quinta-feira, janeiro 24, 2008

Entrevista/DEZEL WASHINGTON & RUSSEL CROWE

A Contigo! publicou nesta edição minha entrevista com Denzel Washington e Rusell Crowe, estrela do filme mediano O Gângster, que tentou seguir a linha de sucesso de Os Infiltrados, de Scorsese, sem muito sucesso. De qualquer forma, Crowe está excelente como o mulherengo detetive Richie Roberts, em uma interpretação contida que merece a atenção da platéia.

Denzel e Russell

Que dupla!

Por Eduardo Graça, de Los Angeles e Nova York

Ambos vencedores do Oscar, o contido americano e o expansivo neozelandês falam a Contigo! sobre o novo filme que estrelam, O Gângster, de Ridley Scott

Foram duas entrevistas, dos dois lados dos Estados Unidos, com duas das maiores estrelas de Hollywood. E o irônico é que Russell Crowe, 43 anos, e Denzel Washington, 53, pareciam ter trocado de personalidade ao conversarem com a Contigo! sobre o lançamento de O Gângster, a superprodução de 100 milhões de dólares de Ridley Scott (o emblemático diretor de Alien, de 1979, e Blade Runner, 1982), 70, que protagonizou uma polêmica sobre a glorificação dos gângsteres quando estreou nos Estados Unidos (em novembro de 2007).

Confortável num dos uniformes de seu time de rugby — ele é um dos donos do australiano South Sydney Rabbitohs —, e com uma imensa barba por fazer, o neozelandês Crowe, 43, casado há quatro anos com a atriz Danielle Spencer, 37, e pai de Charles, 4, e Tennyson, 1, deixou de lado a fama de mau e falou pelos cotovelos. Mais comedido, Denzel, 53, casado com a atriz Pauletta há 24 anos e pai de John David, 23, Katia, 20, e os gêmeos Malcolm e Olivia, 16, revelou seu lado mal-humorado.

O filme, no qual esses dois opostos no gênio e comportamento, mas igualmente talentosos, contracenam — que estréia sexta-feira (25/1/2008) —, conta a história real de Frank Lucas, o mais importante traficante de drogas e primeiro gângster negro da história de Nova York (papel de Washington), e do mulherengo e enigmático detetive Richie Roberts (Russell Crowe), que, nos anos 70, conseguiu desbaratar seu império. O Gângster recebeu três indicações para o Globo de Ouro (melhor ator para Denzel e melhor diretor e melhor filme dramático) e gerou um CD gravado pelo rapper Jay-Z, 38, o eterno noivo de Beyoncé Knowles, 26 — aliás, no elenco também atuam o rapper Common, 35, e os músicos de hip-hop RZA, 38, e T.I., 27.

Os dois vencedores do Oscar — Crowe por O Gladiador, de 2000 (melhor ator) e Washington por Tempo de Glória, de 1989 (melhor ator coadjuvante), e Dia de Treinamento, de 2001 (melhor ator) —, falaram à Contigo! sobre esse novo trabalho.

Esta é a sexta vez que você encarna um personagem da vida real. É mais fácil ou mais complicado interpretar esse tipo para a telona?
Denzel Washington - Os dois são difíceis. Mas se a pessoa está viva pode ser uma vantagem, você tem de onde tirar material de pesquisa.

E como vocês aproveitaram a oportunidade de conhecer a fundo a vida de Frank Lucas e de Richie Roberts?
DW - Conversei com o próprio Frank Lucas sobre tudo. Tudo mesmo. Falamos de beisebol, de como criar os filhos, de como as ruas de Nova York mudaram. Boa parte da conversa quem comandou foi ele, que escolhia os tópicos. Eu ia seguindo os caminhos que ele me apresentava.
Russell Crowe - Depois de passar tantos anos investigando crimes, especialmente grandes histórias como a do Frank, Richie não é exatamente um livro aberto. Foi, portanto, um processo lento, em que ele me revelava algumas coisas, aqui e acolá. Tive de ir ganhando a confiança dele aos poucos, sabe? Mas houve um momento em que ele me ofereceu a chave de quem era aquele homem que eu teria de interpretar. Foi quando ele me disse que não queria ser visto como um mulherengo. E um minuto depois começou a me contar a sensacional história de quando transou com a estenógrafa no segundo andar do fórum (risos)! Por aí você vê tem uma idéia de quem ele é (risos).

