sexta-feira, agosto 03, 2007

ENTREVISTA/ Yoko Ono


Esta também foi para a edição da BIZZ que está nas bancas brasileiras. Yoko Ono, a viúva mais famosa do rock, foi um encanto, ainda que um tanto econômica, respondendo minhas perguntas em forma de hai-kai. Dois dois discos que ela lançou por aqui este ano, o álbum de remies Open Your Box não sai da vitrola aqui de casa.

A Viúva Alegre
Eduardo Graça, de Nova Iorque, para a Bizz

Aos 74 anos, Yoko Ono ela acaba de ser (re)descoberta por uma geração de jovens fãs eletrizados por dois lançamentos: o ótimo Yes, I’m a Witch e o interessante álbum de remixes Open Your Box, pronto para ser tocado nas pistas de dança menos óbvias do planeta, e com as assinaturas de Pet Shop Boys, Felix da Housecat e Basement Jaxx. Já para a cerzidura de Yes, I’m a Witch, uma deliciosa brincadeira com a forma pela qual foi tratada por parte da critica e dos fãs que a culpam até hoje pelo fim dos Beatles, a viúva de John Lennon enviou seu catálogo para 16 artistas-amigos (gente como os Flaming Lips, Cat Power, Peaches e Antony). Estes escolheram uma faixa e a reinventaram quase sempre de modo engenhoso. Ou, como prefere Yoko, com menos reverência e mais requebro. Sim, ela gosta de dançar. E música brasileira.


- Você anda dizendo que se identifica profundamente com o título do disco e que se orgulha de ser uma bruxa...
- Pois é, eu compus e gravei a canção Yes, I’m a Witch em 1974 e, veja só você, ela foi considerada por demais provocadora para ser ser lançada. Ninguém quis. Mas agora, 33 anos depois, está aí finalmente para quem quiser ouvir, o que eu adoro. Nossa sociedade mudou muito nestas três décadas. E gosto das mudanças!

- No ano passado o documentário The U.S. vs John Lennon, que você fez questão de aplaudir de pé, fazia um paralelo entre os anos Nixon e a repressão da era Bush. Nos anos 70 você e John passaram por poucas e boas quando o governo Americano tentou negar-lhe o visto de permanência nos EUA. Você diria que a reação de Washington aos ataques terroristas a Nova Iorque nos fez ficar 30 anos atrasados?
- Acho que neste sentido nada mudou, as coisas são exatamente como eram antes. Ou seja, temos de lidar com a realidade de que sempre vão existir pessoas que acreditam em outras verdades, diferentes das nosas. Diria que algumas vezes, para nós dois, foi quase perigoso lutar por aquilo em que acreditávamos. Mas, sabe de uma coisa? Nós temos de continuar com a cabeça erguida, sempre!

- Yes, I’m A Witch fez com que mais jovens descobrissem sua música. Você diria que, de alguma maneira, a sua carreira foi ofuscada pelo brilho e pelo talento de John? Devia ser difícil ter de dividi-lo com o restante do mundo...
- Nunca encarei nosso relacionamento desta maneira. Nós não estávamos dividindo nossa história juntos com o restante do planeta. Éramos até que bem privados, e posso garantir que tivemos uma ótima e divertida vida a dois.

- Qual foi a sua reação ao ouvir pela primeira vez as versões de sua obra feitas por gente de gerações mais novas mas completamente antenadas com sua música?
- A sensação foi a de felicidade, de perceber que o mundo está sacando minhas idéias.

- A versão dos Flaming Lips para Cambridge 1969, à la Ornette Coleman, é uma maravilha. O que você falou para o Wayne Coyne quando escutou pela primeira vez a faixa?
- Muito, muito obrigado mesmo.

- Você se sentiu rejuvenescida vendo todos estes meninos tocando suas músicas no disco?
- Não sei. Mas olha, não posso dizer se Yes, I’m A Witch fez-me sentir mais jovem por uma simples razão: não sou uma velha. Se eu começar a me sentir mais jovem vou acabar virando um bebê!

- Seu filho Sean (Lennon) adora música brasileira e anos atrás, em um festival no Rio de Janeiro, dividiu o palco com um dos grandes heróis do rock brasileiro, Arnaldo Baptista, dos Mutantes. Ele ouvia música brasileira em casa quando voltava da escola?
- Diferentemente de meu filho, eu não possuo um entendimento mais intelectualizado da música brasileira. Quando eu escuto aqueles ritmos, quando ouço aquelas canções que vocês fazem, acontece algo mais simples, mais intuitivo: meu corpo começa a se movimentar e é como se eu tivesse que dançar. Eu amo dançar, adoro música que me faça dançar, está em meu sangue. E é o meu corpo quem me garante – a boa música brasileira é sensacional. Ela me faz me sentir eternamente jovem.

2 comentários:

Olga de Mello disse...

Vc tinha que contar para Yoko que havia um outro Sean no Festival brasileiro anos atrás, remember?

Eduardo Graca disse...

eu fiquei tentado a clamar meu parentesco e exigir minha parte da herança...hehehehehehe