O México mexeu comigo. Fiquei muito impressionado com a força do povo, os dilemas enfrentados por nossos hermanos do norte. Quando ainda vivíamos a lei do frio aqui em Nova Iorque, foi bom acordar cedo no Sheraton do Centro Histórico, atravessar para o outro lado da Avenida Juarez, sol a pino, e ler a edição fresquinha da Gatopardo no Paséo de la Reforma. Como é bom colocar as mãos numa publicação bem-feita, interessante, com textos inteligentes.
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Em uma tarde, entre uma entrevista e outra, acompanhei, no gigantesco Zócalo, um protesto de partidários de Lopez Obrador, o candidato a presidente das esquerdas que teria sido tungado nas eleições do ano passado. Reclamavam do desmonte da PEMEX e da falcatrua nas eleições internas do PRD, o maior partido de oposição, dividido entre sociais-democratas e socialistas. Mais tarde quase apanhei em frente à Embaixada do Canadá. Sim, mais manifestações pelas ruas mexicanas. Imaginem que as patricinhas e mauricinhos de Polanco (a Higienópolis, ou o Leblon, da Cidade do México) orquestraram um protesto contra a morte das focas (a caça acabou de ser liberada novamente no Canadá, e as focas são umas das principais fontes de alimentação dos indígenas do norte canadense). Fiquei enfezado! Com tanta gente sendo assassinada no México (os seqüestros voltaram à pauta, foram capa do NYT desta segunda), os meninos de Polanco não tinham mais o que fazer, não? Eu e minha neo-amiga Beatriz, fiel adepta do PAC (Processo de Alimentação Contínua) e defensora empedernida das tradições liberais canadenses (até porque ela tem família por lá), olhamos a tudo com choque e uma incômoda sensação de déja vu.
O que me ficou na cabeça mesmo foram os slogans dos jovens da UNAM que Castellanos reproduziu em seu texto lá na Gatopardo:
!LOS MASACRADOS SERÁN VENGADOS!
?Y QUIÉEN LOS VENGARÁ?
EL PUEBLO ORGANIZADO!
?Y COMO?
LUCHANDO!
ENTONCES: LUCHA! LUCHA! LUCHA!
!NO DEJES DE LUCHAR
!NO DEJES DE LUCHAR
POR UNA EDUCACIÓN
POR UNA EDUCACIÓN
POLÍTICA Y POPULAR!
Aqueles rostos indígenas, a multidão - a Cidade do México é a segunda maior metrópole do planeta, com 24 milhões de pessoas zanzando de um lado para o outro - se acotovelando no metrô, a favela que outro neo-amigo, Marco Canônico me mostrou ao lado do Meliá, em pleno Centro Financeiro, a sensacional feira do Mercado de La Merced, com frutas e vegetais de cores e tamanhos impensáveis, a noite dos mariachis na erma Plaza Garibaldi (que só fui, covarde, carregado pela intrépida Marília Martins), tudo me transportou para um outro tempo. Para minha conversas com meu avô Nicéas, que uma me vez me explicou, muito sério, o motivo pelo qual dava remédios de graça para todos que iam à sua casa de noite - e perturbavam meu sono - em busca de auxílio médico. "Menino (ele só me chamava de menino), este país em que a gente vive é uma merda. Mas a gente não precisa ser (uma merda) também!"
2 comentários:
querido, adorei o mexican post! ai como é bom viajar, né? abre feridas mas abre a cabeça... nós estamos aqui doidos pra nossa temporada européia, vamos passar 23dias entre paris, itália e barcelona!
saudades, sempre,
maricota
menino! (gostei dessa)
que texto delicioso!tão gostoso quanto nossa viagem ao México!
estou esperando a próxima!
bjocas
Bia
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