com Steve Carell na pele do espião atrapalhado
Anne Hathaway e Steve Carell, comparado a Pelé pelo diretor Peter Segal, revivem a Agente 99 e o Agente 86 na adaptação para o cinema da série de 1965

EDUARDO GRAÇA

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES


Eddie Murphy, Leslie Nielsen, Bill Murray, Jack Lemmon, Dan Aykroyd, Adam Sandler, Jack Nicholson e Steve Carell. Nos últimos 15 anos, o diretor Peter Segal escalou em seus filmes uma verdadeira seleção de craques da comédia. É "o velho truque..." do diretor, como diria o protagonista de "Agente 86", que estréia amanhã nos cinemas do país.
A adaptação da festejada série de TV americana tem Carell no papel que foi originalmente de Don Adams.

"Com cabeça de técnico de futebol brasileiro, se Sandler é meu Beckham, Carell é, indiscutivelmente, o camisa 10, o Pelé deste meu escrete", diz Segal à Folha. Isso porque Segal considera Carell o ator "mais inteligente de sua geração". "Há o fato de ele ser incrivelmente parecido com Adams e ter um amor imenso pela série. Isso também pesou, pois queríamos fazer um filme que exalasse carinho pelo original, sem ser piegas."
"Agente 86" foi uma das comédias de maior sucesso na TV americana entre 65 e 70, criada por Mel Brooks e Buck Henry, uma sátira sobre o mundo da espionagem na Guerra Fria.

Segal lembra que, nos dois anos que teve para concretizar seu desejo de transformar Steve Carell em Maxwell Smart, a pergunta que mais ouviu foi: "Mas você vai fazer um filme de época?". Ele decidiu arriscar e deixou de lado a Guerra Fria, fundamental para o sucesso da série na TV americana em 65, em meio à Guerra do Vietnã. "Mas, de certa forma, seguimos a receita de Mel. Ele tinha os russos, nós temos a Al-Qaeda. O tempero do "Agente" é novamente a sátira política, que agora transpira nos ataques de fúria do vice-presidente e na inteligência muito peculiar de nosso primeiro mandatário."

Maxwell Smart é o agente aparentemente boboca, que surpreende o público e seus parceiros da C.O.N.T.R.O.L (a secretíssima agência de inteligência americana) ao resolver as crises mais complexas, quase sempre deflagradas pelos terríveis elementos da K.A.O.S, agora uma comunidade de terroristas interessada em ameaçar as democracias do Ocidente.


Equilíbrio


Para Mel Brooks, Smart é o filho que James Bond e o Inspetor Clouseau nunca tiveram. O criador se diz satisfeito com o resultado desta adaptação -que o preocupou, após o fracasso, em 1995, de uma tentativa de recriar a série. No filme, afirma, há "um equilíbrio perfeito entre as aventuras de 007 e minhas melhores comédias". Cenas emblemáticas, como a das portas do elevador que nunca têm fim, voltam para fazer rir o público saudoso. O diretor enfatiza: "Por favor, escreve aí: não temos a menor pretensão de fazer algo tão bom quanto a série televisiva. Seguimos humildemente a sombra de Mel Brooks. Buscamos tocar o espírito do que eles criaram para tentar fazer algo original que novos e velhos fãs gostem. Nossa modéstia garante a tranqüilidade com que atravessaremos este fim de semana [de estréia]".

Origem do Agente 86


A preocupação com os neófitos pautou as escolhas do diretor e do ator. O filme é uma espécie de "origem de Smart", explicando como ele foi parar na ativa. E figuras do passado, como o Agente 13 (vivido na série por David Ketchum e, agora, por Bill Murray) surgem em pequenas e hilárias pontas. "Bill é conhecido por não ter um agente e ser dificílimo de contatar. Não é que nossa figurinista era amiga dele?", conta Segal. "Mas não tínhamos a menor idéia do que escrever para ele. Ficamos com os queixos no chão [quando ele aceitou] e dois dias depois o enfiamos dentro de uma árvore em Washington. Nascia assim uma das minhas cenas favoritas!"