Vocês tiveram algum receio de que a visão do Harlem dos anos 70, apresentada pelo filme, acabasse ficando um pouco estereotipada?
DW - Em geral, não me preocupo com o que as pessoas dizem ou pensam. Não saio perguntando para as pessoas o que elas acham e não tenho medo algum de fazer algo mais ou menos estereotipado. Simplesmente, faço o melhor que posso. Depois, as pessoas podem falar à vontade, dar suas opiniões. Não vou dizer que as críticas não me afetam de vez em quando. Mas me recuso a ser rotulado, a ser colocado em uma posição específica, "aquele é o Denzel, ele faz filmes deste jeito, pode fazer estes personagens". Comigo, não! Eu não leio sobre minha vida, eu vivo.

Como foi, para vocês dois, o trabalho com Ridley Scott? Para Denzel é uma novidade, mas é a quarta parceria entre ele e você, Russell, não é?
RC - Sabe que é sempre diferente trabalhar com Ridley? As pessoas têm esta fantasia de que nós dois trabalhamos juntos porque concordamos em tudo o tempo todo. Na realidade é exatamente o oposto. Mas é quando discordamos que encontramos o melhor de nós. Respeitamos muito a opinião um do outro e o resultado vocês vêem nos filmes. Gosto muito dos mundos que ele criou e dos quais tive a honra de fazer parte.
DW - Ridley traz a visão, coisas que só ele vê. Ainda estou digerindo a experiência. Aprendi muito, era como se estivesse indo à escola de filmagem. Ficava pensando por que ele colocava a câmera em certa posição, como ele se movimentava, o motivo de se escolher certa locação. E, se você reparar bem, ele usa a cidade como um personagem, como um dos principais personagens de O Gângster, de uma maneira genial. E até mesmo como ele se programou para fazer o filme...

Filmando primeiro com Russell...
DW - Na verdade, a idéia foi a de, durante oito semanas, fazer o filme a partir da visão de mundo do Richie. Depois nós filmamos juntos por oito dias. E no fim Russell foi embora e rodamos a partir da visão do Frank. Eu pensei, claro, sensacional essa decisão e o que ela acarretou ao filme.

Vocês dois discutem muito no set de filmagem? Há espaço para conversarem nesta altura da carreira e 12 anos depois de trabalharem juntos pela primeira vez (eles contracenaram na ficção científica Assassino Virtual, de 1995) sobre qual o melhor caminho para o outro seguir em determinada cena?
DW - (encarando Russell) Humm... Não, não mesmo.
RC - Não há espaço para esta troca da maneira como você está perguntando. É mais como uma prova de harmonia na teoria musical, sabe? É sobre cantar juntos sem desafinar.

Denzel, incomoda a você de alguma maneira o fato de boa parte dos espectadores se identificar mais com seu personagem, um gângster terrível que mata a sangue frio nas ruas de Nova York? Você reflete sobre o motivo dessa reação?
DW - Não tenho a mais vaga idéia! Nunca pensei sobre isso, não. Agora, isso também depende do que você, quer dizer, a audiência vai trazer para o filme. Se você gosta de um personagem que cozinha muito bem mas mata pessoas, isso diz mais sobre você do que sobre Denzel, o ator (risos)!

Um comentário:

Olga de Mello disse...

Eu nem vou contar que TODAS as suas graças gostariam muito de estar em seu lugar pra esta matéria...