terça-feira, março 13, 2007

RESENHA/ARCADE FIRE - Neon Bible (2007)



A revista Bizz que está nas bancas saiu com minha resenha de um disco sensacional, o novo do Arcade Fire, Neon Bible. Este mês os canadenses foram tema de duas belas reportagens por aqui, na New Yorker e na revista dominical do The New York Times, na semana em que se apresentaram em Manhattan, dentro de uma igreja gótica. Não consegui ir aos shows mas o disco não sai da vitrola aqui de casa.

Arcade Fire – Neon Bible (Merge Records, importado)


Cotação Máxima: 5 estrelas



Nem vem que não tem. Neon Bible, o CD que o Arcade Fire lança em março na zona norte do mundo não é um novo Funeral, quiçá o lançamento mais importante de 2004 na seara do indie rock. E a constatação aqui, é um elogio.

Antes de fundar a banda com sua mulher Régine Chassagne, Butler passou anos estudando as Escrituras. Pois o Evangelho segundo o Arcade Fire está muito mais para o Apocalipse do que os Atos dos Apóstolos. O único milagre, aqui, é passar incólume pela explosão da música do quinteto canadense. Logo no Gêneses de sua bíblia pós-moderna os canadenses nos transportam para um universo muito mais sombrio do que o do primeiro trabalho da banda. “Espelho, espelho na parede/ Revele-me aonde as bombas cairão”, roga Win Butler, voz frágil, na acachapante Black Mirror, prova de que a estética Bowie-Berlim está mais viva do que nunca.

As cordas, os coros, o namoro com o barroco, as harmonias complexas poderiam funcionar, para um ouvido mais apressado, como ponto de ligação óbvio entre os dois discos. Mas, aqui, a fantasia dói mais, justamente por ter-se materializado de forma tão crua. Neon Bible insiste em nos mostrar que o pesadelo é aqui e agora. E para tanto aumentou-se o peso da percussão do primeiro-irmão William Butler e do baixo de Régine. Sim, depois do funeral, só nos resta o rock’n’roll.

Nas 11 faixas de Neon Bible há referências claras a Bruce Springsteen (ouça Keep The Car Running, com a hipnótica repetição do titulo da faixa, Windowswill e, especialmente, a linda Antichrist Television Blues); uma canção anti-guerra toda calcada em uma belíssima introdução feita em órgão de igreja (Intervention, dos versos ‘Não quero lutar/Não quero morrer/Apenas quero ouvir o seu lamúrio’), a delicada Ocean of Noise, que quase alcança o lirismo da valsa Crown of Love, de Funeral; e a confessional My Body is a Cage, em que Butler nos assegura: ‘Vivo em uma era/ Cujo o nome eu desconheço/E embora o medo me mantenha em movimento/Meu coração bate cada vez mais lentamente’.

Com sua beleza melancólica, este é um disco para se ouvir repetidas vezes, bem alto, aos berros, sem pausa, como se o ouvinte tivesse todo o tempo do mundo para, de fato, se entregar ao êxtase proposto pelo Arcade Fire. O ano começou muitíssimo bem. (Eduardo Graça)

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