Fã dos irmãos Marx e de Buster Keaton, o diretor conta que o caráter subversivo de Carell -conhecido pela capacidade de improvisação- foi um dos principais combustíveis do filme. Ele só convidou Anne Hathaway para encarnar a Agente 99, por exemplo, após perceber que era ela quem respondia com mais rapidez às mudanças do roteiro criadas por Carell. A escolha foi certeira. A atriz exala a sensualidade de uma Bond Girl ao mesmo tempo em que levanta a bola para Carell. "Meu mestre na arte de improvisar foi Alan Arkin, com quem trabalhei no começo da carreira [Arkin faz o Chefe -veja quadro ao lado]", diz Carell. "Com ele, entendi que a improvisação, quando bem-feita, é dar uma nova perspectiva ao tema apresentado. Faço muito isso [na série] "The Office"." Mas, se em "The Office" Carell joga com um humor que deixa seus interlocutores desconcertados, em "Agente 86" ele precisa lidar com o nonsense típico das criaturas imaginadas por Mel Brooks. "É um tipo de comédia menos seco, menos sutil do que em "The Office"."

ENTREVISTA/Steve Carell
Eduardo Graça, de Los Angeles, para a Contigo!

Quando descobriu que havia sido a atriz escolhida para viver a Agente 99 na versão para o cinema da clássica série televisiva Agente 86, criada por Mel Brooks e que durante décadas foi um dos carros-chefe da programação da TV Bandeirantes no Brasil, Anne Hathaway correu ao telefone e ligou para sua mãe, a também atriz Kate McCauley. Queria celebrar a conquista – um dos programas preferidos das duas era ver as trapalhadas do agente Maxwell Smart e de sua namorada 99 nas longas tardes suburbanas de Nova Jérsei – e também pedir conselhos para dona McCauley. “Ela me disse que apenas deveria prestar atenção em Steve. Que se tivesse alguma dúvida, bastaria olhar para ele. Ele saberia me conduzir, sempre, para o caminho certo”, diz Hathaway.

A história corrobora o tamanho do fã-clube de Steve Carell, o protagonista do filme que chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira. Aos 45 anos ele é o comediante de maior sucesso no showbizz americano. Ídolo nacional por conta de sua versão televisiva do sucesso The Office (no Brasil vai ao ar pelo canal FX), ele ganhou um lugar cativo na telona com a explosão de O Virgem de 40 Anos e a magistral interpretação do tio gay de A Pequena Miss Sunshine. Casado com a atriz Nancy Walls, 41 (a Carol de The Office), ele passa boa parte de seu tempo livre fazendo graça para os filhos Elizabeth, 8, e John, 4, que, segundo o pai-coruja, poderá vir a ser um comediante talentoso.

Fã da versão original do Agente 86, que passou na televisão norte-americana entre 1965 e 1970, Carell é quase um clone do falecido ator Don Adams, que encarnou o espião trapalhão, uma paródia de James Bond com uma pitada de Inspetor Clouseau, na versão original. Mas seu grande trunfo, de acordo com o próprio Brooks, consultor-emérito do filme, foi ter criado um Maxwell Smart todo próprio, tão diferente de Adams quanto fiel à imaginação do criador do personagem bonachão. Mesmo quando cede novamente ao humor mais físico – as cenas em que aparece semi-nu ou beijando o ator Dwayne Johnson, de O Rei Escorpião, mais conhecido como The Rock, são absolutamente impagáveis – Carell segue o dono da bola, exatamente como previra a sábia mamãe de dona Hathaway.


- É verdade que você achou que iria ter de fazer testes para encarnar Maxwell Smart na tela? A pergunta é porque você é a cara do personagem, parece-me uma escolha óbvia!
- Foi uma surpresa completa. Fui chamado para uma reunião na Warner e achei que seria um teste de elenco. Então levei meu currículo, algumas fotinhas e imaginei que ficaria um tempo em um quartinho esperando os outros atores que já estariam fazendo cenas de Maxwell Smart. Mas, que nada! Entrei em uma sala imensa, com executivos e produtores que diziam que queriam que eu fizesse o protagonista do filme! Basicamente, posso te dizer que minha cabeça explodiu naquele momento. De felicidade (risos).

