quinta-feira, março 30, 2006

Diretinho da Redação (42)


A coluna da semana já está lá no Direto da Redação e aqui embaixo também:

COMO É BOM PODER ACREDITAR


De onde menos se espera, bem, quem sabe, pelo menos por aqui, daí é que sai algo que preste. Contrariando o ditado de meu querido Barão de Itararé, Washington parece finalmente ter escutado as ruas barulhentas das grandes cidades americanas e esboçado um movimento de legalização dos quase 12 milhões de imigrantes ilegais que ralam aqui em Bushland. Ainda não dá para comemorar, mas o caminho parece bem traçado.

A lei aprovada na Comissão de Justiça do Senado, com a ajuda de quatro republicanos, inclusive do que a batiza, Arlen Specter, não tem nada a ver com anistia. Muito menos com o projeto de oficializar os trabalhadores temporários proposto pela Casa Branca, já apelidado de ‘a vergonhosa volta da servidão’ pela resistência liberal. Leia bem o texto da danada: a Specter, que ainda precisa ser aprovada em várias instâncias, incrementa a polícia de fronteira, engrossa o tutu dos agentes encarregados de deter e deportar os ilegais, cria uma espécie de ‘carteira de trabalho’ para todo mundo e penaliza sem dó os empregadores que exploram a mão-de-obra barata dos que não têm o green-card.

Mas o que mais interessa na Specter é a parte que se detém sobre os que estão atrás do verdinho. Os imigrantes que trabalham honestamente e querem pagar suas taxas como todo afilhado de Tio Sam, são incentivados como nunca a se transformarem em cidadãos norte-americanos. Mas, de novo, sem anistia. Não se fala em perdão, pecadores e misericordiosos. São todos americanos, uns mais, outros menos. Mas o sonho da Sol, a personagem chatinha da Deborah Secco na chatinha “América”, não vai se realizar, é claro, do dia para a noite. Será preciso comprovar 11 anos de bons serviços, ficha limpa, emprego fixo, um pagamento médio de US$ 2 mil em taxas e compreensão da língua nativa (a maioria ainda fala inglês). Dureza. Mas já é um começo.

A semana nos presenteou por aqui com algo cada vez mais raro nas democracias liberais: uma resposta decente dos representantes eleitos aos anseios da maioria da população. Estes foram expressos nas ruas, em manifestações pacíficas que têm reunido gente de todas as minorias étnicas do país, mas também muitos, muitos americanos de origem anglo-saxônica. Uma gente que se opõe a planos medievos como a construção de um muro de mais de mil quilômetros na fronteira com o México ou explicitamente totalitários, como a deportação em massa dos ilegais, numa caça às bruxas que separaria milhares de famílias.

Da minha janela do Brooklyn, eu os vi. Deixei para trás o rádio falando português de Palocci e de seus porteiros, da Caixa dos companheiros e da Nossa Caixa, dos alckmistas que, valham-me Deus, parecem estar mesmo chegando. Botei os ouvidos para fora e vi uma gente que ainda acredita em um país forte e corajoso o suficiente para enfrentar seus problemas sérios de frente. Podem até estar completamente equivocados, mas eles me lembraram como é bom poder acreditar.

Um comentário:

maria rezende disse...

edu querido, li no globo sobre essa história dos imigrantes e corri pra ver o que o meu corresponente preferido teria a dizer sobre o assunto! muito bom ter o seu olhar sobre os assuntos! tô te mandando um email grande com notícias, tá? beijo, maria