- Mas você ficou supreso por ter este acesso direto em Hollywood?
- (fazendo uma voz pomposa) De modo algum. Sempre soube que o sucesso estava na esquina pronto para mim. (risos). O problema é que fiquei esperando, esperando, esperando e esperando de novo! (risos). Não, sério, sim, me surpreendo todos os dias com o sucesso que alcancei nesta carreira, mas tenho a consciência de que isso um dia vai passar. É uma delícia, adoro, mas tento me lembrar todos os dias de que um dia isso acaba. É inevitável.

- Você era um fã da série criada por Mel Brooks em 1965?
- Sim, claro! Cresci vendo Agente 86 na tevê. E criei meu Maxwell com muito amor e carinho pelo original.

- A cena em que você beija Dwayne Johnson na boca é reveladora. Como foi sapecar um beijo no The Rock?
- Foi exatamente o que você imaginaria (risos) e sonharia por noites a fio (mais risos). Há três coisas sensacionais sobre Agente 86, o filme.

- Que são?
- Uma, o serviço de catering (risos). Comemos lagosta ao termidor o tempo todo. O elenco, sensacional. E poder beijar Dwayne na boca. Ele é genial, doce, agradável, inteligente. E também tem aquela pele macia, os lábios volumosos (risos). E ele tem aquele cheiro de cookies que acabaram de sair do forno, sabe? Ai, ai...(risos). Não, sério, tiveram dois dias de filmagem – o que eu beijo o Dwayne e o que eu apareço com o bum-bum de fora – em que eu tive de ligar para mulher para contar o que eu havia feito! (risos). No dia em que ficava pelado em cena, disse a ela; “Amoreco, há 500 pessoas nesta sala de concerto em que estamos filmando e eu tenho que me abaixar e mostrar minha bunda para eles!”.(risos). E eu tinha esquecido que estas duas cenas estavam no roteiro, é assim que eu funciono. O que fazer? Ora, respirar fundo e manter a dignidade, sempre.

- O filme é repleto de paródias e ironias com instituições norte-americanas como a C.I.A. e o F.B.I. e pega pesado tanto com o presidente Bush quanto com o vice Dick Cheney. Você, que esteve durante anos em um dos programas mais cáusticos da tevê americana, o Daily Show, com John Stewart (apresentado no Brasil em sua versão internacional, na CNN) segue um adepto da comédia mais politizada?
- Acho que esta é uma das melhores características de nosso país. É fundamental que programas como o Daily Show e o Colbert Report, que caçoam de nossos políticos continuem existindo. Eles nos ajudam a pensar sobre a sociedade em que vivemos e, ao mesmo tempo, são divertidos pacas.

ENTREVISTA/ Anne Hathaway
Eduardo Graça, de Los Angeles, para a Contigo!

Ela é apontada pelas publicações de entretenimento norte-americanas como a possível sucessora de Julia Roberts no panteão das estrelas de Hollywood. Exagero? Pode ser, mas a bilheteria acumulada de seus últimos cinco papéis de peso (incluindo a Andy de O Diabo Veste Prada e a Lureen da Montanha Brokeback) somam impressionantes US$ 704 milhões. Número que deve aumentar ainda mais com Agente 86. Aos 25 anos Anny Hathaway já fatura, de acordo com as ótimas e afiadas línguas, US$ 5 milhões por filme.

Desde que explodiu com a franquia O Diário da Princesa ela já jogou de igual para igual com ninguém menos do que Meryl Streep e agora capricha no quesito sedução para explorar seu lado pin-up. Sua Agente 99 é tão eficiente quanto engraçada, mas especialmente sensual. Além de não ficar para trás nos diálogos cômicos com o craque Steve Carell – tarefa bem difícil, o homem é rápido no gatilho - ela deixa os marmanjos de boca aberta com seus figurinos ousados e uma câmera enamorada, que parece procurar as curvas da atriz. Depois da conversa com a Contigo!, na sala de conferências de um hotel cinco-estrelas de Beverly Hills, a atriz foi relaxar na piscina com uma amiga dos tempos de faculdade e o namorado de quatro anos, o empreendedor imobiliário Raffaello Follieri, 28. Com seu ragazzo italiano, Hathaway saboreou uma tequila e dividiu um prato de nachos, se protegendo sempre do sol, mas mostrando para os privilegiados hóspedes do hotel uma forma invejável.


- Você, que agora é uma expert no assunto, gostou do guarda-roupa da Agente 99?
- Adorei! Adorei! A figurinista do filme, Debbie Scott, que ganhou o Oscar por Titanic, passou horas conversando comigo sobre como faríamos para a Agente 99 ser ao mesmo tempo uma garota interessada em sua aparência, ao mesmo tempo em que não tinha problema algum em parecer perigosa. Queríamos encontrar um look que serviria tanto para um desfile de modas quanto uma luta contra ninjas assassinos (risos). Meu vestido favorito é o que uso quando minha identidade é revelada. Sei que fica estranho eu dizer isso, mas aquele é um vestido sexy!(risos).

- Mas não ficou difícil fazer todas aquelas cenas de ação usando salto alto?
- Acho que O Diabo Veste Prada funcionou como um ‘treinamento em salto-alto’ para Agente 86. (risos). Naquele filme, muita gente não sabe, eu tive de fazer malabarismos enquanto tinha quebrado um dedo. Foi uma loucura! A Agente 99, no entanto, teve muito mais ajuda. Tinha um dublê, um professor de artes marciais para ajudar a fazer tudo no estilo correto, para parecer de fato autêntico. A produção ofereceu tudo o que queríamos, até porque eles sabiam que tinham nas mãos os dois atores mais improváveis para fazer um filme de ação (risos). Também pesou o fato de que eu cresci praticando esportes. Vi toda a ação da Agente 99 como um mix de treinamento de balé com lacrosse (esporte praticado nas universidades americanas que lembra o críquete).

- A Agente 99 teve de fazer uma cirurgia plástica. Há algo que você mudaria em seu rosto?
- Tenho uma artrite terrível no dedão de meu pé esquerdo e me incomoda muito. Muito mesmo. Se houvesse uma maneira de consertar isso, certamente entraria na faca. Quando era mais jovem – e existe muita pressão social nas adolescentes – e pensava que era necessário fazer algo para me moldar mais na tal beleza clássica pensei em operar o nariz. Não achava que ele era bonito o suficiente. E é engraçado isso porque hoje acho que o meu nariz é que me permite mudar de rosto em um filme na hora em que bem entendo. Posso ser glamurosa como a Agente 99 ou uma ex-viciada em heroína, como em meu próximo filme, em que a personagem é barra-pesada. Acho que uma atriz tem de ter um rosto expressivo, ou você será eternamente apenas uma face conhecida, sem personalidade.

- Você consegue acreditar no conto de fadas vivido por Maxwell Smart, que ganha o coração de uma mulher-perfeita, como a Agente 99?
- Não acho que ela seja o estereótipo da mulher perfeita! Ela é uma workaholic e leva a sério seu trabalho a um ponto exaustivo. Max faz com que ela entre em contato com seu senso de humor, com sua sensibilidade. Ele a surpreende, e ela adora isso. Eu entendo bem esta sensação, de você pensar que domina tudo, sabe do que está falando e, de repente, alguém te surpreende.

- Você ainda é muito jovem e já trabalhou com gênios da interpretação como Meryl Streep, Alan Arkin e Steve Carell. O que aprendeu mais nos sets de filmagem que poderia dividir conosco?
- Em O Diabo Veste Prada aprendi a diminuir a intensidade da piada sem perder o timing. Com Alan e Steve aprendi a importância de se ter liberdade para errar. De encontrar o tom cômico exato depois de tentar muitas vezes, a busca do aprimoramento. É quase que como entender que para realmente você ser engraçada você precisa antes compreender que isso não é uma regra. O importante é continuar tentando.

2 comentários:

Olga de Mello disse...

~Eu não vou com muita expectativa ao filme, mas o trailler, com Carell tentando sair de uma cabine telefônica, é muito bom!!! Ele me lembra o Peter Sellers, naquela mímica intensa, grave, reveladora.

Olga de Mello disse...

Aliás, depois da chatice do Adam Sandler e a histrionice do Jim Carrey, é ótimo ter um comediante na linha Buster Keaton, não?